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 arqueologia

 

 

 

Peru:

Machu Picchu e as letras

Tempestades sobre um patrimônio da humanidade.

 

Por Bruno Peron Loureiro*

De São Paulo-SP

Para Via Fanzine

 

Turismo e história: as ruínas de Machu Picchu.

 

Ecos dos países vizinhos do Brasil chegam historicamente deturpados. A prerrogativa é do vencedor de conflitos ideológicos e guerras que conta a história do seu ponto de vista ou dos poderosos que oprimem os feitos dos mais fracos. Por isso, pouco se comenta sobre os esforços de combate à pobreza na Venezuela, o sistema de saúde pública exemplar em Cuba, o modelo de Estado plurinacional na Bolívia ou o passado glorioso do Paraguai como potência sul-americana.

 

Ainda bem que dispomos das ferramentas da internet.

 

Infelizmente o ego tupinica de ter sido enquadrado por economistas estrangeiros na categoria dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) ou de ter o presidente “pop star” que conquistou a vinda da Copa e da Olimpíada turva a nossa esperança de entender o mundo hispano-americano por mais que Lula reforce a integração entre os povos da região como poucos outros governantes fizeram neste país.

 

Num desses fenômenos de filtração mediática, falou-se do número de brasileiros que estiveram envolvidos nas inundações e deslizamentos de terra no Peru. A culpa ultimamente tem sido da natureza. Para que conste: houve um desastre natural que isolou peruanos e estrangeiros na região do rio Urubamba, Machu Picchu e Aguas Calientes, que é a porta de entrada ao sítio arqueológico.

 

Na imprensa da Argentina, o foco foram os argentinos que estiveram na região. Na Espanha, foram os espanhóis. As cifras alcançam maior exatidão quando se referem aos estrangeiros, portanto quase não se falou dos milhares de nativos que sofreram prejuízos com as chuvas.

 

Houve perdas em cultivos, sistemas de irrigação, pontes, moradias, rodovias e trilhos. Cenários de desolação tomaram conta das comunidades locais, mas este não foi o foco.

 

Os deslizamentos de terra e o transbordamento do rio Vilcanota inviabilizaram o acesso por trem a Machu Picchu, que é uma das Sete Maravilhas do mundo. Trata-se de uma estrutura da extinta civilização inca nos Andes que foi construída no século XV, é um dos principais destinos turísticos no Peru e o acesso já era limitado. Os incas tiveram o centro em Cusco, apesar de seu império ter se estendido desde o que hoje é Colômbia ao Chile. O turismo é fonte de renda importante para o Peru.

 

Nunca tarda para que algum país da América Latina hospede desastres humanos e naturais. Como se não bastasse o desmanche da nação haitiana, que virou palco de experimentos internacionais, o Peru suporta o açoite das chuvas e a sofreguidão de parcela da ação humanitária.

 

Helicópteros fizeram o resgate de centenas de pessoas que se isolaram no destino turístico, porém houve críticas de que os nativos estiveram em segundo plano como se a chuva não os houvesse afetado, os preços aumentaram para os turistas devido à falta de água, alimento e acomodação, além de que alguns turistas endinheirados pagaram aos serviços de resgate para que tivessem prioridade.

 

Num país tão castigado pelos conflitos étnicos e pelo surrupiamento dos recursos humanos e naturais promovido pelo neoliberalismo, como no governo de Alberto Fujimori e a assinatura de tratados comerciais bilaterais com Pangérica(1) através do presidente Alan García, os rendimentos turísticos fazem a vida de muitos peruanos e o setor, portanto, não pode ficar desamparado.

 

As imagens que viajam pelo mundo, contudo, nem sempre expõem a solidariedade de seu povo e a beleza desse país andino. O relato de um visitante estrangeiro dizia que os nativos davam muito do pouco que tinham para acolher os afetados pelas intempéries. Princípio da caridade. Noutros episódios, é comum que se dê pouco do muito que se tem.

 

Mal se comentou sobre o conteúdo diplomático implícito nas ações governamentais de resgate. A retirada de estrangeiros dignifica a imagem externa do Peru e sua credibilidade mundial como destino turístico muito mais do que investir no bem-estar dos nativos. Triste realidade.

 

Enquanto isso por aqui, fala-se de “risco Brasil”, “marca Brasil”, entre outras invenções do universo das imagens que nos acreditam para investidores internacionais.

 

Dependendo do assunto que abordo, rememoro os dizeres de uma amiga escritora experiente no campo das letras de que já passou seu tempo de escrever artigos de fundo, reflexivos e sérios. Não que ela haja perdido a crença e a esperança senão a paciência de opinar sobre estes assuntos, muitos dos quais recorrentes. Passou a dedicar-se a crônicas do cotidiano, poesias e outras aventuras da arte.

 

Preferiria abordar Machu Picchu se já estivesse nesse estágio de desenvolvimento literário. Quem sabe um dia. É o mínimo que merece esta preciosidade arqueológica.

 

 (1)   De agora em diante, “Pangérica” passa a ser a designação depreciativa que atribuo aos que usam pretensiosamente a expressão “América” para se referir somente aos Estados Unidos num exercício de mescla com “Pangéia” em relação à teoria de deriva continental que sustenta que o mundo era um único continente 200 milhões de anos atrás. Os Estados Unidos têm pretensão de domínio mundial, promovem invasões e golpes militares em outros países soberanos para sustentar seus interesses, e vendem um modelo de desenvolvimento impiedoso e ultrapassado.

 

* Bruno Peron Loureiro é mestre em Estudos Latino-americanos por Filos/UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México).

 

- Foto: Arquivo VF.

 

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Pirâmides do Egito:

Construtores não eram escravos

Novas tumbas recontam história das pirâmides do Egito.*

 

O Egito colocou em exposição, a partir de 11/01/2010, tumbas recém descobertas que pertenciam a trabalhadores da construção das pirâmides de Gizé. As tumbas, com mais de 4 mil anos, sugerem que essas grandes obras foram levantadas por trabalhadores livres ao invés de escravos, como os historiadores acreditavam.

 

A série de poços de 2,7 metros de profundidade revelou 12 esqueletos perfeitamente conservados pela areia seca do deserto, além de jarros que continham cerveja e pão para a vida após a morte dos trabalhadores.

 

As tumbas feitas de tijolos de barro foram descobertas na semana passada, na parte de trás das pirâmides de Gizé, além do local de sepultamento descoberto nos anos de 1990. Elas pertencem à 4ª Dinastia (2.575 a.C a 2.467 a.C), quando as grandes pirâmides foram construídas nas extremidades da capital atual do país, Cairo.

 

Histórica recontada

 

O historiador grego Heródoto descreveu os construtores das pirâmides como escravos, criando o que os egiptólogos dizem ser um mito que mais tarde foi propagado pelos filmes de Hollywood. Tumbas dos construtores das pirâmides foram descobertas na área nos anos 1990, quando um turista a cavalo tropeçou numa parede que era uma tumba.

 

O arqueólogo chefe do Egito, Zahi Hawass, disse que a descoberta e as tumbas encontradas na semana passada mostram que os trabalhadores eram assalariados e não os escravos da imaginação popular.

 

Hawass disse aos jornalistas que o local da descoberta lança mais luzes sobre o estilo de vida e as origens dos construtores das pirâmides. Segundo ele, os trabalhadores não eram recrutados dentre os escravos, comuns no Egito durante a época dos faraós.

 

O arqueólogo chefe disse que os construtores eram provenientes das famílias egípcias pobres do norte e do sul e que eram respeitados por seu trabalho. Tanto que, aos mortos durante a construção, foi concedida a honra de ser enterrados em tumbas perto das sagradas pirâmides dos faraós.

 

A proximidade com as pirâmides e a forma como seus corpos foram preparados para a vida após a morte dá suporte a esta teoria, disse Hawass. "De forma alguma eles seriam enterrados com tantas honras se fossem escravos", afirmou.

 

As tumbas não continham objetos de ouro ou de valor, o que as protegeu de arrombadores de tumbas durante a antiguidade. Os esqueletos foram encontrados em posição fetal, a cabeça apontando para o oeste e os pés para o leste, de acordo com as antigas crenças egípcias, cercados por jarros que continham suprimentos para a vida após a morte.

 

Os homens que construíram a única das maravilhas do mundo antigo a sobreviverem até os dias de hoje comiam carne regularmente e trabalhavam em turnos de três meses, disse Hawass. Foram necessários 10 mil trabalhadores e mais de 30 anos para construir uma única pirâmide, afirmou Hawass, um décimo da força de trabalho de 100 mil que Heródoto descreveu após visitar as pirâmides por volta de 450 a.C.

 

Hawass disse que as evidências locais indicam que aproximadamente 10 mil trabalhadores das pirâmides consumiam 21 bois e 23 ovelhas, que eram enviadas diariamente para eles.

 

Embora não fossem escravos, os construtores das pirâmides tinham uma vida de trabalho duro, afirmou Adel Okasha, supervisor das escavações. Seus esqueletos têm sinais de artrite e as vértebras inferiores indicam uma vida passada com dificuldade. "Seus ossos nos contam a história de como eles trabalhavam duro", disse Okasha.

 

* Informações da Agência Estado.

 

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Arqueologia subaquática em Santa Catarina:

Nau do século 16 é descoberta no litoral catarinense

Caso a hipótese se confirme, será o naufrágio mais antigo até agora identificado no Brasil.

Da Agência FAPESP

 

ONG trabalha na localização de destroços das antigas embarcações.

 

Oito metros de altura de sedimentos encobrem o que mergulhadores do Projeto Resgate Barra Sul acreditam ser uma nau do século 16. O naufrágio foi localizado nas proximidades das praias do Sonho, Naufragados e Papagaios, na parte sul da Ilha de Santa Catarina, onde era a entrada de embarcações que trafegavam na região na época das grandes navegações. Caso a hipótese se confirme, será o naufrágio mais antigo até agora identificado no Brasil.

 

Na parte mais alta dos sedimentos foi localizado um pequeno canhão de sinalização e, ao redor de uma área de cerca de 30 metros, os aparelhos utilizados na busca indicaram a presença de metais, o que pode revelar a estrutura total do navio. Além de cabos, cacos de cerâmica e pedras de lastro, uma âncora foi achada nas proximidades.

 

A âncora é o achado mais antigo. Foi ela que, encontrada por acaso pelo mergulhador Gabriel Corrêa, em 2005, deu início à criação da ONG Projeto Resgate Barra Sul. “Pelo tamanho e formato da peça acreditamos que pertence a uma nau do século 16. Esse tipo era utilizado por embarcações dessa época”, disse Corrêa, diretor do projeto.

 

As perguntas ainda não respondidas são se a âncora faz parte do mesmo naufrágio e se a nau era mesmo de Sebastião Caboto, uma das hipóteses mais viáveis. Cabotto comandou, em 1526, uma expedição que saiu da Espanha tendo como destino o Oriente, mas ao saber das histórias de um rico povo no interior da América, que se adornava dos pés à cabeça com ouro, resolveu deixar seus planos iniciais para trás.

 

“A Ilha de Santa Catarina era um ponto estratégico de abastecimento para os navegadores que nos séculos 16 e 17 serviam aos reinos de diversos países europeus e seguiam rumo ao rio da Prata. Quando adentravam a baía sul, eram surpreendidos pela geografia acidentada do leito marinho e muitas vezes pegavam um inesperado vento, vindo a naufragar”, disse outro mergulhador e diretor da equipe, Nei Mund Filho.

 

'A arqueologia subaquática é cara e demorada'.

 

Por isso, a região pesquisada é considerada um cemitério de navios. A história registra oito naufrágios, mas muitos mais podem ter encontrado ali o seu fim. O Projeto Resgate Barra Sul conseguiu autorização da Marinha para pesquisar e explorar uma área de 400 quilômetros quadrados. Até o momento, localizaram três embarcações, uma delas recente, com cerca de 100 anos.

 

“A arqueologia subaquática é cara e demorada. Exige equipamentos bem mais sofisticados, como sonares, ecossonda, radar, canetas e cadernetas especiais, entre outros. Se em um sítio arqueológico na terra escavamos com pás, no sítio subaquático é necessário um sugador para retirar os sedimentos e levá-los para a superfície”, explicou a arqueóloga Deisi Scunderlick Eloy de Farias, professora da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e consultora do projeto.

 

No ano passado a pesquisa recebeu recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc), o que garantiu a utilização de equipamentos como radares, sonares e GPS. Com esse auxílio, os integrantes do projeto conseguiram localizar duas âncoras, pedras de lastro, cacos de cerâmica, um canhão e todos os pontos que indicam metais e dão idéia da estrutura da embarcação.

 

Em uma etapa posterior as peças serão removidas do mar, dessalinizadas e restauradas. “Após a restauração, os achados serão direcionados à Marinha e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para colocação futura em um museu. Outra ideia é recolocar as peças no lugar de onde foram retiradas e transformar essa parte do fundo do mar em um imenso museu subaquático”, disse Corrêa.

 

Imagens: Projeto Resgate Barra Sul.

 

- Visite a página do Projeto Resgate Barra Sul: http://ongbarrasul.org/barra_sul

 

- Colaborou: J. Ildefonso P. de Souza (SP).

 

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Bahia:

A cidade Perdida de Ingrejil

Vestígios de antigas civilizações pré-colombianas.

Alguns detalhes da antiga e enigmática Ingrejil.

 

Na inóspita e inexplorada Serra das Almas, abrangida pela Chapada da Diamantina, próxima ao município de Livramento de Nossa Senhora, no Estado da Bahia, foram descobertos a pouco mais de 20 anos, vestígios de uma cidade perdida de “Ingrejil”.

 

Estudos e comparações efetuados na região, indicam que é um local de grande antiguidade. Datado de 2000 a.C. pelo experiente arqueólogo Gabriel Dannunzio Baraldi, descobridor do INGREJIL e também pelos arqueólogos Aurélio de Abreu e Luiz G. Moreira Junior, atual pesquisador dessa antiquíssima e importante civilização que habitou nosso Brasil em uma época remota.

 

O trabalho desses arqueólogos foi comprovado pelo famoso e experiente pesquisador em cidades perdidas e Antigas Civilizações, o norte americano David Hatcher Childress, que tem mais de 20 livros publicados sobre esse assunto e tem o cargo de presidente da WEX-World Explorer Club.

 

Estando no Ingrejil por diversas vezes comprovou-se a existência da Cidade Perdida.

 

As informações são de Luiz G. Moreira Júnior.

 

- Leia matéria completa de Luiz G. Moreira Junior no site de Gabriele Dannunzio Baraldi:

www.gabrielebaraldi.arq.br

 

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Piauí:

Milenares pegadas de Deus e o Diabo

Estranhas marcas em rocha, cravadas em formatos circulares ou de pés humanos,

têm sido atribuídas a duendes, santidades, deuses e demônios, de acordo com

o senso das respectivas culturas que mantêm contato com estes sinais.

 

Por Reinaldo Coutinho*

De Teresina-PI

Para Via Fanzine

www.viafanzine.jor.br

 

A pegada de Deus, no riacho Pouca Vergonha, em Oeiras-Piauí.

Foto: Eneas Baros

 

INTERIOR DO PIAUÍ - Nas margens lajeadas do intermitente riacho Pouca Vergonha, uns 70 metros da secular construção de pedras Casa da Pólvora, está o mais intrigante dos mistérios da antiga capital do Piauí, Oeiras, localizada na porção central do Estado, a uns 340 km ao sul de Teresina.

 

Lá, na aconchegante Velhacap (Velha Capital), encontra-se uma pegada indelevelmente marcada num lajedo, conhecida como Pé de Deus ou Pé de Jesus, orientada no sentido oeste-leste.

 

A marca é de tamanho aproximado da de um homem adulto, embora o calcanhar seja um pouco estreito [imagem acima]. Foi feita com sulco de contorno bem regular, apresentando uma suave concavidade em sua palma. Os dedos também foram polidos em concavidade. Estas depressões foram se aprofundando progressivamente com a raspagem da rocha para amuletos por antigos e atuais beatos e curiosos. Ao seu redor, os restos de incontáveis velas que os mais crentes acendem em prece e devoção.

 

A inabalável marca da devoção se perde na nebulosa noite dos tempos antigos do sertão piauiense. É um dos maiores enigmas do Estado, de origem seguramente pré-cabralina.

 

Elias Magalhães, escrevendo no Almanaque da Parnaíba de 1938, assim se referiu sobre às romarias ao pétreo símbolo sagrado oeirense: “Romagens piedosas se fazem àquelas paragens, onde todos quantos se acham onerados pelo peso das doenças e das dores encontram doce lenitivo para suas mágoas”.

 

Os mais idosos oeirenses afirmam que seus bisavós e afins já encontraram gravadas, ali no riacho Pouca Vergonha, aquela impressão mística, hoje objeto de veneração, romaria e curiosidade. Tradição e memórias, passadas de geração a geração por séculos. Uma crença sempre fortalecida e arraigada, e que desafia a cética modernidade...

 

Segundo Rogério Newton, os mais antigos moradores de Oeiras, efetivamente, já conheciam por ali aquela memorável e sagrada marca. Diz ele no Jornal da Manhã de Teresina (1988): “Embora não se tenha ainda precisado a data do seu surgimento, é certo dizer que a lenda é no mínimo secular. Seu germe precede a criação da Vila da Mocha (Oeiras)?”.

 

Com certeza absoluta, Sr. Newton, este tipo de vestígio arqueológico precede não só a criação da vila da Mocha, como a própria descoberta do Brasil e mesmo as mais antigas civilizações de que temos notícia. É uma marca internacional da misteriosa e universal Civilização Megalítica.

 

Continua o Sr. Newton: “Maria José Evaristo Macedo, 98 anos, antiga moradora do Rosário, quando menina, ouviu de seus avós que o pé de nosso senhor existe desde que o mundo é mundo”.

 

A "Pegada do Diabo" está sempre recoberta por um montículo de pedras.

Foto: Reinaldo Coutinho

 

DEUS E DIABO - O Sr. Manoel Pereira Brito, guardião municipal da Casa da Pólvora, de 68 anos quando o entrevistamos em 1999, afirmou que o seu avô já conhecia a alta antiguidade da pegada. Nos disse que, a mesma fora feita em tempos fabulosos, em que Jesus andava na Terra e o Demônio o perseguia implacavelmente.

 

Conta o senhor Brito que havia um pé de calumbi, onde hoje está a marca venerada. O Divino, sendo acuado pelo Tinhoso, passou por baixo da planta, deixando miraculosamente moldada sua pegada no lajedo. O mesmo ocorrera ao seu tenebroso perseguidor.

 

Elias Magalhães já nos descrevia com comovente lirismo em 1938, O Pé de Deus e o Pé do Diabo, no Almanaque da Parnaíba, “Lá está, impresso na rocha viva, um pé esguio, bem contornado e com todos os seus lineamentos bem definidos”. “Aquele pé, assim tão perfeito, dizem os oeirenses, vem do princípio da missão apostolar de Cristo sobre a Terra”. “Ele por ali passou e, como prova do quanto achara boa aquela terra habitada por uma gente de almas e corações puros, plantara, indelevelmente no rochedo, como sinal perene de sua predileção, a marca do seu pé divino, acostumado a regular o equilíbrio dos mundos”.

 

Ao lado do Pé de Deus, um monte de pedras bem empilhadas assinala o local exato da pegada do Diabo, uma concavidade hemisférica. Reza a tradição que um dia o demo tentou agredir Jesus, sendo, porém, derrotado. Em menosprezo ao capeta, as pessoas que visitam o local colocam uma pedra sobre a pegada do Diabo.

 

Com o passar do tempo, o monte cresce tanto que é necessário removê-lo, segundo nos informaram. Novamente alguém coloca a primeira pedra e progressivamente forma-se um novo amontoado sobre a pegada maldita. Assim é que raramente se pode observá-la, pois está quase sempre recoberta.

 

Montículos funerários em forma de “fundo de garrafa”

descobertos por Stevenson em Roraima.

Ilustração: R. Stevenson

 

Nos Andes peruanos ainda hoje é costume indígena a formação de montículos propiciatórios denominados apachetas. Cada nativo repete fielmente a tradição multimilenar de seus antepassados, colocando em certos trechos de íngremes encostas uma pedra, o que resulta na formação de incontáveis montículos nas veredas dos Andes. Ali, no caso, não há nenhum ato de repulsa a seres sobrenaturais, mas a inabalável convicção de que seu ato será rigorosamente recompensado pelos deuses na forma de vigor físico para continuar seus árduos percursos pelas vertentes dos altiplanos.

 

Voltando à pegada do Diabo, vejamos o que escreveu Elias Magalhães: “Bem junto a ele, gravara-se na pedra um rastro monstruoso, grosseiro e redondo. Pelo cheiro de enxofre que dele se desprendia, captado pelo olfato apurado de velhas beatas, já em odor de santidade e com largo tirocínio na vida espiritual, verificou-se que o dono daquele pé só poderia ser o Demônio, anjo mau arremessado no deslumbramento dos céus ao despenhadeiro das trevas exteriores, onde só há choro e ranger dos dentes”. “Era o Pé do Diabo que, invejoso das homenagens prestadas ao Pé de Deus, pusera o seu ali bem perto, para ver se também obtinha adoradores”.

 

PÉ-DE-GARRAFA - A tradição sertaneja atribui as cavidades hemisféricas do tipo das de Oeiras ao lendário e aterrorizante Pé-de-Garrafa, duende apavorante de nossas florestas. Nunca teria sido visto por alguém e somente suas pegadas foram encontradas, segundo a crença cabocla.

 

Alguns o identificam ao Gritador ou Caipora. Assim, o folclorista potiguar Câmara Cascudo o descreve: “O Pé-de-Garrafa é um ente misterioso que vive nas matas e capoeiras. Não o vêem ou o vêem raríssimamente. Ouvem sempre seus gritos estrídulos ora amedrontadores ou tão familiares que os caçadores procura-nos, certos de tratar-se de um companheiro transviado. E quanto mais rebuscam menos o grito lhes serve de guia, pois, multiplicado em todas as direções, atordoa, desvaira e enlouquece. Os caçadores terminam perdidos ou voltam à casa depois de luta áspera para reencontrar a estrada habitual. Sabem tratar-se do Pé-de-Garrafa porque este deixa sua passagem assinalada por um rastro redondo, profundo, lembrando perfeitamente um fundo de garrafa. Supõe que o singular fantasma tenha as extremidades circulares, maciças, fixando vestígios inconfundíveis. Vale Cabral , um dos primeiros a estudar o Pé-de-Garrafa, disse-o natural do Piauí, morando nas matas como o Caapora e devia ser de estatura invulgar a deduzir-se da pegada enorme que fica na areia ou no barro mole do massapé”.

 

Este duende da pegada em forma de fundo de garrafa é, na verdade, internacional, tendo sido inclusive também identificado no folclore basco, segundo o erudito cearense Gustavo Barroso (1888-1959).

 

A identificação popular oeirense da cavidade circular ao Pé do Diabo está fortemente arraigada no folclore brasileiro. Diz Cascudo: “Dar-se-ia também uma convergência dos atributos físicos do Diabo para o Pé-de-Garrafa. O rasto sempre constitui um forte elemento de identificação. Sua anormalidade denuncia implicitamente a deformidade do autor. Cão-Coxo, Capenga, Cambeta, foram sinônimos demoníacos”. E mais adiante: “A pata circular, que lhe dá nome, não seria um distintivo satânico, do nosso velho Pé de Quenga?”.

 

Como se percebe, enquanto as pegadas em seus modelos naturais são atribuídas a um homem santo ou a Deus, as redondas ou hemisféricas são atribuídas ao Demo. O sertanista da Amazônia Renato Ignácio da Silva procurou uma explicação racional para as marcas em forma de fundo de garrafa que pululam no imaginário do caboclo. Seria talvez a fantasia de uma estratégia nas incursões dos caiapós do Brasil Central para despistar seus inimigos. Diz ele: “(...) Mesmo quando são muitos, apóiam-se nos calcanhares, levantando os dedos dos pés. No rasto tão pequeno deixado pelo primeiro índio caiapó, todo o resto passará, repisando-o, deixando, no chão, uma rodela do tamanho do fundo de um copo. O que deu margem à lenda do bicho-garrafa, tão temido pelos crédulos sertanejos”.

 

Mesmo que essa curiosa estratégia de despistamento fosse usual entre os indígenas de todo o Brasil, não explicaria as gravações nos lajedos, feitas, certamente, com muita paciência e com instrumentos de percussão e não com pisadas de calcanhar em terra mole.

 

Nas vastidões do Brasil estão espalhados os herméticos símbolos Pé-de-Garrafa, que são do mesmo feitio e origem do de Oeiras. Eles fazem parte de uma antiquíssima e sagrada teologia universal da onipresente e quase ignota Civilização Megalítica.

 

Nos lajedos às margens do rio Negro, em frente à antiga prefeitura de São Gabriel da Cachoeira (Amazonas), estão gravados vistosos fundos de garrafa. O mesmo ocorre junto a petróglifos multimilenares da ilha de Maracá (Roraima), pesquisados por nosso amigo Roland Stevenson, descobridor do lendário Lago Manoa.

 

O mais interessante de tudo é que, embora as marcas imitem com perfeição o molde imposto pelo fundo de uma garrafa, foram gravadas milhares de anos antes da invenção deste importante utensílio. A semelhança é, pois, mera coincidência.

 

Tanto as impressões em fundo de garrafa como as pegadas gravadas na rocha imitando as humanas são uma tradição multimilenar universal, arraigada nos quatro cantos do mundo. Também Stevenson relaciona as marcas “fundo de garrafa” a montículos funerários com esta forma descobertos por ele na Ilha Marcá, em Roraima, Norte do Brasil.

 

 

Gravuras do tipo "fundo-de-garafa" às margens de um rio na Ilha Maracá, Roraima.

Foto: Roland Stevenson

 

ATRIBUIÇÕES ÀS PEGADAS - Se a pegada do Demo é famosa, a pegada comum de um homem o é ainda mais. Na ilha de Sri Lanka (antigo Ceilão), uma montanha guarda uma marca sagrada de um pé humano. Os budistas dizem que é a marca de seu líder espiritual Buda; os cristãos a dizem de São Tomé; os hindus a reputam como de seu deus Shiva; os islâmicos e judeus são concordes em atribuí-las a Adão...

 

As pegadas fartamente espalhadas pelo mundo são atribuídas a diferentes autores: Jesus, São Bartolomeu, fabulosos heróis e semideuses e, mais comumente, a São Tomé. No Brasil Colonial essas marcas estavam por demais disseminadas quando por aqui chegaram os jesuítas. O contínuo costume dos colonos de raspar a laje para guardar seus fragmentos como amuletos ou talismãs destruiu a maioria das pegadas. O contínuo progresso acelerou a destruição das demais.

 

Nós as encontramos aqui no Piauí em Domingos Mourão, Brasileira, Inhuma, Piripiri, pimenteiras, etc. E mais no restante do país em São Gabriel da Cachoeira (Amazonas), São Thomé das Letras (Minas), Ingá (Paraíba), Altinho (Pernambuco), Carolina (Maranhão), etc.

 

Geralmente, nossos nativos as atribuíam a um misterioso estrangeiro branco e barbudo, a quem chamavam de Sumé e que um dia esteve entre eles em missão civilizadora, muitos séculos antes da chegada dos portugueses.

 

Por semelhança fonética, os jesuítas o identificaram a São Tomé, no oportunista intuito de melhor catequizar os nativos, demonstrando a ele que a palavra de Jesus já fora ouvida nesta terra em tempos idos.

 

O austríaco Schwennhagen também estudou o pétreo símbolo oeirense, por volta de 1927. Diz ele: “Mesmo sinal existe em Oeiras, no Piauí, e o povo sempre venerou esse sinal, desde a antigüidade. A forma do pé, gravada numa chapa de pedra, é uma placa comemorativa, usada  pelos povos antigos para indicar que naquele lugar esteve um homem, que  foi um benfeitor do povo. A travessia de São Tomé pelo Atlântico nada tem de milagrosa. Naquela época a população das Canárias e das ilhas do Cabo Verde tinham ainda bons conhecimentos do Brasil e o zeloso apóstolo procurou uma caravela para ir com seus amigos pregar a nova religião aos povos do outro lado do oceano”.

 

É evidente que o evangelizador e mártir cristão Tomé não tem nenhuma relação com as pegadas a ele atribuídas em todas as partes do planeta. E isso, por um motivo muito simples: elas precedem, em milhares de anos ao santo. Mesmo o étimo brasílico Sumé lhe é muito mais antigo.

 

Nós preferimos atribuir as pegadas a antiquíssima e misteriosa Civilização Megalítica, de um povo desconhecido, oriundo quiçá de uma terra desaparecida no Atlântico Norte, que percorreu o mundo antigo, há milhares de anos, numa missão ainda para nós um tanto obscura. É o que temos insistido em vários de nossos trabalhos. E, Oeiras, na porção central do Piauí, também foi palco de intensa atividade desta cultura solar misteriosa, na sua rota enigmática rumo ao Brasil Central.

 

* Reinaldo Coutinho é geólogo, pesquisador em arqueologia, folclore e ufologia.

 

- Fotos: Arquivo Reinaldo Coutinho. 

 

- Produção: Pepe Chaves.

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