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 Apollo 11

 

A saga dos 40 anos da Missão Apollo 11:

Do Vale do Antílope ao solo lunar Parte 3

Faz 40 anos, os primeiros seres humanos aportaram em solo lunar.

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Por Márcio R. Mendes*

De Dois Córregos/SP

Para ASTROvia_

 

Da ficção à realidade: livro de Júlio Verne (da década de 1860) e  um croqui do Saturno V, que levou o homem à Lua.

 

 

O Clube do Canhão

 

Logo que recebemos vossa honrosa missiva de seis do corrente, reuniram-se os cientistas deste observatório que houveram por bem responder, como se segue, todas as perguntas formuladas:

 

1) Será possível enviar um projétil à Lua?

Resposta: Sim, é possível alcançar a Lua com um projétil, contanto que se consiga animá-lo de velocidade inicial de onze mil metros por segundo. Demonstra o calculo que tal velocidade é o bastante, à medida que nos afastamos da Terra...

 

2) Qual é a distância exata que há entre a Terra e o seu satélite?

Resposta: A Lua não descreve em torno da Terra trajetória de círculo, mas sim, de elipse, num dos focos da qual está situado nosso globo. Daí vem por conseqüência que a Lua está ora mais próxima, ora mais afastada... A diferença entre a maior e a menor distância é relativamente considerável e não devemos desprezá-la. Com efeito, no apogeu a Lua está a trezentos e noventa e oito mil e quinhentos quilômetros e no perigeu, a trezentos e cinqüenta e dois mil quilômetros.

 

3) Qual será a duração do trajeto do projétil ao qual tenha sido imprimida a velocidade inicial bastante, e, conseqüentemente em que momento deverá ser lançado para que vá encontrar a Lua em determinado ponto?

Resposta: Se a bala conservasse indefinidamente a velocidade inicial, onze mil metros por segundo, que lhe fosse imprimida no momento da partida, gastaria apenas nove horas aproximadamente para chegar ao seu destino. Mas como a velocidade inicial irá continuamente decrescendo, deduz-se, feitos os cálculos, que o projétil empregará trezentos mil segundos ou oitenta e três horas e vinte minutos até chegar ao ponto onde as atrações terrestre e lunar se equilibram e, a partir desse ponto, cairá na superfície da Lua em cinqüenta mil segundos ou treze horas, cinqüenta e três minutos e vinte segundos...

 

4) Em que momento exato estará a Lua na posição mais favorável para ser alcançada pelo projétil?

Resposta: Em conseqüência do que deixamos dito, deve, em primeiro lugar, escolher-se a época em que a Lua estiver no perigeu e, simultaneamente, o curso do projétil de distância igual ao raio da Terra, isto é, seis mil, trezentos e oito quilômetros... Necessário é, portanto, esperar a coincidência da passagem pelo perigeu com a passagem pelo zênite. Por feliz acaso, dia cinco de Dezembro do próximo ano, a Lua preencherá as condições indicadas.

 

5) Em que ponto do céu deve fazer-se a pontaria com o canhão destinado a lançar o projétil?

Resposta: Supondo-se admitidas as considerações que precedem, o canhão deve ser dirigido para o zênite do lugar, de modo que o tiro venha a ser perpendicular ao plano do horizonte e o projétil fuja assim mais rapidamente aos efeitos da atração terrestre. Mas para que a Lua passe pelo zênite de um lugar terrestre é necessário que este lugar não tenha latitude maior que a inclinação do astro, isto é, que o lugar esteja compreendido entre o equador e os paralelos que distam dele vinte e oito graus para o norte ou para o sul.

 

6) Que lugar deve ocupar a Lua no céu, no momento da partida do projétil?

Resposta: No momento em que o projétil for lançado ao espaço, a Lua, que avança em cada dia treze graus, dez minutos e trinta e cinco segundos, deve estar afastada do ponto zenital quatro vezes esta grandeza, isto é, cinqüenta e dois graus, quarenta e dois minutos e vinte segundos, espaço que corresponde ao caminho que percorrerá durante o percurso do projétil. Tais são as respostas às perguntas feitas pelo Clube do Canhão ao Observatório de Cambrígia”.

 

A Lua de Julio Verne

 

O trecho acima foi transcrito da obra de Julio Verne, Viagem ao redor da Lua, publicada na década de 1860, em que descreve a inquietação de um grupo excêntrico de pessoas ligadas à criação ou aperfeiçoamento de armas, sobretudo canhões, na época da Guerra da Secessão nos Estados Unidos, ou Guerra Civil Americana, ocorrida entre 1861 e 1865.

 

Seja pela sua genialidade, seja pelo aspecto científico e até profético, Julio Verne escreveu, sem saber, muitas congruências com a realidade dos voos lunares da série Apollo que seriam efetivados somente mais de 100 anos depois de sua obra fictícia.

 

Na ficção, exasperados pela falta de conflitos bélicos, onde poderia por à prova as suas invenções, o grupo “Clube do Canhão” necessitava urgentemente de um trabalho à altura. Destarte, foi convocada uma reunião, onde o presidente do Clube fez a proposta de... Atingir a Lua! Este objetivo proporcionaria, além do trabalho, uma distinção e respeito ao grupo como realizadores dessa proeza. Há de se convir que a vida imitou a arte quando o presidente John F. Kennedy fez proposta semelhante em plena Guerra Fria.

 

Naquela época, alguns já vislumbravam os terrenos alagadiços da Flórida como o ponto escolhido para um espaçoporto, a exemplo do local descrito por Julio Verne como ponto de partida para a Lua, a Colina das Pedras ... também na Flórida.

 

A escolha da Flórida – antes na ficção e depois na realidade - como ponto de partida de um projétil rumo à Lua é devido a inúmeros fatores: trata-se de um local relativamente próximo do equador terrestre. Todo foguete dali lançado, executa um arco inclinado para Leste e assim, aproveita um impulso adicional devido à rotação da Terra neste sentido. Nesta direção, o percurso é desimpedido em direção à África, sobre o oceano. Por fim, há uma cadeia de ilhas que se estende nesta direção, proporcionando algum apoio para estações de rastreamento.

 

Na década de 50 o Cabo Canaveral, onde se situa o atual centro de lançamentos da Nasa, na Florida, com seus 15 mil acres, ainda era um lugar desolado, com um emaranhado de vegetação rasteira e muitas palmeiras em forma de leque. Terrenos alagadiços era o habitat para aligátores, coelhos e imensa variedade de pássaros. O acesso era feito através de uma estrada que cruzava o rio Indian, o rio Banana até a praia de Cocoa, onde, mais tarde, se fixaria o grosso da comunidade de cientistas, técnicos e engenheiros aeroespaciais, assim como alguns dos astronautas.

 

 Em busca da Lua: lançamento de um Saturno V e ilustração do lançamento balístico de Verne.

 

As décadas de 50 e 60 foram de profundas transformações nesses locais com a chegada de um contingente crescente de uma população e das grandes estruturas que comporiam o futuro espaçoporto local. Inúmeras casamatas, pistas de pouso, o gigantesco VAB (Vehycle Assembling Building), refinarias e estocagem de combustíveis líquidos e salas para controle de lançamento.

 

Após inúmeros ensaios em missões batizadas com uma numeração subsequente, na série Apollo, o foguete Saturno V dominou aquelas paisagens nos finais dos anos 60 e início dos anos 70. Olhar aqueles 110 metros de altura do foguete que pesa mais de três mil toneladas, preso à complexa torre vermelha, não é fácil acreditar que aquilo fosse capaz de voar.

 

Seu corpanzil pintado em branco com detalhes em preto, era na verdade, composto por oito segmentos, começando pelo 1° estágio e terminando com a “torre de escape”, todos metodicamente planejados e empilhados para uma batalha contra a gravidade terrestre, vencendo-a ao fim, e arremessando um conjunto de máquinas capaz de atingir a Lua, sustentando a vida de três astronautas.

 

Equilibrando-se num jato de gases inflamados, o 1° estágio produzia um empuxo com cifra de difícil assimilação: por volta de 3 milhões e 400 mil quilogramas de empuxo! Mesmo com essa força titânica, estamos no início da viagem e usando apenas o mínimo para acelerar gradativamente o foguete a partir do repouso à uma velocidade de 11 Km/segundo, como já prevista por Julio Verne em meados do século 19.

 

Foguetes Saturno V: utilizados nas missões Apollo e no Skylab.

 

A viagem começa lenta: nos dez primeiros segundos, o Saturno V (usado para enviar o homem à Lua e atualmente à Estação Espacial Internacional) não sobe mais que sua própria altura e parece uma estrutura que se equilibra com dificuldade. No entanto, está queimando por volta de 14 toneladas de combustível por segundo. A Física é implacável neste ponto: perdendo peso vertiginosamente e mantendo o mesmo empuxo, sua aceleração só tende a aumentar. No interior do Módulo de Comando, os astronautas ouvem um troar distante, mas intenso. Mesmo gritando, dificilmente seu companheiro ao lado irá ouvi-lo.

 

Para se chegar a esse veículo foram necessários mais de 400 anos de tentativas e erros. Desde Leonardo da Vinci, Santos Dumont, os irmãos Wright e muitos outros cientistas e entusiastas. Mencioná-los todos seria impossível aqui. Todo esforço para levar uma pequena e frágil peça – o Módulo lunar – até o hostil ambiente da Lua reunia uma sinfonia de exigências para que todos os aparatos envolvidos funcionassem perfeitamente. Como já foi escrito, “um mundo em miniatura, recebendo da Terra um mínimo de assistência”.

 

Para citar algumas das empreiteiras que a Nasa envolveu na construção dessa máquina complexa, a divisão espacial da North American Rockweel Corporation (Califórnia); a Rocktdyne; a Grunman Aircraft Enginnering Corporation; a Boeing Company; a Divisão de Mísseis e Sistemas Espaciais da McDoanld Douglas Company; a International Bussines Machines Corporation e muitas outras empresas associadas a essas.

 

Fomos à Lua e retornamos de lá em um esforço gigantesco. Mesmo assim, somos meros imitadores de Julio Verne que sem nenhum apoio de Instituições semelhante às acima citadas, voou sozinho, em sua mente genial, lançando três seres humanos em um obus lançado balística e matematicamente em direção à Lua. Ao final, copiamos também sua técnica de resgate dos astronautas, quando os aventureiros também são resgatados no mar.

 

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* Márcio Mendes é físico, professor em Dois Córregos/SP, astrônomo amador membro da REA (Rede Astronômica Observacional) e consultor de Astronomia para Via Fanzine.

 

- Fotos: Nasa/divulgação/da Obra de Julio Verne.

 

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