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Relatório - Natividade da Serra-SP
Riqueza ignorada: Quanto custa o desleixo e a omissão? Coisas que precisam ser ditas sobre o sítio arqueológico de Natividade da Serra, a chamada "pirâmide".
Por Carlos Pérez Gomar* Do Rio de Janeiro-RJ Para Via Fanzine 18/03/2013
Várias pedras talhadas e polidas encontradas na região evidenciam que o local se trata de um sítio arqueológico. Tópicos relacionados: Ministério Público vai investigar suposta ruína em Natividade Gomar e o Relatório de Natividade - nota do editor VF ACESSE O RELATÓRIO ILUSTRADO DE CARLOS PÉREZ GOMAR Laudo do IPHAN diz que não há sítio arqueológico Natividade da Serra: Quanto custa o desleixo e a omissão? Entrevista exclusiva com Carlos Pérez Gomar Desfazendo o equívoco da 'pirâmide' de Natividade - Por C. P. Gomar Nas supostas ruínas de Natividade da Serra - Por C. P. Gomar Especulações sobre a Ruína de Natividade - Por C. P. Gomar
Não sei por que tanto desinteresse em esclarecer o caso das ruínas de Natividade da Serra.
Quatro pessoas de diferentes especialidades visitaram o local e chegaram a conclusões semelhantes.
O achado foi noticiado através do jornalista Julio Ottoboni, em 2004, que percebeu sua importância e raridade.
O geólogo do INPE Paulo Roberto Martini fez um relatório onde diz claramente que aquilo é obra humana, com características semelhantes a outras do sudoeste americano. Sudoeste americano é o sul do continente americano, America do sul. O oeste são os Andes, que fique bem claro. Parece que poucos notaram a exatidão da afirmação, ainda que, por enquanto uma hipótese.
Logo depois, esteve no local o professor e arqueólogo Luiz Galdino que pesquisou durante 45 anos vastas áreas do Brasil e sítios pré-históricos. Ele concluiu que é um sítio pré-colombiano e o associou a um dos ramais do Peabiru, o caminho que unia os Andes com a costa atlântica, principalmente com a área de São Vicente, mas que também tinha outros ramais. Galdino desenvolveu o assunto no seu livro ”Peabiru, os incas no Brasil”, editora Estrada Real, 2003.
Finalmente, eu estive no local e fiz observações durante cinco dias e concluí que se trata de um sítio pré-colombiano. Sendo arquiteto e havendo trabalhado 40 anos na área de patrimônio cultural e arqueologia, expliquei que os blocos e lajes achados no local foram obtidos por método de polimento, sem ferramentas de aço, método tipicamente andino. Disse que a localização do sítio também dava a ideia dessa origem. E descartei uma origem ”colonial”. Em artigos publicados pelo portal Arqueolovia, de Minas Gerais, tornei público e mostrei a similitude dos padrões das pedras talhadas com determinados locais dos Andes, em função das proporções e tipologia similares.
Estas conclusões não podem ser verificadas com mais exatidão, porque nenhum de nós que estivemos no local, contou com informações de escavações técnicas. Na verdade, quem escavou alguma coisa (e muito) foi o proprietário do terreno, mas este enterrou quase tudo o que não foi destruído. Tirou fotos e achou objetos, mas não os mostra. E agora nega a existência de um sítio em sua propriedade.
Caso alguém ainda não tenha percebido, uma equipe interdisciplinar examinou o local e chegou a conclusões pontuais. Faltou um arqueólogo, mas os que foram chamados a dar opinião não quiseram se envolver nessa questão. Há varias explicações para isso. De qualquer maneira, nesta primeira fase de pesquisa eles seriam desejáveis, mas não essenciais - uma vez que não temos condições de fazer escavações por falta de apoio legal.
Este autor e um dos blocos da Fazenda Palmeiras, com a visível superfície alterada pela idade. Ao lado, ilustração do processo de talha pré-colombiano, também usado para arredondar os cantos de um bloco.
Os vestígios são evidentes para qualquer um que conheça um pouco de arquitetura pré-histórica sul-americana e, não depende do ganha-pão nem da boa vontade do IPHAN-SP.
Não foi surpresa a falta de manifestação sobre o caso, inicialmente, por parte do IPHAN-SP, e a posterior afirmativa de que o achado não seria “sítio arqueológico, nem histórico, nem pré-histórico” (!). Está claro que o IPHAN-SP não tem condições práticas nem técnicas de examinar o local convenientemente. Este se trata de um órgão burocrático, com muitos compromissos, inclusive, políticos. E já tem a opinião (mal) formada de que no Brasil não existe arquitetura pré-colombiana digna de nota.
Consequentemente, este Instituto se porta como o avestruz, enfiando a cabeça no buraco e achando que as coisas deixaram de existir, por ser ele, em teoria, a autoridade no assunto. Dependendo da ajuda desse tipo de organismo, muita coisa no Brasil nunca vai ser identificada ou reconhecida historicamente como deveria. Podemos ter certeza de que vários sítios similares ao de Fazenda Palmeiras já foram destruídos pelo país afora, sem que a opinião pública sequer tomasse conhecimento.
As ruínas da chamada Cidade Labirinto e as da Serra da Muralha, em Rondônia estão esperando uma identificação oficial correta. Na primeira, há algumas pedras talhadas que poderiam fornecer uma identificação, ainda que a maioria das pedras seja irregular e sem tratamento algum.
Muitos sítios devem ter sido destruídos em épocas passadas, inclusive, antes da existência do IPHAN. O cidadão apenas medianamente instruído não tem condições de perceber entre um sítio arquitetônico “colonial” ou um pré-histórico e, normalmente, usou e continuará a usar suas pedras como materiais de construção em obras de alvenaria.
* Carlos Pérez Gomar é pesquisador e arquiteto. - OBS.: Relatório originalmente datado de 23 de out/2012 e atualizado em dez/2012. Publicado posteriormente por VF/Arqueolovia em 12/12/2012.
-Fotos: Arquivos de Carlos Pérez Gomar.
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