acervo digital do historiador mineiro

 SOBRE JOÃO DORNAS FILHO

 

 

A influência de João Dornas Filho

nos estudos universitários

 

Por Geraldo Fonte Boa

De Itaúna-MG

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Não esqueço meu primeiro contato com a produção de João Dornas Filho. Estava cursando filosofia na PUC, lá pela década de 1980, quando estava fazendo um trabalho de Antropologia Cultural e foi indicada a leitura de um de seus textos sobre os Ciganos no Brasil. A seguir foi O Cabelo Humano na Feitiçaria e depois vieram tantos outros trabalhos em que este autor colecionou. João Dornas Filho passou a ser leitura obrigatória para aquele simples trabalho acadêmico de uma disciplina na faculdade.

 

Mais tarde vim saber que a produção de João Dornas Filho não era apenas uma referência no campo da Antropologia Cultural, mas também no campo da Sociologia e da História. Suas obras, Capítulos da Sociologia Brasileira, Aspectos da Economia Colonial, Contribuição Social do Negro no Brasil e Ouro das Gerais e a Civilização da Província eram referências entre os cursos de graduação e pós-graduação nas grandes universidades do Brasil. O vigor do trabalho deste ilustre itaunense está, não em uma análise profunda dos temas abordados, mas principalmente, no grande número de informações que ele oferece ao leitor.

 

João Dornas Filho é considerado um “minerador de dados” no sentido pleno do termo. Ele fez o difícil e importante trabalho de “garimpar” informações que servem de base para análises no campo da História, Economia, Sociologia e Antropologia. Seus trabalhos são referenciais devido a este grande leque de informações que apresenta. Sem contar com o sabor de uma leitura fácil e apaixonante. Exemplo do sabor, encontrado na leitura de Dornas Filho é Cantiga dos capinadores de rua de Belo Horizonte. Neste trabalho, além da sensibilidade para detalhes do cotidiano da cidade, nosso autor revela o quanto é importante ouvir o outro, ouvir a cidade e aquele que quer falar. Esta sensibilidade de saber ouvir é que comove grande parte dos universitários. E por que isso ocorre? Porque, lamentavelmente, os estudos universitários são, ainda, muito limitados à bibliografia, à biblioteca.

 

Há outras obras de João Dornas Filho que merecem comentários específicos, mas não cabe aqui fazê-los, além disso, há outros estudiosos que poderão fazê-lo com maior propriedade. No entanto, não posso deixar de salientar a riqueza cultural apresentada em Achegas de Etnografia e Folclore. Esta obra é um banho de cultura e, principalmente, um apelo à construção da identidade cultural de Minas Gerais. Nela, Dornas apresenta com cuidado e respeito, a riqueza da cultura popular de sua época; as tradições do povo mineiro, suas crendices, superstições, lendas, trovas etc.

 

No entanto, acredito que a grande produção de João Dornas Filho ainda está oculta do grande público. Estamos diante de um grande trabalho que ainda está por fazer. Grande parte da produção de João Dornas Filho encontra-se nos diversos jornais, não somente de Minas Gerais, mas também no Rio Grande do Sul, São Paulo e do Nordeste brasileiro. João Dornas Filho publicou muito em jornal e revista e creio que está na hora de reunirmos toda esta produção e torná-la conhecida não só para o público itaunense, mas mineiro, brasileiro e da língua portuguesa em geral.

 

Não se trata apenas de engrandecer um itaunense, mas de valorizar o que um escritor e pesquisador fez durante toda sua existência: buscar revelar a identidade de seu povo; não só a história deste povo, mas sua maneira de pensar, de acreditar e de se rebelar contra uma realidade dura e cruel. João Dornas Filho percebeu que o povo mineiro tinha um jeito peculiar de enfrentar os problemas do seu dia-a-dia. E era esta maneira que o tornava único, exclusivo. Acredito que se conseguirmos reunir toda a obra de João Dornas Filho vamos criar uma oportunidade de um encontro conosco mesmo.

 

 * Geraldo Fonte Boa é editor, professor de História, membro da Academia de Letras de Pará de Minas e pesquisador da Obra de João Dornas Filho.

 

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Dornas continua vivo

Por Pepe CHAVES*

De Itaúna-MG

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João Dornas Filho está para Itaúna, assim como Carlos Drummond de Andrade está para Itabira, João Guimarães Rosa para Cordisburgo e Nelson Rodrigues para o Rio. João Dornas dos Santos Filho nasceu praticamente junto com a cidade de Itaúna, antigo arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima, em 07 de agosto de 1902 e faleceu em 11 de dezembro de 1962.

 

Dornas foi mais que apenas o maior escritor da história de sua cidade. Além de versar em todos os estilos, ele foi acima de tudo um grande pesquisador. Trabalhou por anos a fio entre a poeira de pilhas documentais e objetos antigos. Como que viajante de uma Máquina do Tempo com destino ao passado, Dornas mergulhou com gosto e afinco nos idos de Minas Gerais em particular, além de outras regiões brasileiras. Altamente preocupado com as informações histórias de Itaúna, escreveu livros e centenas de artigos em jornais de todo o Estado, dissertando sobre o passado curioso e pitoresco de sua terra natal.

 

Sua proximidade com alguns ilustres integrantes mineiros do Movimento Modernista Brasileiro lançado por Mário de Andrade, na década de 20, já mostrava, quando de seus vinte e poucos anos, a que viera aquele mineiro do interior, com jeito matuto, mas com um raciocínio pra lá de astuto. Ficou reconhecido entre os modernistas, como um crítico ao sistema Republicano, regime do qual, ele e seu pai foram adeptos ferrenhos e, assumidamente contrários aos interesses da Monarquia portuguesa.

 

Em verdade, Dornas foi muito mais que o moço politizado e inconformado que co-editava o suplemento Leite Criôlo e nele manifestava sua opinião temperada com boas pitadas de humor. Antes de se tornar escritor, já nascera com o sangue de historiador, tal como aquele homem das cavernas que riscava de forma arcaica a parede da sua casa visando deixar seus registros às futuras gerações. Dornas também sabia da importância desse instinto natural ou dessa “quase necessidade” humana, de se registrar para a posteridade. Sabia que o registro seria a fonte de sabedoria, superação, experiência e consciência, nos mais amplos aspectos, para as gerações vindouras da sua espécie.

 

Se pudessem hoje estar entre nós, o preocupado homem da caverna citado acima, juntamente com o nosso cuidadoso João Dornas Filho, certamente, ambos estariam cravando seus registros em páginas de jornais ou páginas virtuais. Com certeza, a julgar por seus corações quentes e sedentos em legar informação ao futuro, estariam agora por detrás destas frias máquinas chamadas computadores, mas que tantas emoções exprimem...

 

Contudo, creio que Dornas permanece vivo entre nós, pois, um historiador nunca morre. Sua centelha imortal continuará a vibrar pelos meandros do mundo, diante aos olhos e à sede de informação das pessoas, levando seus escritos, suas memórias, críticas e registros: amores, decepções, revoltas, comemorações, desilusões e alegrias...

 

É assim que vemos Dornas atualmente e sempre: como um cidadão que permanece vivo e ainda trafega entre nós, sempre cumprindo sua função de “informatizador”, que enalteceu a Deusa História antes de mergulhar definitivamente nos braços dela, porém, não sem antes se assegurar de nos legar seu valioso trabalho impresso em milhares de fontes a repercutir por anos a fio.

 

 * Pepe Chaves é editor do jornal Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e pesquisador da Obra de João Dornas Filho.

 

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