Pesquisa e
Inovação:
Financiamento ainda é o principal
desafio da ciência no Brasil*
Durante a
entrevista, Helena Nader citou a falta de financiamento
como o principal
entrave da ciência brasileira nos dias atuais.
A presidenta da
SBPC, Helena Nader, fala do desafio de obter
recursos para
financiamento de projetos científicos no país.
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De hoje (22) a domingo, a cidade de Rio Branco (AC) sedia
um dos maiores fóruns para a difusão dos avanços da ciência e para
debates de políticas públicas do país, a 66ª Reunião Anual da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Às vésperas do evento,
que ocorre desde 1948, a presidenta da entidade, Helena Nader, conversou
com a Agência Brasil.
Para ela, a participação de indígenas e extrativistas nesta
edição do encontro será fundamental. Depois de 14 anos de espera, a
comunidade científica vê avançar no Congresso um projeto de lei que
trata do acesso à biodiversidade. O projeto foi encaminhado pelo
Executivo no fim de junho e deve tramitar em regime de urgência. “O
momento é ideal, porque essa legislação influencia diretamente a esses
dois grupos”, defende a presidenta a SBPC.
Durante a entrevista, ela citou a falta de financiamento
como o principal entrave da ciência brasileira nos dias atuais.
“Enquanto nós investimos 1,1% do PIB [Produto Interno Bruto], a China
investe mais de 3%”, afirmou a cientista. “Se não tiver recursos, o
Brasil não vai dar o salto”, disse a presidenta da SBPC destacando que a
ciência também precisa do aporte do setor empresarial.
Helena Nader ressaltou ainda os preparativos para levar a
reunião ao extremo oeste do país. Os voos estão esgotados, assim como as
reservas nos hotéis. No entanto, até a semana passada, o encontro tinha
menos inscritos que edições de anos anteriores. Até o momento, são 4,5
mil inscritos contra 22,9 mil no ano passado, no Recife (PE), e 11,9
mil, em São Luís (MA), em 2012. O número ainda pode crescer. A
expectativa dos organizadores é reunir de 10 a 12 mil pesquisadores.
Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista concedida
por Helena Nader à Agência Brasil.
Agência Brasil:
Quais são as novidades da 66ª Reunião da SBPC e qual será a importância
da participação de indígenas e extrativistas?
Helena Nader:
Este ano, teremos o Dia da Família na Ciência [ou SBPC Família].
Queremos trazer a família para dentro da SBPC, com atividades voltadas
para esse público. Queremos desmistificar a ciência, mostrando para
todos que ela está presente no dia a dia. Teremos palestras, atividades
lúdicas, isso é uma novidade. A SBPC Indígena ocorre já há dois anos. A
gente tem trazido as populações tradicionais para mais perto da
comunidade científica com mais frequência. Nesta edição isso será
especialmente importante porque recentemente, depois de 14 anos, o
projeto de lei de acesso à biodiversidade foi encaminhado ao Congresso.
Infelizmente, com um rótulo de regime de urgência. A gente espera que
isso seja retirado. O projeto é bom, traz avanços, mas tem que ser
melhor discutido. O momento é ideal para ter essas duas reuniões [SBPC
Indígena e SBPC Extrativista], porque essa legislação influencia
diretamente esses dois grupos.
Agência Brasil:
Por que a escolha do Acre? Como estão os preparativos?
Helena Nader:
São os estados e as universidades que se candidatam, o Acre pediu para
sediar o que chamou de a maior das copas, a da educação e da ciência. A
organização está fantástica. As pessoas da cidade estão muito
envolvidas. Infelizmente, não tem mais pessoas vindo porque estourou o
número de acomodações, embora muita gente esteja sendo acomodada em
casas de estudantes e em casas de família. A enchente do Rio Madeira
bloqueou o acesso a Rio Branco, que depende de uma balsa. Há hotéis
novos que estão prontos, mas faltam algumas etapas. Há móveis que não
conseguiram chegar. Mas isso não impede de fazermos uma grande reunião.
Vamos ver a importância da Amazônia. O estado do Acre foi o que menos
desmatou, mas nos últimos anos, 2012 e 2013, no Brasil, o desmatamento
que vinha caindo, cresceu. Isso é um sinal vermelho. Vai precisar ter o
desmatamento em alguns lugares, isso é óbvio, porque tem que dar
condições de vida para a população, mas tem que fazer isso com
equilíbrio.
Agência Brasil: Na
pauta da ciência e tecnologia, qual o maior desafio atual?
Helena Nader:
Os principais desafios continuam sendo o financiamento e um fluxo
constante de financiamento. O Brasil melhorou, mas ainda está muito
aquém do que precisa para dar aquele salto. Continuamos na 13ª posição
em termos de publicação em periódicos indexados [registrados e
avaliados]. Nosso impacto, em termos de publicações, tem aumentado, mas
ainda está aquém do que o Brasil pode fazer. Enquanto nós investimos
1,1% do PIB [Produto Interno Bruto], a China investe mais de 3%. Para
que façamos nosso gol, precisaríamos chegar a 2%. Por isso, lutei tanto
pelos royalties do petróleo [que foram destinados para saúde e
educação]. Vou continuar lutando pelo Fundo Social [do pré-sal], 50% vai
para educação e saúde. Ainda tem mais 50%, vamos tentar por 10% em
ciência. Se não tiver recursos, o Brasil não vai dar o salto. O setor
empresarial também tem que investir mais. O governo é o que mais
investe. O investimento, em muitos lugares, está meio a meio, mas há
lugares onde o governo investe 100% e o setor empresarial, zero.
*
Informações de Mariana Tokarnia/Agência Brasil.
22/07/2014
-
Foto: Arquivo/Agência Brasil.
* * *
Prêmio Nobel:
Nobel da Física para um belga e um
britânico
Francois
Englert, da Universidade de Bruxelas, e Peter W. Higgs,
da Universidade de Edimburgo, são os
vencedores do prêmio Nobel da Física 2013.
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O Prêmio Nobel da Física foi entregue ao belga François
Englert e ao britânico Peter Higgs pelo seu trabalho sobre o bóson de
Higgs, uma partícula considerada elementar.
Os dois homens, de 80 e 84 anos, foram distinguidos pelos
seus trabalhos "sobre a descoberta teórica de um mecanismo que contribui
para a compreensão da origem da massa das partículas subatômicas, que
foi recentemente confirmada", disse o comitê Nobel em comunicado.
Confrontado com o prêmio, François Englert disse, citado
pela Academia sueca, que "não era desagradável" ganhar e que ainda não
sabe o que fazer com os 8 milhões de coroas suecas (cerca de um milhão
de euros) que receberá.
*
Informações de Carolina Reis, Mariana Cabral e Maria Romero/Expresso
(Portugal).
08/10/2013
- Foto: AFP.
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