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 110 ANOS DE DORNAS

 

João Dornas Filho:

Uma trajetória a se comemorar

Homenagear um escritor, do nível e exponencial como João Dornas Filho,

representa cultivar determinados valores culturais que engrandecem nossa gente e nosso povo.

 

Por Geraldo Fonteboa*

De Itaúna-MG

Para Via Fanzine

07/08/2012

 

João Dornas Filho

 

Esta semana (07 de agosto) comemoramos os 110 anos de nascimento de João Dornas Filho, o maior escritor de nossa terra, e ninguém fez nenhuma alusão a ele. Nem mesmo o Instituto Maria de Castro Nogueira, detentora de manuscritos inéditos e dos originais de suas obras publicadas. Provavelmente, se Dr. Guaracy de Castro, estivesse ainda conosco, não deixaria de render-lhe uma singela, mas significativa homenagem. Isso demonstra que as autoridades e os intelectuais da cidade desconhecem a obra deste expoente de nossa literatura. E é por isso que, para muitos, João Dornas Filho foi apenas alguém que emprestou o nome a uma escola da cidade.

 

Não se trata aqui de venerar um escritor, ou mesmo um mito ou ícone do nosso passado. Não. Trata-se de reconhecer que o escritor, como tantos outros profissionais, que levou e elevou o nome de nosso município para todo o Brasil. Render-lhe uma homenagem não é voltar e nem ficar preso a um passado glorioso, ou engrandecer um personagem de nossa história. Render-lhe uma homenagem é oportunizar às gerações atuais e às futuras gerações, não só conhecimento de sua obra, mas instigar o aparecimento de novos escritores, de novos intelectuais e de novos indivíduos comprometidos com os valores culturais, morais e históricos de nossa cidade.

 

Homenagear um escritor, do nível e exponencial como João Dornas Filho, representa cultivar determinados valores culturais que engrandecem nossa gente e nosso povo. A seriedade, o cuidado e o zelo de João Dornas Filho pela diversidade, pela complexidade e riqueza cultural do povo brasileiro, e mais especificamente, mineiro, pode servir de exemplo e estímulo para inúmeros estudantes e intelectuais nos dias atuais. Um povo que despreza seus expoentes; um governo que não valoriza seus cidadãos de ontem e de hoje, não contribuem com o engrandecimento da sociedade que administra.

 

Diante do silêncio das autoridades e do Instituto que mantém as obras e os originais deste escritor, que chegou a ocupar uma cadeira na Academia Mineira de Letras, além de inúmeros cargos públicos (dentre eles, o de diretor do Arquivo Público Mineiro, o maior centro documental e de pesquisa de Minas Gerais), permite-nos uma reflexão: de que nos serve um título de cidade educativa? Do que adianta sermos uma cidade universitária se os expoentes intelectuais de nossa terra não são valorizados? Não estaríamos, de modo camuflado, dizendo aos nossos jovens, para que se esforçar, ser os melhores, se somos os primeiros a não reconhecer seus esforços e as suas qualidades? Não estaríamos jogando na lata de lixo o título de cidade educativa? 

 

A trajetória de João Dornas Filho, como intelectual, como pesquisador, escritor, e coletor das riquezas etnográficas e antropológicas e, principalmente, como escritor deveria estar sendo estudada em nossas salas de aulas, tanto públicas quanto particulares. A Secretaria de Educação não era quem deveria ter iniciado um processo, mobilizando os alunos dos cursos de licenciatura de nossa “Grande Universidade” e do Instituto Maria de Castro Nogueira, para transformar este ano de 2012 no ano de João Dornas Filho. Afinal neste ano em que se comemora, não só os 110 anos de seu nascimento, mas também os 50 anos de sua passagem, de sua morte. Afinal, não se trata de um intelectual qualquer. João Dornas Filho, foi um dos grandes expoentes do movimento literário modernista que buscou novas perspectivas para a arte e cultura nacional.

 

Homenagear um autor, como João Dornas, não é “endeusar” um homem, mas recuperar o valor de sua obra na construção de nossa identidade. Assim sendo, a melhor forma de fazer esta homenagem é tornar sua obra conhecida, lida, debatida e reinterpretada. Esta é a grande riqueza que qualquer autor espera ao publicar uma obra: ser lido, provocar novos debates e novas possibilidades de interpretação do mundo que ele viu, sentiu e escreveu.

 

Parabéns, João Dornas Filho, pelos 110 anos de seu nascimento e obrigado por seu legado, que, lamentavelmente, ainda é desconhecido pela maioria de seus conterrâneos.

 

* Geraldo Fonteboa é professor e pesquisador da obra de João Dornas Filho.

 

- Foto: Arquivo Via Fanzine.

 

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