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Entrevistados nesta página: Thomas Roth - Yara Tupynambá

 Outras entrevistas exclusivas: 

Clique aqui para acessar todas as entrevistas do acervo VF

 

 

Entrevista exclusiva:

Yara Tupynambá

Artista plástica

Por Pepe Chaves

Para Via Fanzine

 

Ela eternizou seu nome nas artes brasileiras e foi das artistas que mais notabilizou a arte

contemporânea mineira em todo o mundo. Sempre de fisionomia alegre, alma humilde e um

jeitinho atencioso, Yara Tupynambá é uma artista completa, podendo ser considerada como

 “uma lenda viva das artes brasileiras”, sobretudo, por ter produzido inúmeras e denodadas

obras artísticas, hoje espalhadas pelos quatro cantos do mundo.

 

Natural de Montes Claros/MG, seu pai era engenheiro da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e com isso, veio a residir em marcantes cidades do interior mineiro, dentre elas, São João Del Rey, Oliveira, Barra do Piraí e também Itaúna, pouco antes de seguir para a Escola de Belas Artes do mestre Guignard, em Belo Horizonte, em meados dos anos 50. Curiosamente, a artista tornou-se “personagem real” de Roberto Drummond, através da obra “Hilda Furacão”, produzida pela teledramaturgia da Rede Globo de Televisão. Participou de inúmeras exposições em todo o Brasil e em vários países, recebendo diversos prêmios e medalhas, além de ser fartamente citada em publicações especializadas. Após construir uma carreira sólida, retornou a Itaúna, em especial, no ano de 2000, para ser homenageada e participar das solenidades de inauguração do Centro de Arte “Yara Tupynambá” (inaugurado em 15/09/2000 e atualmente presidido pelo artista plástico Gláucio Bustamante). O centro de Arte que leva seu nome é uma entidade classista, integrada por artistas plásticos e artesãos, contando com o apoio da Prefeitura de Itaúna. Nesta entrevista, a artista nos recebeu gentilmente na sede do Centro de Arte e ainda deixou um conselho ao prefeito eleito. Ela relembra e nos descreve um pouco do seu contato com Itaúna em sua infância, quando nessa cidade estudou e se despertou, fatidicamente, às artes plásticas. O trabalho de Yara é, indiscutivelmente, dos mais marcantes na história da pintura brasileira nessas últimas décadas.

 

Como a senhora se iniciou nas artes plásticas?

Yara Tupynambá: A mais antiga lembrança que tenho de minha infância é uma lembrança estética. Quando eu tinha dois para três anos, vi um lago na casa do meu pai em São João Del Rey, com peixes dourados e vermelhos. Então, fiquei com aquela imagem e acho que o meu primeiro encantamento foi pela cor vermelha. Então, na verdade, minha primeira impressão de vida, é uma impressão estética.

 

Quantos trabalhos, em média, a senhora já produziu?

Deve ser uns três mil e tantos trabalhos de qualidade. Fora os murais. Hoje eu tenho 68 murais. Trabalhos de 40 x 4m, outros também de grandes dimensões, na Câmara Municipal de Belo Horizonte e no Tribunal de Contas, dentre outros locais.

 

Para a senhora, quais são os principais talentos das artes mineiras na contemporaneidade?

Eu citaria Álvaro Apocalypse, que foi meu colega de turma, saímos da mesma escola, pelas mãos do Guignard. O Álvaro eu acho uma pessoa de extraordinário talento. Eu citaria da minha geração, o Roberto Drummond, que se tornou um escritor de presença nacional. Mas gostaria de incluir nessa lista, um artista mais jovem, o Cássio Herculano Lopes, que eu acho um ótimo escritor. Tem um trabalho muito denso. E como artista plástico eu citaria Sérgio Nunes, que acho um artista bastante complexo.

 

'na mini-série da Rede Globo me mostraram 'glamourosa',

mas, esta foi a maneira mais palpável que o diretor encontrou

para se fazer uma personagem de idéias longas e cabelos curtos'

 

Como ex-aluna do lendário professor Guignard, o que a senhora pode nos dizer deste mestre?

Guignard foi um mito para nós, na época, só para nós; pois, hoje ele é um mito para todo o Brasil. Ele foi alguém que abriu perspectivas de vida para nós. Ele mostrou as possibilidades de beleza, as possibilidades de composição. Ele não foi um professor didático, como mais tarde nos tornamos, eu, Álvaro, Jarbas... Ele foi um professor sensível, deixando com que cada um de nós tivesse sua própria personalidade. Portanto, ele gerou praticamente toda a arte mineira. Nós podemos dizer que a pintura mineira é: antes e depois de Guignard.

 

Como foi para a senhora, assistir na mini-série “Hilda Furacão”, de Roberto Drummond, onde aparece uma personagem representando Yara Tupynambá?

Foi muito engraçado! Eu tomei um susto! Fizeram uma personagem muito glamourosa. E eu sempre me considerei mais intelectual do que glamourosa. Mas foi engraçado. De certa forma, eles quiseram me mostrar como uma revolucionária. E eu acho que fui, no sentido amplo da palavra, idéias novas e tal. Eu sempre lutei por idéias novas... A Cizínia Corradi lembrou bem aqui hoje: eu meninota aqui em Itaúna, com 14 para 15 anos, lendo “O Crime do Padre Amaro”, que era um livro mal visto pela Igreja. E elas todas horrorizavam, falando que era pecado! Eu dizia: “não importa, eu quero é saber as coisas” (risos). Então, eu sempre tive uma busca pela verdade, pelas coisas mais profundas com relação à vida. E na mini-série da Rede Globo me mostraram "glamourosa", mas, esta foi a maneira mais palpável que o diretor encontrou para se fazer uma personagem de idéias longas e cabelos curtos (risos).

 

Quando começou a relação com Itaúna e o que esta cidade representa para senhora?

Eu vim residir aqui em 1947 e aqui fiquei durante seis anos. Então, recebi aqui, minhas primeiras influências culturais, através do padre Oscar Bitner, que foi um pároco que veio para Itaúna na época. Era dono de uma siderurgia, uma figura muito exótica para a época, que não se enquadrava no perfil de padre. E, foi ele que me deu praticamente todo o meu caminhar intelectual: livros, orientações e cultura em geral. Quando fui para Belo Horizonte, eu já sabia o que era o Impressionismo, o, o que era Expressionismo alemão. Conheci os artistas alemães, pois o Padre Bitner tinha uma biblioteca e me dava acesso a ela. E aqui também, tive a Dona Marita Gonçalves que foi minha professora de desenho. Ela me permitia fazer um desenho fora dos padrões exigidos pela escola, que era aquele padrãozinho de fazer barras decorativas. Ela viu o meu potencial e me deixava fazer desenho livre. Então, foi muito importante para mim este desenvolvimento. Eua ia para a casa dela toda quarta-feira e isso me deu um adestramento muito grande. Quando eu entrei na Escola de Belas Artes, eu já tinha um belo desenho, em parte, pelo treinamento que tive aqui. Tive aqui minhas amigas quando adolescente e todo este encantamento que marca a vida da gente. Eu me lembro também, que ia muito na igrejinha do Rosário, na festa de agosto. E foi ali que, de certa forma, tracei a minha trajetória depois de uma preocupação com a arte popular. Se há uma parte de minha arte hoje dedicada ao artesanato e à arte popular, de certa forma ela surgiu aqui em Itaúna, na igrejinha do Rosário. Eu chegava em casa com os pés sujos de barro, meu pai quase enlouquecia...

 

'o processo de civilização é um processo lento...

E ele envolve necessariamente, a arte'

 

Em qual casa a senhora morou em Itaúna?

Era a casa da Rede Ferroviária, perto da Estação, a casa dos engenheiros. E hoje eu fiquei triste, porque a pessoa que mora lá, me disse que as paredes estão todas brancas. Elas eram cheias de pinturas. A Rede sempre foi muito requintada e trazia artistas italianos que faziam belíssimas decorações. Então, a casa era muito bonita! Esta pintura foi tampada pela tinta branca. O trabalho de restauração removeria as camadas para recuperar a camada inicial. Minha casa era uma casa chique, meu pai era muito requintado. E como a Cizínia relembrou, a casa parecia um palácio! Era todo um sistema de vida, diferente do povo daqui na época, que era gente muito humilde.

 

Existe alguma obra da senhora em Itaúna?

Hoje doei ao Centro de Artes, quatro trabalhos. É o início de um acervo que pretendo transferir para cá, de artistas mineiros.

 

Como a senhora tem visto as Artes Plásticas em Itaúna?

Eu tenho tido um contato com os artistas. O ano passado estive aqui dando aula, através dos cursos do FAT, o que não fazia há muito tempo, dar aula. E tem muita gente querendo aprender e tem um conhecimento básico mais sólido. E nós achamos que agora esta casa pode fazer isso. Eu tenho falado que os work shops, as oficinas, são os caminhos que a casa tem que tomar. Trazendo sempre novas pessoas e novos conhecimentos para todos que possam crescer.

 

A senhora conhece trabalhos dos artistas itaunenses, Levy Vargas e Gláucio Bustamante?

O trabalho do Levy eu vi agora e achei muito interessante. É um trabalho contemporâneo, muito bonito, mas conheço poucas coisas dele. O Gláucio eu venho acompanhando há mais tempo, ele foi meu aluno, nossa convivência é bem maior e estou acompanhando o trabalho dele com muita atenção. É muito bom o trabalho do Gláucio.

 

'é preciso que as comissões municipais entendam que,

emprego, não é só ser pedreiro e bombeiro'

 

Quais as perspectivas da senhora para com o Centro de Arte “Yara Tupynambá”?

Eu acho que a casa vai ser um centro gerador de cultura e idéias. É preciso que a cidade participe disso! O processo de civilização é um processo lento... E ele envolve necessariamente, a arte. Uma cidade, um povo, só se torna civil, civilizado, no sentido amplo da vida, quando ele dá importância e é capaz de cultivar estas coisas, literatura, dança, música e artes plásticas. É isso que torna o povo civilizado, o cultivo destas coisas!

 

Qual o conselho que a senhora daria ao próximo prefeito de Itaúna, no tocante às artes, no mais amplo sentido?

Eu daria, em primeiro lugar, o conselho de que ele batalhasse junto à comissão municipal de emprego, para que estes cursos de cultura fossem incorporados. Os cursos de artesanato, de vocalização e outros. É preciso que as comissões municipais entendam que, emprego, não é só ser pedreiro e bombeiro. Um músico que desenvolve seu talento tem tanta ou mais capacidade de ganhar dinheiro que um eletricista. Porque, hoje nós temos um conceito muito mais amplo, um artista não é só quem pinta um quadro, ele pinta, faz embalagem, faz projetos gráficos, escreve um texto... ë preciso que as comissões municipais de emprego percebam este potencial e não fiquem só naquela coisa corriqueira de trabalho braçal. A comissão tem uma visão muito pequena, ela não percebe que, cultura é emprego. É preciso que percebam isso.

 

Agradecemos pela entrevista e pedimos para nos deixas suas considerações finais.

Visitem o Centro de Arte “Yara Tupynambá”. Vocês vão ficar surpresos com a quantidade e a qualidade de trabalhos itaunenses que está exposta aqui. Visitem a casa, ela vai receber vocês de braços abertos!

 

- Saiba mais sobre Yara Tupynambá:

   www.yaratupynamba.com.br

 

*  *  *

 

Entrevista:

Thomas Roth

cantor, compositor e empresário musical

 

 Por Guilherme Paula de Almeida*

Para Via Fanzine

 

Thomas Roth

 

Nota do editor: Esta entrevista, para todos nós de Via Fanzine é “pra lá de especial”, sobretudo, porque conhecemos o trabalho de Luiz Guedes e Thomas Roth há mais de 20 anos e além de o admirarmos, tal trabalho nos exerceu fortes influências musicais quando trabalhamos com música em Itaúna, nos anos 80 e 90. E esta oportunidade – exclusiva – que o paulista Guilherme de Almeida nos proporciona agora é uma grande dádiva e diria até: é um prêmio ao nosso esforço aqui; à nossa luta de manter um site praticamente sem apoio financeiro de ninguém ou de patrocinadores diretos. Com o falecimento de Luiz Guedes em 1997, o Brasil perdeu um dos maiores compositores da história de sua música, que nos legou, ao lado de Thomas Roth, dois álbuns imortais e emocionantes: “Extra” e “Jornal do Planeta”, além de dois vinis compactos. Thomas Roth hoje dono de um selo musical a “Lua Discos” (www.luadiscos.com.br) mostra que, não somente em sua arte, mas através de sua pessoa, se tratar de um ser humano digno e íntegro em todos os aspectos. Aqui, muito além de um papo musical, ele nos dá uma verdadeira aula de cidadania, de irmandade e de respeito ao planeta, ao bem comum. Thomas continua levando sua mensagem, se não mais cantando e compondo ao lado do Luiz Guedes, através de seu trabalho, de seu modo de ser e de se relacionar com as nuances mundanas e “celestiais”. Suas preocupações e seu inconformismo continuam os mesmos daqueles tempos, quando ele fazia canções de protestos, de alerta; mas também, canções de esperança e de amor ao próximo. E creio, onde estiver agora (penso, em ‘alguma estrela’), tenho certeza que o Lulu (como Guedes era carinhosamente chamado pelos amigos) está muito orgulhoso do Thomas, pois nestas palavras dele aqui, há muito de Luiz Guedes, há muito da perpétua confraria da paz e do amor universal. Saboreie esta entrevista com calma, pois que, ela é histórica para nós e no mais, porque tem muito a dizer. Certamente, irá acrescentar muito em você e lhe acordar um pouco mais, para a realidade do nosso tempo, do nosso mundo, chamando às responsabilidades condizentes a cada ser humano que tem um coração batendo dentro de si e os pés colados no chão desse planeta.

 

Via Fanzine: Você iniciou a carreira aos 17 anos. Naquela época o Luiz Guedes já fazia parte da sua vida? Como se deu o encontro de vocês e como tudo começou?

Thomas Roth: Na verdade foi um pouquinho mais tarde. Eu encontrei o Luiz Guedes em meados dos anos 70 e aí eu já tinha 20 e poucos anos. Tinha o programa do Valter Silva, o Pica-Pau, o jornalista que acabou sendo um guru pra mim. Ele tinha o programa chamado “Mambembe”, que era um programa de gente nova, na Rede Bandeirantes e o programa chamado “Misturação”, na Rede Record. Este era um programa focado para a revelação de gente nova. Aí apareceu gente como Ednardo, o pessoal do Ceará como o Fagner, a Simone e os Secos e Molhados. Teve muita gente que apareceu nesta época, o próprio Belchior. Enfim, artistas que hoje estão aí na mídia e que apareceram durante estes programas. E foi uma coisa engraçada, pois que o Valter Silva era meu vizinho e foi exatamente uma pessoa que orientou muito a minha carreira porque eu tinha uma tendência de composição pra uma coisa, assim, muito etérea, uma coisa muito na terceira pessoa, falando sempre “nós”, “nós humanidade”, “nós seres humanos”, e ele insistia que eu me colocasse mais, me posicionasse mais. Ele sempre dizia que o compositor era o “repórter do sem tempo”. Que você, de alguma maneira, tem que refletir a sua época, a verdade da sua época. Eu tinha  um posicionamento mais político e, na verdade, eu já fazia também algumas músicas, mas não trazia para o meu trabalho com o Luiz Guedes. Enfim, o Luiz Guedes foi assistir a este programa. Ele tinha recém chegado  de Minas Gerais e isto eu soube quando nos encontramos. Ele ia participar do programa também, mas pelo jeito houve um problema de bastidores. O produtor do programa tinha manifestado alguma coisa contra os mineiros e ele ficou logo mordido. E falou: "não vou participar deste programa". Então, ele começou a trabalhar como vendedor de uma loja de discos no centro de São Paulo e eu trabalhava numa produtora de fonogramas publicitários de jingles, também no centro, e mexia com músicas "na paralela", participando de festivais e todos os programas que tinha na época: calouros-cultura, programas que traziam a possibilidade do surgimento de novos nomes. Uma vez, precisando comprar um rolo de fita para gravar umas músicas, eu fui numa loja da cidade para procurá-lo e entrei na loja do Luiz Guedes. Aí eu falei: "escuta, você tem uma fita de rolo aí?" "É pra gravar música e tal?" "É". "Escuta, você não tocou no programa assim, assado?"  Eu falei: "Toquei sim". Ele: “Pois é, eu ia me apresentar lá”... "Ah! Você também compõe?"  Bom, dez minutos de papo houve, assim, com a maior empatia entre nós. Combinamos de marcar um encontro porque o gosto musical batia muito. Ele me mostrou logo um trabalho do Beto Guedes que tinha acabado de surgir. Se não me engano era "Norwegian Wood", uma música dos Beatles, que o Beto Guedes gravou com o Milton Nascimento: "Maravilhoso. Putz, meu, esse é o que eu gosto". "Eu também". Logo nos encontramos. Nosso primeiro encontro foi uma loucura. A gente ficou horas e horas tocando. Surgiram uns montes de músicas, todas criadas naquela mesma noite. Daí  pra frente, a gente trabalhou durante anos e foi bem bacana. Então, isto já foi, realmente, de meados para o final dos anos 70.

 

'Talvez, eu tenha perdido a ingenuidade, mas eu não perdi o sonho,

eu não perdi o desejo de trazer mensagens construtivas,

mensagens positivas e mensagens que, de fato, de alguma forma,

tenham algum efeito transformador'

 

Via Fanzine: Em uma entrevista você afirmou que "tinha uma coisa de idealizar um pouco as mensagens e que seus antigos trabalhos eram músicas ingênuas e universais que traduziam o sonho do final dos anos 60". Você acha que essas mensagens estão esgotadas para os dias atuais? Ainda há espaço para as pessoas que querem criar um mundo onde reina a paz e o amor?

Thomas: Olha, confesso a você que eu tenho um sentimento contraditório a respeito. Eu acho que por uma questão, até, de sobrevivência, ninguém pode perder o seu sonho nunca. Não adianta a gente achar que a humanidade acabou e abandonar o sonho de ver o mundo mais justo; de ver um mundo mais humano, onde as pessoas sejam mais solidárias e, ao mesmo tempo, não adianta a gente achar que vive no país das maravilhas, porque não vive. E não é só problema do Brasil. É um problema do ser humano, mesmo. Infelizmente, a gente percebe que as pessoas matam com muita facilidade, roubam com muita facilidade e se agridem com muita facilidade. A coisa mais fácil de você ver é o cara olhar para o outro, torto, e já sair na porrada ou xingar. Então, nós estamos muito longe de uma coisa ideal, do convívio da humanidade, do convívio das pessoas. Estamos muito longe das pessoas entenderem que elas têm que se ajudar, que elas tem que trabalhar em conjunto, que elas têm que deixar de lado suas diferenças. Respeitar as diferenças. Eu acho inacreditável, ainda hoje, as pessoas terem preconceito racial e religioso. As pessoas se matam porque o cara torce por outro time, quer dizer, isto é um negócio que me faz, em absoluto, desacreditar na humanidade. Ao mesmo tempo, você percebe gestos e trabalhos de pessoas que se dedicam às atividades voluntárias nas mais variadas causas: de crianças abandonadas, de velhos abandonados, de doentes, de crianças deficientes, enfim, toda sorte de causas que as pessoas se dedicam e dedicam a vida, e entregam a vida nessas causas. Isto me faz acreditar e dizer: "opa, nem tudo está perdido".  O ser humano carrega, na verdade, dentro si,  tudo: a vida e a morte, o bem e o mal. Todos temos isto, então, eu continuo querendo acreditar. Trabalho para isto! Procuro, dentro do que eu posso, mostrar isto no dia a dia, na minha vida, na minha conduta, com as pessoas com quem trabalho, com quem eu convivo. Insisto em plantar isto na cabeça das minhas filhas: não se deixar seduzir. Não é aquela coisa de dizer: "meu! O mundo está violento, então, vai fazer curso de tiro, vai fazer jiu-jitsu". Você precisa estar preparado sim, ficar esperto sim, mas, deve tentar espalhar amor, tentar espalhar a bondade e os bons sentimentos, entendeu? Eu confesso a você que, talvez, eu tenha perdido a ingenuidade, mas eu não perdi o sonho, eu não perdi o desejo de trazer mensagens construtivas, mensagens positivas e mensagens que, de fato, de alguma forma, tenham algum efeito transformador. Eu continuo, sim, com o sonho, com o desejo de... sei lá, trazer ao maior número de pessoas as informações positivas, não só mensagens mais universais, de amor, de solidariedade, mas de conscientização mesmo, das pessoas terem uma atitude mais política, não comungarem com determinadas coisas que elas não concordam, não se deixarem violentar, não agirem incorretamente, entendeu? Quer dizer, eu continuo, sim, com esse desejo... (risos).

 

'Ainda  morrem milhares de pessoas que se deixam,

muitas vezes, levar por falsas promessas,

por propaganda enganosa, propaganda mentirosa'

 

Via Fanzine: A canção "Milagre do Amor" aborda uma temática pacifista, afirmando a superioridade da paz e do amor sobre o conteúdo do mau. A sua preocupação atual ainda vai de encontro com esta filosofia? Você ainda acredita em mensagens de paz?

Thomas: Por mais que o Bush e sua turma me façam acreditar no contrário, eu acredito que sim, quer dizer, no desejo de liberdade, no desejo de independência. O desejo de paz, mesmo, é sempre maior. Por mais que as pessoas, às vezes, se deixem oprimir. A força da violência, quer dizer, a força da força, muitas vezes, obriga as pessoas a se humilharem, a aceitarem determinadas posturas de força mesmo. Ainda assim, é do ser humano a busca da paz e o convívio pacifico, este desejo... Pra mim, a própria resistência, quer dizer, não é apenas uma questão de patriotismo, de nacionalismo, é uma questão do ser humano não aceitar o julgo de alguém que vem e diga: “pô, você vai ter, agora, que viver sob a minha bandeira, sob as minhas ordens”. Não é por aí. Então, todas estas tentativas de estabelecer as coisas à força, uma hora estoura. Uma hora arrebenta. Arrebentou no Brasil, arrebentou no Chile, arrebentou no Mundo e na URSS. O desejo da liberdade, o desejo da paz, o desejo... O Nazismo... Na época do Nazismo... A Primeira Guerra... A Segunda Guerra... Tem um momento em que as forças se impõem. Não tem jeito. Morreram e morrem milhões de pessoas. Ainda  morrem milhares de pessoas que se deixam, muitas vezes, levar por falsas promessas, por propaganda enganosa, propaganda mentirosa. Muitas vezes as pessoas acreditam que estão lutando por uma causa, pela paz. Para mim é um contra-senso: matar pela paz? O Ghandi, pra mim, foi o maior exemplo e maior prova de resistência e, agora, o próprio Dalai Lama é a resistência pacífica. Eu acredito nisto. Demora mais tempo... É claro que demora mais tempo do que pegar em armas e tudo mais, mas eu acredito, sim, na paz. Acredito! É um desejo da humanidade e quando a humanidade entender que este é o caminho vai ser muito mais fácil. Porque em se vivendo em paz é mais fácil sentar e discutir: "olha o teu caminho é um e o meu caminho é outro, mas, com certeza, temos muita coisa em comum e muitas maneiras da gente equacionar o teu desejo e o meu desejo".  A história da Terra... Enquanto Palestinos e Judeus não entenderem que aquela questão tem que ser resolvida pacificamente, não adianta... É complicado isto... Porque fulano defende que aquela terra é dos Palestinos e outro defende que é dos Judeus. Não tem jeito. Enquanto eles não entenderem que vão ter que conviver pacificamente, resolver e equacionar, eles vão viçar se matando, se matando... Isto é visível! Uma hora alguém vai acabar? Uma hora vai destruir? Não vai destruir! Um não vai conseguir destruir o outro, jamais, até porque as pessoas se espalham e se pulverizam. Hoje você tem judeus e palestinos espalhados pelo mundo inteiro. Não vão equacionar isto, nunca! Assim, todas as outras pendências que existem de povos, de fronteiras e de religiões, serão resolvidas sentando numa mesa e negociando. É óbvio que dá trabalho! É difícil fazer concessões. Muitas vezes te parecem derrotas, mas eu não acredito nisto! Eu acredito que, com diálogo, realmente, com consenso e bom senso, se consegue equacionar muito mais do que com violência. Eu continuo acreditando piamente nisto, piamente...!

 

'Temos um rio maravilhoso nesta cidade que está morto.

É inacreditável você ter rios como o Tietê e o rio Pinheiros: rios mortos!

É um canal de esgoto aberto. É uma vergonha! A culpa é nossa'

 

Via Fanzine: Em seu trabalho, juntamente com o Luiz Guedes, se nota uma preocupação constante com o ambiente terrestre. De onde vêm este sentimento de alerta?

Thomas: Acho que do próprio instinto de sobrevivência que a gente tem, não é? Quer dizer, quando você pensa... E aí sim, eu me permito ser um pouco saudosista. É engraçado quando você começa com o saudosismo e as pessoas vêm com: "isto é papo de velho". Não! Não é papo de velho! Só que quando eu era moleque, eu andava no meio do mato e colhia fruta, comia ameixa, amora, morango, banana... Tinha um monte de fruta que nascia ali, da terra. Tinha o passarinho que levava semente pra cima, pra baixo. Eu brincava em riacho, pegava peixe em riacho, bebia água de mina, de fonte... Entendeu? Era um mundo mais puro. Era um mundo mais limpo. E hoje é visível o que a humanidade está fazendo. Temos um rio maravilhoso nesta cidade que está morto. É inacreditável você ter rios como o Tietê e o rio Pinheiros: rios mortos! É um canal de esgoto aberto. É uma vergonha! A culpa é nossa. A culpa é nossa! A culpa é do ser humano, da gente que aceita este tipo de coisa e que aceita uma indústria poluir um rio, que aceita que ela polua o ar. Existem leis. Existem normas, só que não se fazem cumprir. Se o povo vai para as ruas e a gente faz parte do movimento, é óbvio que isto se fará cumprir. Somos o único país onde houve um impeachment de fato. Então, é claro que a culpa é nossa e que isto é uma preocupação... Sempre foi uma preocupação minha e do próprio Luiz Guedes e continua a ser uma preocupação minha. É bacana que vocês da Revista UFO e de Via Fanzine dão espaço para este tipo de coisa. São espaços de resistência como as das ONG's cujos trabalhos, assim como os trabalhos de muitos grupos, são vistos, hoje, de uma maneira quase folclórica, não é?  Ah, as ações. Abraça um parque, abraça uma árvore, abraça um rio; isto é muito sério. Puxa, salvar o planeta, que é a nossa casa! O ar que a gente respira e água que a gente bebe; a Terra está contaminada com tantos tóxicos e tudo mais. É uma preocupação séria, sim, e deveria ser de todo mundo. Por que? Porque a gente sabe que poderia ter os mesmos resultados econômicos, vale dizer, indústrias, lavouras e etc, de uma maneira racional. É que o que existe é esta ambição desmedida. É uma despreocupação total e as pessoas estão pouco se lixando! Não precisa ir longe. Quantas vezes a gente vê num sinal de trânsito, o sujeito abre a janela do carro e joga um saco de papel ou uma lata ou um toco de cigarro... O Mundo é um grande lixo! Isto é uma  vergonha! Fico indignado! Toda vez que eu vejo um sujeito jogar alguma coisa pela janela do carro, me da vontade de descer do meu carro e falar: "Amiguinho, joga no seu lixo". Talvez eu deva pegar sem falar nada, pois sou capaz de levar um tiro só de bater no vidro (toc, toc)  do carro e falar para o cara botar o que ele jogou no lixo. O cara não vai falar: "Caramba, você tem razão, obrigado". O cara não vai falar isto. Jamais!  Então você tem que ir lá e fazer papel de idiota, embora que eu não acho que é papel de idiota... É uma atitude de exemplo você pegar o lixo que o cara jogou no meio da rua e jogar no saco de lixo. Porque é isto: as pessoas fizeram do mundo um grande lixo. As pessoas não percebem que este pequeno gesto não muda nada, mas a soma disto, sim. É só ver os rios! É inacreditável. Não é possível! São toneladas e toneladas de lixo. Os lixos que se acumulam nas bocas de lobo... Muitas das inundações são por isto... Todas as vias de canalização foram obstruídas. O que acontece? Acabam morrendo pessoas. As pessoas não têm consciência de que isto é fruto de suas próprias ações errôneas, independente de problemas geográficos, que existem de fato, mas que são outros problemas a serem resolvidos.

 

'Angra é um paraíso... Aquilo é maravilhoso!

Uma usina nuclear ali no meio é uma aberração total.

É uma verruga enorme na ponta do nariz da Gisele Bündchen'

 

Via Fanzine: Na música "Angra", você e o Luiz Guedes tratam do perigo de haver usinas nucleares numa das mais belas regiões do Brasil. Por que vocês dizem que "tua sorte está selada, Angra?".

Thomas: Olha, porque na verdade a primeira intenção foi demonstrar que não havia mais jeito. Já estava determinado que as usinas seriam instaladas ali. Tomara que seja uma previsão errônea nossa, porque, na verdade, a gente acredita que, cedo ou tarde... Tomara que isto não aconteça, mas cedo ou tarde vai ter algum tipo de resultado negativo porque a energia atômica é um brinquedo perigoso. A gente sabe que, se bem utilizada, de maneira responsável, inteligente e racional, é uma fonte de energia importante, mas, existem outras fontes de energias não poluentes e menos arriscadas como a energia aeólica e a energia solar. Tem tantas formas de energia que às vezes são mais caras, num primeiro momento, mas que acabam se tornando mais baratas e menos nocivas, muito menos perigosas. A gente sabe de todos os desdobramentos que pode haver da energia atômica. A energia nuclear é uma energia que, de fato, nos amedronta. De fato, nos preocupa. Tomara a Deus, que esta música, na verdade, tenha sido uma previsão errada porque a gente sabe que Angra é um paraíso... Aquilo é maravilhoso! Uma usina nuclear ali no meio é uma aberração total. É uma verruga enorme na ponta do nariz da Gisele Bündchen (risos).

  

Via Fanzine: Atualmente você se dedica a Lua Discos. No seu cast de artistas há algum que tenha abordado o tema Ufologia a exemplo de sua canção “Jornal do Planeta”, onde vocês abordam o acobertamento de informações?

Thomas: Eu, na verdade, tenho um alienígena (risos). Acho que todo artista é um maluco. Considero-os seres de outro planeta, todos! São pessoas tão únicas. É engraçado, são pessoas tão diferentes. Considero cada um deles pessoas muito especiais, únicas. Não daria, pra te dizer, assim, especificamente, se há um ou outro, mas, por exemplo, temos uma figura muito interessante...

 

Via Fanzine: O alienígena? (risos)

Thomas:  É... (risos) é o Jarbas, que é uma figura! Uma pessoa, assim, muito particular cuja preocupação é exatamente trazer e levar mensagens... Quando você conversa com ele, as pessoas falam: "Este cara é maluco!" (risos). É uma pessoa ecumênica, quero dizer, não que ele é um portador da mensagem cristã ou da mensagem judaica, protestante, budista ou hinduísta. Não! Ele é um cara cuja preocupação é trazer boas mensagens, conforto.  É muito  bonito o trabalho dele e se você conversar com ele, vai perceber que é uma pessoa especial. É uma pessoa que irradia. Eu nunca assisti a um show dele, mas o Zé Luiz, diretor artístico da Lua Discos e que trouxe o trabalho dele para cá, disse que as pessoas choram e se emocionam. É um negócio impressionante e bonito! Maravilhoso! Quando você consegue interferir na vida de alguém positivamente, pôxa, é  uma benção.

 

'Quando você consegue interferir na vida

de alguém positivamente, pôxa, é  uma benção'

 

Via Fanzine: Hoje em dia você é mais publicitário, músico, empresário ou cantor?

Thomas: Olha, virei empresário por força das circunstâncias, infelizmente. A gravadora, da mesma forma, porque, infelizmente, a gente vive num país que ainda carrega uma visão quase escravagista, não é? Aqui  o brasileiro empresário acha que quando está te dando um emprego, está te fazendo um favor. Não entende que, na verdade, é uma relação de troca. Todo mundo precisa de todo mundo. Ninguém consegue fazer nada sozinho. Se eu te dou um emprego é porque preciso de você, não estou te fazendo um favor. É porque você é bom, é porque você me é útil ou é útil para a empresa, que acredita no seu trabalho. Não somos uma instituição beneficente e ninguém a é. O empresário brasileiro tem esta visão escravagista do tempo do império: “Pôxa, eu estou te dando um emprego e você ainda quer ganhar salário?” (risos).  Se pudesse, ele pagaria apenas um prato de comida, quando muito... É ridículo isto. Uma brincadeira. Então, eu acabei me tornando empresário não que eu tivesse patrões algozes, mas eu tinha este desejo de independência. Eu procuro praticar na Lua Discos uma política muito livre. Detesto ser patrão. Não sou patrão. Não tenho postura de patrão. Às vezes os caras ficam brincando e me chamam de chefe só porque sabem que eu detesto. Eu falo que quem tem chefe é índio, enfim, eu só me tornei empresário por força das circunstâncias. Eu queria ter independência para poder tocar outros projetos de vida. Então eu acabei montando a Lua Nova e, graças a Deus, eu tenho parceiros e não empregados. Todos são parceiros. Todas as pessoas são importantíssimas. Faço questão absoluta de sempre dividir com elas todas os louros ou o que quer que seja: "Não! Espera aí, vem cá, deixa-me tirar as fotos com os caras aqui porque nós somos um time aqui". Essa visão eu faço questão absoluta de ter. A coisa da Lua Discos foi exatamente um pouco, também, por causa disto. Porque as gravadoras... Isto é um problema gravíssimo que a gente tem. As gravadoras, todas no Brasil, as majors, são todas representantes de multinacionais que há muito tempo atrás se prestaram, sim, à cultura. Fizeram um bom trabalho para a cultura. Enquanto revelavam artistas genuinamente bons e brasileiros, não é? Toda esta legião dos medalhões que está aí até hoje: Caetano Veloso, Djavan, Milton Nascimento e todos mais. Eles, todos, surgiram nas majors. Mas, nos últimos, talvez, 20 anos, começou uma cultura de importação de coisas de fora ou de modelos de fora. Então, no México tem uma onda que está rolando, em que travestem o artista brasileiro com aquela onda do México ou simplesmente importam o tape por um nada ao invés de gastarem aqui em produção e de investir na carreira do cara, porque isto ficou muito caro. Uma carreira leva dez anos para se consolidar. Isto é histórico! De investimento... Então, hoje em dia as ferramentas do marketing facilitaram. Você pode ficar famoso do dia para a noite. Se você for relativamente bom, você vira um sucesso. Fabricar um sucesso, portanto, ficou mais fácil. Então, eles passaram a fabricar sucesso, só que a indústria da cultura foi para o vinagre. A verdadeira indústria da música, dos valores brasileiros e tudo o mais foi para o espaço. Aí, como sempre, existe isto, o que é bacana: como uma forma de resistência, começaram a pipocar dezenas e dezenas de selos independentes e hoje existem mais de 500 selos no Brasil e muitos já possuem artistas grandes. Os selos tiveram a coragem de apostar em produtoras independentes e isto vai detonar o modelo das grandes gravadoras, com certeza. Elas vão virar indústrias de entretenimento e os selos já estão virando indústrias de cultura, aquelas que, de fato, mostram os trabalhos de raízes e o desenvolvimento de novos artistas. São duas indústrias completamente diferentes. Por isso  eu abri a Lua Discos; para dar espaço para os velhos, vamos dizer, para as pessoas e valores que foram esquecidos ou abandonados pela mídia: o Guilherme de Brito, da velha guarda da Mangueira e outros como Casquinha da Portela e a Ângela Maria, que são artistas  importantíssimos deste país. Artistas como Jards Macalé  e muita gente nova também... A gente acabou abrindo espaço para esta turma toda... O Jarbas Taurino de quem eu falei, uma figura absolutamente ímpar...

 

'Fico feliz porque conseguimos registrar um trabalho

tão importante de um senhor que hoje tem 83 anos de idade,

como intérprete, mostrando suas músicas inéditas'

 

Via Fanzine: Nos fale dos artistas exclusivos da Lua Discos.

Thomas: Puxa! São tantos artistas... Têm muitos... Todos bons. Como eu disse: Guilherme de Brito, da velha guarda da Mangueira. Eu fiquei tão feliz de ter feito dois discos dele; ele é o principal parceiro do Nélson Cavaquinho, autor de obras importantes... Fico feliz porque conseguimos registrar um trabalho tão importante de um senhor que hoje tem 83 anos de idade, como intérprete, mostrando suas músicas inéditas. Tem o Casquinha da Portela, a própria Ângela Maria e o seu disco de 50 anos de carreira de uma mulher tão importante na MPB. A Elis Regina sempre dizia que ela se inspirou na Ângela Maria para começar a cantar. O primeiro disco da Elis é a Ângela Maria puro. Temos a Rebeca Mata que é uma artista baiana alternativa espetacular. Temos o Moisés Santana, a Virgínia Rosa, o Jarbas Taurino, a Isabelê, o Edson Montenegro... Puxa vida! Músicos e instrumentistas como Carlinhos Antunes, entre outros, Moacir Luz, um sambista da nova geração do Rio de Janeiro. O trabalho dele é espetacular. Temos, ainda, o trabalho do Maurício Pereira que é divertidíssimo. Fiz o primeiro trabalho do Tomati, guitarrista do programa Jô Soares, cantando... A gente teve  oportunidade de fazer muitos discos... Do Nélson Ângelo... Enfim, muitos artistas. Os muitos discos estão compondo um catálogo muito sério. Catálogo de música boa. Tem gente que vai gostar, tem gente que não vai gostar, mas, acima de tudo, é um trabalho de conteúdo sério e importante, um conteúdo cultural e artístico genuinamente brasileiro. É nisto que estou apostando.

 

'A música brasileira dia a dia conquista espaços.

Este é o ano do Brasil na França, de novo o Brasil está na moda'

 

Via Fanzine: E a Lua Discos ainda enfrenta muitas dificuldades no mercado fonográfico?

Thomas: Olha, sim e não, porque, na verdade, as dificuldades são naturais. Todas as mídias - salvo a mídia escrita - estão praticamente fechadas. Em alguns poucos programas de rádios, alguns pequenos focos seja em São Paulo ou pelo país afora, se abrem alguns espaços. São programas de rádio que não foram contaminados pelo "jabá". Também alguns programas de televisão não foram contaminados pelo "jabá". A mídia escrita, porém, é a mídia que menos foi contaminada pela coisa da grana para executar um trabalho, o "jabá". Então, isso dificultou. Fica muito difícil você trazer o trabalho de um artista, divulgar amplamente o trabalho deste artista e, ao mesmo tempo, estes formatos tradicionais, como eu digo, serem muito fechados, mas existem novas mídias que estão nos possibilitando: a Internet, que está democratizando. Então, em breve nós iremos ter a possibilidade de estar lançando todos os trabalhos via Internet e ir espalhando isto para o mundo. Tanto é verdade que nós já exportamos trabalhos para o Japão. Temos exportado para a França, para Portugal. Pouca coisa... É dinheirinho, dinheirinho. É pouca coisa... Mas é aquela brechinha, é aquela semente, porque tem brasileiro espalhado pelo mundo inteiro e tem muita gente que ama a música brasileira. A música brasileira dia a dia conquista espaços. Este é o ano do Brasil na França, de novo o Brasil está na moda. A música brasileira sempre esteve na moda e as pessoas amam a música brasileira no mundo inteiro. Então, eu vejo com muito otimismo e nós estamos começando uma nova fase da Lua Discos. Nós sempre trabalhamos com parceiros na área da distribuição e neste ano nós estamos iniciando com distribuição própria porque no fim, nós estávamos insatisfeitos, sempre insatisfeitos e com artistas questionando e reclamando com razão, então, a gente está começando a andar com as próprias pernas. Com todas as dificuldades naturais, com toda a sorte de dificuldades, a gente vende um pouquinho, mas vamos abrindo os espaços. Vocês, por exemplo, estão abrindo mais um espaço para a gente e, com certeza, umas cinco ou dez pessoas que sejam, vão se interessar pelo trabalho da Lua Discos, vão entrar no site e, assim, a gente não tem pressa. O importante é você trabalhar com seriedade e honestidade, todo dia um tijolinho... Chegará uma hora em que a construção estará feita.

 

'Daqui a pouco eu faço o meu trabalho. Este “daqui a pouco”

já faz sete anos e já gravamos mais de 70 discos'

 

Via Fanzine: Como está o seu  projeto de lançamento de um novo trabalho?

Thomas: Este é um negócio engraçado! Eu abri a gravadora, entre outras coisas, como forma de resistência, exatamente por isso, porque eu queria gravar o meu disco e eu falei que não queria mais gravar numa gravadora grande. E eu não quero, porque eles vão querer me travestir de uma outra coisa que eu não sou. Quero fazer o meu trabalho que tem um foco mais político, tem um foco, assim, assado. Só que, quando eu abri o selo, eu já tinha o trabalho pronto, mas eu comecei a descobrir o quanto tinha de gente boa... Sabe aquela coisa? Você fala... Putz! Vamos primeiro fazer os deles. Daqui a pouco eu faço o meu trabalho. Este “daqui a pouco” já faz sete anos e já gravamos mais de 70 discos.

 

Via Fanzine:  A última informação que tive eram 25 discos...

Thomas: Já são mais de 70 discos em sete anos. Agora estamos no nosso sétimo ano, então eu falei: "Não! Agora este ano eu vou fazer... Eu já comecei a gravar e, se Deus quiser, até o final do ano...".

 

Via Fanzine: No ano passado você já deu uma mostra, gravando uma música do grupo "Premeditando o Breque" em  homenagem à cidade de São Paulo...

Thomas: Ah foi, exatamente! Foi para a comemoração do sexto ano do nosso trabalho. Quando nós fizemos 6 anos de Lua Discos e 450 anos de São Paulo, então, nós fizemos um disco só com os músicos de São Paulo, todos artistas da Lua Discos.

Thomas e a equipe de produção da entrevista:

Guilherme, Venício e Luan (detalhe).

 

'Esta alma que a gente tem, que é admirada por todo o mundo.

Se a gente souber usar isto ao nosso favor,

nós somos o maior país do mundo'

 

Via Fanzine: Suas canções sempre trouxeram uma certa “preocupação nacional”, seja politicamente, seja no tocante à preservação ambiental. Por que tanta preocupação com o nosso país?

Thomas: A coisa que eu tenho a  mais profunda paixão é o meu país, pois eu me orgulho muito de ser brasileiro. Quanto mais eu viajo para fora, vejo como o nosso país é maravilhoso. Se o brasileiro entendesse a  mistura de povos que compõe o povo brasileiro: a mistura do negro, do índio e do português, isso foi gerando uma alma... Esta coisa meio de “vira-lata” que a gente tem é do cacete! (risos) É maravilhoso! O que é um vira-lata? É aquele que você fala: "Vem aqui seu safado"! É carinhoso, é bonzinho, é inteligente. Ele se vira em qualquer situação. Pode nevar, pode ser o que for, o bicho não morre, o bicho está ali. É adaptável e é isto o que somos. Esta alma que a gente tem, que é admirada por todo o mundo. Se a gente souber usar isto ao nosso favor, nós somos o maior país do mundo!

 

Via Fanzine: Você e o Luiz Guedes até compuseram uma música neste sentido, “Pátria”!

Thomas: Exatamente! E tenho umas 10 abordando o Brasil, algumas irei gravar no novo disco. Enfim, nós temos um país abençoado e não temos por que morrer de fome e de sede. Por tudo o que a gente tem de rios, terras e tudo mais... É só a gente ter um pouquinho de vergonha na cara e assumir o nosso país. Eu sou, assim, um patriota (risos); brasileiro até debaixo d’água.

 

* Guilherme Paula de Almeida é Escrevente Técnico do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, bacharel em Direito pela Universidade Braz Cubas de Mogi das Cruzes e pós-graduando "lato sensu" em Direito Público pela Escola Paulista da Magistratura. É colaborador da Revista UFO e do portal UFOVIA.

 

- Fotos: Venicio da Silva Cunha.

- Apoio técnico: Luan Augusto da Silva.

- Edição final: Pepe Chaves.

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