Longo julgamento:
STF tenta encerrar julgamento do mensalão*
O andamento do processo está nas mãos de
Celso de Mello.
Depois de quatro meses e meio, os ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) pretendem concluir nesta semana o julgamento do
mensalão. O andamento do processo está nas mãos de Celso de Mello, que
deve desempatar o jogo e decidir nesta segunda-feira sobre a perda
automática de mandato dos três deputados condenados pelo escândalo de
pagamentos a parlamentares entre 2003 e 2005.
O ministro chegou a ser internado na quarta-feira (12) por
causa de uma pneumonia e a votação do processo foi adiada duas vezes.
Teve alta do Hospital do Coração de Brasília e passou o fim de semana
descansando. Fará hoje nova avaliação médica e deve ser liberado para o
trabalho.
Caberá a Mello desempatar o placar de 4 a 4 e definir se
João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto
(PR-SP) perderão seus mandatos imediatamente, por já terem sido
condenados no STF, ou se o assunto será resolvido em votação pela Câmara
dos Deputados.
A decisão também terá efeito sobre o ex-presidente do PT
José Genoino, que é suplente de deputado e, conforme a decisão, poderá
ou não assumir uma vaga na Câmara em janeiro.
*
Informações de Débora Bergamasco e Felipe Recondo | Estadão Conteúdo.
* * *
Mensalão:
STF condena por 6 a 4 operadores do
mensalão*
No entendimento do STF, o desvio de
recursos públicos, os empréstimos bancários fraudados,
a lavagem desse dinheiro e a distribuição
para deputados, tudo foi montado para angariar
apoio ao governo Lula e ampliar o poder
do PT.
Tribunal encerra mais
uma fase do processo.
Leia também:
MENSALÃO NO STF
Tofolli absolve Dirceu em menos de 1 minuto
MENSALÃO NO STF
Condenado, Costa Neto 'recorrerá' do Supremo
No último ato do escândalo do mensalão, o Supremo Tribunal
Federal (STF) condenou nesta segunda-feira, por 6 a 4, os operadores do
esquema pela formação de uma quadrilha que atuou no governo e foi
comandada pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Ele sofreu condenação
por chefiar o esquema, auxiliado na cadeia de comando pelo ex-presidente
do PT José Genoino, pelo ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e pelo
publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Sete anos depois das primeiras denúncias, o STF desfechou o
escândalo com 25 réus condenados e julgou que a gestão do ex-presidente
Luiz Inácio da Silva comprou votos no Congresso para a aprovação de
projetos de interesse da administração federal. De acordo com o ministro
Celso de Mello, decano do tribunal, "um dos episódios mais vergonhosos
da história política do País", operado por "homens que desconhecem a
República, pessoas que ultrajaram as suas instituições e que, atraídos
por uma perversa atração do controle criminoso do poder, vilipendiaram
os signos do Estado Democrático de Direito e desonraram com seus gestos
ilícitos e ações marginais a ideia que consignam o republicanismo na
nossa Constituição".
Um grupo que reuniu 11 réus no total para a prática de
crimes de lavagem de dinheiro, contra a administração pública - peculato
e corrupção - e contra o sistema financeiro - gestão fraudulenta de
banco. "Tenho, para mim, que, neste perfil, reside a verdadeira natureza
dos membros dessa quadrilha, que, em certo momento histórico de nosso
processo político, ambicionou tomar o poder, a constituição e as leis do
País em suas próprias mãos. Isso não pode ser tolerado", afirmou Mello.
"Ninguém tem legitimidade para transgredir as leis e a Constituição de
nosso país. Ninguém está acima da autoridade do ordenamento jurídico do
estado", continuou.
No entendimento do STF, o desvio de recursos públicos, os
empréstimos bancários fraudados, a lavagem desse dinheiro e a
distribuição para deputados, tudo foi montado para angariar apoio ao
governo Lula e ampliar o poder do PT. Na sessão desta segunda-feira, o
Supremo julgou a última fatia do processo. Condenou Dirceu e outros dez
réus por integrar o que o decano do STF classificou como "uma sociedade
de delinquentes". "Formou-se na cúpula do poder, à margem da lei e ao
arrepio do direito, um estranho e pernicioso sodalício (sociedade de
pessoas que vivem em comum), constituído por dirigentes unidos por um
comum desígnio, um vínculo associativo estável que buscava eficácia ao
objetivo espúrio por eles estabelecidos: cometer crimes, qualquer tipo
de crime, agindo nos subterrâneos do poder como conspiradores, para,
assim, vulnerar, transgredir, lesionar a paz pública", afirmou Mello.
O grupo foi integrado por Dirceu, Delúbio, Genoino,
Valério, dirigentes do Banco Rural e das agências de publicidade que
ajudaram a capitalizar o mensalão. Votaram pela condenação dos réus pelo
crime de formação de quadrilha os ministros Joaquim Barbosa, Luiz Fux,
Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Carlos Ayres Britto
(presidente). "No caso, houve a formação de uma quadrilha das mais
complexas, envolvendo, na situação concreta, o núcleo dito político, o
núcleo financeiro e o núcleo operacional", afirmou Marco Aurélio Mello.
"Mostraram-se os integrantes em número de 13. É sintomático o número",
acrescentou o ministro, lembrando o número do PT, mas ignorando que dois
dos 13 réus foram absolvidos. Conforme a maioria dos ministros, o
esquema envolvia divisão de tarefas entre cada um dos núcleos,
pressupunha a união estável entre os réus para a prática de crimes que
atentaram contra a paz pública. "Havia um projeto delinquencial de
natureza política", afirmou Fux. "Esse projeto delinquencial foi
assentado aqui pelo plenário como existente. Todos sabiam o que estavam
fazendo. Todos foram condenados por isso", disse.
Quatro integrantes da Corte não julgaram que o grupo
constituiu uma quadrilha. Para os ministros Ricardo Lewandowski, Rosa
Weber, Cármen Lúcia e Dias Toffoli, os réus não se juntaram com o fim de
integrar um grupo destinado à prática indeterminada de crimes. A partir
de agora relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, começa a revelar
as penas que defende que sejam impostas a cada um dos réus. Deve começar
pelo ministro da Casa Civil. Barbosa já adiantou que aqueles que estavam
no topo da cadeia de comando do esquema terão tratamento mais severo.
Somente depois de todo o julgamento, os ministros discutirão se os
condenados começam imediatamente a cumprir as penas, como defendeu o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ou se aguardam em
liberdade o trânsito em julgado do processo, o que deve ocorrer apenas
em 2013.
*
Informações de STF condena por 6 a 4 operadores do mensalão.
22/10/2012
* * *
Mensalão:
João Paulo é condenado pela maioria do STF
Maioria do STF condena João Paulo por
corrupção passiva e peculato.*
A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal já
votou pela condenação do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) pelos
crimes de corrupção passiva e peculato na ação penal do chamado
mensalão.
Com os votos dos ministros Cezar Peluso e Gilmar Mendes
nesta quarta-feira, chegou a 6 o número de ministros que considerou o
parlamentar culpado desses crimes, no episódio em que a Câmara dos
Deputados contratou a agência de publicidade SMP&B, à época em que João
Paulo presidia a Casa.
Já haviam votado pela condenação do deputado por corrupção
passiva e peculato os ministros Joaquim Barbosa, Rosa Weber, Luiz Fux e
Cármen Lúcia. Pela absolvição, manifestaram-se os ministros Ricardo
Lewandowski e Dias Toffoli.
Gilmar Mendes também votou pela condenação do deputado,
candidato à Prefeitura de Osasco, por lavagem de dinheiro, mas nesse
caso ainda não há maioria. Ele decidiu, ainda, absolver o parlamentar de
uma segunda acusação de peculato.
Embora a maioria dos ministros da Corte já tenha se
manifestado pela condenação do réu, o deputado ainda tem chance, mesmo
que remota, de absolvição, pois qualquer um dos ministros pode alterar
seu voto antes da proclamação da sentença, ao fim do julgamento.
*
Informações de Hugo Bachega e Ana Flor / Reuters.
29/09/2012
* * *
Mensalão:
Relator apresenta voto e
condena
Barbosa pede condenação de ex-diretor do
BB e Valério no mensalão.*
O relator da ação penal do chamado mensalão, ministro
Joaquim Barbosa, votou nesta segunda-feira, no Supremo Tribunal Federal
(STF), pela condenação do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil
Henrique Pizzolato pelos crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem
de dinheiro, e do publicitário Marcos Valério e dois ex-sócios por
peculato e corrupção ativa.
Pizzolato teria recebido 326 mil reais de Valério e de
Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, então sócios da DNA Propaganda, para
beneficiar a agência, segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF).
Valério é apontado pelo MPF como o principal operador do suposto
esquema.
O ex-diretor teria ainda permitido violações a cláusulas do
contrato entre o Banco do Brasil e a DNA, que teriam permitido à agência
apropriar-se de valores correspondentes ao bônus de volume, que deveriam
ter sido repassados ao banco.
Pizzolato também é acusado de ter autorizado desvios em
recursos de publicidade fornecidos pela Visanet, e pertencentes ao BB,
no valor de 74 milhões de reais, em antecipações autorizadas em
benefício da DNA Propaganda, segundo o MPF.
O ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência
da República Luiz Gushiken foi absolvido por Barbosa por falta de
provas, seguindo pedido feito pela Procuradoria-Geral da República.
Barbosa já havia pedido a condenação de Valério, Hollerbach
e Paz pelos crimes de corrupção ativa e peculato por crimes que teriam
sido cometidos durante a gestão do deputado federal João Paulo Cunha
(PT-SP) como presidente da Câmara em contratos com a agência de
publicidade SMP&B, de Valério.
Cunha foi considerado culpado por Barbosa pelos crimes de
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.
*
Informações de Hugo Bachega e Ana Flor / Reuters.
20/08/2012
* * *
Mensalão:
Lewandowski
libera processo para julgamento*
O ministro recebeu o relatório do ministro Joaquim
Barbosa no fim
de dezembro do ano passado e iniciou seu trabalho no
início deste ano,
levando cerca de seis meses para revisar a ação do
mensalão, que envolve 38 réus.
Ricardo Lewandowski
O
ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski avisou
nesta terça-feira (26) ao presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, que
seu voto sobre o processo do mensalão está pronto, liberando o caso para
ser julgado a partir do início de agosto.
Após
críticas sobre a demora para finalizar o voto, Lewandowski disse que foi
a revisão "mais curta da história do Supremo". "É o voto-revisor mais
curto da história do Supremo Tribunal Federal. A média para um réu é de
seis meses. Eu fiz das tripas coração para respeitar o que foi
estabelecido pela Suprema Corte".
A
média de outros processos, que envolvem apenas um réu, é de seis meses".
Ontem, ele havia dito à Folha que usaria o prazo total para a revisão,
que acabava na sexta-feira (29), atrasando o início previsto do
julgamento --1º de agosto-- em cinco dias.
O
ministro recebeu o relatório do ministro Joaquim Barbosa no fim de
dezembro do ano passado e iniciou seu trabalho no início deste ano,
levando cerca de seis meses para revisar a ação do mensalão, que envolve
38 réus.
Com
a liberação da ação penal, o julgamento sobre o caso ainda poderá
começar no dia 1º de agosto, basta que a presidência do STF publique uma
edição extra do Diário de Justiça ainda hoje. O ministro Ayres Britto
estuda, neste momento, se tal possibilidade é viável.
Isso
ocorre porque para que o processo seja pautado é preciso, inicialmente,
publicar a notícia de que o revisor do processo liberou o caso para ser
julgado. Depois disso, aguarda-se 24 horas para que a acusação e a
defesa sejam informados sobre o fato e mais 48 horas para agendar o
tribunal.
Se a
publicação acontecer hoje, tais prazos se encerram na sexta-feira,
último dia útil, antes do recesso. O caso, portanto, poderia começar a
ser julgado na primeira sessão do semestre que vem, dia 1º de agosto.
Caso a liberação de Lewandowski só seja publicada amanhã, o julgamento
poderá começar no dia 2 de agosto, ocorrendo um atraso de apenas um dia.
*
Informações da Folha de S.Paulo (SP).
26/06/2012
- Foto: Divulgação.
- Tópicos relacionados:
STF define cronograma de
julgamento do mensalão
Serra é candidato oficial do PSDB à prefeitura
* * *
Atritos:
Ministros do STF
trocam farpas em público
Joaquim Barbosa diz que Peluso manipulou
resultados de julgamentos.*
Ministro
Joaquim Barbosa
Dois dias depois de ser chamado de inseguro e dono de
"temperamento difícil" pelo ministro Cezar Peluso, o ministro do Supremo
Tribunal Federal Joaquim Barbosa respondeu em tom duro. Em entrevista ao
GLOBO, Barbosa chamou o agora ex-presidente do STF de "ridículo",
"brega", "caipira", "corporativo", "desleal", "tirano" e "pequeno".
Acusou Peluso de manipular resultados de julgamentos de acordo com seus
interesses, e de praticar "supreme bullying" contra ele por conta dos
problemas de saúde que o levaram a se afastar para tratamento. Barbosa é
relator do mensalão e assumirá em sete meses a presidência do STF,
sucedendo a Ayres Britto, empossado nesta quinta-feira. Para Barbosa,
Peluso não deixa legado ao STF: "As pessoas guardarão a imagem de um
presidente conservador e tirânico, que não hesitava em violar as normas
quando se tratava de impor à força a sua vontade."
O GLOBO:
Ao deixar o cargo, o ex-presidente do STF, ministro Cezar Peluso, deu
entrevista na qual citou o senhor. Em um dos momentos, diz que o senhor
não recusará a presidência do tribunal em circunstância alguma. É
verdade?
JOAQUIM BARBOSA:
Para mim, assumir a presidência do STF é uma obrigação. Tenho feito o
possível e o impossível para me recuperar consistentemente e chegar bem
em dezembro para assumir a presidência da Corte. Mas, para ser sincero,
devo dizer que os obstáculos que tive até agora na busca desse objetivo,
lamentavelmente, foram quase todos criados pelo senhor... Cezar Peluso.
Foi ele quem, em 2010, quando me afastei por dois meses para tratamento
intensivo em São Paulo, questionou a minha licença médica e, veja que
ridículo, aventou a possibilidade de eu ser aposentado compulsoriamente.
Foi ele quem, no segundo semestre do ano passado, após eu me submeter a
uma cirurgia dificílima (de quadril), que me deixou vários meses sem
poder andar, ignorava o fato e insistia em colocar processos meus na
pauta de julgamento para forçar a minha ida ao plenário, pouco
importando se a minha condição o permitia ou não.
O senhor tomou
alguma providência?
BARBOSA:
Um dia eu peguei
os laudos descritivos dos meus problemas de saúde, assinados pelos
médicos que então me assistiam, Dr. Lin Tse e Dr. Roberto Dantas, ambos
de São Paulo, e os entreguei ao Peluso, abrindo mão assim do direito que
tenho à confidencialidade no que diz respeito à questão de saúde. Desde
então, aquilo que eu qualifiquei jocosamente com os meus assessores como
"supreme bullying" vinha cessando. As fofocas sobre a minha condição de
saúde desapareceram dos jornais.
Qual a opinião do
senhor sobre a entrevista dada por Cezar Peluso?
BARBOSA:
Eis que no penúltimo dia da sua desastrosa presidência, o senhor Peluso,
numa demonstração de "désinvolture" brega, caipira, volta a expor a
jornalistas detalhes constrangedores do meu problema de saúde, ainda por
cima envolvendo o nome de médico de largo reconhecimento no campo da
neurocirurgia que, infelizmente, não faz parte da equipe de médicos que
me assistem. Meu Deus! Isto lá é postura de um presidente do Supremo
Tribunal Federal?
O ministro Peluso
disse na entrevista que o tribunal se apaziguou na gestão dele. O senhor
concorda com essa avaliação?
BARBOSA:
Peluso está equivocado. Ele não apaziguou o tribunal. Ao contrário, ele
incendiou o Judiciário inteiro com a sua obsessão corporativista.
Na visão do
senhor, qual o legado que o ministro Peluso deixa para o STF?
BARBOSA:
Nenhum legado positivo. As pessoas guardarão na lembrança a imagem de um
presidente do STF conservador, imperial, tirânico, que não hesitava em
violar as normas quando se tratava de impor à força a sua vontade. Dou
exemplos: Peluso inúmeras vezes manipulou ou tentou manipular resultados
de julgamentos, criando falsas questões processuais simplesmente para
tumultuar e não proclamar o resultado que era contrário ao seu
pensamento. Lembre-se do impasse nos primeiros julgamentos da Ficha
Limpa, que levou o tribunal a horas de discussões inúteis; não hesitou
em votar duas vezes num mesmo caso, o que é absolutamente
inconstitucional, ilegal, inaceitável (o ministro se refere ao
julgamento que livrou Jader Barbalho da Lei da Ficha Limpa e garantiu a
volta dele ao Senado, no qual o duplo voto de Peluso, garantido no
Regimento Interno do STF, foi decisivo. Joaquim discorda desse
instrumento); cometeu a barbaridade e a deslealdade de, numa curta
viagem que fiz aos Estados Unidos para consulta médica, "invadir" a
minha seara (eu era relator do caso), surrupiar-me o processo para poder
ceder facilmente a pressões...
Quando o senhor
assumir a presidência, pretende conduzir o tribunal de que forma? O
senhor acha que terá problemas para lidar com a magistratura e com
advogados?
BARBOSA:
Nenhum problema. Tratarei todos com urbanidade, com equidade, sem
preferências para A, B ou C.
O ministro Peluso
também chamou o senhor de inseguro, e disse que, por conta disso, se
ofenderia com qualquer coisa. Afirmou, inclusive, que o senhor tem
reações violentas. O senhor concorda com essa avaliação?
BARBOSA:
Ao dizer que sou inseguro, o ministro Peluso se esqueceu de notar algo
muito importante. Pertencemos a mundos diferentes. O que às vezes ele
pensa ser insegurança minha, na verdade é simplesmente ausência ou
inapetência para conversar, por falta de assunto. Basta comparar nossos
currículos, percursos de vida pessoal e profissional. Eu aposto o
seguinte: Peluso nunca curtiu nem ouviu falar de The Ink Spots (grupo
norte-americano de rock e blues da década de 1930/40)! Isso aí já diz
tudo do mundo que existe a nos separar...
O senhor já
protagonizou algumas discussões mais acaloradas em plenário, inclusive
com o ministro Gilmar Mendes. Acha que isso ocorreu devido ao seu
temperamento ou a outro fator?
BARBOSA:
Alguns brasileiros não negros se acham no direito de tomar certas
liberdades com negros. Você já percebeu que eu não permito isso, né? Foi
o que aconteceu naquela ocasião.
O senhor tem medo
de ser qualificado como arrogante, como o ministro Peluso disse? Tem
receio de ser qualificado como alguém que foi para o STF não por
méritos, mas pela cor, também conforme a declaração do ministro?
BARBOSA:
Ao chegar ao STF, eu tinha uma escolaridade jurídica que pouquíssimos na
história do tribunal tiveram o privilégio de ter. As pessoas racistas,
em geral, fazem questão de esquecer esse detalhezinho do meu currículo.
Insistem a todo momento na cor da minha pele. Peluso não seria uma
exceção, não é mesmo? Aliás, permita-me relatar um episódio recente, que
é bem ilustrativo da pequenez do Peluso: uma universidade francesa me
convidou a participar de uma banca de doutorado em que se defenderia uma
excelente tese sobre o Supremo Tribunal Federal e o seu papel na
democracia brasileira. Peluso vetou que me fossem pagas diárias durante
os três dias de afastamento, ao passo que me parecia evidente o
interesse da Corte em se projetar internacionalmente, pois, afinal, era
a sua obra que estava em discussão. Inseguro, eu?
O senhor considera
que Peluso tratou seu problema de saúde de forma desrespeitosa?
BARBOSA:
Sim.
O senhor sofre
preconceito de cor por parte de seus colegas do STF? E por parte de
outras pessoas?
BARBOSA:
Tire as suas próprias conclusões. Tenho quase 40 anos de vida pública.
Em todos os lugares em que trabalhei sempre houve um ou outro
engraçadinho a tomar certas liberdades comigo, achando que a cor da
minha pele o autorizava a tanto. Sempre a minha resposta veio na hora,
dura. Mas isso não me impediu de ter centenas de amigos nos quatro
cantos do mundo.
*
Informações de Carolina Brígido/Agência O Globo.
- Foto: Divulgação. |