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 crônicas

 

 

 Contagem:

Quando o lixo vira alimento

A dura realidade imposta a muitos cidadãos brasileiros.

Pepe Chaves

De Contagem-MG

para Via Fanzine

 

Um cancro social

 

Não é novidade pra mim. Sempre tive contato com a capital mineira e pude assistir de perto, o drama dos paupérrimos e das populações de rua. Mas, ao me mudar de Itaúna (80 km de BH) para Contagem (8 km de BH), pude ter contato com uma outra realidade cotidiana.

 

Não quero aqui comparar dois municípios sob aspecto algum, tampouco no que diz respeito às suas respectivas administrações públicas. Porém me sinto no dever de reportar o que notei e, pelo o que, os meus dedos coçaram muito para escrever. Itaúna (Centro-oeste de Minas) é uma cidade mediana, com cerca de 80 mil habitantes e tem também seus diversos problemas sociais. Contagem (Grande BH), cerca de 10 vezes maior, faz divisa com Belo Horizonte, de onde absorve benesses e problemas. O município se destaca entre os mais industrializados e desenvolvidos economicamente em Minas Gerais.

 

Tais problemas contagenses incluem em primeiro plano, a violência, o tráfico de drogas, a miséria e a fome. Depois que me mudei para Contagem, me deparei com diversas cenas constrangedoras, das quais não estava acostumado a conviver no meu cotidiano em Itaúna: pessoas revirando lixo para procurar alimentos. Em frente ao condomínio classe média onde resido atualmente, há na calçada, diversas gaiolas para acondicionar lixo doméstico e, por vezes, me deparei com pessoas remexendo aquele lixo a procura de alguma coisa aproveitável.

 

É como se todo o rejeito daquela gente (da qual me incluo) ainda fosse a salvação de quem foi rejeitado pelo mundo e excluído de uma vida digna. Confesso que me senti profundamente constrangido e incomodado com tal situação. E não me sai da mente tais cenas cruéis, protagonizadas, incrivelmente, por pessoas com tantas distinções entre si.

 

Cultuando o lixo por necessidade

 

Os “personagens do lixo”, em Contagem, variam de crianças magérrimas e visivelmente maltratadas (sobretudo, meninas), passando por garotos (ao que tudo indica) potencialmente marginais do futuro, até desamparadas senhoras de idade avançada. Em frente a este condomínio, há um terreno baldio da prefeitura e do lado oposto, margeando uma ampla avenida dupla, umas pessoas vivem num lote, completamente ao relento – elas viviam dentro de uma velha cabine de caminhão que ali estava descartada, mas foi retirada a pouco. Estes, contudo, "têm sorte", porque ali perto, ao lado do asfalto da avenida, brota uma mina de água pura que forma um córrego (ainda) limpo no centro dessa avenida. No local há um tanque de cimento, provavelmente construído pela prefeitura e diversas pessoas, ali, lavam carros e roupas com aquela água pública. Mas, as gaiolas de lixo do outro lado, têm seus conteúdos disputados por ratazanas enormes, matilhas vadias e pessoas famintas.

 

Mas de todas as cenas a que a vida me fez ver em torno da fome que me rodeia, a que mais me sensibilizou, se deu naquelas gaiolas de lixo. Numa tarde, eu chegava em casa com minha filha, quando vi uma velhinha revirando as lixeiras. Senti meu coração nublar e aquilo passou a me incomodar muito. Ao me aproximar para seguir meu caminho, pude observar que ela tinha bem mais de 70 anos, um semblante determinado e uma pele bastante enrugada. Trazia consigo uma grande sacola, onde colocava as coisas que selecionava do lixo.

 

Ao ver aquela mulher me lembrei imediatamente de minha mãe e de minhas avós... Sim, aquela senhora poderia ser qualquer mulher do mundo. Inconformado, me pus a refletir se ela teria filhos, netos ou alguém no mundo, a ponto deixá-la chegar à situação de revirar lixo nas calçadas... Ao passar por ela, de mãos abanando, eu senti uma frustração tremenda. Mas, não dei mais que dez passos adiante e uma "força interior" me fez retornar à ela. Perguntei se ela queria alguns alimentos que tinha em casa, afirmando que não ia usá-los mais, para se sentir à vontade ao aceite. Ela disse que sim, mostrei a ela o portão em que eu entraria e pedi para me esperar lá. Subi rapidamente e fui para a cozinha. Minha despensa estava com poucas coisas naquele dia. Mas peguei o que vi pela frente. A maioria, já meio usada, pacotes abertos ou pelas metades. Tudo o que pude pegar de alimentos eu coloquei numa sacola para entregá-la. Meu gesto espontâneo e de desespero, iria acalmar meu coração, mas sabia, apenas momentaneamente, anestesiaria a "dor moral" que sentia na alma e acredita, merecia ser compartilhada com o resto do mundo que, afinal, fez daquela senhora o que ela é.

 

Desci até o portão e disse a ela, que não poderia lhe dar dinheiro e que algumas coisas estavam abertas (pacotes de pães, biscoitos, etc.), mas que estavam limpas e ela poderia consumir sem susto. Surpresa, ela olhou para mim com um semblante de alívio – mas, eu não tive coragem de fitá-la - e me agradeceu por aquelas coisas que ia matar sua fome temporariamente. Fiquei meio traumatizado com isso e por mais que tente me acostumar, será difícil, pois sei que nos próximos dias voltaria a ver outras pessoas revirando as tais lixeiras.

 

Irresponsabilidades sociais

 

O que deixa abismado como cidadão, é o fato de estarmos em um país que se diz democrático, onde o povo seria representado através de autoridades constituídas, mas que parecem estar mais preocupadas com seus cargos e salários, do que com o desenho da função social que assumem publicamente. É um absurdo que, com três esferas de poder (federal, estadual e municipal), ainda existam pessoas excluídas, como esta senhora, e tantos outros milhões de brasileiros na mesma situação, espalhados por esta “pátria mãe, gentil”. Num país onde temos prefeituras municipais em todas as cidades, associações de bairros, diversas organizações assistenciais de origem civil; onde grandes montantes de recursos públicos são gastos em “programas sociais”, sobretudo, contra a fome, ainda temos que conviver com cenas dessas aqui em Minas Gerais, um dos mais ricos estados da União.

 

É um absurdo que os poderes públicos façam farra com dinheiro do povo, através de suas caras publicidades oficiais, seus “clubes de participação” e suas dezenas de esquemas e deixem à margem da assistência mínima tantas pessoas como esta senhora. Eu gostaria muito de ver a cara do presidente do Brasil (fosse ele quem fosse), se topasse com esta dona, revirando lixeira na calçada, com a maior naturalidade, ali, na sua frente... Eu queria muito ver a cara do secretário da Ação Social de Contagem, da prefeita dessa cidade ou do digníssimo prefeito de qualquer outra cidade do Brasil que sentissem na própria pele o teor de uma cena deprimente como essa. Se for humano, se for alguém digno, se tiver o mínimo de sensibilidade ou compromisso social, eu garanto: vai passar muito mal.

 

Sim, eu gostaria muito de ver a cara do deputado que governa para si e vota seus privilégios pessoais na ordem de todo dia; que abandona esta população miserável que habita tantas ruas e favelas das milhares de cidades do Brasil. Gostaria que ele também sentisse - tal como senti - que aquela pobre senhora poderia ser a sua mãe ou avó, ali, catando lixo para se alimentar. Se possuísse no seu íntimo uma gota de dignidade, irremediavelmente sei que ele pensaria assim... Mas, o que me parece irreversível é que, esta massa pobre, fermentada pela exclusão, as injustiças e os desvios de verbas sociais, que nem chegaram a ter o "privilégio" de se tornar refém de esmolas institucionalizadas pelo governo federal, cresce, visivelmente, em toda parte do país. Tal massa humana, generaliza e já se torna em muitas das vezes, a maior ameaça aos mais “privilegiados” que a cultiva ao ignorá-la, através das perversidades que tão miserável exclusão têm produzido.

 

Creio, este é o gerador que move os mecanismos práticos da violência social, do plantio da marginalidade, da colheita da ignorância e do consumo da criminalidade no Brasil. Este é também, somente um dos muitos reflexos da falta de investimentos na Educação, da falta de atenção das autoridades e do próprio cidadão, cada vez mais cego às necessidades do próprio semelhante. E, sem dúvida, esta máquina monstruosa criada pela sociedade brasileira, sobretudo, pelos políticos mercenários, desperdiçadores em geral e "espertos" de todas as estirpes, infelizmente, goza de um futuro altamente promissor.

 

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine

 

*  *  *

 

Na biblioteca:

Elevador fantasma

Ao Agnelo Pinto, obrigado pela sugestão. Aos amigos da biblioteca Lais e Luciano.

 

Por José João Bosco Pereira*

De Divinópolis-MG

Para Via Fanzine

 

Dizem nas memórias e registros ocultos da biblioteca que certa vez um fato ocorreu. Cada um conta a seu modo, mas vamos tentar reproduzir com fonte certa que tive acesso nesses dias difíceis, em que quase ninguém tem tempo de parar para conversar ou contar a história. As novelas e filmes estão aí – cada um que os adquira para ver em casa, se não pode ou não quer ler este miniconto.

 

De repente, fecha-se o elevador. Está vazio. Que susto! Onde está o carrinho de livros que deixei  nele? Meu amigo, Luciano ficara perplexo diante do fato sem resposta. Lais, desapontada com o mistério e preocupada se alguém descobrisse que não fizeram o trabalho todo e direito.

 

Alguns me recomendaram o filme sobrenatural.  Em principio, achei um exagero.  Então, continuemos nossa exposição dos fatos para ver sua causalidade proximal ou distante.

 

Alguém de longe, observava  cada movimento e permanecia quieto e omisso diante das indagações do sumiço dos livros.

 

Se não estiver interessado, caro leitor, diga-me em que se pode aprimorar. Trata-se de ser discreto detetive ou incumbir-se de um dever inadiável com a verdade.   Não desista ainda de ler ou chegar ao fim com sua apreciação. Como eu, você quer desvendar o caso ou não?

 

Se quiser continuar, prossiga, pois, não há coisas fora sem contexto nem discurso sem agente.  

 

Não tema. E nem se constranja diante do obstáculo. Atalhos podem ser fatais na reconstrução de fatos. E atrás de todo contratempo, há um plano e solução não abrupta se o episódio é complexo.

 

Certa vez, Laís e Luciano resolveram se ajudar na recolocação de livros nas estantes do segundo andar da nova biblioteca da universidade.

 

Já se aproximara das 21 horas. E foram e colocaram o carrinho de livros no elevador do primeiro andar, logo depois subiram e apertaram o botão externo do elevador na certeza de que o carrinho obviamente estaria lá. E nada!

 

Desceram logo para conferir a trapaça. A tecnologia não falha, o equívoco é do homem. Daí perguntarem aos colegas do balcão de atendimento sobre o paradeiro do carrinho de livro. Esses disseram que nada viram. Estavam tristes! Assustados, não sei. Perturbados interiormente.  

 

Impotentes frente ao fato – que não lhes podia mentir e iludir. A mente e os olhos confusos. Dizem os filósofos que os sentidos são enganosos. Os olhos podem se iludir quanto ao que vê ou que julga não ver... Outros, porém, em posição oposta admitem que nada chega a mente sem antes passarem pelos sentidos. A empírica  é a garantia dos métodos científicos e indutivos. Deixemos essa pauta difícil para os cientistas e filósofos da ciência ou a filosofia da ciência.

 

Eles queriam terminar o trabalho que começaram. Mas, o desagradável momento interrompera a noite de trabalhos sem a solução. São inteligentes e sensíveis. Fizeram daquela maneira várias vezes sem nenhum percalço.

 

Por quê? Por que agora eles tinham que passar por aquilo? Justamente eles tão bons no serviço de biblioteca?   

 

Quem o que fizera aquilo com eles, bem debaixo do nariz deles?

 

Foram ao cômodo lateral ao elevador, após alguns metros do mesmo. Não havia uma alma viva, lá estava o dito cujo.

 

Não tenha medo! A biblioteca não é fantasma e nem há funcionários-fantasma. Suba as escadas com seus livros. Ou, com os livros, suba pelo elevador. Se ele enganou dois, porque não enganaria um?

 

Quem me confidenciou toda esta história inocente.  Já se foi! Talvez esteja por aí, em alguma esquina, sossegado, tomando seu chope ou um café quentinho.

 

Eu, graças a Deus, sempre usei a biblioteca e elevador e não tive nenhum problema. E você?

 

Mas, quando for por lá, pergunte aos funcionários sobre o episódio que lhe(s) contei. Se é isso mesmo ou outra coisa – pois, quem conta um conto aumenta um ponto. É um fantástico elevador, um elevador fantasma não será? Creio que seja um simples elevador.

 

* José João Bosco Pereira é professor de língua portuguesa e autor.

 

*  *  *

 

Brasília:

O mineiro e a capixaba

Num cenário que começa em Brasília e se estende até o Espírito Santo e o Maranhão,

entram em cena personagens surpreendentes como Roberto Carlos, Camilo Cola e Rubem Braga,

além de mineiros de Moema, Lagoa da Prata, Bom Despacho e Divinópolis   

Por Jacinto Guerra*

De Brasília-DF

Para Via Fanzine

 

Numa tarde de dezembro, já bem nas portas do Ano Novo, o mineiro sai do supermercado com duas sacolas de panetone, pão francês e um Vinho do Porto,  para o café da manhã, no domingo. Na alameda frente a uma superquadra de Brasília, poucas pessoas caminham na sombra das árvores, com a tranqüilidade desse período mágico depois do Natal.

 

De repente, o cidadão é surpreendido com o Boas Festas de uma cinquentona simpática e de bem com a vida, pelo menos nas vésperas de 2009, nesta cidade também cinquentona, que Juscelino construiu no Planalto Central e que André Malraux chamou de Capital da Esperança.

 

Em Brasília, existe a curiosidade natural em saber de que recanto da Pátria veio cada uma das pessoas que ficamos conhecendo, porque todos aqui vieram de lugares diferentes. Retribuídos os votos de Feliz Ano Novo, então, a pergunta inevitável:

 

A senhora é natural de onde?

 

– Com muito orgulho, sou de Cachoeiro do Itapemirim, uma das cidades mais importantes do Espírito Santo e do interior do Brasil.

 

– É mesmo. E gosto muito de Vitória, Vila Velha, Guarapari...

 

– O senhor, também, é capixaba?

 

– Não, mas sou daqueles mineiros que se encantam com o Espírito Santo.

 

– Por causa das praias, não é mesmo? E de tantas coisas bonitas que temos, principalmente em Vitória e Vila Velha, como o Convento da Penha...

 

– Isto mesmo. Mas infelizmente ainda não conheço Cachoeiro do Itapemirim, terra do Roberto Carlos, do Rubem Braga e do Camilo Cola.

 

– Pois é, sou conterrânea do grande cantor e compositor, que sempre encanta o Brasil, com sua voz e suas canções de muita beleza; do notável cronista-poeta  que viveu em Belo Horizonte e, depois no Rio de Janeiro  – e de Camilo Cola, o empresário moderno, que, em sua juventude,  lutou na Itália, como um dos pracinhas do Brasil na II Guerra Mundial para, depois, fundar, dirigir e consolidar uma grande empresa: a Itapemirim, com suas frotas de ônibus que cruzam o nosso país nas mais diversas regiões.

 

Depois, a conversa toma o rumo de Filadélfia, não a grande cidade norte-americana, mas uma cidadezinha com o mesmo nome, no Tocantins, lá perto do Maranhão. É que, em sua juventude, o marido de dona Maria, de lá, atravessou o Rio Tocantins e foi estudar em Carolina, perto de Imperatriz.

 

Conversa vai, conversa continua, o mineiro toma a palavra:

 

– Já estive em Imperatriz, a convite do maranhense Gedean Campelo e fui muito bem recebido pelo casal de médicos Maria Claret e Domingos Sávio, mineiros de Lagoa da Prata e Bom Despacho, que moram hoje em Divinópolis. Gostei tanto do lugar que escrevi a crônica “Bem-Vindo a Imperatriz”. Está na primeira edição do meu livro O gato de Curitiba. Fiquei conhecendo Carolina, depois de demoradas conversas com meu amigo Geraldo Majela Ferreira, advogado mineiro, natural de Moema, que foi Juiz de Direito naquela cidade do Maranhão. Lugar de muitos encantos, de belas tradições – e, de natureza exuberante, com seus rios, cachoeiras e recantos de lazer que o escritor Salomão Sousa descreve num estilo poético, de grande fascínio mesmo para o leitor muito exigente. Ia me esquecendo:  Gedean Campelo também é de Carolina e não só confirma, mas amplia tudo o que disseram o Dr. Majela e o poeta Salomão Sousa. Muito obrigado, dona Maria, pela conversa-viagem que a senhora proporcionou a este cronista de Brasília e do interior de Minas Gerais.

 

* Jacinto Guerra, professor e escritor, é autor de vários livros, entre os quais Uma casa navega no mar contos, crônicas e pequenos ensaios (Thesaurus, 2008). Entre seus trabalhos relacionados com o texto “O mineiro e a capixaba”, destaca-se a crônica “Espírito Santo, Brasil”, publicada em seu livro O gato de Curitiba, em 2ª edição, pela Thesaurus.

 

 *  *  *

 

O "paranormal":

Quem se lembra de Ury Geller?

Ilusionista israelense se dizia “paranormal” e se tornou celebridade

ao entortar colheres “com o poder da mente”, em frente às câmeras de tevê.

 

Por João Américo Peret*

Do Rio de Janeiro-RJ

Para Via Fanzine

 

Ury Geller

 

Conheci o Ury Geller (1972) na TV Globo. O Armando Nogueira, (meu amigo desde o Ginásio no Acre), outros diretores e o Paulo Gil Soares (Globo Repórter, a quem eu dava dicas sobre Amazônia) me falaram sobre o “mágico - Ury Geller que fazia magias na TV, para funcionar relógios velhos e entortar colheres...”.

 

O assunto comigo seria sobre Pirâmides no Amazonas. Antecipei-me pedindo um mapa do Amazonas. Ury Geller, chegou e me foi apresentado como paranormal. Sorri, por sorrir...

 

Ury: Você não acredita em mim.

Peret: Essa apresentação de prestidigitação, já assisti nos circos... Agora, sobre “pirâmides no Amazonas”, tenho dúvida.

Ury: Dê-me seu relógio;

Dei o relógio.

Ury: Seus pais já morreram... Você tem a “visão” de uma mulher que lhe acompanha...

Peret: É verdade. Mas, outras pessoas já me falaram nisso...

Ury: Consigam-me um alfinete e uma tesoura. 

 

Foi atendido imediatamente. Ele decepou a cabeça do alfinete e a entregou a mim.

 

Ury: Coloque esse objeto sobre o mapa e eu o encontrarei de olhos vendados e vou levá-lo para o local onde estão as pirâmides do Amazonas.

 

Coloquei a minúscula cabeça de alfinete no rio Solimões. Ury Geller, de olhos vendados o encontrou sem dificuldade. Todos os presentes soltaram um UAU!... Ury, ainda de olhos vendados, com a ponta do dedo deslocando o objeto até a foz do rio Juruá. Tirou a venda e cheio de si, disse: “É aqui o local das Pirâmides”.

 

Se sua pirâmide estiver ali, está submersa. Essa região é de aluvionamento; o rio Juruá vai solapando os barrancos e as terras formam ilhas e o rio Solimões desmancha as ilhas que vão aterrar outros lugares. Rochas ou terreno sólido, só vão encontrar a centenas de quilômetros daqui.

 

Ury: Bem, elas podem estar mais pra lá, mais pra cá... Podíamos sobrevoar a região, eu indicaria a localização da “pirâmide...”. Mas, meu seguro só cobre vôos de avião a jato... Se a TV Globo quiser, poderíamos sobrevoar com aviões pequenos, monomotores.

 

Mas, toda aquela região é uma vasta planície coberta de floresta, com poucas terras enxutas.

 

A TV Globo desistiu da aventura dispendiosa. O Ury Geller continuou entortando colheres... Mas nunca conseguiu ser um ilusionista como David Copperfield que conseguiu fazer desaparecer a Estátua da Liberdade.

 

 * João Américo Peret é indigenista, escritor e jornalista.

 

- Foto: Arquivo Via Fanzine.

 

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Seriados:

Jerilost

As semelhanças entre os seriados Lost e Jericho.

Por Márcio R. Mendes*

De Dois Córregos-SP

Para Via Fanzine

 

Tenho assistido o seriado Jericho. Estou um pouco além da metade do 1º ano produzido. A princípio, estou gostando e sinto que tenham cancelado. Na verdade espero até que voltem atrás, sob pressão dos fãs.

 

Por outro lado, como quis brincar com o título deste, não posso deixar de notar semelhanças com o já consagrado Lost.

 

Vejamos:

 

Em Lost, um grupo de pessoas, está isolado em uma ilha, sem saber se o resto do mundo ainda existe ou se terão alguma chance de sair de lá (neste 4º ano de produção, tudo indica que sim).

 

Em Jericho, um grupo de pessoas está isolada do mundo, se perguntando se "a vida continua" fora daquele lugar... Ou se devem tentar sair de lá.

 

Em Lost, um dos personagens centrais é Jack, com características de liderança e a quem muitos confiam. Jack vive um triangulo amoroso e tem (ou teve) problemas com o pai.

 

Em Jericho, o personagem com características de Jack (de Lost) se chama Jake; vive um triângulo amoroso e tem problemas com o pai. Aparentemente, faz o que ninguém quer fazer e boa parte das pessoas passa a confiar em suas habilidades.

 

Em Lost, há eventos bizarros como os ruídos noturnos, árvores que são derrubadas sem motivo aparente e uma espécie de fumaça negra que age com certos propósitos. Vez ou outra descem pára-quedas com víveres na ilha.

 

Em Jericho, há situações semelhantes: bombas de pulso eletromagnético explodindo após as bombas serem detonadas. E também pára-quedas caindo no local com víveres. O curioso é que as aeronaves parecem ser russas, os víveres norte-americanos e, a tecnologia empregada, não é a vigente.

 

Em Lost, o passado dos personagens parece estar entrelaçado e isso reflete na situação que eles vivem na ilha.

 

Em Jericho, muitos dos personagens têm um passado "misterioso" e alguns deles estão correlacionados entre si.

 

Em Lost, vigora a sugestão de que a união dos personagens é vital para sua sobrevivência.

 

Em Jericho, a união dos personagens também é evidente para a sobrevivência.

 

Em Lost, aparentemente, há uma disputa para ver quem lidera o grupo (entre Jack e Locke).

 

Em Jericho, também há disputa pela liderança: o prefeito do lugar (pai de Jake) e um candidato a prefeito da cidadezinha de Jericho.

 

Enfim, há muitas semelhanças, mas cada seriado é único em sua proposta. Vamos ver como isso termina...

 

 

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O Homem só

Por Vera Molina*

Do Rio de Janeiro

Para Via Fanzine

 

Vivia sozinho, fechado em seu mundo, onde ninguém poderia chegar.

 

Elevara grades à sua volta, colocando ponteiras no alto, para que nada o pudesse atingir. Não gostava que as pessoas sequer encostassem em seus muros.

 

Os outros eram uma ameaça à sua paz. Os outros poderiam feri-lo e tinha que se proteger.

 

Moravam ali, ele e seus fantasmas. Fantasmas de vivos e de mortos que povoaram sua vida em outros tempos. Fantasmas que entravam e saiam sem pedir licença, sem respeitar seus muros nem suas altas grades.

 

De repente escuta um som estranho. Há muito ninguém ousava tocar sua campainha. Não acreditou. Quem seria o intruso que não respeitava seus limites?

Novamente o som se repetiu. Irado, encaminhou-se para o portão.

 

Ali estava um menino pequeno, franzino.

 

- Moço, pode pegar minha bola que caiu aí?

- Eu já falei: Caiu aqui, não devolvo. Furo!

- Moço, como o senhor se chama?

- E para que você quer saber, menino?

- Para chamar seu nome, ora...

- Não te interessa!

 

Nesse momento, fitou os olhos daquela criança. Eram negros e inocentes. Faziam lembrar de outra criança que conhecera outrora e que sepultara dentro de si, embora ela também às vezes vagasse pela casa junto dos outros...

 

- Sai daqui, menino!

- Não sem que me diga seu nome.

- Eu me chamo Ninguém!

 

Virou as costas e saiu, o menino também se foi. Deu-lhe uma segunda olhada. Era bem magrinho e não se podia adivinhar a idade por seu porte.

 

Essa interrupção quebrou o ritmo que tinha há muito arrumado para seu dia, e  não gostou nada disso. Agora as outras coisas iam ficar atrasadas...

 

No outro dia, mais ou menos à mesma hora,  de novo a campainha tocou. Ele já furioso, foi atender.

 

- O que você quer de novo, menino?

- Bom dia, senhor Ninguém, como vai?

- Ora, o que te interessa?

- Olha, o senhor é meu vizinho e a Mãe disse que precisamos ser amigos deles, pois, às vezes, são como parentes.

- Pois fique sabendo que não quero saber nem de amigos nem de vizinhos e muito menos de parentes. Vai embora!!!

E virou as costas

 

No dia seguinte, e no outro e no outro, mais ou menos à mesma hora, de novo a campainha tocava e sempre ali estava aquela criança sorridente esperando por suas respostas e ele sempre as rechaçando.

 

Temia o novo mais que qualquer outra coisa. O novo trazia consigo o desconhecido e do desconhecido não se sabe o que esperar... 

 

Um dia a campainha não tocou, o menino não apareceu. Nas primeiras horas esperou, depois começou a ficar angustiado, por fim, colocou a cadeira no portão para que o visse assim que chegasse, mas ele não chegava... As horas custavam a passar e sua angústia aumentava. A noite chegou e nada dele. Foi deitar preocupado. Lembrou-se que nunca quis saber o nome da criança, nem dera o seu. Parecia-lhe que conhecidos os nomes, uma brecha se abriria e sua couraça, com dor tecida, não serviria mais.

 

Um novo dia surgiu e de novo o menino não apareceu, nem no outro, nem no outro...

 

Começou a pensar que algo teria acontecido à criança, ou pior, que ele tivesse desistido dele. Lembrou-se de rezar, mas como? Não se lembrava mais de há quanto tempo não falava com Deus...

 

Desistiu e chorou.

 

Ao fim de duas semanas eis que o som da campainha se faz ouvir.

 

Corre para atender e ali está o menino sorridente.

- Oi, senhor Ninguém, com saudades de mim? Eu estava com saudades suas...

- Oh, meu menino, que bom que você veio. E surpreendentemente, abriu o portão.

- Entre, vamos conversar.

 

O menino olhava curioso para tudo, o jardim mal cuidado, o terreno amplo a volta da casa e a enorme casa ao fundo.

 

- Poxa, senhor Ninguém isso aqui é o maior barato!

- Meu nome não é ninguém, é Oliveira, e o seu?

- Oliveira? Eu achava legal alguém chamado Ninguém, mas Oliveira é bom também, né? Ah... Eu me chamo Lito, isto é de verdade é Manoel, mas minha mãe me chama de Manoelito e aí meus irmãos começaram a me chamar de Lito. Nossa, mas sua casa é muito grande...

­-  De vagar meu rapaz, você parece uma vitrola, fala sem parar...

- O que é vitrola?

 

E por aí foram os dois a conversar, até que chegou a hora do menino ir para casa. Contou-lhe que tinha ido visitar a avó em Minas e por isso se ausentado. Sua alegria iluminava o mundo. Na saída, Oliveira devolveu-lhe a bola, sob a promessa de que voltaria.

 

E ele voltou, todos os dias à mesma hora. Levou a bola para que chutassem juntos, mudas de plantas para ajeitar o jardim e com o tempo, trouxe outras crianças para que pudessem formar um time. Oliveira se transformara. Servia lanches para a garotada, ria com eles e seu portão agora só era encostado. O novo chegara com a alegria e felicidade...

 

Um dia Manoelito observou que Oliveira estava feliz. Resolveu que já era hora de se afastar. Tinha que continuar com seu trabalho. Soubera de outro velhinho em outra rua que estava infeliz e que precisava dos trabalhos de um Anjo, como ele.   

 

* Vera Molina é arquiteta e estudante de psicologia.

 

*  *  *

Risolândia:

O bagaço da verdadeira maionese

 O circo foi armado na Disneylândia brasileira a alegre Risolândia, terra de cachaça, garapa, melado,

rapadura e claro, cana, muita cana e agora maionese! Em Risolândia um imenso canavial foi arrendado pela

Verdadeira Maionese e todos que trabalhavam nele, passaram a ser bem remunerados por esta multinacional.

 

* Pepe Chaves

De Itaúna-MG

para Via Fanzine

A verdadeira maionese arrematou as roças de cana de Risolândia.

(IMAGEM ILUSTRATIVA EM TAMANHO REAL)

 

A Verdadeira Maionese acaba de lançar um novo e revolucionário produto no mercado: sua nova maionese “Hellmann’s REAL, sabor CANA PAULISTA", claro, “com um toque” da melhor cachaça da região. A Hellmann's REAL, convence os mais exigentes paladares do público maioneseiro. Com tal empreendimento, a maionese empregou diversos subordinados que passaram a vestir sua camisa e defendê-la fielmente, além de ensacá-la corretamente para ser comercializada em todas as plagas do globo.

 

Não somente nas roças de cana-de-açúcar a maionese movimentou a economia da Risolândia, mas também nos alambiques que fabricam as melhores cachaças da região. Afinal, quem gosta de maionese também enche a cara com uma fina cachaça. A maionese, inovadora e consistente, traz pequenos fragmentos de cana que roçam o paladar do freguês, causando uma agradável ilusão a todos que venham consumi-la. Enquanto isso a cachaça de cana-brava, a conserva para sobreviver anos a fio como a "verdadeira" maionese. São tecnologias únicas, desenvolvidas pelos maiores produtores da indústria maionesística da terra, comandadas por uma competente cooperativa mercenária, digo, comercial, a UFA (União Fabricadores de Aminoácidos), cuja diretoria, os que não são gordos, têm as nádegas avantajadas, devido à exposição ao excesso de aminoácidos de maionese ingeridos ao longo dos vários anos de profissão.

 

A maionese produzida em Risolândia, escorre em tanques de carvalho e necessita, para retira-la dos tonéis, da presença de vários retireiros profissionais, para encher sacos que serão embarcados para o mercado maionesístico mundial. Esses competentes retireiros são conhecidos como “puxa-sacos”, devido a tanto puxar os sacos cheios das máquinas de maionese, daqui pra lá e de lá pra cá...

 

Os retireiros não precisam ser necessariamente um “tirador de leite profissional”, não é exigido que já tenha pegado em maminha de vaca pra puxar na UFA! Basta, para tanto, ter bons dedos articulados, jamais ter tido LER, saber puxar e o principal: ter uma boa língua úmida pra lamber o tempo todo (não pensem bobagens!...) a maionese, para constatar se ela está no ponto de ser comercializada.

 

Uma vez constatado que ela está “cientificamente” no ponto, a maionese passa então, a ser exportada para diversas cidades do Brasil, da Argentina, México, EUA e para o resto do Mundo. O produto made in Brazil leva no rótulo a seguinte frase: Produced in Riverland, Brazil - This is the best mayonnese of the Universe! Invite Riverland, PLEASE!!!

 

'Os puxa-sacos (também retireiros) são os grandes responsáveis pela qualidade final da maionese

produzida pela UFA, pois, quando eles puxam os sacos, é preciso saber pegar com o dedo certo,

com a força certa, senão o saco pode explodir, sangrar e deteriorar a maionese'

 

A organização UFA é a responsável exclusiva pela produção, distribuição e exportação da maionese de Risolândia em todo o mundo. Para que a maionese mantenha uma consistência que convence o consumidor é gasta muita tecnologia, muita ciência e conhecimento de mais de um quarto de século no ramo. Para isso, os consultores oficiais da UFA foram formados nos maiores centros maionesísticos do mundo, onde incorporaram técnicas apuradas de se produzir “a verdadeira maionese”. Estes, são assessorados por uma vasta corja de estagiários maionesísticos, que sonham subir na firma, mas somente serão promovidos depois que tiverem igualado suas nádegas ao tradicional "bundão" dos diretores. Para tanto, estão condenados a se alimentar somente de maionese, enriquecida com doses extras de lipídios, aminoácidos e óleo de baleia.

 

Os puxa-sacos (também retireiros) são os grandes responsáveis pela qualidade final da maionese produzida pela UFA, pois, quando eles puxam o saco, é preciso saber pegar com o dedo certo, com a força certa, senão o saco pode explodir, sangrar e deteriorar a maionese. Se apertar demais é fatal, o saco sangra mesmo e a maionese vaza, causando grande prejuízo a todos. Sendo assim, para ser puxa-saco de primeiro escalão na UFA o subordinado tem que ter muito talento, competência e precisão. Não é qualquer um que enche o rabo de aminoácido e é admitido como puxa-saco oficial da UFA. É preciso ter talento, competência, pois a “puxada” tem que ser dada de acordo senão, sai pela culatra e pode embananar a produção de maionese e transformá-la numa marmeladonese sem graça. Se UFA não tomar muito cuidado, suas maioneses poderão se transformar em marmelada e o prejuízo será grande não somente para a quadrilha, digo diretoria, mas também aos seus pobres puxa-sacos e demais subordinados que estarão no olho da rua. Todos sabem que no mercado mundial, maionese vale mais que marmelada, justamente, pelas técnicas apuradas para produzi-la e as altas verbas gastas em pesquisas pra torná-la numa "maionese REAL".

 

A UFA detém um avançado know-how de produzir a melhor maionese do mundo, mas nada é de graça: 99,9% de seu faturamento bruto que é doado ao seu departamento de idolatria ao sagrado Elefante Branco, símbolo oficial da UFA, ditador animado e amado, patrocinador do conhecimento maionésico no mundo subordinado. Tal animal, símbolo de lipídios, aminoácidos e muito peso, trata-se de um quadrúpede que pasta cana e adora tomar cachaça paulista o dia inteiro, mas tem a alma mais desenvolvida que as humanas e comunica-se com eles sem a necessidade de tradutores. Este monstro-mor, insiste com os puxa-sacos da sua UFA que apertem na medida certa, pois, se a apertada extravasar o limite, poderão ser causados danos drásticos a eles e ao próprio Elefantão.

 

Diversos puxa-sacos foram detonados, que nem homens-bombas, sendo arremessados para nunca mais, do lugar que se encontravam! Tudo porque o incompetente não soube puxar o saco e a maionese vazou novamente! Ao passo de que, outros puxa-sacos competentes, passam a assessorar o Elefante Branco, lado-a-lado, porque mereceram sua confiança, vez que estes, sabem a medida certa da puxada exata. Estes, íntimos assessores do Elefante Branco, receberam privilégios extras sobre os demais puxasaquinhos comuns, tais como, pode chamar seu ídolo e senhor apenas de “Elefa” ou enviar mensagens secretas para ele em PVT.

 

Mas, o maior privilégio de um puxa-saco da UFA é poder merecer a atenção do Elefante Branco e sua tromba imponente; é poder concordar com ele; é se entristecer com ele e dizer "lamentável", quando alguém o aborrece; é fazê-lo enviar memorandos com o nome do puxa-saco-garçon destacado no topo da lista; é poder pegar na sua tromba, puxá-la e até colocá-la na boca e, claro, estar ali pronto pra puxar qualquer coisa que ele precisar. Tudo isso enche um puxa-saco de orgulho, eleva seu ego e o coloca ao nível dos maiores maioneseiros do país. Com a crise financeira, diversos capatazes, digo, puxa-sacos, pediram uma boquinha a mais para o Elefa e passaram a cumprir horas-extras na UFA, exercendo também a função de "capachos" e assim, espertamente, estes desfrutam por mais tempo da presença sagrada desse maioneseiro-mor, essa peça única da maionese no mundo: o Elefa!

 

Esta frase eu acabei de criar agora, em homenagem aos puxa-sacos e maioneseiros desse e de outros mundos: "Sagradas sejam as mãos de um puxa-saco, pois sem elas, nem isso o coitado seria!".

 

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine & do portal UFOVIA.

 

 

 *  *  *

 

Direito:

Várias passagens pela polícia

Pedro Cardoso da Costa

De São Paulo

Para Via Fanzine

 

Esta frase sempre é repetida inconscientemente pelos apresentadores dos programas policiais. Modalidade que já teve programa em todas as emissoras de televisão, agora restrita ao Brasil Urgente, apresentado pelo Luiz Datena, na Bandeirantes.

 

Esta colocação refere-se aos antecedentes de algum delinqüente, geralmente preso em flagrante. A passagem pela polícia para deixar “passagem” seria necessário à instauração de um inquérito policial. Ocorre que este só pode ser instaurado quando há indícios de crime, seja de ação pública ou privada, independentemente da forma que se originar, seja por iniciativa da autoridade policial, nos casos de ação pública incondicionada, seja por ordem do Ministério Público ou da Justiça, ou por qualquer outra forma.

 

Trata-se de frase que requer um complemento sempre. Primeiro, porque um inquérito policial completo tem, basicamente, dois destinos: a Justiça e o interessado particular. Ao Judiciário, quando se tratar de crime de ação pública incondicionada e à pessoa interessada, quando se referir a crime de ação pública condicionada ou privada. Quando as “várias passagens pela polícia” forem por roubo, estupro e outros mais, todos de ação pública incondicionada, necessariamente a cada passagem pela polícia corresponderiam a uma passagem pela Justiça, absolvido ou não. 

 

Daí que, toda vez que citarem esta frase, ou se acrescenta o porquê a passagem pela polícia não passou pela Justiça ou se explica ao público o motivo dessa passagem esgotar-se na polícia.

 

* Pedro Cardoso da Costa é bacharel em Direito.

 

 

 

 

Particularidades:

Só no Brasil!

Não existe um só brasileiro que não já tenha pronunciado

ou ouvido alguém pronunciar a frase acima. 

Pedro Cardoso da Costa

De São Paulo

Para Via Fanzine

 

A pertinência ou não fica mais restrito ao conhecimento de cada um com relação aos demais países. Essa comparação já seria uma dessas coisas de Brasil. A turma de cima só aceita a comparação quando favorável, o contrário é logo rejeitada sob o argumento de que “são realidades diferentes”. Como se existisse comparação entre iguais.

 

Outra quase exclusiva do Brasil seria a mudança de forma das coisas, mantendo o conteúdo igual. O ensino, à medida que piorava, ia mudando de nome. O Primário, Admissão e Ginásio; Básico e Científico foram substituídos por Primeiro e Segundo Graus. Estes, há dez anos foram trocados por Fundamental e Médio.

 

Recentemente o pode e não pode da verticalização nas coligações; e a mudança da graduação das penas das infrações de trânsito. O Campeonato Brasileiro de futebol chegou a ter um número maior de fórmulas do que campeonatos. Clubes já precisaram perder para conseguir classificação. Muitos famosos mataram pessoas e nenhum foi preso. Os jogadores Edinho, filho de Pelé, Edmundo e Guilherme, os cantores Rick, da dupla Rick e Renner e Alexandre Pires; o jornalista Pimenta Neves são poucos exemplos da impunidade deslavada, de uma gama que envolve troteiros de faculdade, matadores de índio queimado vivo e tantos outros...!

 

'Um delegado, que ganha sete mil mensais, declara patrimônio

acima de dois milhões de reais e não causar estranheza,

para não dizer suspeição legal, aos órgãos oficiais!'

 

Como punição ao assassinato de  um rapaz, a vários estupros a uma menina indefesa e depois matá-la a golpes de faca, Champinha vai para a rua. De forma generalizada, culpa-se o Estatuto do Adolescente, mas nunca citam os que aprovaram essa excrescência, muitos deles atuais concorrentes a cargos relevantes!

 

E assim, leis e leis fazem e desfazem uma série de coisas para a Justiça manter a eterna morosidade, prendendo miseráveis e deixando prescrever para a trupe de cima. Junto às leis uma cultura de impunidade em lugar de defesa. Susane confessou matar os pais, (os pais!), e sua defesa defende a absolvição em vez da justa pena!

 

Isso tudo para chegar à falência da Varig e ao bilionário delegado Di Rissio. Ganhando sete mil por mês, o rapaz comprou um apartamento acima de um milhão e ninguém foi capaz de levantar a mínima suspeita. Nenhum colega de trabalho, nenhum familiar, nenhum amigo ou vizinho. Estes, pela responsabilidade social que cada cidadão exerce, mas de caráter facultativo. Já a Receita Federal tinha o dever de acionar o Ministério Público! E a imprensa de levantar este questionamento agora.

 

Um delegado, que ganha sete mil mensais, declara patrimônio acima de dois milhões de reais e não causar estranheza, para não dizer suspeição legal, aos órgãos oficiais!  Com relação à falência iminente da Varig, vários comentários ou insinuações para que o governo federal salvasse a empresa, mas ninguém suscitou uma questão por que da situação atual da empresa. Ou o porquê de um endividamento chegar aos vários bilhões de dólares sem uma intervenção, sem uma discussão na mídia ou junto aos órgãos federais de fiscalização. Tive parente trabalhando na Varig e suas mordomias, passagens quase de graça, cestas de Natal requintadas, respingavam até para familiares. E o pior, continua vendendo passagens livremente à medida que cancela vôos. Só no Brasil!

 

* Pedro Cardoso da Costa é Bacharel em Direito em São Paulo/SP.

- Foto: www.gabrielasoudapaz.org

- Produção: Pepe Chaves.

 

 
 

Os Chatos

Por Nelson Tangerini*

 

Depois de ler a excelente crônica "Chato de galochas", de Deonísio da Silva, B6, quarta-feira, 5 de abril de 2006, Caderno B, Jornal do Brasil, pensei: chatos são aqueles "bárbaros" que lutam pelo seu espaço e não conseguem, "emparedados" que são pela sociedade burguesa.

 

Um escritor suburbano, como eu, é um chato; Cruz e Sousa, poeta suburbano, era um chato; Lima Barreto, escritor suburbano, era um chato; o Madureira, clube suburbano, é um chato.

 

Os burgueses, encastelados em seus empregos burgueses, costumam chamar de chatos todos aqueles que os incomodam. O preconceito contra o suburbano ainda existe. Somos todos "bárbaros", incultos, sem educação. Somos a periferia da Paris brasileira.

 

* Nelson Tangerini é professor de Língua Portuguesa e Literatura.

 

 

 

 

 

       Uma homenagem de Via Fanzine ao espírito feminino...

                                               

       O Planeta Mulher & as mulheres do planeta

 

                                             Por Anna Baraldi Holst*

 

       Honremos este dia histórico que, em 1857

       operarias têxteis de uma fábrica  em  São

       Petersburgo  entraram em greve e cerca

       de  130  mulheres  foram  fechadas  e

       queimadas   vivas   pelos   próprios

       patrões.   Em  1910  foi  decidido

       homenageá-las comemorando em 8 de

       março  o  Dia  Internacional  da  Mulher.

 

       Nesta  comemoração,  pretende-se  atentar  ao

       papel e à dignidade da mulher, levando a uma tomada     

       de consciência  do  valor  feminino  para  perceber  o  seu

       papel  na  sociedade,   contestar,   rever  preconceitos  e

       limitações que vêm sendo impostas à mulher.

 

       Mulher: a duplicidade do seu valor se evidencia quando

       a  sua meta é a  família  e  a  sua  inteligência.  Por  sua

       sensibilidade, alcança o trabalho no mundo econômico,

       no lar , conciliando-os a  indicar o verdadeiro caminho

       da humanidade.

 

       Para  harmonizar,  a  sua  criação  não  se fez de maneira

       isolada,  mas acompanhada pela sua  outra  metade:

       o homem.

 

       MULHER,  VOCÊ  É A  POESIA,  A HARMONIA,  O  ANJO,

       A FIBRA,  A LUTA  E A  VITÓRIA!

 

       Fique um instante em silêncio. Feche seus olhos e sinta na

       sua  própria  imagem,  a mãe  de  todos,  a  Mãe Terra.

       Ela é o  feminino  em sintonia com  os seres viventes! 

 

           

       *Anna Baraldi Holst é tradutora e articulista de Via Fanzine & UFOVIA.

 

 

 

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