Herança de
Peenemünde
A história da conquista da Lua reservou posições de honra
aos astronautas N. Armstrong, E. Aldrin e M. Collins; no entanto, não se
pode negar que houve um verdadeiro exército de pessoas que contribuíram
para esse feito. Não seremos capazes de citá-los todos, nem ao menos
situar uma época em que a viagem realmente tenha começado. Esta tarefa
parece ser agora muito difícil, senão impossível.
Praticamente todo viajante vale-se de um veículo e no caso
da viagem à Lua os veículos cresceram assustadoramente em complexidade.
Ao viajarmos pelo ar, pelo mar ou sob as águas, ou ainda por regiões
inóspitas do planeta, temos o conforto de estar em nosso mundo. Viajar à
Lua e além, significa romper todos os vínculos com o planeta natal e
adentrar em ambiente terrivelmente mais complicado.
Para tanto, devemos ser capazes de atingir grandes
velocidades; saber lidar com bruscas e grandes variações de
temperaturas; enfrentar altas doses de radiação; estar operante sem
nenhuma comunicação direta com seus semelhantes; dominar a orientação e
demonstrar a validade de nossa Matemática, Física e outras Ciências,
onde o preço a ser pago pode ser a própria vida. Dito assim, embora soe
descabido, não há nenhum exagero. O exagero existe sim, neste artigo, a
partir da extrema redução à simplicidade com que os problemas estão
sendo citados.

Superior: Von Braun
ao lado do Saturno V; com Walter Disney; nos anos 70.
Inferior: Braun com
oficiais alemães, quando trabalhava na Alemanha de Hiltler;
com a esposa Maria e o casal de
filhos.
O surgimento dos
foguetes
Em 23 de março de 1912, nascia em Wirsitz, no seio de uma
família aristocrática, um de seus mais ilustres representantes, Wernher
Von Braun. Por volta de 1925 tomou conhecimento da obra de outro
visionário, Hermann Oberth, tratando da problemática da construção de
foguetes. Havia nesta obra umas das primeiras alusões à possibilidade do
uso de foguetes para transportar, em segurança, um ser humano. Talvez
este tenha sido o estopim para a mente jovem de Wernher.
Já em 1934, defendia sua tese de doutorado que ampliava as
possibilidades dos foguetes, pois o domínio do combustível líquido,
permitiria viajar no espaço, já que a queima desse combustível poderia
ser controlada. Os combustíveis sólidos uma vez iniciado a queima, só
terminará quando este se esgotar.
Para Wernher, a Ciência era destituída de “dimensões
morais”, o que o levou a participar das facções que detinham algum poder
e meio para avanços nesta nova Ciência. Como produto, e sob seu comando,
foram produzidos os foguetes A-4, rebatizados pelo Ministro da
Propaganda nazista Joseph Goebels, de V-2 - também conhecida como “arma
do terror”. Estes foguetes tiveram berço em Peenemünde e foram
produzidos em larga escala, vitimando milhares de vidas das forças
aliadas.
Ao final da Segunda Guerra, após a derrota da Alemanha, W.
Von Braun e outros 130 colaboradores, em maio de 1945, foram enviados
para os Estados Unidos. Apesar de sua participação no regime nazista,
Wernher parece ter tido sucesso em demonstrar que não se importou em
usar os meios para atingir suas finalidades, afinal, foi poupado de um
julgamento oficial e moral após o fim da guerra.
Em 1955 chega a se naturalizar cidadão norte-americano e em
plena guerra fria, dá continuidade às suas pesquisas, junto à sua
equipe, com participação decisiva para o primeiro satélite artificial
americano, o Explorer I.
Em 1961, o presidente dos Estados Unidos, J.F. Kennedy,
convida Wernher Von Braun para coordenar o Programa Apollo, envolvendo
mais de 20 mil empresas, centenas de departamentos públicos e mais de
400 mil pessoas, com custos que totalizaram 24 bilhões de dólares.
Uma vez vencida a “corrida para Lua”, o Projeto Apollo
sofreria sucessivos cortes, incluindo o cancelamento os últimos três
voos programados à Lua, que seriam as missões Apollo 18, 19 e 20. Em
1970, Von Braun é nomeado Diretor de Planejamento, mas, afastou-se da
Nasa em 1972. Veio a falecer em 16 de Junho de 1977, em Alexandria,
Virgínia.
Em sua obra “Space Frontier”, publicada no Brasil pela
IBRASA, em 1969, há dois pontos do Prefácio que merecem transcrição.
Finalizando uma rápida apresentação da obra, consta:
“No momento em que este livro vai à impressão, nosso
programa de voo espacial tripulado, já teve sua primeira tragédia. Gus
Grisson, Ed White e Roger chaffe deram suas vidas por uma causa... -
referindo-se à tragédia ocorrida na precursora Apollo 1 - A morte de
nossos três astronautas da Apollo impõe a todos nós a obrigação de
prosseguir nessa tarefa com toda determinação que pudermos reunir. Eles
não esperariam menos de nós”. Wernher Von Braun – Diretor do Centro
de Voo Espacial George C. Marshall.
Ir para a Parte 3
*
Márcio Mendes
é físico, professor em Dois Córregos/SP, astrônomo amador
membro da
REA
(Rede Astronômica Observacional) e consultor de Astronomia para
Via Fanzine.
- Fotos:
Nasa/divulgação.
- Leia outros artigos
exclusivos do autor:
www.viafanzine.jor.br/mmendes.htm
- Produção:
Pepe Chaves.
Do Vale do Antílope ao solo lunar
PARTES:
01
02
03
04
05 06
07 08 09 10 - HOME
|