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crônicas
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21 de abril: 'Inconfidência', a busca por liberdade ‘A voz da estrela me diz, já veja a glória da manhã...’ Por Pepe CHAVES* De Belo Horizonte-MG Para Via Fanzine
Tiradentes: morto em nome da liberdade.
O dia 21 de abril é uma data guardada com muito carinho pelo povo brasileiro e, sobretudo, mineiro. No entanto, muitos não vêm a refleti-la dentro de seu verdadeiro significado e por que, realmente deve-se comemorar este feriado nacional.
Imbuídos na correria do dia a dia, poucos têm a oportunidade de se inteirar sobre fatos históricos, datas e personagens que marcaram o país em seu passado, contribuindo para que, hoje tenhamos a liberdade que detemos, a soberania nacional, o respeito internacional e um nome autônomo: Brasil.
Muitos nomes vêm à baila quando pensamos em “heróis nacionais”, mas poucos foram como Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que no Estado de Minas Gerais, comandou um movimento revolucionário com o intuito de derrubar a coroa portuguesa no século 18. Traído, por um de seus inconfidentes – Joaquim Silvério dos Reis –, Tiradentes foi paradigma de Jesus Cristo na história dos homens, o qual Judas também entregou de mão beijada.
O líder inconfidente foi perseguido, tão logo os detentores do poder (Coroa Portuguesa) descobriram os seus planos. Em vez da cruz, a forca; em vez do túmulo, o esquartejamento e os pedaços do seu corpo, sarcasticamente foram espalhados pela terras mineiras, como mostra do poderio português.
Os inconfidentes desejavam – antes de tudo – um Brasil autônomo e livre dos interesses colonizadores de Portugal - tal como o temos hoje - e agiram numa época em que foram vítimas mostrados como exemplo de fracasso para outros de seus contemporâneos que ousassem sonhar com a liberdade nacional. No entanto, o sonho de Tiradentes foi realizado em questão de tempo. O Brasil pôde se desligar politicamente de Portugal, ainda que outras cabeças viessem a rolar depois da dele. E coube e ainda cabe, a cada homem que pisa neste país, montar sua história, se possível sem sangue, consagrando a liberdade que lhe é de direito.
Enquanto algumas datas comemorativas de outros movimentos acontecidos no passado de alguns Estados brasileiros se voltam a outros interesses, seja de uma classe, seja por independência local - dentre outros motivos -, a Inconfidência Mineira foi um movimento fundamentalmente libertário que faliu, é verdade – como falem os grandes sonhos -, mas foi suficiente para escrever a palavra “liberdade” na bandeira do Estado de Minas Gerais.
Ademais, os inconfidentes se configuravam no Brasil mostrando sua verdadeira face, desde aquele longínquo século 18, e já procurando desatar os nós que o prendia aos instintos mercenários de seus colonizadores que tantas riquezas levaram desse país. Muitas vidas foram ceifadas injustamente nessa luta pela liberdade nacional, mas algumas ainda puderam ser registradas pela história e serão lembradas para sempre.
Pela coragem de seus articuladores e, sobretudo, por seus esforços, o movimento da Inconfidência Mineira deve ser reconhecido como um dos mais nobres e genuínos gestos civis em prol da autonomia de uma pátria e por isso, devemos nos orgulhar; pela audácia desses homens de rara coragem que escreveram com seu próprio sangue alguns dos mais importantes capítulos do passado dessa nação.
Por esta e por outras, entendemos que o sangue de Tiradentes ainda circula por Minas Gerais.
* Pepe Chaves é editor de Via Fanzine - Imagem: Arquivo VF.
- Tópico relacionado: Inconfidência Mineira e a história de Tiradentes
- Extra: Assista clipe 'Libertas' - Sagrado Coração da Terra
- Produção: Pepe Chaves. © Copyright 2004-2011 Pepe Arte Viva Ltda.
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Numa breve passagem pela Savassi: Bela da Tarde A moça entrou na cafeteria naquele meio de tarde e fez-se o silencio.
Por Pedro Paulo Cava* De Belo Horizonte-MG Para Via Fanzine
Linda, vestida com um tailleur cor de vinho bem justo que realçava as formas do seu corpo. Usava meias finas e um sapato de salto cujo verniz era quase um espelho. No pescoço uma echarpe de seda que deixava uma das pontas, displicentemente esvoaçar enquanto ela andava. Os cabelos longos, pretos, cacheados, emolduravam os olhos castanho-esverdeados que brilhavam como dois faróis.
Foi até o balcão, falou qualquer coisa com a garçonete e sorriu com simpatia. Depois veio andando na direção da minha mesa, bamboleando, malemolente. Carregava uma pasta que completava a figura e dava a impressão de poder ao seu andar firme e decidido. Nada nela era de menos nem demais.
Era próxima a perfeição da típica mulher brasileira.
Sentiu que eu a radiografava de alto a baixo e pareceu não se incomodar com isso. Era uma beleza estonteante e já devia estar acostumada aos olhares masculinos que a cobiçavam. Nas mesas próximas algumas mulheres cochichavam a sua passagem.
Sentou-se numa mesa quase ao meu lado e displicentemente cruzou aquelas pernas esculpidas pela natureza. Eu que já ia embora resolvi tomar mais um café só para ficar ali deitando meu olhar sobre aquela obra prima do desejo.
Ela retirou da pasta um pequeno computador e se concentrou no que fazia. Sabia-se observada e parecia se divertir com aquilo. Acendi um cigarro e as nuvens de fumaça fizeram uma cortina transparente entre nós. Ela parecia mais bela ainda envolta nas espirais que ficavam um tempo bailando no ar.
Foi por acaso que eu havia parado ali naquela tarde vazia da Savassi e agora estava preso à cadeira e não conseguia desgrudar os olhos daquela mulher. Fiquei imaginando quantos anos teria: uns 38 anos, pensei.
Tudo nela indicava a mulher na plenitude da sua maturidade.
Peguei um guardanapo de papel e uma caneta e comecei a rabiscar qualquer coisa sobre ele... Ela percebeu e eu parei. A garçonete passou levando o pedido da moça, uma taça daqueles cafés especiais de dar água na boca.
Pedi a minha conta, paguei e disse à garçonete que, depois que eu saísse, entregasse a moça aquele pedaço de papel rabiscado. Nele eu havia deixado escrito um torpedo: “belle de jour, bela da tarde, você foi a minha crônica, quase poesia, de hoje”.
Fui andando pelas ruas onde o sol começava a ficar cor de laranja e algumas luzes e faróis já se acendiam.
Sorri íntimo do fim do dia e me perdi em meio ao caos das pessoas apressadas em direção à cidade e a mais uma noite de trabalho que começava.
Belle de jour, pensei... Qualquer dia volto naquele café.
* Pedro Paulo Cava é escritor, ator, produtor e diretor teatral. - Seu site é: www.teatrodacidade.com.br.
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Marketing pessoal: Você sabe se “vender”? A resposta não é nada complexa e pode até ser comparada ao nosso cotidiano.
Por Fernanda Resende Ramos*
Era dia de feira. Estava animada para fazer compras e então, peguei aquela sacola de sempre, preta e com listas verticais amarelas. Nada discreta, mas, para quem vai em busca de frutas, verduras e talvez até um queijinho fresco, está de bom tamanho.
Saí em direção à feira e chegando lá comecei a reparar algo que antes sempre passou despercebido por mim - os feirantes anunciavam cada um da sua maneira seus produtos, afim, de cativar os clientes e entusiasmá-los à compra. Eram várias barracas, muitas tinham os mesmos produtos, então, comecei minha indagação: por que comprar na barraca do “Fulano” e não na do “Cicrano”?
A resposta não é nada complexa e pode até ser comparada ao nosso cotidiano. Como dizia o sábio escritor e palestrante, Mário Persona, toda venda começa com a venda de si próprio, da sua imagem e da capacidade de gerar confiança em seu cliente. Parece bobeira, mas, quem sabe se vender além de “despachar” o seu produto, ainda ganha “pontinhos” com o cliente. Isso, nada mais é que aquele famoso marketing pessoal, ou seja, saber trabalhar uma imagem positiva de si próprio a fim de tornar visível sua “marca”.
Imagine se o vendedor for aquele “cara” mal humorado, ignorante, mesquinho e capitalista ao extremo? Mesmo que ele tenha o melhor produto da feira, eu nem ia querer chegar perto. E, além disso, nunca recomendaria a barraca dele. Agora, se ele fosse gentil, atencioso e prestativo, nada mais justo que eu parar e fazer todas as minhas compras por ali mesmo. O vendedor nesse caso tem o seu marketing pessoal trabalhado. Além de saber vender “o seu peixe” ainda tem talento, habilidade e competência para se expor.
Acredito também que esse marketing pessoal, não serve somente para vendedores não. Serve para mim e para qualquer outra pessoa também.
No nosso dia a dia temos que nos “vender”. Vender experiências, profissionalismo, simpatia, caráter e até mesmo arte. Isso mesmo, ser artista. Não estou dizendo para você sair por aí mentindo que é “isso” ou “aquilo” para impressionar quem está por perto, até porque uma hora a máscara cai. Ser artista, não é ser hipócrita, mas sim, estratégico.
Na escola, no trabalho, em casa, com os amigos ou com a namorada, você não deixa de ser você, mas, em cada um dos casos citados você se empenha de uma determinada forma para atender as convenções sociais de convívio e aceitação. Temos esse lado ator e, se desempenhamos ele bem, a platéia aplaude e fica na expectativa do próximo “espetáculo”.
Nossa! Fiquei viajando aqui nesses meus pensamentos malucos, mas, ao mesmo tempo conscientes, e, continuo parado em frente à barraca central, com a sacola ainda vazia e com o cheiro da fome envolvido pelo pastel da barraca ao lado.
Então, deixe-me parar com isso. Vou fazer minhas compras, me “vender” e, é claro, “comprar” também.
* Fernanda Resende Ramos cursa o 6º Período de Comunicação Social/ Jornalismo Universidade de Uberaba (Uniube). - Contato: fe-resende@hotmail.com
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Para onde está indo a realidade? A clausura virtual Quando comparamos nossa juventude com a geração anterior, fica fácil percebermos as mudanças bruscas que ocorreram ao longo do tempo. Mas qual é a diferença mais gritante? As roupas? O tipo de música? As gírias?
Por Mariana Rodrigues Ng De Niterói-RJ Para Via Fanzine
Se antes o que aqueles meninos (que saíam em seus carros conversíveis ao som de Beatles) mais queriam era ir a uma danceteria para olhar os "brotos", hoje "a boa do fim de semana" é curtir uma "micareta" ou uma "have" com os amigos e "pegar" várias.
Mas isso é praticamente uma evolução, um upgrade dos hábitos. Mas tem uma coisa na qual é novidade para os pais: a internet. Esta que: junta casais, forma amigos, mantém perto mesmo aquele que está longe, informa e educa (se o usuário tiver interesse), como tudo na vida, tem seus prós e contras.
Com esta vasta gama de coisas interessantes sendo oferecidas, ela está enclausurando nossos jovens entre uma cadeira e uma tela. Muitos deles preferem ficar na internet do que ir visitar parentes, ir à igreja, estudar, entre outras coisas. Temos que admitir que a internet hoje é uma ferramenta fundamental para todos, mas nossos jovens estão ficando viciados. Podemos fazer o uso dessa palavra, pois muitos não conseguem passar um mísero dia sem acessá-la.
Por isso, temos que mostrar aos nossos jovens que, não só é possível, como é necessário que eles aprendam a dosar o seu tempo para o mundo real e para o virtual, pois ninguém vive sem computador, e ao mesmo tempo ninguém vive sem viver.
* Mariana Rodrigues Ng é estudante e reside em Niterói-RJ.
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Mais cuidado da próxima vez Por Marcelo Sguassábia* De Campinas-SP Para Via Fanzine
Foi como abrir o guarda-roupa pra pegar um par de meias e sentir as malas, sapatos, ternos e cabides despencando em avalanche sobre mim. Em certas coisas não se deve mexer, sob que pretexto for. É fio que, puxado, desfia o casaco todo. Pé de vento repentino no castelo de cartas.
Às carradas e sem sequência que fizesse algum sentido, me abraçaram em redemoinho as muitas centenas de fotos de antes de anteontem, todas num sépia que esmaecia os rostos dos retratados. Sentia o turbilhonamento me envolvendo num cone furioso. E me larguei completamente, atento para ver até onde iria aquele despropósito.
Soprado pelo acaso horas e horas, a milhares de metros acima das nuvens, fui perdendo altitude lentamente até cair no mar dos colos mornos, que conhecia dos prospectos das agências de turismo. Eram só colos, a perder de vista, sem as cabeças e troncos, somente esse filé do corpo onde os bebês tão bem se encaixam e onde os amantes têm e oferecem os arrepios mais sutis. Algumas das espáduas muito brancas e tão lisas, várias delas sardentas, outras queimadas pelo sol com a marquinha da alça do biquíni.
Desse país guardei as cores da bandeira e a melodia do seu hino, que entoava enquanto era conduzido, na gala do melhor traje, ao baile dos quixotes e borralheiras na Grande Praça de Antuérpia. À luz dos fogos-fátuos, assistia pasmo ao que se passava num beco próximo, tão próximo que me parecia uma extensão de mim a fazer-me ponte sobre o Mississipi.
Abre-te Sésamo e vi, abrindo-se sesamente, o riso do Gibrair, glutão de muitas coxinhas falando de cromossomos. Escondido atrás do Sódio da tabela periódica, ele não deu por mim na sala nem percebeu quando saí. Já não era sem tempo: chamava-me a mãe para o almoço. Mas isso em um dos ouvidos. No outro uma voz gelada, vinda de alto-falante: “Doutor Marcos, Emergência”. De novo: “Doutor Marcos, Emergência”. Pane no cone de fotos. Pouso forçado, ferimentos vários. Que sirva de lição, da próxima vez garanto que não me deixo levar.
* Marcelo Sguassábia é redator publicitário e colunista de diversos jornais e revistas eletrônicas. Seu blog: www.consoantesreticentes.blogspot.com.E-mail: msguassabia@yahoo.com.br.
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Link Por Marcelo Sguassábia* De Campinas-SP Para Via Fanzine
I - Na minha home ou na sua? - Sugiro um território neutro, pra variar um pouquinho. Um amigo meu tem um desktop desocupado aqui perto. Deixa eu dar uma busca nas imagens pra te mostrar. O papel de parede é lindo. Antes a gente podia saborear uma pasta, que tal? - Outra? Já são 1651 pastas em Meus Documentos. Por favor, vê se muda o menu principal... - Tá bom. O www.guiaderestaurantes.com.br indica www.lamejorpaella.es, www.barbecuehouse.com e www.royalfood.co.uk. O que a senhorita prefere? - Clica no barbecue.
II - Detesto ter de dizer isso, mas tem um restinho de pixel escorrendo no canto da sua boca. Disfarça e passa a borrachinha do photoshop. - Ai que chato. Só agora, depois de baixar a sobremesa, é que você me avisa? Todo mundo deve ter reparado. - Ué, tô vendo e tô avisando. Sabe, você fica linda com essa cara de quem perdeu laudas de dissertação acadêmica e não tinha backup. Te amo, sabia? - Repete em caps lock. - EU TE AMO. Tá bom assim ou quer que ligue as caixinhas de som? - Grosso insensível. Será que pelo menos uma vez na vida você não poderia...
(cai a conexão)
III - E aí, tudo bem com você? - Acho que sim, mas reiniciei como arquivo recuperado. Vão ter que me renomear. É duro depender dos humanos. - É, gente é bicho estranho. Não vejo sentido no que eles fazem lá fora. Acordam, passam o dia inteiro olhando pra gente, trabalham pra se sustentar, se sustentam comendo, comem geralmente coisas que fazem mal e devolvem tudo horas mais tarde – de um jeito que é melhor nem comentar. Dormem e no dia seguinte começa tudo outra vez. - De fato, não tem sentido. Assim como não tem sentido eles fingirem que trabalham e ficarem vendo outros humanos nus. Se o chefe não estiver por perto, ficam horas e mais horas olhando essas coisas. Que graça que acham nisso, me diz? - E eu sei lá... Na dúvida, acesse www.serhumano.com, pesquise em “Perguntas mais freqüentes” ou baixe em PDF o manual de instruções.
IV - Ai, Jesus amado. Aquele menino de novo. Com o pacote de bolacha e o copão de coca. - E pela cara, acordou agora. Deve estar com mais gás que o refrigerante. Agüenta que lá vem tiro, acabou de abrir o Counter Strike. - Daqui a pouco chega o pai dele. - É, o cibertrouxa. Se soubesse fuçar no histórico e descobrir o que sua abnegada esposa anda fazendo por aqui, com a webcam ligada... - Além de corno, tem mau gosto. Reconfigurou a área de trabalho com cores cítricas e berrantes. A tela aqui tá parecendo um uniforme de gari da Vega Sopave. Será que não percebe que isso acaba com a vista dele? - Vai ver que é por isso que não enxerga o que todo mundo sabe.
V - Nariz entupido? - É, acho que algum vírus me pegou de jeito. Se não melhorar, vão me botar na quarentena. Opa, abriram o Word. Quem será? - Não tenho idéia. Só sei que me irrita profundamente esse cursor piscando o tempo todo pra você, como se estivesse disponível e desacompanhada. Falta de respeito. Vou arremessar esse sujeitinho na lixeira e vai ser agora! - Calma aí, o cara trabalha no Office, tem influência. - Ah é? Vai com ele, então.
Erro no módulo Shell32 DLL em 0177. Este texto efetuou uma operação ilegal e será finalizado.
* Marcelo Sguassábia é redator publicitário e colunista de diversos jornais e revistas eletrônicas. Seu blog: www.consoantesreticentes.blogspot.com.E-mail: msguassabia@yahoo.com.br.
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Cinco estrelas da quarta idade
Por Marcelo Sguassábia* De Campinas-SP Para Via Fanzine
Meu caro Ludovico, seu doidivanas incorrigível.
Esse mundo dá mesmo muitas voltas. Nem bem abandonei o ramo de cosméticos à base de algas marinhas e eis-me frente a frente com um novo desafio profissional: organizar as atividades da equipe de recreação de um hotel voltado à chamada “Quarta Idade”, ou seja, aquele pessoal com mais de 95. Talvez o termo soe estranho aos seus ouvidos, mas a mídia em breve irá massificá-lo, com direito até a merchandising na novela das oito.
Na verdade, preferia encarar uma turminha mais nova. Mas o mercado da tão falada “melhor idade”, dos 65 aos 94, já está mais que saturado. Os rapazes e moças dessa faixa etária já têm muito o que fazer, há pacotes aos borbotões para todos os gostos e bolsos.
Sendo o meu produto inédito, o dilema no momento é formatar os eventos para o grupo de monitores. E o amigo há de convir que meu leque de opções é um tanto quanto escasso, tendo em conta o público-alvo e suas naturais limitações. Todavia, seguem algumas idéias que me vieram à mente, para as quais peço sua ponderada e sempre bem-vinda avaliação.
Aula de esteira, de crochê ou de tricô, confeccionada em linha de algodão cru. Uma forma interessante de manter as velhinhas entretidas por até 3 semanas, dependendo do tamanho da esteira, do ponto a ser utilizado e da desenvoltura da aluna no manejo das agulhas.
“Mergulho nas Cataratas”, um workshop onde especialistas irão expor aos anciãos as mais recentes novidades no tratamento e controle desta insidiosa enfermidade.
Trilhas radicais: vinte tabuleiros de trilha, dispostos simetricamente no saguão das piscinas térmicas, promoverão a integração dos hóspedes e farão a alegria da velharada.
Pensei também na “Hora H gá”. O nome infame ainda é provisório, mas foi o que deu pra arrumar por enquanto. Trata-se de um jogo de charadas, do tipo “O que é, o que é”. Exemplo: começa na cervical, irradia para a região lombar, desce o nervo ciático até a batata da perna e só cessa com uma dose cavalar de Cataflam. Qual o nome da doença?
Tem ainda aquela brincadeira da estátua, onde ninguém pode se mexer, mas a galera das bengalas, andadores e afins ficaria em evidente desvantagem... a recomendação da diretoria é não deixar ninguém constrangido, entende?
Meia Maratona: ganha quem conseguir dobrar o maior número de pares de meia em um minuto. Provas nas modalidades meia três quartos, meia-calça, meia de lã e meia de nylon.
Estou prevendo a realização de baladas, com início às dez da manhã e término às quatro da tarde. A dupla de DJs Janota e Mariquinhas entreterá os requebrantes com uma sensacional seleção de valsas, dobrados e maxixes.
Encerrando, o “Vovoyeur”. A proposta consiste em várias câmeras escondidas, que flagrarão toda a pouca vergonha que vier a ocorrer nos cantinhos e biombos, na calada da noite, entre os senis convivas.
Bem, vou ficando por aqui, no aguardo de seus comentários críticos e, se possível, de sugestões para o meu projeto. Meu amigo, estou num mato sem cachorro e não posso perder esse emprego. Ponha-se no meu lugar, ou melhor, ponha-se no lugar de um desses centenários hóspedes e diga sinceramente se as idéias lhe atraem.
Do amigo de sempre,
Capistrano.
* Marcelo Sguassábia é redator publicitário e colunista de diversos jornais e revistas eletrônicas. Seu blog: www.consoantesreticentes.blogspot.com.E-mail: msguassabia@yahoo.com.br.
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Sobre o Beijo Texto de: Conselheiro Armando Graça/Nestor Tangerini *
Nestor Tangerini
Vinha eu pela rua do Ouvidor, quando se me depara o grande primeiro ator Manuel Pêra. Pela rua do Ouvidor, sim. Sou conservador e a referida via me continua sendo a velha e tradicional rua Ouvidor. Entre mim e o Pêra como que acabava de realizar-se uma transmissão de pensamento, pois ia, mesmo, torcendo por vê-lo na cidade. Inteligente e cheio de bossa, poder-me-ia ser bem mais útil do que qualquer literato cediço. - Olá, Pêra! Nem de encomenda... - Como vai o senhor, Conselheiro? - Vinha agora mesmo pensando em me encontrar com você. - Que temos de novo? - Preciso que você me tire de uma sinuca. - Ora, Conselheiro!... Quem sou eu para acompanhar Nosso Pai fora de hora? Em que posso servi-lo, Conselheiro? - Prometi à Alda Garrido escrever, n´O Espêto, uma crônica sobre o beijo, esquecendo-me, no entanto, de que o assunto é dos mais esgotados. - Realmente. Vem de quando Adão e Eva se beijaram, pela primeira vez, naquela marmelada de maçã, passa pelo beijo de Judas e chega até ao beijo cinematográfico de hoje. - De modo que é quase impossível apresentar coisa inédita. - O recurso é lançar mão do que há sobre o beijo e fazer novidade na feitura da crônica. - Bem lembrado. Então, recapitulemos. - Comece o senhor. - Para o filósofo, o beijo é nada, e, como o nada, pode gerar muita coisa... - Para o médico, o beijo é um dos transmissores dessas erupções que não dão em poste da Light... - Para o advogado, o beijo é um mandado de segurança... - Para um engenheiro da Central, o beijo são bocas que se encaixam como dois vagões entrando um no outro... - Para o químico, o beijo é uma droga inflamável... - Para o padre, o beijo é um ato que só se pratica religiosamente nas santas e nas comadres... - Para o DASP, o beijo é um concurso de primeira entrância...
- Para o Comandante do Corpo de Bombeiros, o beijo é aquela água... se o fogo não for muito grande. - Para o Dr. Jaime Guimarães, chefe da 4ª Secção dos Correios, o beijo é o selo do amor. - Alguns, dá-lhes na cabeça beijar cabelos. - Outros acham que só se deve beijar o beicinho de baixo, porque o de cima fica perto do nariz... - Os namorados cheios de dedos procuram beijar na mão. - Outros metem os pés pelas mãos e beijam em qualquer parte... - Os japoneses, geralmente, não beijam. - Os franceses gostam muito de beijar no pescoço... - E você, Pêra, que diz você a respeito do beijo? - Para mim, Conselheiro... Para mim o beijo é uma porcaria gostosa, como outras porcarias... - Deu-me o grande comediante a sua opinião e despediu-se, comunicando-me partiria para São Paulo, a fim de lá estrear na Companhia Procópio Ferreira... E está feita a crônica...
* Texto de: Conselheiro Armando Graça / Nestor Tangerini, publicado na revista O ESPÊTO, ano I – No. 2 – 1/5/1947 – Pág. 2 - Do livro PERFIL QUASE PERDIDO – UMA BIOGRAFIA PARA NESTOR TANGERINI, de NELSON TANGERINI.
* * * A Bengala José Aloise BABHIA* De Belo Horizonte para Via Fanzine
Aqui procê: ó...!
E agora José!? A farra acabou. E não pense você Zé, que és o único personagem da história: a bengala, eis um símbolo medonho, deixou rastros nos últimos dias de novembro. O julgamento do ex-todo-poderoso ministro da Casa Civil foi emblemático. Esperemos que depois do evento, a Câmara retome o seu caminhar. Ou melhor, mude o seu ritmo. Mostre algum serviço.
É urgente, urgentíssimo que os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ajustem os ponteiros e montem uma agenda mínima. A sensação geral é de desalento, falta de credibilidade, estagnação parlamentar. Vamos ser sinceros: os nobres políticos têm é que trabalhar mais. Confinaram-se nas CPIs. Do contrário, como observa atentamente um aluno de jornalismo, a bengala vai cair de pau na cabeça dos “preguiçosos”. Um outro aluno propôs uma versão mais consistente: uma bengala de ferro. Haja cabeça! Mas, esses deputados e senadores - na minha modesta opinião não salva um - têm ou não cabeças-duras?
Não é bom para o país ver a pasmaceira que só anda a golpes de bengala. Por sinal, ela parecia um chicote nas mãos do escritor Yves Hublet. Enquanto agredia o Zé, o escritor repetiu duas vezes a palavra Fristão se referindo ao deputado (ou melhor, ex-deputado). Para quem não entendeu a mensagem, Yves mandava que lessem Dom Quixote, obra clássica de Miguel Cervantes.
Fristão, na verdade, é um feiticeiro. Nome de um falso autor do romance Dom Belianis de Grécia. Era comum nas histórias de cavalarias essa estratégia de criação de um falso autor. Convenhamos, ao que tudo indica mesmo, o escritor Yves Hublet quis chamar o Zé de “farsante”.
Estendendo a idéia do outro aluno – o da bengala de ferro –, estava pensando noutros personagens. Sim, os outros deputados que meteram a mão em cumbuca. Para acabar com esse mar de lama, caixa dois, mensalão, mensalinho, dinheiro “pra qui”, dinheiro “pra lá”, que tal adotarmos a bengala como símbolo? Esse símbolo lembra várias coisas, aposentadoria, idéias velhas, sustentação do corpo, sustentação financeira, etc. Que fique claro: sou contra a violência de todas as espécies. Entretanto, tem hora que somente uma simples bengala expressa a nossa indignação, nossa revolta, nosso desamparo. Por isso, já estou em campanha. O meu lema é “Bengala Neles”. Só espero que alguns políticos não se apropriem dessa idéia. Não utilize nas próximas eleições esse slogan. Alguma dúvida? Vamos esperar para ver.
* José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista, escritor, ensaísta e pesquisador. Autor de Pavios Curtos (anomelivros) e Em Linha Direta (no prelo).
- Foto: Arquivo VF. |
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