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 Apollo 11

 

A saga dos 40 anos da Missão Apollo 11:

Do Vale do Antílope ao solo lunar Parte 4

Faz 40 anos, os primeiros seres humanos aportaram em solo lunar.

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Por Márcio R. Mendes*

De Dois Córregos/SP

Para ASTROvia_

 

Foto da Apollo 8: a Terra vista pela primeira vez da Lua.

Esta fotografia inspirou Caetano Veloso a compor a canção "Terra".  

 

 

Preparativos finais

 

Os programas Mercury e Gemini, que levaram respectivamente um e dois homens ao espaço, responderam questões básicas para as primeiras incursões além da atmosfera terrestre. Estava claro que organismo humano poderia ir ao espaço, trabalhar e descansar naquele ambiente. Já era possível encontrar-se com um alvo espacial, acoplar-se à ele, efetuar transferências de órbitas e muito mais. Tudo fora testado nas imediações do nosso planeta, de forma competitiva até, entre norte-americanos e soviéticos.

 

Naquela altura, algumas sondas não tripuladas já haviam pousado com sucesso na Lua e de lá transmitiram imagens de um mundo totalmente diferente de nossas paragens aqui da Terra. Apesar do ambiente severo (muito quente ao sol e muito frio à sombra), tudo levava a crer que seria possível um pouso tripulado em nosso satélite natural. Para tanto, os dois projetos anteriores, Mercury e Gemini, culminaram no Programa Apollo tornou-se real, na forma de um mega-empreendimento.

 

Naqueles anos, após equiparar-se aos concorrentes soviéticos, a Nasa transformava-se, especializava-se e também tornava-se um pouco arrogante. Parece ter se esquecido das inúmeras lições de cautela, sobretudo, quanto aos testes dos foguetes antes de inserir qualquer tripulação. Talvez, instigados pelo discurso do já falecido Kennedy e pelo excesso de confiança, marcaram o voo inaugural da missão Apollo 1 (a primeira a levar três homens ao espaço) com uma tripulação que reunia o veterano Virgil Grisson, o primeiro norte-americano a realizar uma EVA (caminhada espacial), o experiente Edward White e o estreante Roger Chaffe.

 

Apollo 1

 

Alguns meses antes, em 27 de janeiro de 1967, uma sexta-feira, o astronauta Michael Collins, que voou com John Young no Gemini 10, entrava no gabinete dos astronautas para tratar de trivialidades administrativas, quando viu um de seus dirigentes atender o telefone vermelho sobre a mesa. Não era um bom sinal. Conta que o atendente desligou em seguida e com alguma perplexidade comentou aos presentes “(...) fogo na espaçonave!”, referindo-se aos astronautas Grisson, White e Chaffe que treinavam na nova Apollo 1.

 

A tragédia teve origem em um curto-circuito no interior da espaçonave, que mantinha uma atmosfera de oxigênio puro à pressão de 16 psi, junto a muito material inflamável, começando por boa parte do próprio traje dos astronautas. Conta Collins em seu livro Carrying the fire – as astronaut’s journeys que havia preocupações com o desempenho dos motores, sua atuação no espaço e até como a redução da pressão na cabine poderia extinguir um incêndio no espaço. Mas nunca haviam pensado em um incêndio ali, na plataforma de lançamento, vitimando fatalmente, três grandes astronautas. Havia planos complexos para salvaguardar a vida dos ocupantes, se o foguete incendiasse na plataforma de lançamento, mas o incêndio no interior da cápsula, simplesmente não era considerado. E foi o que aconteceu.

 

O fato atrasou bastante os planos da viagem lunar, começando pelas trocas de acusações entre a Nasa e a North American. A primeira acusando de negligências e a outra se defendendo com os “limites” apertados de prazos a cumprir. Collins chega a lembrar da possibilidade de quantos astronautas poderiam ter desistido (apoiados pelas respectivas esposas); do caos que se instalou ao recomeçarem os trabalhos, revendo detalhes da espaçonave, da pesada escotilha, das vestimentas, dos sistemas de suporte de vida e dos desentendimentos das empresas envolvidas. O fato é que ninguém desistiu e tanto a Nasa quanto a North American se entenderam, retomando suas responsabilidades e executando seus trabalhos com grande profissionalismo.

 

Foto curiosa mostra os três astronautas vitimados na Apollo 1 "venerando" uma maquete da cápsula em que morreriam mais tarde. São eles: Edward White (voou na Gemini e foi o 1º americano a fazer caminhada espacial, depois do russo Alexei Leonov),

ao centro, o veterano Virgil Grisson (o 2° americano a voar depois de A. Shepard) e à direita, o novato Roger Chaffe que iria ao

espaço pela 1ª vez. Na outra foto a tripulação aparece com seus novos trajes Apollo (diferentes dos usados na Gemini que,

por sua vez, era diferente do da Mercury). A foto menor mostra um dos astronautas da Apollo 1, com os trajes incinerados.

 

Apollo 2 a 7

 

Seguiu-se uma série de testes Apollo, com lançamentos de espaçonaves não tripuladas. Apesar de terem siglas específicas de batismo, tratavam-se do que seriam as missões Apollos de 2 à 6.

 

Finalmente, em 12 de outubro de 1968, a Apollo 7 faz o primeiro lançamento bem sucedido levando uma tripulação de três astronautas, tendo como comandante o veterano, dos voos Mercury, Walter Schirra e os estreantes Don Eisele e Walt Cunningham. O lançamento e o voo de 11 dias foram bem comportados, provando que o gigantesco foguete Saturno V poderia levar homens à órbita terrestre. A pergunta então foi a seguinte: este potente foguete poderia levar o homem até à Lua?

 

Tripulação da Apollo 7: da esquerda para a direita, Don Eisele (novato); o veterano

Walter Schirra (voou na Mercury e na Gemini) e este foi seu último voo e o também  

novato  Walt Cunninghan. Os dois novatos fizeram somente este voo.

 

Apollo 8

 

Com apenas um lançamento tripulado bem sucedido (Apollo 7), o passo seguinte foi bastante ousado: a Apollo 8, quando, pela primeira vez, seres humanos romperiam os laços gravitacionais com o planeta natal e voariam até a órbita da Lua. Até então, apenas sondas não tripuladas já haviam cruzado essa distância.

 

Naquela época, segundo Michael Collins, uma preocupação particular maior que os detalhes do voo à Lua começou a atormentar-lhe. Embora tenha relutado, sentia que havia algo errado com ele: a perna, por vezes, parecia não obedecer comandos do cérebro; sensações estranhas de extremos de temperatura numa e noutra perna, além de outros sintomas, fizeram-no procurar o médico da Nasa. Seu temor estava relacionado com os dois modos com que poderia sair dali: em condições de voo ou preso a uma cadeira de rodas.

 

Com a premissa de que se tratava de um oficial altamente especializado da Força Aérea, então seu corpo pertencia à Força Aérea e outros centros médicos cooperaram em sua recuperação. Neurologistas de Harvard, da Força Aérea e de Houston “disputavam” o paciente Collins.

 

Nas palavras de Michael Collins “No domingo, 21 de Julho, Susan Borman (referindo-se à esposa do comandante da Apollo 8) veio para ficar em nossa casa (...) e Pat (sua esposa) e eu, fomos de carro pelas duzentas milhas até San Antonio, a fim de jantarmos e eu entrar para o Hospital”.  Collins seria submetido à uma fusão cervical anterior no Wilford Hall Hospital.

 

Continuando, declara Collins, Pat e eu desfrutamos um jantar calmo, em magnífico restaurante mexicano... Certamente não tinha motivo nenhum para sentir amargura, mas terminar assim desse modo, após o trabalho de cinco anos? Paguei a conta, deixei uma gorjeta especial para dar sorte e, tomado por sentimento pesado e de resignação, caminhei para o Hospital e o bisturi. A enfermaria T-2 (ala de neurocirurgia) no Wilford Hall Hospital era um lugar de fazer medo...”.

 

Passado o período pós-cirurgia veio a recuperação, enquanto os planos para o voo da Apollo 8 se desenvolviam francamente.

 

Na verdade meu futuro dependia de duas chapas de raios-X, revelando se a mancha da fusão estava de fato soldando as vértebras cervicais 5 e 6 em elo ainda mais forte. Quando a primeira chapa, trinta e dois dias após a operação, revelou bom crescimento, senti grande alívio...”.

 

Enquanto ainda convalescia, descreve seu estado de espírito ao saber que voltaria ao corpo de astronautas: Ademais, era um prazer dos mais raros, dar ordens de navegação à minha esposa, sentado no banco de trás, como um rei em sua cadeira...”.

 

Tripulação da Apollo 8 na época do voo: F. Borman, J. Lovell e W. Anders. Na comemoração dos 40 anos do voo

da Apollo 8: o entrevistador na extrema esquerda e os astronautas na mesma sequência da foto anterior.

Eles foram os primeiros seres humanos a sair da Terra e contornar a Lua, conhecendo o seu lado escuro de perto.

- Clique aqui para ver o vídeo do lançamento da Apollo 8

 

Collins estava escalado como Capcom (o responsável pela comunicação entre o centro de controle de voo e os astronautas) da Apollo 8 e treinava junto com um batalhão de outros técnicos e engenheiros, escrevendo memorandos direto à tripulação da Apollo 8, com teores preocupantes, uma vez que o voo já estava para acontecer. Para se ter uma idéia, consta em seu livro, itens como:

 

1 – O que acontece se o Saturno V começa a se descontrolar e colocar a espaçonave em trajetória incorreta?

 

2 – Devem ou não experimentar o motor do módulo de serviço uma vez, antes de precisar dele para frear, entrando em órbita lunar? (Caso o único motor não funcione, as espaçonave passaria reto pela Lua, indo espaço adentro...).

 

3 – Como desejam passar 20 horas em órbita lunar? Com ciência lunar ou nos problemas tecnológicos de manter a espaçonave voando?

 

4 – Que lado fica para cima? Como querem que seu horizonte artificial defina o alto ou o baixo? Por referência ao horizonte terrestre, ou ao da Lua, ou algum outro vetor que continue por todo o voo?

 

5 – O controle da missão não pode mantê-los em trajetória tão precisa quanto o astronauta Borman gostaria que fosse, simplesmente porque...

 

6 – Quando estiverem de volta a Terra, se uma tempestade violenta se apresentar na região de queda, preferem: a) pousar no tufão e terem a certeza de descer, ou b) usar um processo não-experimentado, de ricochetear na atmosfera e descerem em outro lugar?

 

É quase inacreditável que perguntas como estas (e muitas outras) ainda estivessem por responder, às vésperas do primeiro voo tripulado que circularia a Lua com seres humanos.

 

O voo da Apollo 8 contava com três Capcoms, identificados por cores. Jerry Carr da equipe preta, Ken  Mattingly da equipe marrom e Michel Collins da equipe verde (ainda, segundo o próprio Collins, “verde” de inveja!), cada Capcom era especializado em uma etapa do voo. A etapa de Collins era justamente a do lançamento e inserção na trajetória translunar. De modo geral, costuma haver algum tempo para ordens e reações entre os tripulantes e os Capcoms, exceto para os da equipe verde. Se este optar pela ordem “Aborta”, baseado em rápidas checagens, deve haver o mínimo tempo entre a mensagem do Capcom e os astronautas.

 

Segue a narrativa de Collins: Por este motivo eu me achava realmente nervoso às sete da manhã do dia 21, quando a Apollo 8, rugindo, começou a viver. Debruçava-me sobre a mesa do Controle da Missão, observando um blip eletrônico atravessar a tela e ouvindo os peritos em volta de mim, reportando atentamente os sinais importantes. Pressão boa, temperatura boa, azimute bom... Tudo bom... Sobe e vai... Saiu da torre de lançamento... 100 mil pés. Marca! Modo 1 Charlie... Dois minutos e meio... Estagiando... Aí é um estágio a menos com que nos preocupar... Desligamento da torre de escape. Modo 2... Boa orientação... Cinco minutos; se o segundo estágio falhar agora, podemos conseguir a órbita, usando o terceiro estágio... estagiando, ‘adiós’ segundo estágio... Boa luz no S-IVD... Cem milhas agora, aumentando a velocidade... Prontos para desligamento. Puxa vida! Eu podia descansar agora em minha mesa, pois a espaçonave encontrava-se em órbita, onde ficaria por cera de três horas”.

 

Tratando-se de um voo singular, que não se restringe às órbitas terrestres, neste tempo há um trabalho frenético a bordo. É a última chance de verificações de praticamente tudo o que é vital ao prosseguindo do voo. São conhecidas por órbitas de parqueamento. O motor do 3° estágio tem que ser disparado no momento preciso do plano de voo, sem falhas, pois irá definir o sucesso da TLI  (injeção translunar), uma manobra de extrema precisão e importância. Tal manobra distinguia esse voo de tudo o que já foi feito antes nas Mercury, Gemini e na Apollo 7. Pela primeira vez seres humanos seriam impulsionados ao espaço externo, rompendo os grilhões do campo gravitacional da Terra. Um pesado silêncio recaiu no Controle da Missão. Assim colocou Collins em seu livro, depois do TLI haveria três homens no sistema solar que teriam que ser contados à parte de todos os outros bilhões... Cujo movimento obedecia regras diferentes e cujo habitat precisava ser considerado planeta separado”.

 

Ilustração reconstitui a cápsula da Apollo 8 em órbita lunar com a Terra ao fundo.

Ao lado, o módulo de reentrada "castigado" pelos impactos do atrito com a atmosfera.

Leia também: Nasa comemora 40 anos da histórica Apollo 8

  

Registre-se que o primeiro TLI humano ocorreu dentro da perfeição, garantindo esta etapa como exequível para todas as outras missões. Exceto, por um detalhe não muito agradável à tripulação: justamente o comandante da missão, Frank Borman, vomitou no ambiente sem gravidade, solicitando uma conversa particular com o “esquecido” médico da missão, enquanto a Apollo 8 afastava-se vertiginosamente da Terra.

 

Apesar dos seguidos sucessos até aqui, havia preocupações sobre enjoos e embora não haja registros, não é exagero pensar que muitos daqueles diretamente envolvidos com o voo podem ter tido seus problemas de enjoo, mesmo em terra firme. A saber: 1) a Apollo 8 deveria “errar” a Lua por apenas 80 milhas, na velocidade em que viajava, para que a gravidade lunar fosse capaz de capturá-la; 2) o sistema de propulsão do módulo de serviço (SPS) deveria funcionar perfeitamente para tirá-los da órbita lunar no retorno a Terra; 3) a preocupação geral por estarem longe de casa com cinco mil e seiscentas falhas possíveis naquele estágio do voo. Se para aquela época estava dentro dos parâmetros de segurança, seria um voo proibitivo nos dias de hoje, sob o mesmo ponto de vista.

 

A etapa seguinte tinha a sigla LOI (de “inserção em órbita lunar”), dividida em duas etapas: acionamento do SPS a fim de reduzir a velocidade, fazendo com que a gravidade da Lua conseguisse segurar a espaçonave. Em seguida, disparos menores, ajustariam a órbita a um círculo no qual permaneceriam as próximas 20 horas, em 10 revoluções completas.

 

O famoso astrônomo Fred Hoyle dizia que as imagens da Terra, tomadas à distância fomentariam novos sentimentos e ideias para com nosso planeta natal. De fato, estávamos acostumados a ver detalhes da Terra em fotos espetaculares, tomadas a algumas centenas de quilômetros, a partir das órbitas terrestres; contudo, as fotos da Terra, tomadas pela Apollo 8, mostrando a pequena esfera azul, como uma bola de baseball contrastando com o horizonte cinza e poeirento da Lua, é uma das imagens mais fortes da nossa geração.

 

Além das centenas de fotografias, a tripulação realizou algumas atividades programadas, de cunho científico, e fecharam o ano de 1968 (considerado por muitos, até hoje, como o “ano que não acabou”...) com chave de ouro. O velho chavão é necessário aqui. Um ano de atribulações políticas em todo o mundo, de conflitos, de injustiças e de severas mudanças de todas as espécies. Nossos três embaixadores tiveram um Natal bastante diferente, contornando a Lua e compartilhando com seus semelhantes essa experiência, lembrando-nos que nossa existência e sobrevivência está muito acima de nossas próprias mazelas. Nas palavras de Collins: A tripulação comemorou o Natal lendo a Bíblia, cada um dos três dando uma volta no primeiro capítulo do Gênese. Foi impressionante, achei eu, um golpe genial, relacionar seu cenário primordial à origem da Terra e apresentá-lo na bela poesia em prosa do século 17, dos eruditos no tempo do Rei James I. Borman, Lovell e Anders mereciam só por este motivo, voltar para casa, por terem pensado em nos levar, a todos os outros, à sua Lua, cheios de humildade e reverência. Foi um toque gracioso”.

 

Capa do livro de Collins, citado neste artigo.

 

A próxima sigla preocupante era TEI (injeção transterrestre), envolvendo o disparo do único motor que poderia trazê-los de volta à Terra. Esse disparo também requeria uma precisão extrema. Esse disparo estava por conta dos astronautas e dos sistemas de bordo, sem nenhuma ajuda possível do pessoal da Terra, pois deveria acontecer quando a espaçonave ainda estava quase por sair do “lado oculto”, onde as comunicações entre tripulação e Capcoms são impossíveis.

 

As esposas dos astronautas estavam reunidas na casa de Susan Borman, na cozinha, e entre outras amigas, Pat Collins, todas aguardando a confirmação do sucesso na TEI. Como lembra Collins, mais uma vez o SPS funcionou perfeitamente e o sucesso no disparo foi considerado como o melhor “presente de Natal”. Estava aberto o caminho para a Lua e o fato foi bastante comemorado. De forma mais enfática ainda, pelas esposas dos astronautas.

 

Collins lembra da emoção ao terminar esse feito, afinal, antes de ter se submetido à cirurgia, estava escalado para tripulação da Apollo 8, fato que teve que ser alterado.

 

Quando a Apollo 8 bateu, com suavidade, nas águas do Oceano Pacífico, a 13 milhas do porta-aviões Yoktown, pouco antes do amanhecer, o Controle da Missão se descolou e o pandemônio explodiu naquele ambiente geralmente sério. As pessoas sacudiam bandeiras em miniatura e davam tapas umas nas costas das outras; os charutos tradicionais apareceram e todo mundo os acendeu. Nenhuma de nossas preocupações se concretizara, todos os medos haviam sido infundados, nosso planejamento fora firme, as simulações precisas, as avaliações corretas. Podíamos ter destruído a Apollo 8 de mil modos diferentes, mas, em vez, aviamo-la nutrida e orientada, passando pela semana de maior alcance em toda história humana. No meu caso pessoal, o momento era um conglomerado de emoções e recordações. Eu era uma cesta de papéis emocionalmente retorcida. Vira aquele voo evoluir na sala branca em Downey, na série interminável de reuniões em Houston, transformando-se em viagem épica. Eu o ajudara a crescer. Tinha dois anos investidos nele – era meu voo. No entanto, não era meu voo; eu não passava de um, em meio a uma centena aglomerada em sala barulhenta. Podia sacudir minha bandeira e fumar meu charuto, acariciar a cicatriz na garganta. Por algum motivo, senti vontade de chorar, mas não podia fazer isso no Controle da Missão, de modo que bati nas costas de alguns bons trabalhadores e me retirei”.

 

Quanto a mim, que escrevo essas linhas, em meus 10 anos, mantinha-me sentado em escadarias da minha casa, enquanto minha mãe lia pacientemente todas as páginas do jornal, contando a epopéia dos astronautas, impetrando-me emoções, em nada menores, que aquelas criadas no Controle da Missão. Sonhos de criança...   

 

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* Márcio Mendes é físico, professor em Dois Córregos/SP, astrônomo amador membro da REA (Rede Astronômica Observacional) e consultor de Astronomia para Via Fanzine.

 

- Fotos: Nasa/divulgação/do Arquivo de M. R. Mendes.

 

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