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Minas escravagista

 

No passado das Alterosas:

Minas e a escravidão

Somos um povo mestiço de origem afro-tupi-portuguesa. Nosso modo de falar mistura palavras

de origem indígena, africana e árabe-portuguesa. Somos predominantemente de cultura africana,

apesar da cor da pele, se isso faz alguma diferença.

 

Por Paulo Roberto Santos*

De Divinópolis-MG

Para Via Fanzine

27/01/2013

 

Detalhe de uma típica casa mineira do século 19, com muro de barro trabalhado todo a mão por escravos, em Pitangui-MG.

Infelizmente o dono do imóvel temendo o seu tombamento derrubou o muro, que estava situado no centro da cidade.

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A escravidão existe desde quando o homem descobriu que podia conquistar, dominar, impor-se sobre os outros, fazendo-os trabalhar e servir de ferramenta útil, como presa de guerra ou resultado de negociação. A escravidão ainda existe na forma de servidão econômica, no tráfico de pessoas e uso que se faz delas, isto como, como se fossem 'coisas'.

 

A escravidão no período do Brasil colônia tem características próprias, conforme a região e o estado em que ocorreu. Em regiões de mineração, de cultura canavieira ou de café, da criação de gado ou de serviços domésticos, ela varia muito e não pode ser vista como uma prática uniforme em todo o país.

 

Em Minas, no período colonial e nos tempos da mineração do ouro e das pedras preciosas, a escravidão ganhou contornos singulares. A mútua dependência entre senhor e escravo os aproximava. Se o senhor tinha a propriedade do corpo do negro, este trazia da África e de seus antepassados, conhecimentos de fitoterapia, da guerra e da construção, da culinária e da música, que acabaram por criar uma relação de menor violência entre eles, embora existisse e não justifica o sentir-se proprietário de alguém.

 

Se fossem escravos sudaneses, por exemplo, provavelmente eram mais alfabetizados que seus donos, como no passado ocorreu entre romanos e gregos. Os sudaneses eram de cultura islâmica e sabiam ler e escrever em árabe. Minas e Bahia receberam um grande contingente desses povos, e isso pode ser notado no tipo de construção colonial em Minas, onde facilmente se percebe a presença dos arabescos e pinturas usados na ornamentação de fachadas, de casarões e igrejas, as sacadas e varandas, janelas e alpendres. Sem contar a enorme quantidade de palavras e nomes próprios de origem  árabe que hoje fazem parte de nosso vocabulário, como algumas usadas nesse parágrafo, logo acima.

 

Instrumentos de uso e para o castigo de escravos se encontram em alguns museus e Minas Gerais.

 

Somos um povo mestiço de origem afro-tupi-portuguesa. Nosso modo de falar mistura palavras de origem indígena, africana e árabe-portuguesa. Somos predominantemente de cultura africana, apesar da cor da pele, se isso faz alguma diferença. Dito de outro modo, nós somos mais africanos do que pensamos.

 

Aqui pelo entorno temos muitas cidades com nomes de origem nativa: Piracema, Itaguara, Itaúna, Itapecerica, Itatiaiuçu, Moema, Abaeté, Pedra do Indaiá… Minas tem suas peculiaridades, como outros estados como Pernambuco e Bahia, para citar apenas dois como exemplos.

 

Dessa mistura de crenças e visões de mundo e de vida; dentro daquele caldo cultural de escravidão recíproca, surgiram essas Minas que cada um descreve como interpreta. Se o negro era propriedade do branco, o branco geralista, natural dessas terras, era tido como propriedade da Coroa portuguesa, e esta era dependente da Inglaterra. Basta alargar o conceito de escravidão e mais coisas e situações cabem nela.

 

Aboliram a escravidão, mas não o escravo, como bem percebeu e escreveu Machado de Assis em uma de suas crônicas. Em Minas, a quantidade de quilombos mostra igualmente a quantidade de africanos que por aqui tiveram suas vidas e deixaram suas marcas, algumas que ainda aguardam estudos mais profundos, como o quilombo do Rei Ambrósio, segundo alguns, maior que o de Palmares. Sim, Minas são muitas!

 

* Paulo Roberto Santos é professor e sociólogo, seu blog é http://animalsapiens.blogs.sapo.pt/.

 

- Fotos: Itaúna em Décadas / Acervo João Dornas Filho.

 

- Colaborou: Charles Aquino Ishimoto.

 

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