Exclusivo:
Arnaldo
Brandão falou conosco
Um dos maiores
baixistas da história da música pop brasileira,
Arnaldo Brandão, líder
da banda Hanoi Hanoi bateu um papo conosco
há 10 anos onde
falamos de música, política e cultura.
Por
Pepe CHAVES

Arnaldo Brandão. Arquivo
Via Fanzine.
Via Fanzine: Como
anda o rock nacional em termos de vendagem, publico e aceitação?
Arnaldo Brandão:
Fraco, musicalmente bem, o rock não pode ser a corrente comercial
principal. Quando extrapola sua função, invadindo as paradas de sucessos,
enfraquece. Fortalece quando sai da posição número um e passa para
terceira ou quarta.
VF: E o novo disco do
Hanói? Quando sai?
AB: Deve
sair antes da Copa, ao vivo. Vai se chamar “Isto é Hanoi”.
VF: Vai ter alguma musica
inédita?
AB:
Duas. Uma se chama “Tudo Podre”, minha e do Tavinho Paes, a outra é de
autoria da banda e ainda não tem nome.
VF: Via Fanzine é um
informativo cultural, político, mas como é um ano eleitoral, vou fazer a
pergunta: Você vai apoiar algum presidenciável? [Pleito presidencial de
1994. FHC X Lula].
AB: Vou
apoiar o Lula.
VF: Por que?
AB:
Durante 160 anos de República, o Brasil foi governado somente por pessoas
da mais alta camada social, pessoas da elite. Não consertaram o país.
Vamos tentar então, um operário. Não digo que ele vai resolver todos os
problemas, mas acredito que vai dar rumo às coisas. Outro motivo: o PT
nunca esteve envolvido em escândalos de nenhuma natureza.
VF: O que você acha do
voto dos analfabetos?
AB:
Válido, se o cara quer votar, tem te votar. Mas deve ser facultativo,
obrigar alguém a votar é um crime. Acho também que o voto deveria ser
distrital, e que o Judiciário também deveria ser eleito pelos cidadãos,
como nos EUA, onde a população elege até delegados de polícia.
VF: Você começou a tocar
com que idade?
AB: Com
17 anos.
VF: Qual instrumento?
AB:
Pandeiro (risos). Tocava pandeiro e era vocalista de uma banda no colégio.
VF: Por um bom tempo você
foi baixista de Caetano Veloso. Como foi a experiência de tocar com um
músico como Caetano?
AB: Foi
muito bom! Com o Caetano e Gil é que descobri a beleza da harmonia e
poesia da MPB, antes eu só gostava de rock.
VF: Assim que você saiu
da banda de Caetano, você fundou o Hanoi Hanoi?
AB: Não.
Toquei na banda “Brylho da Noite” que estourou com a musica “Noite do
Prazer”, que é minha e de Cláudio Zoli, que também tocava no Brylho.
VF: Quais os álbuns
lançados pelo Hanói?
AB: Pela
ordem: “Hanói Hanói”, “Fanzine”, “O Ser e o Nada”, “Coracão Geiger”, e o
que está saindo, “Isto é Hanói”.
VF: Que tipo de som você
está ouvindo ultimamente?
AB:
Muita musica americana, “Husk Er Du”, que depois formaram o “Sugar”; muito
rock americano; Hip Hop, como “Doctor Dre” e “Guru”.
VF: Há algum tempo atrás
o Hanoi teve uma tendência para fazer um som mais eletrônico, isto
continua?
AB: Não,
naquela época iríamos gravar um álbum e na última hora o baterista saiu.
Então gravamos algumas sessões de bateria eletrônica. Acho que bateria
eletrônica é legal para bandas com Fernanda Abreu, Skank e outras, mas não
para o Hanoi.
VF: Se você fosse para
uma ilha deserta e só pudesse levar um disco, qual levaria?
AB: A
coleção de Jimi Hendrix (risos). Adoro. Tenho uma banda paralela no Rio
que se chama “Power of Jimmy”, tocamos informalmente em circos, bares e no
Parque da Lage.
VF: Nos fale do Parque
da Lage.
AB: É um
circuito multimídia, super legal, onde está sediada a Escola de Belas
Artes do Rio de Janeiro.
VF: O Hanoi já tocou três
vezes em Itaúna. O que você acha do publico itaunense?
AB:
Ótimo! Adoro Itaúna, pois tem um público muito vibrante!
VF: Vocês tem tido
problemas com censura?
AB:
Ultimamente não. Já tivemos problemas com a música “Totalmente Demais”, e
no Rio de Janeiro, as rádios boicotaram a música “Jovem”, minha e do
Cazuza, quando foi lançada.
VF: Como você vê a
iniciativa de criar em Itaúna o Via Fanzine, este informativo cultural que
está em sua segunda edição?
AB:
Tomara que dê certo, pois a imprensa alternativa é o único meio de
divulgar as notícias fora da grande mídia. As informações, hoje, são
centralizadas nos grandes centros. Esta idéia de “aldeia global” deveria
ser mais voltada para as comunidades. O que interessa para Itaúna, se um
cara morreu de moto no Paquistão, tentando bater um recorde? Só hoje já
ouvi esta noticia três vezes na TV. São tantas informações que não
interessam às comunidades... Por isso acho da maior importância o trabalho
da imprensa alternativa. É preciso descentralizar os meios políticos,
artísticos e culturais. O público precisa ter acesso à educação e à
informação básica. É preciso que cada comunidade crie os seus meios de
comunicação, tenha informação dos acontecimentos mais próximos, isto é
muito mais importante. Informação é poder!
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