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Mundo político
Oriente Médio: Mil por um Acaba de ser dado o primeiro passo para negociações, após a troca de um refém militar israelense por 1027 dos seis mil presos palestinos.
Por Isaac Bigio* ESPECIAL, de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves 19/10/2011
Gilad Shalit, militar israelense que foi trocado por mil prisioneiros palestinos.
Gilad Shalit, o sargento judeu capturado pelo Hamas há 64 meses, aos 19 anos de idade, foi libertado simultaneamente a 477 réus palestinos, enquanto se espera que outros 550 deles também deixem rapidamente os cárceres israelenses. Alguns dos libertados teriam assassinado civis judeus e cumpriam quase duas dezenas de processos perpétuos acumulados.
O Hamas recebe os ex-encarcerados com 200 mil manifestantes comemorando como uma grande vitória, pois durante cinco anos souberam se manter cativo em sua faixa, apesar de receber incursões militares hebreias. Conseguiram seu objetivo inicial, ao trocá-lo por mil presos, mesmo que nesse lote não se encontrem alguns dos prisioneiros solicitados, como Barghouti, líder da ala do Fatah que poderia retirar Abbas da presidência palestina.
Esta barganha de mil por um, que não tem precedentes na história de Israel ou de outras nações, pareceria uma aberração, mas tem recebido o apoio de 80% dos judeus e tem sido conduzida pelo governo mais astuto que já teve aquele Estado.
Basta comparar a reação de confiança e desafio do Hamas com a da antiga guerrilha mais radical de América Latina (Sendero), que atualmente se reduziu e pede anistia para todos os militares que lhes reprimiram, como única forma de terem livres os seus líderes.
No entanto, Netanyahu não tem negociado gratuitamente. Ao iniciar diálogo com o Hamas, conseguiu evitar que este grupo adotasse uma atitude mais beligerante e intervencionista na crise egípcia, sustentada pelos Irmãos Muçulmanos de lá (seu partido-mor). Desta maneira, ele ajudou a consolidar o novo regime militar evitando que os muçulmanos avançassem mais.
A libertação de Shalit aumenta a popularidade de Netanyahu, sobretudo, depois da manifestação de 250 mil israelenses contra suas medidas de austeridade frente ao Hamas e Abbas, o qual vinha se potencializando ao pleitear um possível reconhecimento de seu estado pelas Nações Unidas.
Netanyahu sabe que sua atitude potencia o Hamas frente aos ‘moderados’ da Autoridade Palestina, algo que ele deseja, pois precisa de subsídios para não reconhecer a qualquer forma de Estado palestino, enquanto demonstra vontade de dialogar.
Unida a todo esse arranjo encontra-se a rivalidade entre Irã e Arábia Saudita, que tem se exacerbado após a denúncia dos EUA de que um setor persa subcontratou mafiosos mexicanos para assassinar o seu embaixador em Washington.
À parte o quanto verossímil possa parecer esta versão, importante é que Obama tem se alinhado com os sauditas, em vez de se unir aos protestos populares e antiditatoriais dos árabes. Estes, desejam mostrar sua eficácia como bons intermediadores junto aos radicais islâmicos, obrigando o Hamas a se sentar para negociar com Israel e os talibãs, além de conversar com os EUA, país que deverá erguer uma embaixada em alguma das monarquias daquela península.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
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Produção: Pepe Chaves
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Sudão do Sul: O mais novo país africano Sem acesso ao litoral, numa das regiões mais pobres da África e mais diversa etnicamente, nasce a República do Sudão Sul.
Por Isaac Bigio* ESPECIAL, de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves 14/07/2011
Sudão do Sul e seus vizinhos.
O Sudão detinha uma área de 2,5 milhões de quilômetros quadrados e figurava como o maior país da África e o décimo em território do planeta. Depois da decisão do Sul em formalizar sua separação nesse mês de julho, essa nação perdeu um quarto de sua extensão territorial e um quinto de seus 44 milhões de habitantes.
Bem antes dessa república se emancipar do Reino Unido, em 1956, já havia conflitos armados entre o norte árabe e muçulmano e o sul dominado por umas 200 etnias negras, na maior parte, animista ou cristã.
Omar al-Bashir, que chegou à presidência sudanesa com um golpe em 1989, vem governando durante 22 anos o país que sofre com uma das guerras civis mais prolongadas e sangrentas do mundo. Estes conflitos já se estenderam à região ocidental de Darfur, produzindo pelo menos dois milhões de mortos.
Para fazer frente às pressões internacionais e buscar uma solução diante tantos conflitos, Omar al-Bashir se viu obrigado a convidar o seu rival, Salva Kiir Mayardit, presidente da região autônoma de Sudão do Sul, para ser o seu vice-presidente, além de convocar a um referendo. Tanto ele, como seus importantes vizinhos, Líbia e Egito, não favorecem à divisão, mas se declaram dispostos a aceitá-la, se fosse demonstrado clamor popular e assim, evitar maior derramamento de sangue e de recursos.
O Sudão do Sul carece de costa marítima e se configura numa das regiões mais pobres do cinturão central da miséria na África. Três em cada quatro de seus habitantes são analfabetos. Naquela região é produzida a maior parte do petróleo sudanês, que proporcionou ao país triplicar sua produção em duas décadas. Contudo, o problema é que o duto que transporta o ouro negro sul-sudanês deve chegar ao mar vermelho, cortando o território do vizinho Sudão, que deseja manter sua percentagem das vendas petrolíferas. No estrondar da separação, o Sudão pressionou para manter uma união monetária e uma mesma confederação e, caso não isso não viesse a ocorrer, poder-se-ia desencadear um outro conflito.
Região sofre com uma das mais sangrentas guerras civis do planeta.
Também não há total clareza sobre os limites fronteiriços que se estendem por quase dois mil quilômetros e se encontram entre uma das regiões mais etnicamente diversas do globo. Na região de Abyei, há milícias armadas entre etnias que estão a favor e contra a criação do novo país. Outras zonas, como Darfur, também mantêm suas próprias demandas. A ruptura também cria problemas em torno dos movimentos nômades, entre uma e outra zona, bem como no status dos mais de dois milhões de sul-sudaneses, agora deslocados do Sudão.
O Sudão do Sul, ao se tornar independente deverá buscar por um assento na ONU, para assim, receber empréstimos junto ao FMI ou o Banco Mundial. E se as Nações Unidas reconhecê-lo autônomo, seria criado um precedente internacional.
Até hoje todas as repúblicas africanas se originaram em torno das delimitações de suas antigas colônias, enquanto foi negada independência a Biafra, Katanga e outras regiões que não tiveram tais características.
A independência sul-sudanesa incentivaria o norte de Somália - que se proclama Estado de Somalilândia - e muitos outros movimentos separatistas africanos que buscam o seu reconhecimento como nações soberanas.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
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Produção: Pepe Chaves
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Eleições e referendo: Super quinta-feira britânica: a surra de Clegg Os dois grandes vencedores dos pleitos foram o conservador premiê britânico David Cameron e o nacionalista ministro primeiro escocês Alex Salmond.
Por Isaac Bigio* ESPECIAL, de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Na quinta-feira, 05/05, ocorreram várias votações no Reino Unido. Em todo o país os cidadãos deveriam optar pelo sim ou não à introdução de uma ordem de preferências no sistema eleitoral parlamentar. A maioria dos municípios ingleses fora de Londres elegeu os seus Conselhos. Gales e Irlanda do Norte assumiram suas assembléias e a Escócia o seu parlamento. Ademais, algumas poucas circunscrições votavam, pela primeira vez, diretamente a prefeito ou para substituir um parlamentar.
Os dois grandes vencedores dos pleitos foram o conservador premiê britânico David Cameron e o nacionalista ministro primeiro escocês Alex Salmond.
Cameron demonstrou todo seu peso ao derrotar a reforma eleitoral garantindo a sobrevivência do sistema de ‘quem ganha leva tudo’ que garantiu que seu partido domine a Grã-Bretanha durante o século 20. O nível de participação tem sido relativamente alto para um referendo (mais de 40%) e a margem de triunfo tem sido de dois a um. Até o momento, os resultados mostram que só Cambridge e alguns distritos de Londres e Glasgow votaram no sim, num mar dominado pelo contundente não.
Ademais, os conservadores arrebataram a maioria de vereadores e municípios na Inglaterra, aumentando levemente o número de suas conquistas, bem como de parlamentares em Gales (país em que ficaram em segundo pela primeira vez). Isto é significativo, pois durante os 13 anos de governos trabalhistas, o oficialismo perdia nas municipais.
Outro ponto a favor dos tories é que os pequenos partidos que estão à sua direita (como o antieuropeu UKIP ou os neonazistas do BNP) ficaram quase sem vereadores na Inglaterra.
Desta vez, os trabalhistas não venceram nas distritais da Inglaterra, ainda que tenham crescido na quantidade de vereadores e conselhos em 50%. Acima, conquistaram metade da Assembléia de Gales, com a maior bancada da história do país. Na Escócia, onde inicialmente lideravam por 10 pontos nas pesquisas, ficaram mais de 10 pontos atrás dos nacionalistas.
O novo líder trabalhista Ed Milliband, apesar de encabeçar as pesquisas, não conseguiu uma grande vitória. Uma boa parte das figuras históricas de seu partido opuseram-se a seus planos, pelo sim à reforma eleitoral. Hoje, vários comentaristas conjecturam que a nova estratégia trabalhista não funciona, pois com Milliband, os vermelhos se inclinaram à esquerda, clamando oposição aos cortes, quando o que eles postulam é a volta à ‘terceira via’ de Blair, a qual permitiria a eles, obter progressos nas zonas de camadas médias, no sul da Inglaterra. Os partidários de Milliband podem retrucar que conseguiram eliminar o centro trabalhista e que hoje o país aponta ao retorno à antiga polarização azul-vermelha.
Os liberais, por sua vez, só têm acumulado desastres. Faz um ano, o seu líder Nick Clegg foi o vencedor dos primeiros debates de candidatos ao premierato britânico na história e, inclusive, chegou a disputar o primeiro posto nas pesquisas superando 30%.
No entanto, hoje, sua impopularidade fez que o povo recusasse a reforma eleitoral que ‘tanto necessitava’. O liberalismo está perdendo em todo o país. Na Inglaterra, perdeu quase a metade de seus municípios e na Escócia, mais de 2/3 de sua bancada.
Em maio passado, Clegg acreditava-se muito astuto, quando fez a primeira coalizão de governo da história entre os liberais-democratas e os conservadores, se convertendo no primeiro vice-premier de seu partido. Clegg rompeu sua promessa eleitoral, ao não incrementar as matriculas universitárias e passou a aceitar o programa de cortes dos tory. Tudo isso, na ânsia de um referendo sobre a reforma eleitoral, algo que urge para deixar de ser a Cinderela da política britânica.
No entanto, o abraço que receberam dos conservadores foi o de um urso. Quem recebeu o descrédito popular dos cortes foram os liberais. Atualmente, os liberais têm sido usados pelos conservadores; primeiro, para que Cameron chegue ao poder; segundo, para que tenha apoio ao programa de cortes; e terceiro, para que sejam eles que paguem à fatura.
Depois destes resultados será inevitável promover levantes dentro do liberalismo pedindo uma mudança de líder e que se rompa a coalizão. Cameron poderá fazer algumas concessões para salvar o seu aliado.
De outro lado, na Escócia, os nacionalistas têm tirado votos de todos conseguindo que Salmond seja reeleito com a maior votação que qualquer partido tivera naquele país. Depois disso, ele anunciou que vai liberar mais poderes para seu parlamento e um referendo para separar a Escócia da Inglaterra.
Nenhum dos partidos socialistas teve um bom desempenho, ainda que os verdes possam comemorar por terem crescido em seus poucos vereadores e parlamentares escoceses.
O referendo que devia abrir caminho a um sistema onde os partidos menores tivessem mais peso, acabou produzindo um efeito inverso. Os liberais e o Partido de Gales perderam peso, enquanto Inglaterra e Gales ficam polarizados entre os tories (que venceram) e trabalhistas (que ficaram em segundo).
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
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Londres: O casamento real A realeza britânica se manteve forte ao se distanciar do obscurantismo e da grande concentração de poder que levaram à ruína outras famílias de sangue azul.
Por Isaac Bigio* ESPECIAL, de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Kate e William, dias antes do enlace matrimonial.
Nessa semana que termina com o casamento real em Londres, tive a oportunidade de percorrer várias partes do Reino Unido estudando como seus habitantes se preparam para esse acontecimento. Cheguei a visitar um dos principais castelos onde reside a rainha, além do Britania, o iate real que durante 44 anos transportou Elizabeth II e que levou aos príncipes Charles e Diana para a lua de mel e no qual William irá percorrer seu país e o mundo.
No iate, pude ver suas coleções de suvenires que incluem desde uma escultura de uma das tartarugas equatorianas dos Galápagos, até uma das cabeças da ilha de Páscoa.
Tenho constatado a tremenda força da tradição monárquica, desde a Inglaterra até a Escócia. Possivelmente, nenhuma outra monarquia possui tão elevado grau de legitimidade em sua própria população. Aquelas localizadas no mundo árabe ou na Ásia, se baseiam em muita coerção e repressão, enquanto a do Reino Unido, desde que foi fundada em 1707, sempre manteve liberdades e eleições parlamentares.
Em seus 314 anos de existência, este Estado nunca conheceu um golpe ou uma revolução, invasão ou guerra civil - ainda que tenha experimentado bombardeios nazistas e conflitos armados internos na Irlanda e Escócia. Tal grau de estabilidade não foi visto em nenhuma outra potência ou nenhuma outra monarquia do planeta.
A realeza britânica manteve sua força ao se distanciar do obscurantismo e da grande concentração de poder que levaram à ruína outras famílias de sangue azul. O Reino Unido permitiu governos baseados em eleições multipartidárias e liberdades de culto e comércio, o que rendeu vantagens sobre o autoritarismo espanhol e abriu a possibilidade de se converter no centro da revolução industrial e da maior frota mundial.
Ao se transformar no primeiro país com uma população majoritariamente urbana e industrializada, se criou um tremendo peso econômico e social à monarquia, a mesma que se consolidou forjando o maior império além mar de todos os tempos - uma das heranças na Commonwealth liderada por Elizabeth II.
A coroa ganhou legitimidade junto à sua população combinando a salvaguarda da soberania nacional contra diversas e fracassadas invasões (desde a espanhola de Felipe II à nazista de Hitler, ambos encabeçando os maiores impérios de suas épocas), o que significou a preservação das tradições imperiais, culturais e tolerâncias britânicas.
A resposta da monarquia ante a emergência de poderosos movimentos sindicais e socialistas - igualmente ao resto de monarquias do Mar do Norte - foi buscar cooptá-los ao sistema, permitindo que formassem seus próprios governos e realizassem reformas sociais que avançaram os sistemas gratuitos de educação e saúde públicas, atualmente, similares aos dos EUA.
A monarquia britânica se consolidou com a renovação, atraindo mulheres formosas, mas de fora do seu ambiente tradicional (como Diana ou Kate), tornando-as símbolos das portas abertas à população ‘plebeia’.
Estive visitando os principais palácios reais como os de Windsor e Buckingham, mas o de Hollyrood me chamou a atenção, pois, esse se localiza defronte ao novo parlamento escocês, que deverá reeleger no próximo 5 de maio, um governo pró-separatismo. A habilidade dos Windsor evidencia que, mesmo a Escócia se tornando independente, a coroa desejará que este seja mais um dos seus reinos (como o Canadá ou Austrália) ou um dos membros de seu Commonwealth, a exemplo de 54 países, incluindo a Índia e Paquistão.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres.
- Foto: Divulgação/Analisys Global (Londres).
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Grã Bretanha: Depois da grande manifestação britânica Conservadores e liberais sustentam que os referidos protestos não dividirão seu governo, nem farão cair a coalizão.
Por Isaac Bigio* ESPECIAL, de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
No manifesto, comunidades iberoamericanas se manifestaram por seus direitos de cidadãos londrinos.
No sábado, 26 de março de 2011, Londres foi palco da maior marcha sindical britânica das últimas duas décadas. Vários diários, incluindo o conservador The Telegraph, estimam que cerca de 400 mil pessoas foram às ruas, enquanto os organizadores sustentam que mais de meio milhão de pessoas estiveram presentes.
Foi a maior mobilização ocorrida contra o primeiro governo de coalizão conservadora-liberal democrata da história, que se encontra no poder por quase um ano. É também o maior protesto da capital inglesa, desde o manifesto em março de 2003, quando de um a dois milhões de britânicos saíram às ruas em oposição à guerra iraquiana.
Ed Milliband, o novo líder do laborismo, tem comparado esse movimento com o que conquistou o voto feminino ou o que acabou com o apartheid sulafricano. Enquanto isso, o governo, contesta que o movimento não o obrigará a mudar sua estratégia de ajustes, que considera essencial para retirar o país da recessão.
Isso não é uma novidade. Blair e Brown também não retiraram suas tropas do Iraque após a megamarcha de 2003, apesar de grande parte dos que discursaram ou participaram da mesma foi de laboristas. Durante os 17 anos do regime conservador de 1979-97 os ‘tories’ demonstraram sua capacidade de enfrentar grandes marchas e greves. E, inclusive, derrotaram uma prolongada greve de mineiros e eliminaram a autoridade da Grande Londres, tornando a cidade, durante década e meia, na única grande capital do mundo sem uma prefeitura.
No entanto, este tipo de protesto social tende a crescer. Os próprios sindicatos falam de neste verão nórdico poderia ocorrer uma marcha ainda maior. Numerosos cartazes sugeriam uma parada geral de 24 horas, coisa nada usual na história nacional.
Até o momento, o laborismo aparece alentando e controlando o dito movimento. Este partido, não questiona os bombardeios sobre Líbia (na marcha não foram vistos tantos cartazes recusando tais ataques), nem a necessidade de fazer vários recortes. Milliband quer reformas menos drásticas e rápidas, apostando na retenção de elementos de intervenção estatal e de fomento das despesas públicas.
Seu objetivo é utilizar o descontentamento para que seu partido volte logo ao poder, inclusive, antes que se cumpra o atual quinquênio governamental. Algo que navega em seu favor é o fato de que ele já tem chegado a liderar as pesquisas, antes mesmo de o atual governo cumprir o seu primeiro aniversário.
Isto é incomum. Os conservadores e os laboristas foram perdendo a ponta nas pesquisas somente na reta final de seus últimos e extensos períodos no poder.
Os londrinos foram às ruas para reclamar de cortes do governo.
As eleições locais e o referendo de maio tornam-se marcos para mostrar a reativação laborista e para querer minar à liderança de Nick Clegg no liberalismo, a quem os ‘vermelhos’ acusam de ter dado as costas a um eixo ‘progressista’ para capitular ante os conservadores.
A Grã-Bretanha tem a única democracia que não sofreu uma guerra civil, uma invasão, um golpe ou uma revolução em mais de três séculos e onde não se repetem os mesmos movimentos grevistas da Europa. Não obstante, o nível de cortes que virão e a resposta sindical, podem abrir um período de fortes protestos sociais.
Algo que se pôde perceber na marcha é que havia grande quantidade de trabalhadores brancos, muitos dos quais, não saíram às ruas contra a guerra do Iraque. Além disso, no protesto do sábado passado, não houve a participação de muitas organizações étnicas, diferentemente das marchas anti-guerra ou pró-imigrantes ocorridas anteriormente. Isso pode gerar condições para uma radicalização de amplas camadas sociais que antes se mostravam passivas.
Grande parte da mídia deu muita atenção ao fato que alguns anarquistas atacaram estabelecimentos ao deixarem a marcha. Brian Paddick, o oficial da polícia que foi o último candidato liberal à prefeitura londrina, se mostrava surpreso por sua força pública, uma das mais experientes do globo, com seus 4.500 efetivos destinados a vigiar à marcha, ter permitido que anarquistas, através de panfletos e da internet prenunciassem tais atos.
Estes atos, que a imprensa apresenta como vandálicos, parecessem ter sido permitidos para, igualmente ao ocorrido com a marcha estudantil, sirva para desacreditar o protesto e fazer que o governo pressione os laboristas para que deixem de promover a saída de pessoas às ruas.
Até o momento, conservadores e liberais sustentam que os referidos protestos não dividirão seu governo, nem farão cair a coalizão. A questão está em saber se estas manifestações continuarão crescendo e acabarão por forçar novas eleições gerais nas quais os ‘vermelhos’ desejam voltar ao poder. Enquanto isso, o governo pode se ver obrigado a optar por medidas duras, ao estilo Thatcher, com as quais ainda iremos saber se os liberais os seguirão ou se continuarão entre eles.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Fotos: Analisys Global.
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Mubarak é retirado do poder: Queda no Cairo Pela primeira vez em sua história a população do Cairo derrubou um presidente.
Por Isaac Bigio* De Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Povo do Cairo comemora a queda de Hosni Mubarak, após 30 anos no poder.
Desde a revolução de julho de 1952, quando foi deposto o rei Faruk, o Egito teve três homens fortes: Abdel Nasser (1952-70), Anwar Sadat (1970-81) e Hosni Mubarak (1981-2011).
Os dois primeiros permaneceram por muito tempo na presidência, que só deixaram na morte. Nasser foi o líder da revolução que inicialmente colocou Naguib como presidente, mas após seu primeiro ano no cargo, foi deposto em nome do poder total. Depois do assassinato de Sadat houve um presidente interino que atuou por uma semana (Taleb), até que Mubarak assumisse.
Desta vez, no entanto, o presidente mais longevo que tivera o mais povoado país árabe, fora derrubado por um descomunal manifesto social.
Após mais de duas semanas em que milhões de pessoas estavam a marchar pelas ruas, sua situação se revelou insustentável na quinta-feira, 10/02, véspera da queda, quando ele proferiu uma mensagem televisiva.
Os EUA, as Forças Armadas e o povo egípcio já esperavam sua renúncia. Contudo, não obstante, em sua mensagem pela tevê, Mubarak ratificou que permaneceria no cargo até as eleições de setembro, ainda que deixasse a maior parte do poder a Omar Suleiman, que vinha ocupando o posto do recém criado cargo de vice-presidente.
Como isso, não fez mais que enfurecer à população que se manifestava contra o palácio e as Forças Armadas deveriam escolher entre três saídas: 1) permitir que a revolução se desdobrasse e que o protesto impusesse um novo governo, retirando assim às Forças Armadas do poder que ocupavam desde 1952; 2) reprimir às manifestações, o que proporcionaria ao exército desgastar a sua imagem, respaldo social e unidade; 3) promover um golpe de estado.
Como Mubarak e Suleiman não quiseram renunciar, as Forças Armadas egípcias (com seus quase 500 mil efetivos - a décima força do globo) sacaram ambos do poder e estabeleceram uma junta militar, tendo à frente Hussein Tantawi, ministro da Defesa e comandante-chefe das Forças Armadas no país.
Apesar de levar o mesmo nome de Saddam Hussein, ele participou da coalizão bélica liderada pelos EUA contra o seu xará iraquiano em 1991.
Os EUA, seus aliados e a oposição egípcia saudaram esse golpe. Tantawi vai tentar se manter o máximo que possa, a cumprir com os compromissos internacionais já estabelecidos pelo antigo regime (incluindo as boas relações com Washington e Tel-Aviv), ainda que esteja sob a mira de muitas demandas sociais.
O Egito não tomou uma saída radical, pois as mesmas Forças Armadas seguiram figurando como as donas do poder.
No entanto, este golpe é diferente do ocorrido faz 59 anos, que levou o exército a depor um rei. Desta vez, se faz sob a mobilização popular e não através de um movimento corporativo, produzindo a queda de Mubarak, que pode ser prisioneiro do novo governo, mesmo que dure pouco tempo, pois estará sob pressão interna e internacional para entregar o poder nas eleições que devem ocorrer neste ano.
Israel está preocupado com o crescimento destacado da Hermandad Muçulmana (o maior partido de oposição) e outras forças quem desejam revisar os acordos de paz, e melhorar os laços com os palestinos (incluindo o Hamas, antiga filial em Gaza da Hermandad Muçulmana).
Apesar de Mubarak ter caído no mesmo dia em que o Irã recorda o 32º aniversário de sua revolução, o levante egípcio não foi liderado pelo clero muçulmano.
Ao contrário do Irã que, em 1979, quando o mundo não vivia uma bipolaridade, o Egito tem a mais expressiva minoria cristã do Oriente Médio e mantém uma sociedade mais moderna, com mais correntes liberais, sindicais, e não há um clero sunita, sob uma estrutura vertical como a dos ayatolás xiitas.
A revolução egípcia não terminou. Mal acaba de começar e passou por seu primeiro episódio. Enfim, a nova questão será a forma com que Forças Armadas se configurarão nesse governo interino e como este promoverá um novo, através das próximas eleições.
Enquanto a revolução de 1952 abriu caminho a um regime nacionalista de partido único que, inicialmente, se fez popular efetuando medidas sociais e chocando com o Ocidente e Israel, Tantawi se sente pressionado a seguir uma agenda mais pró-EUA. Esta potência é o principal suporte econômico de suas Forças Armadas - as quais, em todo o Oriente Médio, recebem a segunda fatia monetária de Washington, após somente de Israel. E não há no momento uma potência oposta (tipo a antiga URSS) sobre a qual poder-se-ia se apoiar como um contrapeso nas negociações, além do próprio histórico de seu país (que serviu na primeira Guerra do Iraque, liderada pelos EUA).
E assim, Tantawi assume o poder em meio a um contexto no qual vêm crescendo as forças que pedem uma atitude mais crítica ante o Ocidente naquela região. O Hizbola acaba de se converter na força dominante do governo libanês, enquanto o Hamas cresce às expensas do Fatah palestino e o Irã se sente fortalecido com os levantes que vêm tombando os seus adversários na Tunísia e no Egito.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Foto: Al Jazeera. - Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
- Links relacionados: Mubarak frustra expectativas e se mantém no poder Qual será o futuro da crise egípcia? - Isaac Bigio
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Rússia: Carnificina causada pelo Cáucaso As bombas na Rússia é sintoma de um fenômeno mais complicado que a Al Qaeda.
Por Isaac Bigio* De Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Medvedev e Putin.
Na segunda-feira, 24/01, duas bombas humanas mataram 35 pessoas e feriram cerca de 180 no maior aeroporto da Rússia, o de Domodedovo, em Moscou. O atentado minou os planos do presidente russo Medvedev de estar nessa semana em Davos para pedir aos grandes investidores um empréstimo de US$ 15 mil milhões para criar complexos de esqui nas montanhas de cinco das sete repúblicas autônomas russas do Cáucaso.
Isto é parte de um plano mestre que pretende criar um polo que possa atrair cinco milhões de turistas a cada ano e que gere empregos na região que Medvedev, em seu discurso anual à nação, qualificou como o principal foco de problemas da segurança interna russa.
Como uma mostra do grande potencial que tem o Cáucaso para os desportos da neve, em fevereiro de 2014, a cidade de Sochi - na parte de língua russa dessa corrente de montanhas - será a sede das Olimpíadas de Inverno.
O atentado ocorreu, ademais, como uma forma de chamar a atenção do globo, após sete semanas de a Rússia ter vencido o concurso da FIFA para ser a anfitriã do Mundial de Futebol de 2018. Esse tipo de tática é usual em grupos de terror muçulmanos, conforme ocorrido em 07/07/2005, quando a Al Qaeda lançou quatro bombas humanas para atacar comboios de ônibus em Londres, no dia seguinte de esta cidade ser eleita a sede das Olimpíadas de 2012.
Comparando os tipos de problemas armados internos que tem a Rússia com os da Inglaterra, o ‘The Times’ sustenta que, os problemas de Moscou mais se parecem com os que Londres tem sofrido em relação ao grupo norteirlandês IRA, do que com os da Al Qaeda. Enquanto os kamikazes na Rússia são, assim como os binladenistas, de fé muçulmana, suas origens são diferentes.
A rede de Osama se estende por todo o globo e coordena uma série de ações que tende a mover terroristas de uma a outra parte do planeta para reprimir a incursão das potências ocidentais no Iraque e Afeganistão. Ao contrário disso, o que se passa no Cáucaso é uma resposta interna a um grave problema interno. Esta região é a mesma que no final da década de 1980 gerou os primeiros conflitos étnicos que depois produziram a queda da União Soviética e, após a criação da federação Russa, em 1991, tem gerado mais ressentimentos e violência.
Em 1991, enquanto Moscou permitiu a independência das repúblicas do Cáucaso do Sul (Armênia, Azerbaijão e Geórgia), este reprimiu com grande terror os separatistas do norte caucasiano.
Chechênia, a mais rebelde das repúblicas maometanas do Cáucaso russo, não pôde manter a sua independência, que declarou de fato, no início da década de 1990. No ano 2000, a sua capital, Grozny, se transformou - segundo a ONU - na cidade mais destruída do mundo.
Desde um século e meio da ocupação do Cáucaso por Moscou, muitos ressentimentos são mantidos no local. Várias das nações maometanas dessa zona norte chegaram a ser deportadas em massa por Stalin.
A corrente de atentados neste milênio em Moscou e em outras partes da Rússia, só deve se encerrar quando se chegar a um acordo de paz nessa zona que divide a Europa do Médio Oriente.
Putin e Medvedev tornaram-se populares ao prometer o estabelecimento da paz às baionetas, mas a única forma na qual o Reino Unido conseguiu deter o separatismo do grupo IRA foi através de certas concessões para conseguir cooptá-lo a fazer um acordo na Irlanda do Norte.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres.
- Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
- Imagem: Rússia Blog.
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Referendo: Sudão do Sul: nasce um novo país africano Cerca de 90% da população votou pela separação da região sul do país.
Por Isaac Bigio* De Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Eleitores decidiram pela separação do Sul do país.
O referendo realizado de 9 a 15 de janeiro sobre a independência do sul do Sudão foi concluído. Segundo o ex-presidente estadunidense Jimmy Carter, líder de uma missão observadora do plebiscito, tudo ocorreu com normalidade e alta participação,com 90% de seus quase quatro milhões de eleitores.
O Sudão compreende uma área de 2,5 milhões de km². É o maior país territorial da África e o décimo do planeta. A vontade popular em massa disse sim e esta nação perde um quarto de sua dimensão e um quinto de seus 44 milhões de habitantes.
Mesmo antes desta república se tornar independente do Reino Unido, em 1956, sempre ocorreram conflitos armados entre o norte árabe e muçulmano, e o sul dominado por cerca de 200 etnias negras, a maior parte delas, animista ou cristã.
Omar a o-Bashir, chegou à presidência sudanesa com um golpe em 1989 e está governando por 22 anos o país que detém uma das guerras internas mais prolongadas e sangrentas que já existiu no mundo, que se estenderam à região ocidental de Darfur, produzindo pelo menos dois milhões de mortes.
Visando fazer frente às pressões internacionais e também buscando uma solução a tantos conflitos, o-Bashir se viu obrigado a convidar a o seu contra-atacante, Salva Kiir Mayardit, presidente da região autônoma do Sudão do Sul, bem como o seu vice-presidente, a convocar um referendo popular.
Tanto ele, como seus importantes vizinhos, Líbia e Egito, não favorecem à divisão, mas declaram estar dispostos a aceitá-la, para evitar maior derramamento de sangue e recursos, se a proposta receber apoio em massa.
O novo país tem acolhido a bandeira e a estrutura militar do Movimento/Exército de Libertação Popular. No entanto, carece de um nome e adotar estes símbolos não é o principal problema a resolver.
O Sudão do Sul carece de uma costa marítima e integra uma das regiões mais pobres do cinturão central de miséria da África. Três, em cada quatro de seus habitantes, são analfabetos. Ali é produzida a maior parte do petróleo sudanês - o que proporcionou que o Sudão triplicasse sua produção em duas décadas. Entretanto, o problema é que o duto que transporta o ouro negro chegará ao mar vermelho através do Sudão, que reivindica uma percentagem dos lucros petroleiros.
Caso não aceitasse a separação e pressionasse para manter uma união monetária e um status de Confederação, o Sudão poderia desencadear mais um conflito.
Também não há clareza sobre os limites territoriais estendidos por quase dois mil quilômetros e que se encontram numa das regiões mais etnicamente diversificadas do globo. Na região de Abyei, há conflitos armados entre etnias que são pró e contra a criação do novo país. Outras zonas do país, como Darfur, também têm suas próprias demandas.
A ruptura também cria problemas em torno dos movimentos nômades entre uma zona e outra, bem como no status dos mais de dois milhões de sudaneses do sul beduinos.
O Sudão do Sul, ao se tornar independente, buscaria um assento na ONU para assim receber empréstimos do FMI ou Banco Mundial. Entretanto, se as Nações Unidas reconhecê-lo, seria criado um precedente internacional.
Até agora, todas as repúblicas africanas foram estabelecidas de acordo com as delimitações que tiveram suas antigas colônias.
A independência do Sudão do Sul injetaria ânimo no norte de Somália - que se intitula Estado de Somalilândia - e a muitos movimentos separatistas africanos que buscam ser reconhecidos como nações soberanas.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
- Foto: divulgação.
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América do Sul: Alvaro García e Alan García Ambos foram eleitos duas vezes: Alan García Pérez como presidente peruano e Alvaro García Linera como vice-presidente boliviano.
Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
O vice-presidente boliviano em sua visita a Londres e este articulista.
No último quinquênio nos palácios governamentais, tanto do Alto, como do Baixo Peru, se encontraram dois líderes, cuja inicial é a letra A e o sobrenome García. Os dois levaram pela primeira vez ao poder os seus respectivos movimentos de origem marxista e chegaram até ser perseguidos como “terroristas”.
Ambos foram eleitos duas vezes: Alan García Pérez como presidente peruano nos períodos de 1885-90 e 2006-11 e Alvaro García Linera como vice-presidente boliviano em 2006-2010 e 2010-2014.
O primeiro representa o APRA, partido fundado em 1924, cuja proposta é unir a Indo-América em um Estado anti-imperialista que nacionalize terras e indústrias. O segundo foi o líder da derrotada guerrilha katarista de 1992, que depois se fundiu ao indigenista Movimento Ao Socialismo (MAS), de Evo Morales.
Em 1985 Alan García era o jovem que conseguiu fazer o seu velho partido debutar na presidência. Seu governo se distanciou da esquerda por causa do massacre dos penais, e da direita, pela nacionalização da banca.
Alan, que chegou a ser o mentor das grandes empresas (lugar hoje ocupado pelo venezuelano Chávez), voltou ao poder 16 anos depois, promovendo a união do centro e da direita contra “a intromissão de Chávez”. Diferentemente de seu primeiro mandato de economia heterodoxa, onde se massificaram os subsídios e foi limitado o pagamento da dívida externa, no seu segundo mandato, ele manteve certa ortodoxia monetarista herdada do fujimorismo e assinou vários TLCs.
Alvaro também tem se “moderado”, mas partindo de um início bem mais radical. Em suas respectivas juventudes, Alan o mais extremista, discursou contra os EUA, mas Alvaro comandou uma guerrilha que propôs uma revolução socialista armada de ayllus.
Hoje Alvaro é o teórico de um governo que propõe desenvolver a democracia multipartidária e o mercado. E, igualmente ao jovem Alan, acredita que deve ser propiciado um capitalismo nacionalista, com um governo de centro-esquerdista, pois acreditam que o seu país não estaria maduro para o socialismo. Dentro da ALVA muitos recusam a evolução de Alan (que, segundo eles, passou de um oponente a um peão do “imperialismo”), no entanto, aplaudem Alvaro.
Tive a oportunidade de voltar a falar com Alvaro e de vê-lo em Londres e Oxford em sua recente visita a Inglaterra, nesse mês de novembro.
Ouvi, atento seu extenso discurso na LSE onde detalhava seu novo “modelo pós-neoliberal”. Este é parecido com o modelo pré-neoliberal de Alan (1985-90), que busca promover os investimentos estrangeiros, mas de maneira controlada, fazendo com que o Estado domine setores estratégicos da economia, mas deixando que a maioria desta esteja em mãos de empresas privadas ou associadas. Além disso, destaca-se a busca por uma maior descentralização regional e da diminuição das desigualdades sociais, promovendo uma série de subsídios e benefícios para as camadas mais pobres.
A diferença entre o trintão Alan García e o quarentão Alvaro García, reside em suas respectivas bases sociais e no contexto internacional. O governo peruano de 1985-90 se fez numa época em que os EUA venciam a guerra fria, enquanto o boliviano pós-2006, se dá quando os EUA vêm perdendo o pós-guerra fria e a América Latina vem conquistando a maior margem de autonomia em toda sua história diplomática.
As organizações trabalhistas e camponesas de peso e orientação, tanto no Peru como na Bolívia, têm tido duas atitudes diferentes diante os dois García. Estas, em sua grande parte, vê a Alvaro como um “colega” a quem dará a mão, mas nunca a dariam a Alan, seu antigo combatente.
A dupla Evo-Alvaro tem logrado certa estabilidade porque tem conseguido controlar as organizações sociais, sabendo utilizá-las para conter à oposição de direita. Uma grande concessão foi feita a tais organizações, a qual Alan nunca fez, que foi foi uma alteração na Constituição para decretar uma república “plurinacional”.
Se para a ortodoxia marxista, Alan e Avaro são duas expressões do “pequeno nacionalismo burguês”, que galgam em diferentes níveis do capitalismo ao liberalismo, a evolução de Alan se mostra o caminho a ser seguido por Álvaro, quando ele desejar substituir a Evo.
Os modelos de Alan e de Alvaro são diferentes, ainda que ambos se valeram de uma boa localização da América do Sul no contexto financeiro global, fazendo com que cresçam suas respectivas economias e sigam moldando o sistema partidário nacional em torno de seus eixos políticos.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
- Foto: cortesia de Isaac Bigio.
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Cenário americano: Dilma e Obama As visíveis diferenças entre os dois gigantes americanos.
Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Obama e Dilma, sob o olhar atento de Lula.
Brasil e EUA são os dois países mais populosos do Ocidente. Ambos elegem seus presidentes por um período de quatro anos e com direito a apenas uma reeleição.
Agora, ambos terminaram seus respectivos processos eleitorais. Enquanto o Brasil, no domingo (31/10) elegeu sua primeira presidenta, na terça-feira (02/11), os EUA designaram o primeiro mandato legislativo a um presidente negro.
De todas as diferenças entre as eleições desses gigantes americanos, queremos destacar apenas duas.
Uma delas é que os dois caminham em direções ideologicamente opostas. Enquanto no Brasil o Partido dos Trabalhadores (PT) se consolidou após oito anos no poder e ampliou os seus parlamentares, nos EUA, em apenas dois anos à frente da Casa Branca, os Democratas perdeu substanciosa participação no Congresso. Se a direita no Brasil segue na defensiva e até imita a 'social democracia', dos EUA, nesse país, eles estão na ofensiva.
A outra, é sobre os diferentes pesos e medidas de seus agentes. Obama e Dilma são os primeiros presidentes de suas respectivas nações que estão em uma raça ou de gênero diferente do comum.
Das cinco mais populosas Repúblicas Americanas, os EUA é a única que elegeu um negro como seu líder, enquanto hoje, a Argentina é a única com uma presidenta. Além disso, a Argentina foi o único país que teve duas presidentas (Isabelita e Cristina). Apesar do sofrimento que hoje Cristina Kirchner deve estar passando - pois, na véspera dessas duas eleições, seu marido morreu -, ela surge como a primeira presidente que pode ser democraticamente reeleita na América.
Dilma recebeu 55.752.483 votos, o que a tornou a mulher mais votada da história. Por pouco ela não superou Lula, que em 2006 obteve 58.295.042 votos, tornando-o a pessoa com maior apoio eleitoral em seu país. Os 56% dos votos que ela obteve é 5% inferior aos 61% obtidos por seu mentor nas duas últimas eleições que o tornaram presidente, em 2002 e 2006.
Lula, em 2002, quando estreou no poder, se tornou o presidente mais votado do mundo, pois com os 52.772.475 votos obtidos em 2002 superou os 50.456.002 votantes de Bush, que havia chegado em 2000 à Casa Branca.
Em 2004, Bush obteve mais votos em seu país que o seu rival democrata, e mais que Lula. Quando os dois foram reeleitos, o republicano dos EUA obteve 62.040.610 votos, enquanto o antigo sindicalista brasileiro obteve 58.295.042 votos.
Obama, em 2008 foi eleito com 69.456.897 votos, perfazendo 10 milhões a mais do que seu oponente (McCain) e 14 milhões a mais que a futura presidente do Brasil.
Apesar de Obama ser o atual detentor do maior número de votos na história humana e ter obtido grandes vantagens eleitorais, isso não poderá se traduzir em uma vitória legislativa a médio prazo, o que, em si, é uma outra diferença com duo, Lula e Dilma.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
- Foto: divulgação.
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Reino Unido: O Papa na Grã-Bretanha Bento XVI demonstrou se aproximar da Igreja Anglicana. Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
A rainha Elizabeth e o Papa Bento.
Bento XVI, que se encontra em visita de meia semana na Grã-Bretanha, se converteu no primeiro papa a visitar o Palácio do chefe da igreja Anglicana.
Diferentemente dos países católicos, onde o chefe do Vaticano é também a principal autoridade religiosa, o Reino Unido se formou lutando contra a igreja católica.
Pela lei, só se pode ascender ao trono bretão, alguém que seja da Igreja da Inglaterra (Anglicana), fundada por Henrique VIII (1491-1547), quando este quis desafiar a autoridade de Roma, que o impedia de se divorciar. A igreja que ele fundou mantinha muitos traços similares à do Vaticano, mas se diferenciava pelo fato de que seus bispos não eram subordinados a um Papa estrangeiro, mas ao rei inglês.
Muitos católicos foram perseguidos e mortos por ele (um deles, Thomas Moore, que recebeu homenagem de Bento XVI durante sua visita). As matanças entre católicos e anglicanos se acentuaram por duas vezes. A primeira, quando a papista Maria I (1516-1558), a “sanguinária”, herdou o trono de seu pai, Henrique VIII, e se casou com Felipe (o mais poderoso monarca que existiu na região da Espanha e Portugal). A segunda, quando Maria I foi substituída por sua meia irmã anglicana, Elizabeth I (1533-1603), que atacou os católicos e evitou a grande invasão da Armada espanhola.
Ainda hoje, a noite em que se estouram mais fogos de artifício em Londres é a de 5 de novembro, em homenagem à execução de católicos quando um complô, em 1605, foi impedido pela coroa. Até 1829 os católicos careciam dos mesmos direitos que o resto dos súditos do Reino Unido.
Enquanto Inglaterra e Gales são majoritariamente estados anglicanos e a Escócia presbiteriana, a Irlanda se reteve como a parte católica do Reino Unido. Os irlandeses eram considerados inferiores e até se via letreiros onde era proibida a presença de cães, negros e irlandeses. Os conflitos na Irlanda do Norte entre nacionalistas irlandeses de origem católica e unionistas monárquicos (de base protestante) têm suas raízes nessa época.
O reverendo Ian Paisley, ex-primeiro-ministro, chegou a mostrar um cartaz ao anterior Papa João Paulo II qualificando-o de anticristo quando, em 1988, ele proferiu um discurso no Parlamento Europeu do qual ele era membro.
A Igreja Católica tem mantido alguns poucos milhões de fiéis no Reino Unido, particularmente, os de origem irlandesa, iberoamericana, italiana e polonesa.
Desde umas quatro décadas, as igrejas Católica e Anglicana buscam a eliminação de suas diferenças. No entanto, em um pulo estas se acentuaram. Os anglicanos não somente promovem o casamento de seus sacerdotes, mas atualmente aceitam que estes se relacionem com pessoas do mesmo sexo ou que se formem sacerdotisas.
São precisamente os grupos feministas e gays que organizaram alguns protestos contra o Papa em Londres, acusando o seu clero de permitir abusos de meninos, enquanto promove a homofobia.
O papa aparentou buscar uma aproximação entre sua igreja (a maior de todas) com as outras duas maiores do cristianismo (a Ortodoxa e a Anglicana). Em sua fala, Bento XVI clamou por um maior papel da religião na política e na sociedade, como o que vem ocorrendo no Reino Unido, onde é concedido maior apoio público às escolas e instituições religiosas.
Todos os quatro premiês anteriores e o vice-premiê, ministro Clegg, escutaram o sermão do papa. Blair, que governou por uma década e se tornou o premiê trabalhista que mais permaneceu no cargo, só se atreveu a declarar sua a fé católica, juntamente com esposa e filhos, após concluir o seu mandato. Ao contrário, Clegg se distancia do catolicismo de sua esposa espanhola, por se considerar um liberal agnóstico.
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- Foto: divulgação.
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Brasil independente: Paradoxos brasileiros Hoje só 0.3% dos brasileiros são considerados ameríndios.
Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Enquanto celebra seus 188 anos de independência, o Brasil só tem 13 décadas como república. Esta nação foi, durante seus primeiros dois terços de século, a maior monarquia que já existiu nas Américas.
O Brasil conta hoje com quase 200 milhões de habitantes. Esta cifra é superior à população do resto de seu subcontinente e similar à soma de todos os países latinos da Europa (França, Itália, Espanha, Romênia, Portugal, Bélgica, Suíça, Moldava, San Marino, Andorra e Vaticano).
O Brasil é considerado o maior país latino de todos os tempos. Seus 8.5 milhões de quilômetros quadrados representam uma área muito maior que teve aquela do império tri-continental de Roma em seu apogeu, o mesmo que se baseou no latim. No entanto, os primeiros europeus chegaram ao Brasil mais de um milênio depois que Roma foi conquistada.
Hoje só 0.3% dos brasileiros são considerados ameríndios. Muitos acreditam que os portugueses chegaram a um imenso país, pouco povoado ou selvagem. No entanto, novas teorias postulam que a família arawak (que se estendia desde a Flórida, até a nobreza inca) nascera no centro do Brasil, sendo verídicos, portanto, os relatos de Orellana, o “descobridor” do Amazonas, que pregava este rio esse aparentar, em muitas partes, a uma metrópole gigante.
No Amazonas não sobreviveram grandes cidades de pedra, porque esse material era escasso e porque a selva devora, em poucos anos, a qualquer construção que não seja permanentemente cuidada.
Nos livros de história são mencionadas grandes civilizações pré-colombinas do Sul, América Central e América do Norte. Desde Caral e os incas até os olmecas, mayas, aztecas e misisipianos. Muitos crêem que os conquistadores descobriram um Brasil selvagem com uma população 100 vezes inferior à atual.
Não obstante, novas descobertas provam que na Amazônia (desde a boliviana à brasileira) existiram sofisticadas cidades que criavam grandes extensões de terra fértil, granjas de peixes e pomares. Segundo Charles Mann, grande parte do Amazonas era como uma extensa metrópole que criou um tipo de terra artificial (“terra preta”) que lhe permitia sustentar grandes cultivos e uma população maior que a atual.
Ele sugere que, devido à alta percentagem de árvores frutíferas na Amazônia e os novos achados, se torna factível que a maior parte dessa extensa selva tenha sido semeada por ameríndios, bem como na Europa, Ásia ou nos Andes, onde se deram os cultivos de cereais.
O Brasil é, ao mesmo tempo, o país latino-americano mais europeu e mais africano, pois a metade de sua população tem raízes em um desses dois continentes. A população afro-descendente do Brasil (100 milhões de pessoas) mais que duplica a da América do Norte e supera a dos restantes 32 Estados latinos e caribenhos. O Brasil é o “país africano” de maior território e o segundo em população (só a Nigéria está à frente no número de habitantes de cor).
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
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América do Sul: Colômbia e Venezuela restabelecem relações diplomáticas* Impasse parece ter sido superado por ambos os presidentes.
Juan Manuel Santos e Hugo Chávez.
Os presidentes de Colômbia, Juan Manuel Santos, e Venezuela, Hugo Chávez, decidiram "relançar e restabelecer" as relações diplomáticas, durante reunião desta terça-feira na cidade colombiana de Santa Marta, revela uma declaração conjunta.
"Os presidentes de Colômbia e de Venezuela acertaram relançar os vínculos bilaterais, restabelecendo as relações diplomáticas entre os dois países com base em um diálogo transparente e direto, privilegiando a via diplomática", destaca o texto lido antes da declaração dos presidentes.
Santos considerou que "o resultado das conversações foi muito positivo". "Estamos identificados, Chávez e eu, com a necessidade básica de promover o bem-estar de nossos povos, e vamos construir uma relação duradoura".
A Venezuela decidiu romper relações com a Colômbia no final de julho, após o governo do então presidente colombiano, Alvaro Uribe, denunciar a presença de 1.500 guerrilheiros das Farc e da ELN no território venezuelano.
Chávez se comprometeu hoje "a não permitir a presença de grupos armados em seu território".
"O presidente Chávez me garantiu que não vai permitir a presença de grupos armados em seu território. Acredito que isto é um passo importante para que nossas relações se mantenham sobre bases firmes", disse Santos à imprensa.
* Informações e imagem da AFP.
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América do Sul: Venezuela versus Colômbia Presidentes se chocam antes da posse de Santos. Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Presidente colombiano Uribe e o venezuelano Chávez. FOTO DE ARQUIVO
Colômbia, Equador e Venezuela são as três únicas repúblicas do mundo que compartilham a mesma bandeira. Não obstante, no momento em que ambas deviam estar fraternizadas, pois estão unidas pelas celebrações de seus respectivos bicentenários, é que se chegou à pior crise entre as três, desde 1830, quando se desintegrou a antiga Grande Colômbia.
Venezuela e Colômbia, se supõe, deveriam estar fraternizadas na celebração do grito de 20 de julho de 1810, quando a capital que então ambos compartilhavam (Bogotá) criou sua junta. No entanto, a dois dias de tal bicentenário a Venezuela rompeu as relações com a Colômbia.
Desta forma, quando só faltavam duas semanas para que o presidente colombiano Uribe fosse substituído por seu sucessor Santos, se faz a pior crise travada por esta nação com sua vizinha oriental.
Uribe fecha seu mandato abrindo a primeira ruptura de relações com a Venezuela, e a segunda em seu período de oito anos na presidência. A anterior ocorreu com o Equador, imediatamente após o 1º. de março de 2008, quando integrantes das FFAA (forças armadas colombianas) ingressassem clandestinamente em território equatoriano para aniquilar a todos os membros de um acampamento das Farc.
Quando um país deseja protestar diante a outro, deve chamar seu embaixador a consulta ou substituí-lo. A ruptura de relações é o último passo que ocorre antes de uma guerra. Hoje, não obstante, não se vislumbra chance alguma para que ocorra um conflito internacional armado em América do Sul.
O que tem ocasionado as duas rupturas de relações durante a administração de Uribe tem sido a questão das guerrilhas colombianas e as denúncias por parte de Bogotá de que Quito ou Caracas albergam destacamentos guerrilheiros. No primeiro caso, a crise se deu como resposta a uma incursão militar e no segundo, como uma alegação de Chávez para buscar abortar tal possibilidade.
Na reta final de seu mandato, o presidente colombiano Uribe denunciou que a Venezuela albergava cerca de 1.500 guerrilheiros colombianos em seu território e pediu uma comissão para verificar o assunto. O governo da Colômbia conta com o apoio dos EUA, que declarou há quatro anos, que Caracas não colabora com a luta anti-Farc.
Chávez replicou, pedindo que inspecionassem as bases norte-americanas na Colômbia, para verificar se estava sendo montada uma “provocação”.
A crise entre Colômbia e Venezuela vem ocasionando que a balança comercial entre esses países neste ano de 2010 feche com menos de um quarto dos US$ 6 milhões que tiveram em 2008.
Apesar das movimentações de tropas nas fronteiras, o mais provável, como no caso do referendo prévio entre Bogotá e Quito, é que busquem uma saída negociada.
Santos, o arquiteto da política antisubversiva do atual presidente Uribe, tem manifestado seu desejo de dar uma reviravolta no uribismo. Por isso, se declara partidário da “terceira via” do trabalhismo inglês, tem um vice sindicalista e proclamou como uma de suas prioridades a melhoria das relações com Quito e Caracas.
Em todo o território das Américas, Chávez e Uribe são os presidentes que mais tempo se encontram no poder e também os que mais têm se chocado entre si. A crise final produzida culmina na maneira com que os dois “recebem” o novo presidente colombiano.
Uribe quer obrigar o seu ex-ministro de defesa (Santos) a manifestar que Caracas adote uma atitude mais dura perante as Farc e o ELN [N.E.: Exercito da Libertação Nacional, outro grupo colombiano considerado guerrilheiro], enquanto Chávez o pressiona para que, doravante, se busque uma negociação onde o foco seja ultrapassar a tensão e assumir um novo compromisso.
* Isaac Bigio é professor e analista internacional em Londres. - Leia outros artigos de Isaac Bigio em português: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
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DO ARQUIVO ABERTO VF:
Colômbia: O governo Lula e as FARC Revista acusa governo brasileiro de manter estreitas relações com as FARC.
Da redação*
A Revista Cambio, considerada a mais importante da Colômbia, acaba de publicar uma reportagem onde acusa o governo brasileiro de manter estreitas ligações com as FARC. A matéria teria sido baseada no conteúdo de 85 mensagens de e-mails de Raúl Reyes, considerado o homem número dois das FARC.
Reyes foi morto por forças colombianas em território do Equador em março passado, o que gerou uma crise diplomática entre Venezuela, Colômbia e Equador. A reportagem intitulada de “Dossiê Brasil” cita mensagens trocadas entre Reis e alguns brasileiros, sobretudo, membros do governo Lula.
Entre eles, estariam mensagens de pelo menos cinco integrantes do alto escalão em Brasília como, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o chefe do Gabinete Presidencial Gilberto Carvalho, o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia e o ex-ministro Roberto Amaral.
Segundo a reportagem, o nome do presidente Lula teria sido veiculado em quatro mensagens de e-mail, sendo a última delas, datada de 23 de abril de 2007. Nela, os interlocutores das FATC combinavam um encontro com um assessor de Lula em Brasília.
Segundo a reportagem, “Quatro mensagens eletrônicas intituladas de MUDANÇA referem-se ao presidente 'Lula'. Numa delas, datada de 17 de julho de 2004, 'Raúl Reis' diz a 'Tirofijo' que o governo de 'Lula' ajudaria com o acordo humanitário: ‘Os curas enviaram-me carta pedindo entrevista com eles no Brasil - escreve ‘Reis’. Segundo dizem, eles falaram com 'Lula' e este assumiu o compromisso de ajudar no acordo humanitário, intercedendo ante Uribe para efetuar a reunião em seu país”.
No Brasil, o Itamaraty negou qualquer contato entre Amorim e as FARC. Também o advogado de José Dirceu se manifestou, afirmando que seu cliente não manteve qualquer envolvimento com os revolucionários colombianos. Segundo a opinião de alguns analistas políticos, reportagem da Cambio, poderá gerar uma crise diplomática entre Brasil e Colômbia.
* Com informações da Revista Cambio - Colômbia (www.cambio.com.co). - Tradução: Pepe Chaves. - Clique aqui para ler a reportagem na íntegra, em espanhol. © Copyright 2004-2008, Pepe Arte Viva Ltda.
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Colômbia: Ingrid Betancourt é libertada Uribe recebe as loas pela libertação de 15 reféns pelas FARC. Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
O governo colombiano anuncia ter liberado Ingrid Betancourt, mais três reféns norte-americanos e 11 militares, reféns das FARC. Isso potenciará a Uribe em seu programa com a corte suprema (que lhe questiona pela ‘ilegalidade’ de sua eleição ou por que os 20% de seus congressistas estão unidos ao paramilitarismo) e para disputar uma nova eleição (com a qual ele deseja estender seu mandato que, segundo a constituição, deve terminar em 2010).
O fato, também beneficia a McCain (que esteve na Colômbia) e a sua estratégia de mão-dura e ‘anti-terrorista’ frente a Obama (que pretende falar com Chávez e congelar o TLC em Bogotá). A ex-candidata presidencial pela Colômbia, Betancourt foi seqüestrada pelas FARC em 2002 e converteu-se num símbolo internacional.
Chávez inicialmente quis que as FARC a libertasse para fortalecer sua política e mostrar a Uribe que era ‘duro’ e poderia favorecer a guerrilha que se ‘legalizasse’, para logo chegar ao governo pela via eleitoral (tipo Nicarágua ou África do Sul).
Depois que Uribe a libertou sem conceder nada em troca, sua imagem, tanto interna como internacional, crescerá e a direita continental vai se valer disso para lançar uma contra-ofensiva aos governos e partidos esquerdistas da região. E mais, poderá refletir na corrida eleitoral norte-americana, pois os republicanos deverão usar isso para se manter no poder, mostrando que a melhor maneira de derrotar o ‘terrorismo’ é com mais investimentos em inteligência e ações militares.
Para McCain esse deveria ser o caminho para vencer no Iraque e caçar Bin Laden. Igualmente ao caso do Sendero Luminoso, no Peru, um grupo guerrilheiro é desacreditado por promover ações militares impopulares e acaba debilitando à própria esquerda, aos sindicatos e com isso, ajudando às forças conservadoras a se consolidarem para impor um modelo monetarista.
A estratégia das FARC de negociar sua reinserção ou a liberdade de centenas de seus presos sofre um duro revés. Isso poderia gerar novas crises quando o chefe da guerrilha foi substituído pela primeira vez. As derrotas das FARC repercutirão dentro da esquerda. Enquanto um setor tira como conclusão que a violência individual e isolada conspira contra seu ideal de ir para uma revolução de massas, a maioria dos ‘socialistas’ buscará se distanciar de toda medida violenta para se aparentar como ‘moderados’, capazes de ser bons democratas.
Uribe deverá se converter no presidente mais popular da região e num símbolo a ser utilizado pelos opositores de Chávez, Correa, Morais e Ortega, para minar ao avanço da ‘maré rosa’ na América Latina. A vitória uribista, por exemplo, deverá ser usada pela oposição venezuelana para atacar Chávez nas eleições regionais ou pela boliviana, para ir encurralando o governo (que acaba de perder as eleições de Chuquisaca e está se chocando com Alan García).
* Isaac Bigio é analista internacional em Londres. - Mais Bigio em Via Fanzine: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm
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Bush na Inglaterra: Bush e Brown em Londres Encontro de líderes procura ocultar diferenças e mostrar pontos em comum. Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
O presidente dos EUA visita Brown, Tony Blair e Elizabeth II. Isto ocorre quando o Supremo Tribunal dos EUA forçou Bush a permitir que as pessoas acusadas de terrorismo em Guantanamo possam apelar em foro civil, e quando Brown tinha dificuldade em implantar a lei que vai aumentar o período de detenção policial para os suspeitos terroristas de 28 para 42 dias. Apesar de a Câmara dos Comuns ter votado a seu favor (dividindo os laboristas), a alta cúpula poderia vetá-lo.
Ambos os episódios mostram a resistência com que ambas administrações estão padecendo, entre aqueles que estão acusando-os de violar certas liberdades na sua guerra contra a Al-Qaeda. Hoje Brown pretende que a polícia de tenha acesso a todos os e-mails e chamadas telefonemas (privadas ou não) de todos os seus habitantes.
Uma pequena marcha anti-Bush foi combatida com uma dureza incomum em Londres: vários foram detidos, foi feito um muro de policiais e carros na avenida que liga a praça central ao parlamento, algo que jamais fora visto antes.
Impopular
Os republicanos norte-americanos e os laboristas britânicos inicialmente atraíram muito apoio ao invadir o Afeganistão, embora essa guerra e, sobretudo, a do Iraque, tenham ajudado a fazer com que seus governos se tornem impopulares.
Brown não pretende continuar a ser tão próximo de Bush, como foi Blair e gostaria de se retirar logo do Iraque, enquanto seu aliado lhe obriga a não anunciar uma data para a retirada. Para contenta-lo pela redução de suas tropas na Basora, Brown anunciou que aumentará seu contingente de 7800 para 8000 tropas no Afeganistão.
Os dois aliados querem evitam mostrar suas diferenças e concordam em acentuar a linha dura ante o Zimbábue e o Irã.
Em ambos os países a oposição está liderando as pesquisas e pode promover uma curiosa virada, na qual a direita perca o poder em Londres, porém ganhe em Washington e a centro-esquerda ganhe a Casa Branca, para logo ver os seus camaradas britânicos em defenestração.
* Isaac Bigio é analista internacional em Londres. - Mais Bigio em Via Fanzine: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm
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Eleições majoritárias: 'Habemus Obama' A cada vez que a maior religião do mundo (a católica) vai eleger o seu líder, se reúne um concílio de cardeais, onde, depois de várias votações secretas anuncia ‘habemus papam’. Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Os EUA, a potência mais forte, em mudança, propõe possuir a forma mais aberta e participativa para eleger o seu presidente, que não é vitalício ou plenipotenciário, senão que só pode governar por um ou duas quatriênios e sob grande controle dos poderes legislativo, judicial e mediático.
O Partido Democrata, por sua vez, pode clamar ser o mais democrático de todos os que existem no mundo, pois, nas internas para eleger a seu candidato votaram mais de 30 milhões de pessoas. Enquanto o último papa foi nomeado em abril de 2005 por apenas 115 cardeais em dois dias de deliberações fechadas, os democratas tiveram cinco meses de processos eleitorais, realizados em 56 circunscrições com datas e regulamentos diferenciados.
Muitos questionam às internas democratas por não ser muito democráticas. Isto porque esses cinco meses de inflamadas campanhas exigiram investimentos de centenas de milhões de dólares (sob o aval de grandes investidores) ou porque, ao final, pode ser que o perdedor (como hoje passa com Clinton) possa reclamar por ter conseguido mais votos diretos que o ganhador.
Hoje os democratas poderão clamar ‘habemus candidatus’, mas, Obama ainda poderia perder a presidência, mesmo que vencesse as eleições (como ocorreu com Al Gore contra Bush em 2000).
* Isaac Bigio é analista internacional em Londres. - Mais Bigio em Via Fanzine: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm
* * * Eleições majoritárias: Itália: Direita triunfa Nos últimos 55 anos a Itália teve 36 chefes de Estado. Seu sistema político sofreu instabilidades e por ter dezenas de partidos em seu congresso plenipotenciário. Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Nenhum mandato chegou ao qüinqüênio e o mais longo foi o de Berlusconi (Junho 2001-Maio 2006). Hoje ele volta ao poder encabeçando o 62º governo que teve aquele país no pós-guerra. As eleições de 13/14 de abril foram marcadas por uma guinada. O outrora maior partido comunista de Ocidente terminou por desagregar-se: sua direita dissolveu-se com os social-liberais e suas alas radicais quase desvaneceram-se do parlamento.
Entre os deputados conseguiram a presença de seis dos 26 partidos que antes havia nessa câmera. Do super multi-partidismo, a Itália passa agora a um semi-binômio entre dois novos partidos: o da Liberdade (Berlusconi) e o Democrata (mais de centro que de esquerda). Berlusconi deve governar com sua direita (os pós-fascistas de AN e os autonomistas do norte, da União Lombarda, a força que mais cresceu e que deseja federalizar a Itália).
Berlusconi tentará fazer um governo duro e estável. Tem a vantagem de que sua vitória não foi tão atenuante, como seu predecessor Prodi (que por isso, teve que se demitir) e conta com uma ampla maioria nas duas câmeras; mas sua economia está perto do zero. Ele aplicará drásticas medidas monetaristas e contra os imigrantes. Fará com que Roma se aproxime de Washington, Londres e Paris, se afastando de Berlim, Madri e Moscou, críticos de Bush e à guerra iraquiana.
As esquerdas pagaram caro por seu apoio ao “zigue-zagueante” Prodi e, com isso, ajudaram Berlusconi aparecer com uma imagem mais séria em sua oferta de garantir estabilidade, ordem e uma política liberal mais consistente.
* Isaac Bigio é analista internacional em Londres. - Mais Bigio em Via Fanzine: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm
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Encontros governamentais: Lula-Chávez e Sarkozy-Brown Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Na quarta-feira (26/03) se deram dois diferentes encontros de mandatários nos dois lados contrapostos do Atlântico. No nordeste do desse oceano se reuniram em Londres o presidente de França Nicolás Sarkozy com a rainha Elizabeth II e o premiê Gordon Brown do Reino Unido. No Atlântico ocidental sul-americano se encontraram em Recife, o presidente Hugo Chávez da Venezuela com seu homólogo brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva.
Ambos encontram se realizaram de maneira totalmente desligada entre si. No entanto, ambos têm em comum ter proposto a necessidade de acercar seus respectivos países para potencializar os seus respectivos blocos econômicos (a União Européia e o Mercosul) e por terem abordado temas ligados à energia e segurança conjuntas. Brasil e Venezuela buscam apaziguar a tensão com a Colômbia. Em Londres os governantes da França e Reino Unido lembraram de pedir que se reestruture o Conselho de Segurança de Nações Unidas para que possam ingressar como membros permanentes, o Brasil, além de Alemanha, Japão, Índia e um representante de África.
O Brasil, por sua vez, valeu-se da reunião em Recife para seguir avançando como o grande mediador e articulador de um bloco sul-americano. Lula, ao adular Chávez por ter sido o ‘grande pacificador’ que impediu que escalasse o conflito entre Equador e Venezuela com Colômbia, quis se mostrar como um artífice do apaziguamento das tensões continentais.
Lula e Chávez por pouco não se envolveram numa nova crise entre Quito e Bogotá, cuja a raiz foi a comprovação de que um equatoriano tinha sido morto no ataque contra o acampamento das FARC, ao norte do Equador em 1º março. No entanto, Chávez fez todo o possível por esfriar a possível ‘reacendida’, enquanto acusa ao ministro da Defesa colombiano, Santos, de ser o guerrilheiro de seu governo, pois ele considera a possibilidade de mandar tropas colombianas para invadir países vizinhos. Assim, ele tende a criar uma ponte para Uribe, que deseja se apresentar como mais ‘moderado’, ainda que saiba que o presidente colombiano usa uma escopeta de dois tiros.
Para esfriar o panorama, Bogotá sugeriu às FARC que liberem à doutora Ingrid Betancourt, pois seu governo estaria disposto a liberar condicionalmente centenas de prisioneiros da guerrilha. Certamente que as FARC querem mais garantias para isso, como por exemplo, uma ampliação da lista, se sentar cara a cara com Uribe e conseguir uma zona do tamanho de Bélgica. Em todo caso, agora Bogotá surge não tão intransigente e esse oferecimento, junto com a cimeira ‘pacificadora’ entre o país sul-americano maior e o mais esquerdista, buscará dissipar as pugnas com Equador.
Desde que Uribe chegou ao poder em 2002, as FARC e o ELN perderam cerca de metade de suas forças e estas guerrilhas não só retrocederam em sua influência, mas também em suas pretensões. Elas hoje se limitam a buscar uma negociação que lhes permita uma forma de entrar no sistema político oficial. Venezuela e Brasil querem lhes mostrar o caminho para uma saída similar a da América Central. O eixo Venezuela-Brasil quer pressionar a Uribe para que não volte a violar outro país e para que abra uma via de negociação com a guerrilha, enquanto busca que as FARC venha optar pela via de se ir desarmando e se acoplando à ‘democracia multi-partidaria’.
Ambos países conclamam a fortalecer ao Mercosul e a esfriar a crise colombo-equatoriana. As duas nações chegaram a acordos para fazer obras comuns em matéria de extração e distribuição de hidrocarburetos. A Venezuela quer um gasoduto até Argentina e Chávez se defende que, em outrora, o ouro negro era levado ao norte, mas que hoje deve servir para potenciar ao sul. Chávez propõe a necessidade de que os exércitos sul-americanos se organizem e que contemplem uma aliança em comum, a mesma que, eventualmente, poderia lhes levar a preparar um choque contra os EUA. Tanto ele como Lula, trabalham a possibilidade de criar um organismo internacional permanente, diferente da OEA (onde está EUA e Canadá) e ao da Comunidade Ibero-americana (onde está Espanha e Portugal) no qual estaria somente a América Latina.
Apesar do radicalismo chavista, muitos empresários em São Paulo vêem como positivo chegar a acordos comerciais com a Venezuela, cujos mercados buscam conquistar e cujos hidrocarburetos lhes são essenciais. Em diferentes cimeiras, Chávez esteve no rio Amazonas, onde ele lança longos discursos falando de Marx, revolução e socialismo. Esta é uma característica usual em todas suas viagens. É algo que, enquanto incomoda a muitos na direita, temerosos de sua fraseologia anti-imperialista e de confrontação, também é visto com receio dentro de uma esquerda dura que acha que este militar venha anular a ‘independência da classe dos trabalhadores’, para que estes, supostamente, se apazigúem e marchem depois por ele. No entanto, isso permite a Chávez aparecer como um líder e interlocutor continental dos movimentos sociais.
Por outro lado, Sarkozy, ao visitar Londres não quis fazer nenhum discurso ante nenhuma multidão ou movimento social, senão somente durante o banquete da rainha e ante todos os membros das câmeras dos lordes e dos comuns. Enquanto Sarkozy se cercou do eixo diplomático, comercial e militar, que Washington mantém com Londres, Chávez quer fazer um contrapeso a tal eixo e conta com o Brasil e eventualmente outras nações do sul.
Se Sarkozy hoje propõe que a França se distancie de sua antiga rivalidade com os EUA e reassuma todas suas funções na OTAN, envie mais tropas ao Afeganistão, até conseguir a vitória naquele país, Chávez quer o oposto. O presidente venezuelano também propõe criar um comando continental latino-americano, mas que não seja somente independente a Washington, porém, também disposto a lhe peitar. Diante do grave problema energético mundial, o Brasil busca converter-se no líder do etanol (plano que produz atritos com Caracas, que o acusa de provocar desmatamento, o que deverá encarecer os alimentos), enquanto o Reino Unido e a França firmaram acordos em sua cimeira para incentivar projetos nucleares.
A Venezuela, buscando contrastar a estes planos, oferece um grande gasoduto que una o extremo norte com o sul do subcontinente. O Brasil, enquanto isso, quer valer-se de ambos os encontros. Graças ao que teve com Venezuela, acentua sua liderança regional e consegue estabilizar a América do Sul. E, graças ao que se deu em Londres (e no qual não teve nenhuma participação), consegue um importante avanço em sua estratégia para se integrar como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
* Isaac Bigio é analista internacional em Londres. - Mais Bigio em Via Fanzine: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm
* * * Aniversário: Cinco anos da guerra do Iraque Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
No dia 20 de março de 2003, Washington, Londres e seus aliados iniciaram a II Guerra contra Hussein. Se em 1991 Bush pai quis que seu ex-aliado fosse detido por ter invadido o Kuwait, desta vez Bush filho decidiu acabar com o assunto familiar até depor ao ditador.
Com essa invasão os EUA quis se fortalecer no Afeganistão, na guerra contra Bin Laden e no Médio Oriente. No entanto, posteriormente, gerou muita violência, resistência e instabilidade no Iraque, ao mesmo tempo que permitiu que a Al Qaeda se reativasse e se expandisse globalmente, além de provocar a vitória de seus piores rivais Oriente Médio: Irã e Palestina.
Ao atacar o Iraque, Bush perdeu popularidade interna e sua diplomacia o distanciou de China e Rússia, na América Latina perdeu muita credibilidade (e a esquerda avançou). Agora, o Irã e Coréia do Norte podem se dar ao luxo de anunciar programas nucleares sem que ele se atreva a invadi-los, mas o obriga a buscar o caminho da negociação.
Bush é o último mandatário que ordenou tal guerra que continua ocupando seu cargo, ainda que, em novembro ocorrem as eleições para substituí-lo. Se os democratas ganharem a Casa Branca estes iniciariam uma gradual retirada do Iraque. Mas, se McCain conseguir com que os republicanos fiquem no poder, impulsionaria mais reforços buscando ganhar uma guerra que poderia gerar mais isolamento e desgaste econômico, moral e político para a mega-potência.
Enquanto isso, a estimativa é de que o número de mortos nesse conflito oscile entre cem mil a um milhão e isso custou à economia norte-americana entre três a cinco trilhões de dólares.
* Isaac Bigio é analista internacional em Londres. - Mais Bigio em Via Fanzine: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm
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América Central: Fidel deixa o poder em Cuba Renúncia não significa que o país deixará de sofrer embargos. Da Redação Via Fanzine Contagem-MG
Depois de 49 anos, o ditador Fidel Castro se renuncia à presidência de Cuba, deixando o poder nas mãos do irmão Raúl Castro. Durante o período em que foi mandante do país, sofreu embargo comercial por parte dos EUA e países aliados, a partir de 1962, o que veio a comprometer, sobremaneira, a economia e o progresso da ilha.
Enquanto esteve no poder viu passar 10 presidentes norte-americanos, todos eles desempenharam a política de boicote a Cuba. Em sua carta de renúncia, Fidel diz que não se sente mais apto para representar o país e, se continuasse, estaria traindo sua consciência, já que sua saúde e disposição estão comprometidas.
No entanto, nos EUA, Bush afirmou, logo em seguida, que o embargo será mantido a Cuba, não havendo ainda previsão para o término. Aos olhos do Norte, esta renúncia não muda muita coisa, no tocante a instalação da democracia em Cuba, vez que o poder continuou na família. Já a comunidade européia informa que está pronta conversar com Cuba e, possivelmente, reatar os laços políticos e diplomáticos.
No Brasil, Lula declarou que a renúncia de Fidel (que ele já esperava), representa um grande passo para consolidação democrática na América. Em seu pronunciamento, o presidente brasileiro afirmou ainda, que Castro "é o único mito vivo da humanidade".
Não se sabe ao certo, quais serão os rumos políticos que Cuba deverá seguir de agora em diante. Muitos analistas acreditam que o país deixará de ser socialista e poderá se converter ao capitalismo. Outros acreditam que, nada deverá mudar de fato, enquanto o poder não for entregue à sociedade cubana.
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América do Norte: Hussein no poder? Eleições atípicas nos EUA. Por Isaac Bigio* de Londres Para Via Fanzine Tradução: Pepe Chaves
Nos EUA foi iniciada a campanha eleitoral mais cara da história humana, além de uma das mais atípicas realizadas por aquela mega potência nacional. Pela primeira vez em 66 anos não teremos um presidente ou vice presidente que tentará se reeleger. Nunca houve antes tão boas oportunidades para uma candidatura feminina, de um negro ou de um mórmon - setores estes que jamais de postularam o cargo da vice presidência nacional.
Se nas eleições presidenciais de 1980, 84, 88, 92, 2000 e 2008 sempre teve um Bush na disputa, desta vez nenhum membro da família se apresenta (ainda que o irmão e o sobrinho do atual presidente tenham suas ambições).
Tampouco, se candidata Al Gore, o democrata que teve mais votos que George W. Bush em 2000, mas que, o colégio eleitoral não o proclamou vencedor. No partido do atual presidente, a família mais importante é a de Bill Clinton que, em 1992 se tornou o único candidato presidencial que já derrotou um Bush e hoje deseja ver sua esposa Hillary assumindo seu antigo cargo na Casa Branca.
No entanto, a vantagem inicial de Hillary vem se evaporando frente o emergente candidato Obama, ainda que não existia uma garantia de que os republicanos perderão o poder.
Um Hussein liderando a Casa Branca?
Faz cinco anos que Bush depôs Saddam Hussein, afirmando que ele não somente poderia gerar uma “mudança de regime” no Iraque, mas também nos EUA. O fato de Washington ter entrado nessa guerra e na do Afeganistão, colaborou para a queda de todos os governantes aliados de Bush em tais invasões.
Hoje nos EUA estão se fortalecendo os candidatos que propõem “mudança”. Paradoxalmente, o candidato que mais vem crescendo e enfatizando o tema mudança, é alguém com o sobrenome “Hussein”: Barack Hussein Obama.
Trata-se do primeiro candidato que é pai e padrasto muçulmano, adepto do Islam e também o primeiro negro (filho de africano) que poderia chegar à presidência de um grande país das Américas. Sua popularidade não se limita à sua origem étnica, pois ele encarna vários personagens antagônicos, do militarismo ao conservadorismo social e cristão de Bush. O “Hussein americano” avança, prometendo retirar as tropas norte-americanas do Iraque, popularizar o seguro médico social e proteger o meio ambiente.
Obama e Osama
Não somente o nome Hussein, mas também pelo apelido, alguns querem confundi-lo com “Osama”, esse é um dos percalços encontrados por Obama. Entretanto, se estas são as eleições presidenciais mais diferenciadas da historia dos EUA, Obama se tornou um de seus aspirantes mais atípicos. De todos os presidenciáveis, ele é o único que não nasceu no continente americano, nasceu no Hawai, Oceania. Seu pai nasceu no Kenia, África, onde, dizem, apoiou os guerrilheiros contra os colonizadores. Obama recebeu educação muçulmana no maior país maometano (Indonésia), onde foi criado na casa dos seus avós.
Confessa já ter experimentado drogas
Apesar de sua descendência africana ele nunca integrou o movimento negro e sempre se esforçou em se portar como um conciliador entre raças e crenças. Sua origem singular e sua forma de interagir com os assuntos em voga nos EUA o fez popular.
Igualmente a Londres, Obama propõe que Washington retire suas tropas de Bagdá para montar suas trincheiras no Afeganistão. Por outro lado, planeja negociar com a Venezuela, Síria e Irã (que não deseja atacar) e seu objetivo será isolar Bin Laden, a quem planeja bombardear. Ganha adeptos dentro das minorias, propondo regularizar a situação dos imigrantes ilegais e junto aos mais necessitados, oferecendo estender a seguridade social a todos.
Se chegasse a Casa Blanca, certamente, mudaria a imagem internacional daquela casa e, ele não deverá ser tão radical como foi Mandela quando chegou ao poder na África do Sul, no entanto, permitiria aos EUA uma melhora no seu perfil junto aos ambientalistas, muçulmanos e o Terceiro Mundo.
* Isaac Bigio é analista internacional em Londres. - Mais Bigio em Via Fanzine: www.viafanzine.jor.br/bigio.htm
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