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Oleg Dyakonov
História brasileira: Documento 512: O achado – Parte 1 O número de referência “512”, com o qual o documento tornou-se mundialmente conhecido, tem uma origem muito tardia, datando apenas de 1881. É naquele ano que o manuscrito aparece identificado com esse número pela primeira vez, no Catálogo da Exposição da História do Brasil.
Por Oleg I. Dyakonov * De Moscou/Rússia Para Via Fanzine 02/11/2013
A Primeira página do Documento 512. Leia também: O primeiro pesquisador da inscrição da Gávea- Por Oleg Dyakonov Bahia: Centenário de redescoberta da Cidade Perdida - Por Oleg Dyakonov Gomar e o Relatório de Natividade - exclusivo VF Teria o Egito herdado a cultura dos atlantes? - Eduardo Miquel Cidades e povos perdidos no Brasil - Por J.A. Fonseca Cidades e segredos ainda pouco explorado em Minas Gerais - Por J.A. Fonseca O mistério dos petroglifos peruanos de Pusharo - Por Yuri Leveratto Vida e descobertas de Gabriele D’Annunzio Baraldi - Por Oleg Dyakonov
Os meados de 1839 eram uma época feliz para Manoel Ferreira Lagos, um jovem médico fluminense, que naquele mesmo ano formou-se pela Escola de Medicina. Vale notar que pela inclinação, ele, contudo, não foi médico, mas um naturalista: ainda nos dias da sua mocidade escolar, ele ajuntou uma boa biblioteca que denotava seu particular interesse pelas ciências naturais, e já no final de sua vida, esta biblioteca seria considerada sem igual na capital do Império. Talvez, a noção clara da sua vocação às ciências naturais fosse precisamente a razão de sua inesperada atitude: após ter prestado brilhantemente todos os exames, Lagos optou por não defender a tese para receber o diploma de doutor em medicina, nem sequer começando a escrevê-la (ainda que as verdadeiras razões dessa decisão não foram devidamente esclarecidas). Pelo resto de sua vida, Lagos fez uso da sua formação acadêmica unicamente para fornecer serviços médicos aos pobres e amigos, sempre gratuitamente.
Mesmo antes de finalizar os estudos na Escola de Medicina, Lagos foi honrado com a amizade e patrocínio do cônego Januário da Cunha Barbosa, primeiro secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Obviamente, o cônego divisou neste jovem um espírito verdadeiramente científico e valorizou altamente a sua capacidade literária, levando-o para a redação da “Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro” como seu auxiliar. Lagos entrou nas fileiras do IHGB como sócio correspondente em 28 de junho de 1839, sendo aceito como membro pleno na sessão de 24 de agosto do mesmo ano, por sugestão de seu patrono.
Manoel Ferreira Lagos.
O jovem erudito ainda tinha por diante uma brilhante carreira, pois com o passo dos anos, chegaria a ocupar, entre outros cargos, o de secretário perpétuo do Instituto (sucedendo ao cônego Januário) e, depois, o de seu terceiro vice-presidente.
Naquela altura, em meados de 1839, foi necessário a Lagos trabalhar nos arquivos da Livraria Pública da Corte. Então, a sua atenção foi atraída por um antigo caderno, ou tomo encadernado em couro de bezerro, que continha uma coletânea de relatórios manuscritos (26 no total) de tempo e origem mais diversos. Estes não eram, de fato, documentos originais, mas apenas cópias deles, que foram elaboradas pelos escribas para os arquivos do Estado, de acordo com o que era então a prática burocrática comum.
Intrigado, Lagos começou a olhar para os relatórios. O tópico principal de todos os escritos, que serviu de critério para que estes tivessem sido reunidos sob uma única capa, era claro: todos tratavam das minas, alguma vez encontradas no território do Brasil. A coletânea começava com um parecer do Conselho Ultramarino (então, a principal autoridade portuguesa encarregada do comércio, assuntos militares e legais das colônias) e prosseguia com relatos de várias expedições, empreendidas no interior do país em busca do metal precioso. A impressão era de que alguém mandou para copiar e combinar essas informações em um único volume, de forma a criar uma espécie de guia para o futuro.
Algumas dessas relações (de tamanho variado, sendo que várias delas não passavam de algumas linhas) eram de caráter francamente fantástico. Vale recordar aqui o depoimento de Brian Fawcett, filho caçula de Coronel Fawcett, afirmando que “a comunicação que segue o relatório da ‘Cidade Perdida’ é, aparentemente, a relação da visão febril de algum maníaco religioso, pois fala de maravilhas que não pertencem absolutamente a este mundo!”. Mas nenhum documento poderia se comparar pelo caráter extraordinário do seu conteúdo com o 23º documento da coletânea, que compreendia as folhas numeradas de 55 a 59 v. contendo uma curiosa nota inscrita no canto superior direito da sua primeira página: “Minas” (seriam “Minas” no sentido de jazidas de metais preciosos? Ou realmente tratar-se-ia da então Capitania de Minas Gerais?). O título deste documento imediatamente chamou a atenção do jovem pesquisador: “Relação historica de huma occulta, e grande Povoação, antiguissima sem moradores, que se descubrio não anno de 1753”. O charme dos segredos escondidos no título surpreendeu imediatamente a mente curiosa.
Infelizmente, o caderno, aparentemente, tinha sido tão seguramente guardado durante décadas, que no final ficou simplesmente esquecido e, consequentemente, deixado à mercê dos cupins insaciáveis. E era esta parte do volume que, lamentavelmente, encontrava-se em um estado ruim: o topo de cada uma das folhas que compunham a relação era atravessado por um fino contorno escuro, engrossado na sua ponta. Deste modo, muitos dos trechos mais importantes do texto foram perdidos para sempre. Ainda assim, o relato contido no documento felizmente conservou-se como um todo.
E o seu significado era absolutamente incrível.
O jovem cientista, sem dúvida, chocado com o seu achado então, apressou-se a mostrar o documento ao seu amigo, patrono e protetor.
Cônego Januário da Cunha Barbosa.
A reação do cônego Januário ao manuscrito é em si um outro mistério. Como veremos, ele deixou a respeito certas alusões muito intrigantes, que jamais quis explicar. Por enquanto, basta dizer que, após ter percebido a importância do documento, ele imediatamente começou a prepará-lo para publicação na “Revista Trimensal”, e empreendeu algumas pesquisas históricas necessárias para prover a tal publicação de uma advertência da sua própria autoria.
Existem duas versões do Documento 512: primeiramente, a sua cópia manuscrita guardada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e disponibilizada hoje em versão digital para todos os interessados; e depois, a edição impressa na “Revista Trimensal”, de 1839, precedida pela advertência do cônego Januário da Cunha Barbosa. Em nossa opinião, ambas possuem importância primordial para uma pesquisa aprofundada no assunto e a sua comparação possa levar a alguns esclarecimentos. Resta lamentar, contudo, que o documento original jamais foi encontrado.
Vale agregar também que o número de referência “512”, com o qual o documento tornou-se mundialmente conhecido, tem uma origem muito tardia, datando apenas de 1881. É naquele ano que o manuscrito aparece identificado com esse número pela primeira vez, no Catálogo da Exposição da História do Brasil, composto pelo Dr. Benjamin Franklin Ramiz Galvão, então diretor da Biblioteca Nacional.
* Oleg I. Dyakonov é licenciado em Diplomacia e Relações Internacionais, pesquisador em história alternativa. É correspondente e consultor para Via Fanzine em Moscou e editor do blog 'Desconhecida Pré-História Brasileira".
- Tradução ao português por Oleg Dyakonov, com revisão e adaptação de Pepe Chaves.
- Imagens:
- Documento 512 digitalizado (em domínio público); - Centro de Estudos Ornitológicos http://www.ceo.org.br/historia/manoel.htm - Blog MS Maçom http://blog.msmacom.com.br/conego-januario-da-cunha-barbosa/
- Fontes e referências:
Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, 1881-1882, Volume IX. Catalogo da Exposição de Historia do Brasil, Secção litteraria, I, Preliminares. http://objdigital.bn.br/acervo_digital/anais/anais_009_1881-1882_01.pdf
ANÔNIMO. Relação histórica de uma oculta e grande povoação antiquíssima sem moradores, que se descobriu no ano de 1753. Na América [...] nos interiores [...] contiguos aos [...] mestre de campo e sua comitiva, havendo dez anos, que viajava pelos sertões, a ver se descobria as decantadas minas de prata do grande descobridor Moribeca, que por culpa de um governador se não fizeram patentes, pois queria uzurpar-lhe esta glória, e o teve preso na Bahia até morrer, e ficaram por descobrir. Veio esta notícia ao Rio de Janeiro no princípio do ano de 1754. Bahia/Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, documento n. 512, 1754. http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/cmc_ms495/mss_01_4_001.pdf
PACHECO, José Fernando. Manoel Ferreira Lagos (1817-1871): Dados biográficos do segundo zoólogo do Museu Nacional. http://www.ceo.org.br/historia/manoel.htm
* É permitida a reprodução deste artigo, mediante a condição de citações do autor e do blog desconhecida-pre-historia-brasileira.blogspot.ru
OLEG DYAKONOV © Copyright 2013
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