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História:

O escritor dos escritores

No dia 07 de agosto de 2004 completaram-se 102 anos de nascimento de João Dornas Filho, escritor e historiador itaunense que deixou o maior legado da literatura local. Seu nome é unanimidade entre os escritores itaunenses que o apontam como o mais importante escritor local de todos os tempos.

Por Pepe CHAVES* 

João Dornas Filho

Arquivo Via Fanzine

    1902 - O ano de 1902 foi generoso para Itaúna: ano da instalação do município de Itaúna e do nascimento de um de seus mais expressivos filhos, João Dornas Filho. Ele parecia predestinado a amar a cidade que nasceu junto com ele (mesmo se decepcionando com ela mais tarde), registrando seus valores culturais em muitos dos seus consistentes livros publicados. Pesquisador, estudou e registrou em suas obras as etnologias, as crenças e os costumes, não somente dos itaunenses, mas sim de todo o povo brasileiro.

            ZÁU - João Dornas, mais conhecido em sua época como Záu, era filho do fazendeiro João Dornas dos Santos, um republicano, co-fundador do Clube Republicano 21 de abril em 1889. Dornas pai mudou-se para Santana de São João Acima (antiga Itaúna) no início do século passado e trabalhou também, a favor da emancipação da cidade naquela época. Era casado com Dª Maria Eugênia Vianna Dornas e tiveram além de João, mais 11 filhos [foto da família, 1ª pág.].

            Amante da literatura e da informação João Dornas Filho cursou apenas a escola primária no grupo “Dr. Augusto Gonçalves”, o que lhe rendeu base essencial para absorver a rica cultura que lhe viria mais tarde, fruto, sobretudo, de sua grande curiosidade e seu desejo inato de pesquisar e registrar pessoas e fatos. Nos anos 20 escreveu vários ensaios para jornais locais, dentre eles o lendário “Zum Zum”. Ainda na infância, trabalhou como tipógrafo e a partir de então, tomou amor pela palavra escrita.

            BH - Nos anos 20 Dornas Filho mudou-se para Belo Horizonte onde foi trabalhar. Na capital mineira pôde ter contato com a modernidade nacional daquela época. Fez amizades com intelectuais belorizontinos e artistas de projeção nacional e internacional, dentre eles o pintor Di Cavalcante, que desenhou em pastel caricatura de Dornas Filho, raríssimo quadro que se encontra atualmente sobre as responsabilidades da Prefeitura Municipal de Itaúna.

        LITERATURA ECLÉTICA - Dornas Filho publicou o seu primeiro livro em 1936, “Itaúna – Contribuição para a História do Município” (Gráfica Queiroz Breiner; BH-MG), verdadeiro legado onde narra os antigos costumes dos santanenses, mostrando de forma clara e crua pontos negativos de nossas sociedade no passado, como por exemplo, o mau trato aos escravos por parte dos senhores que aqui habitavam, como também o preconceito religioso da igreja Católica para com os Luteranos, quando estes aqui aportaram. Neste mesmo trabalho, registra personalidades notórias da velha Sant’Ana e depois Itaúna; suas diversas agremiações culturais, seus párocos, políticos, jornais, esportes e economia.

           Nota-se também nessa obra, grafada em português antigo, o esmero do autor ao citar também dados referentes aos então distritos itaunenses, hoje as cidades de Itatiaiuçu, Carmo do Cajurú e Itaguara.

            CONSISTENTE LEGADO - Nos anos seguintes, publicou mais 12 livros com uma média de lançamento de um livro a cada dois anos, publicando-os até o ano de 1951. Os livros seguintes foram: “Silva Jardim” (Cia. Editora Nacional –Brasiliana - São Paulo, 1936); “Os Andradas na História do Brasil” (Gráfica Queiroz Breiner – Belo Horizonte, 1937); “A Escravidão no Brasil” (Civilização Brasileira S/A, - Rio de Janeiro, 1939); “Bagana Apagada” – contos (Editora Guairá, Curitiba, 1940); “A Influência Social do Negro Brasileiro” (Caderno Azul nº 13 – Editora Guairá, Curitiba, 1943); “Eça e Camilo” (Caderno Azul nº 21, Editora Guairá, 1945); “Júlio Ribeiro” (Cadernos da Província nº 2 – Livraria Cultura Brasileira Ltda – Belo Horizonte, 1945); “Antônio Torres” (Caderno Azul nº 31 – Editora Guairá – Curitiba, 1948); “Os Ciganos em Minas Gerais” (Movimento Editorial Panorama – Edições João Calazans – Belo Horizonte, 1949) e “Efemérides Itaunenses” (Coleção Vila Rica – Edições João Calazans – Belo Horizonte, 1.951).

OUTRAS PARTICIPAÇÕES - Dornas participou de coletâneas literárias diversas e teve trabalhos publicados em revistas especializadas de História. Em sua “História de Itaúna”, o historiador Miguel Augusto Gonçalves de Souza observou sobre uma atividade literária de Dornas Filho: “praticou, com competência, simultaneamente, o jornalismo. Dirigiu, com Guilhermo César e Aquiles Vivacqua, movimento literário reformista, através do panfleto ‘leite crioulo’, com grande repercussão em Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, ao ensejo da tumultuada e fecunda campanha renovadora de criação da arte moderna liderada, em âmbito nacional, por Mário de Andrade”.

            ACADEMIA MINEIRA - Em 1945 foi eleito unanimemente à Academia Mineira de Letras, quando ocupou a cadeira nº 12, cujo patrono é José de Alvarenga Peixoto. Segundo cita Miguel Augusto Gonçalves de Souza em sua obra, Dornas Filho tentou reformar o estatuto da Academia Mineira de Letras, no sentido de que a mesma passasse a permitir o ingresso de mulheres nos seus quadros acadêmicos, o que veio a ocorrer de fato somente no ano de 1959.

            DECEPÇÃO - Segundo nos confidenciou certa vez o genealogista itaunense, Guaracy de Castro Nogueira, a Fundação Maria de Castro, dirigida por ele, detém o mais completo acervo histórico acerca de João Dornas Filho, incluindo antigos manuscritos doados pelas irmãs do escritor. O pesquisador que conviveu com o escritor pessoalmente nos confidenciou também sobre a predileção de Dornas Filho pelas mulheres da cor negra, como também a decepção do escritor com sua terra natal ao se candidatar a deputado estadual e ter recebido pouquíssimos votos nas urnas. Esta forte decepção teria sido o suficiente para levar João Dornas Filho se aborrecer com Itaúna e passar a fixar residência em Belo Horizonte, terra de sua esposa Efigênia Ondina Xavier Dornas (o casal não teve filhos), onde viria a falecer em 11 de dezembro de 1962, aos 60 anos de idade.

            CENTENÁRIO DE NASCIMENTO - O centenário de João Dornas Filho 7 de agosto de 2002 passou em brancas nuvens por parte dos poderes públicos municipais, não sendo prestada nenhuma homenagem ao mais ilustre escritor itaunense. Uma das poucas homenagens que a cidade lhe prestou foi colocar seu nome em grupo escolar, situado à avenida Getúlio Vargas e fundado em 1965. Muito pouco, para quem muito fez por esta cidade.

- Consulta do autor: “História de Itaúna” – vol. I e II (Ed. Lit. Maciel Ltda. – Belo Horizonte, 1986), de Miguel Augusto Gonçalves de Souza. Consulta verbal com o genealogista Guaracy de Castro Nogueira.

- Acesse o site oficial de João Dornas Filho:

http://www.viafanzine.jor.br/dornas.htm

*  *  *

 Opinião Ambiental:

 Cachoeirinha: um bem comum

Região da Cachoeirinha em Itaúna poderia servir de modelo para que outras,

também sejam encampadas como de patrimônio municipal.

 Por Pepe CHAVES

Mergulho num poço da Cachoeirinha.  Arquivo Via Fanzine.

            NAS BARRANCAS - Um dia, no ano de 2000 estava eu pedalando minha bike, como de costume, junto do meu amigo Levy Vargas quando fomos parar naquela cachoeira próxima às Barrancas do São João, próxima ao Morro do Engenho. Vislumbrei com a bela cachoeira que havia ali e com sua mata ciliar preservada, chegando a lembrar o Parque Nacional da Serra da Canastra, onde fica a nascente do rio São Francisco, a 300 km daqui, em São Roque de Minas. Naquele momento de vislumbre vendo aquela cachoeira de queda mediana, como que por um encanto, me veio à cabeça a idéia de se fundar em Itaúna uma ONG voltada às causas de proteção ambiental. Veio-me subitamente o nome “Anjos da Natureza”, como que inexplicavelmente soprado pelo vento aos meus ouvidos... Comentei com Levy, que senti ali uma inspiração e que iria criar a citada Ong e buscar as pessoas certas para integrá-la. Em suma, a Ong foi criada, tivemos várias reuniões, promovemos uma importante ação de limpeza da área da Cachoeirinha e hoje me afastei da organização, mas temos lá a competente Guanaíra Tupinambá em sua direção.

Apesar de estar por uma vida aqui em Itaúna, não conhecia até então aquela bela cachoeira das Barrancas, a mais próxima ao centro da cidade e diga-se: proibida de ser freqüentada pelo povo, pois os terrenos particulares que a cercam, incluindo um da massa falida da Cia. Itaunense contêm cercas de arame que impedem a passagem de pessoas.

            PATRIMÔNIO NATURAL - No entanto aquele local é um patrimônio natural, e pela Constituição Federal nenhum local que possua água corrente pode ser vedado ou usufruído somente por particulares que detenham terrenos próximos a ele. É o que diz a lei! Então, penso que em lugares assim, o acesso deveria ser aberto à população, pois tal local, é um bem natural da cidade e isso pertence a todos os habitantes. É assim em todas as cidades turísticas do Brasil e do mundo, uma cachoeira, por exemplo, não pode ser privatizada e colocada no quintal de alguém que teve dinheiro pra comprar um terreno à sua volta.

            CACHOEIRINHA - E foi pensando assim que no ano de 2001, estive com o Osmando Pereira, prefeito de Itaúna e disse a ele o que pensava do local denominado Cachoeirinha, no distrito de Campos. Terreno particular de exuberante natureza, com pequenas quedas d’água, onde corre o ribeirão dos Escapotos. Por longas décadas o local é freqüentado por banhistas da cidade. Em suma, disse-lhe que achava correto que aquele local fosse patrimônio do município e questionei-lhe sobre a possibilidade de se fazer uma desapropriação daquele terreno, de forma legal, para que o mesmo fosse oficialmente uma reserva natural do município. Na ocasião, o prefeito que ouviu atenciosamente minha sugestão, anotou algo num pedaço de papel e colocou numa gaveta, afirmando: “nós vamos ver isso!”. Passou-se cerca de um ano e num novo encontro com o prefeito, veio ele me dizer que aquele terreno pertencia a uma empresa itaunense e que o mesmo fora negociado com a citada empresa, passando a pertencer, doravante, ao município. Disse-me que a empresa estava em débito em relação a impostos com município e que esta dívida fora permutada no terreno. O prefeito anunciou também, informalmente, a criação do Parque Municipal da Cachoeirinha e que o local teria uma área de camping, lanchonete e reflorestamento total da área de 10 hectares pertencente ao município.

            PARQUE - Na época, estivemos visitando o local com Cristiano Carneiro, chefe de gabinete e Ralim Mileib, diretor do Departamento de Meio Ambiente que colocou tambores para recolhimento de lixo na entrada do local. Ambos se mostravam animados a criarem no local o parque, no qual demos nossas modestas sugestões quanto ao local determinado para a área de camping e a criação de uma nova estrada de acesso, já que a atual é uma trilha que não comporta veículos – e deve ser preservada – dentre outras.

            No entanto, até o momento nada foi feito pela administração municipal para que o terreno, gloriosamente adquirido em prol do povo neste terceiro mandato de Osmando, fosse protegido efetivamente; fosse limpo e tivesse estruturas para recolher o lixo descartável levado por seus freqüentadores e enfim, ter se tornado verdadeiramente um parque municipal.

            Em entrevista nos concedida na edição passada o prefeito Osmando disse que deseja efetivar o projeto do Parque Municipal da Cachoeirinha, mas não deu demonstração clara de que isso irá acontecer ainda neste último ano de seu terceiro mandato ao afirmar que “não sabemos se vamos ter disponibilidade financeira para executá-lo, mas queremos deixar pelo menos o projeto pronto para que um próximo prefeito possa vir a conclui-lo”.

            REFLORESTAMENTO - Também falando conosco na edição passada esteve o diretor do Departamento de Meio Ambiente da prefeitura, Ralim Mileib. Ele nos informou da autuação de dois indivíduos que retiravam madeira clandestinamente na Cachoeirinha. Ralim acha difícil fazer um imediato reflorestamento das margens do ribeirão dos Escapotos naquela região. Vimos mais uma vez sugerir que isso seja feito em parceria com as Ongs da cidade, de forma apolítica, desprendida e totalmente voltada para um bem natural e comum a todos. São mobilizações, parcerias, campanhas que podem ser feitas apenas com boa vontade, sem gastos para os cofres públicos e com o objetivo comum de se preservar um local de natureza exuberante, aberto a qualquer cidadão que queira visitá-lo.

            Com um simples projeto paisagístico de replantio, as margens lesadas daquele ribeirão poderiam ser recompostas com espécies nativas, de forma rápida e prática, se houver participação popular, criada através da mobilização da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente, por exemplo. Diversas e eficazes ações poderiam ser desencadeadas, de forma prática, sem custo financeiro algum, se houver criatividade e boa vontade de nossos administradores no desempenho de suas funções em suas respectivas áreas.

            Temos visto nas três últimas décadas uma considerável diminuição hídrica no ribeirão dos Escapotos, na região da Cachoeirinha. Este pequeno ribeirão que passa em Campos, Garcias, Santanense e finalmente deságua no rio São João, teve sua vazão diminuída nas últimas décadas devido à extinção de várias nascentes que desaguavam em seu leito. Pode-se ver no local, pelas partes abertas pela água corrente há pelo menos 100 anos, que seu manancial d’água diminuiu drasticamente, pelo menos, por cerca de 10 vezes do original, a julgar pelo marco natural às suas margens (pedras expostas por ação das águas, indicando que no passado, o ribeirão era mais largo e farto).

            CONSCIENTIZAÇÃO - O problema tenderá a continuar, caso não sejam feitos reflorestamentos, não somente nesta área pertencente ao município, mas em terrenos particulares que margeiam o ribeirão dos Escapotos, até o seu deságüe no rio São João. Segundo nos informou o arquiteto Fábio Dimas Braz de Matos, secretário de Urbanismo e Meio Ambiente, uma recente análise da água do ribeirão nas proximidades da Cachoeirinha a considera como de boa qualidade e livre de coliformes fecais humanos. Matos afirmou que fiscalizações foram feitas recentemente naquela região e não foi detectada nenhuma ligação de esgotos de sítios da região com o ribeirão, tampouco de pocilgas. Isso vem a favor de que a preservação seja feita e uma mobilização a favor da natureza daquele local seja promovida, a partir do poder público. Urge conscientizar, sobretudo as pessoas que vivem próximas àquele local, que o mesmo pertence ao município e deve ser preservado; que nenhuma madeira pode ser retirada; assim como exemplares da fauna e da flora local; que o lixo que se levar é preciso trazê-lo de volta, até haver ali um sistema de descarte desse lixo; enfim... É preciso conscientizar!

            NOSSA NATUREZA - Freqüentamos a Cachoeirinha desde nossa infância, porém, antes de 2000, éramos ali, na verdade, clandestinos num terreno de alguém que nem sabíamos quem se tratava. Porém, agora podemos ir ali e pisar um terreno que “é nosso” e será de nossos descendentes, por justa e lícita causa. Esta foi uma agradável conquista para o povo itaunense e este mesmo povo deve saber usufruir e preservar esta conquista. Tudo isso é muito bom para todos e nos motiva ainda mais a cuidar daquele local, a fiscalizá-lo, a protegê-lo e a continuar zelando por ele e outros locais, que também pertencem a todos, como por exemplo, a citada cachoeira do rio São João nas Barrancas (aliás ‘Barrancas’ foi a nomenclatura dado ao condomínio próximo à cachoeira pela Construtora OG, porém a nomenclatura foi idealizada pelo paisagista itaunense Kennedy Chaves Marinho).

            Entendemos, que também aquela cachoeira também deveria ser aberta a população e quem sabe, um novo parque, ainda mais próximo centro da cidade, poderia ser criada à sua volta, preservando a vegetação e mananciais da região? Com a palavra, o diplomático prefeito de Itaúna...

Cachoeirinha. Vile Editora/Arquivo Via Fanzine.

 

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