Mundo Muçulmano:
Surgem
teorias sobre a morte de Bin Laden*
Em Abbottabad, muitos moradores afirmam
que o ataque desferido a uma mansão local era falso
e cujo objetivo, seria constranger
o Paquistão para reforçar as chances de Obama à reeleição.
Por
Trofimov Yaroslav &
Tom
Wright e Bradley Matt
THE WALL STREET JOURNAL
Tradução: Pepe Chaves
Em alguns países
islâmicos, populares manifestam profunda tristeza com a morte de Osama
Bin Laden, enquanto
alguns, desconfiados,
acreditam que ele ainda esteja vivo; outros crêem que ele já estava
morto faz alguns anos.
Em todo o mundo muçulmano, a morte de Osama bin Laden
desencadeou uma torrente de teorias conspiratórias, já que muitos
paquistaneses, afegãos e árabes se recusam crer no anúncio dos EUA de
que o fundador da Al Qaeda estaria realmente morto.
Os EUA enviaram uma equipe da Navy Seal para executar Bin
Laden na cidade paquistanesa de Abbottabad, no domingo, 1º/05, mas ainda
não divulgou as fotografias do alegado cadáver. Autoridades dos EUA
informaram que o corpo teria sido atirado ao mar, após a identidade de Bin
Laden ser confirmada por um teste de DNA.
O movimento talibã do Afeganistão, que acolheu Bin Laden e
a Al Qaeda até a invasão dos EUA em 2001, nessa terça-feira, 03/05,
desafiou o presidente Barack Obama. “Os americanos não mostraram
qualquer prova crível da morte de Osama e sua morte não foi confirmada
nem negada por fontes próximas a ele”, afirmou o Taliban na sua primeira
reação oficial ao assassinato.
Em Abbottabad, muitos moradores afirmam que o ataque
desferido a uma mansão local era falso e cujo objetivo, seria
constranger o Paquistão para reforçar as chances de Obama à reeleição.
“Eles estão apenas afirmando. Ninguém viu o corpo”, zombou
Owais Khan, um advogado local. Ele argumentou que Bin Laden nunca teria
escolhido Abbottabad como esconderijo, pois se trata de uma cidade rica,
situada a apenas 40 km da capital do Paquistão.
Haji Liaquat, que administra uma gráfica a cerca de dois
quilômetros dos aposentos de bin Laden em Abbottabad, concordou. “Não
era real que Osama estava presente ali”, insistiu. “Isso é apenas uma
encenação para mostrar como o Paquistão está protegendo Osama”.
O representante especial dos EUA para o Afeganistão e
Paquistão, Marc Grossman, teve que enfrentar perguntas céticas quanto à
veracidade da morte de Bin Laden durante a sua coletiva de imprensa, na
terça-feira, 03/05, em Islamabad. “Eu não posso responder a cada teoria
de conspiração. Você pode criar muitas teorias de conspiração, como
desejar”, disse, destacando que o governo paquistanês confirmou também a
morte de Bin Laden. “Ele está morto. E isso é muito bom”, declarou.
Paquistão, Afeganistão e o Oriente Médio, são terrenos
férteis para teorias de conspiração, especialmente, aquelas que
apresentam os EUA ou Israel como sendo os vilões. Ainda é comum ouvir no
Cairo, em Kandahar ou Karachi, que os ataques em 11 de setembro de 2001,
foram realizados pelo governo Bush, visando alcançar o domínio mundial,
numa versão alternativa do Mossad israelense.
A relutância de muitos na região em acreditar que Obama
anunciou a morte de Bin Laden deve ser vista neste contexto de forte
sentimento antiamericano, explicou Shadi Hamid, diretor de investigação
do Brookings Center, em Doha, no Catar. “Não é tanto por parte de Bin
Laden, mas sobre os EUA”, disse ele. “Os EUA, a partir de seu anúncio ao
mundo, desperta uma reação natural em muitas pessoas, que duvidam do que
eles afirmam”, disse Hamid.
No Afeganistão, muito se comparou a morte de Bin Laden à
matança de 2007, que vitimou o comandante-chefe militar dos talibãs, o
mulá Dadullah Akhund, por uma equipe das Forças de Operações Especiais
da coalizão. Na ocasião, para dissipar qualquer dúvida, o militante
baleado e morto foi rapidamente colocado em exibição para os
jornalistas.
“Quando os norteamericanos mataram mulá Dadullah as imagens
foram mostradas publicamente pelos meios de comunicação e para todos”,
afirmou um comandante do Taliban, na província afegã de Khost. “Se eles
realmente mataram Osama, por que eles não nos mostram a prova?”.
Os EUA também divulgaram a foto do cadáver de Abu Musab al
Zarqawi, o chefe da Al Qaeda no Iraque, depois de matá-lo em 2006,
durante um ataque aéreo no país.
A Casa Branca disse nessa terça-feira que as fotos do corpo
de Osama bin Laden são horríveis. Em jogo está o valor de oferecer uma
prova visual de sua morte para o mundo, contra a preocupação de que as
fotos podem ser chocantes para alguns. Mais tarde, no mesmo dia, o
diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), Leon Panetta, disse em
entrevista à rede NBC News, que os EUA finalmente liberariam uma foto do
cadáver.
Talvez, em nenhum outro lugar do mundo muçulmano as teorias
da conspiração sobre a morte de Bin Laden estejam se tornando tão
ousadas quanto no Egito, onde os boatos se espalham rapidamente junto
aos crédulos.
Mohammed Ali, um gerente de banco de 38 anos e que fala
inglês fluente, disse acreditar que Bin Laden realmente morreu há cinco
anos, e que os EUA estavam escondendo a notícia “para continuar levando
o dinheiro dos países do Golfo e para manter todo mundo com medo”.
“Há um monte de dúvidas”, ecoou Magdy Suleiman, enquanto
preparava sanduíches para uma multidão de classe média na hora do almoço
no bairro Agouza, no Cairo, nessa terça-feira. “Por que o pegaram
justamente agora?”.
Nos cafés do centro da cidade de Riyadh, terra natal de Bin
Laden, nessa terça-feira, foi repetida outra crença de longa data entre
alguns árabes, de que o terrorista nunca existiu. “Para ser honesto, eu
nunca estive convencido de que teria existido uma pessoa como Osama bin
Laden”, disse Osama al-Obeid, um banqueiro saudita.
Mesmo se os EUA liberarem as fotografias e outras provas da
morte de Bin Laden, este último grupo de teorias conspiratórias,
necessariamente, não desapareceria. “Muitas pessoas vivem em seu próprio
mundo com base na imaginação e não em fatos”, disse Hasan-Askari Rizvi,
um analista político paquistanês. “Eles não querem aceitar a realidade”,
concluiu.
*
Informações de The Wall Street Journal (EUA).
-
Colaboraram: Margaret Coker e Verão, em Riad Said, Habib Totakhil Khan
em Cabul e Paul Beckett em Nova Deli.
- Imagem: The
Washington Post.
- Tópicos
relacionados:
Nascem
as teorias da conspiração sobre morte de Bin Laden
Casa Branca divulgará foto do corpo de Bin Laden
Morte de Bin Laden: ódio, comemoração e desconfiança
Testes de DNA confirmam morte de Osama bin Laden
Foto
de Bin Laden morto é falsa, diz imprensa
Obama
fez anúncio oficial da morte de Bin Laden
* * *
Líbia:
Kadafi
faz investida para reconquistar Benghazi
Tropas de Kadafi cercam Ajdabiya, cidade
estratégica para sitiar Benghazi.*
As tropas de Muammar Kadafi conseguiram nesta terça-feira
cercar a cidade de Ajdabiya, a 160 quilômetros de Benghazi, um local
estratégico para isolar a área controlada pelos rebeldes de sua conexão
com o exterior e sitiar seu principal reduto na segunda maior cidade do
país.
O bombardeio dos aviões de Kadafi, apoiado por artilharia
lançada por navios de guerra situados na costa de Ajdabiya, permitiu que
as forças terrestres se aproximassem da cidade e a submetessem a um
intenso fogo pesado, segundo a rede "Al Jazeera".
As tropas do regime de Trípoli conseguiram alcançar alguns
bairros periféricos da cidade e já controlam sua zona oriental e
ocidental, enquanto os rebeldes recuaram para o centro urbano, segundo
um correspondente do canal de televisão.
No meio de informações contraditórias sobre a cidade, Fathi
Terbel, membro do Conselho Nacional Transitório (CNT), órgão dirigente
dos rebeldes, assegurou à Agência EFE que a cidade permanece sob seu
controle.
Terbel reconheceu que o ataque desta terça-feira das forças
de Kadafi "por terra, mar e ar" sobre Ajdabiya os pegaram "de surpresa",
por isso realizaram um "retirada tática", mas posteriormente atacaram a
retaguarda dos leais ao regime e causaram várias mortes.
O dirigente rejeitou, além disso, que as forças de Kadafi
tenham tomado o controle do enclave petroleiro de Brega, próximo a
Ajdabiya, e garantiu que os rebeldes capturaram na segunda-feira nessa
localidade dezenas de seus soldados.
Por sua parte, o segundo canal da televisão líbio "Eriyadhia"
afirmou na tarde desta terça-feira que a cidade se encontra sob controle
das forças de Kadafi e que estas estão "limpando o local de mercenários
e terroristas da Al Qaeda".
A televisão estatal assegurou, além disso, que "oficiais
livres unionistas" atacaram nesta terça-feira uma das sedes do órgão
dirigente da rebelião em Benghazi e abriram fogo com metralhadoras
causando várias mortes.
Terbel desmentiu categoricamente a informação do ataque a
Benghazi, da mesma forma que outras que falavam da chegada à segunda
cidade líbia de centenas de pessoas e rebeldes que fogem dos combates em
Ajdabiya.
O dirigente rebelde assegurou que a situação em Benghazi
era nesta terça-feira de "calma total" e afirmou que dois aviões
insurgentes bombardearam três navios de guerra de Kadafi, afundando dois
eles e alcançando outro.
Trata-se de navios mercantes convertidos por Kadafi em
navios de guerra, que lançaram artilharia sobre Ajdabiya de uma posição
próxima a suas costas, explicou.
"As forças de Kadafi dispõem de meios aéreos, terrestres e
marítimos, mas tudo o que conquistam de manhã nós retomamos pela noite",
afirmou à EFE o dirigente rebelde de Benghazi e garantiu que os mesmos
aviões que atacaram os navios frente a Ajdabiya bombardearam
posteriormente o aeroporto de Sirte, cidade natal de Kadafi.
A televisão estatal anunciou, no entanto, que as forças
leais ao regime recuperaram totalmente o controle de Brega, enclave
petroleiro próximo a Ajdabiya.
Dois batalhões das tropas leais a Kadafi avançaram nesta
terça-feira sobre Brega, enquanto aviões das forças aéreas bombardearam
posições rebeldes e postos de gasolina na estrada que liga a Ajdabiya,
segundo o correspondente nesta última cidade da "Al Jazeera", que
acrescentou que os insurgentes responderam com baterias antiaéreas.
Pelo menos um rebelde morreu e outros cinco ficaram feridos
nesses bombardeios, de acordo com a mesma fonte, que afirmou além disso
que cinco veículos civis foram atingidos nos bombardeios das primeiras
horas da manhã desta terça-feira em Ajdabiya e que todas os seus
ocupantes morreram.
O jornalista garantiu que várias ambulâncias tentaram
chegar ao lugar atacado pela aviação de Kadafi, mas não conseguiram
devido à violência e à intensidade dos bombardeios.
Além disso, assinalou que na véspera do ataque vários
aviões lançaram panfletos incentivando os habitantes de Ajdabiya a
apoiá-los e a não se unirem "aos terroristas".
"Viemos libertar vocês deles e buscaremos os ratos casa por
casa", diziam os panfletos lançados do ar.
O controle de Ajdabiya é fundamental para a evolução do
conflito, já que a cidade é ligada diretamente por estrada a Tobruk,
perto da fronteira com o Egito, o que permitiria as forças de Kadafi
cercarem os rebeldes e deixá-los bloqueados na zona ao redor de Benghazi
sem possibilidade de provisão.
* Informações da
EFE.
* * *
Líbia:
Kadafi
nega que tenha deixado o país*
Dois pilotos
desertores pedem asilo a Malta.
Ele apareceu na televisão e sentado num
automóvel declarou que continua em Trípoli.
Após promover um sangrento massacre, o líder líbio, Muammar
Kadafi, acusado de genocídio contra o seu próprio povo, apareceu na
televisão estatal durante menos de um minuto. Ele declarou que está na
capital de seu país e negou que tenha fugido para a Venezuela. As
informações são da agência AP.
Kadafi estava sentado no lugar do passageiro de um
automóvel, segurando um guarda-chuva, através da porta aberta. Há dois
dias que tem está a chover em Tripoli.
Pilotos líbios pedem asilo a Malta
Dois caças Mirage da Força Aérea da Líbia aterrissaram
nesta segunda-feira, 21/02, em Malta e, de acordo com autoridades
militares locais, os pilotos pediram asilo político, em meio a um
sangrento levante contra o regime de Muamar Kadafi, que vendo sendo
reprimido com rigor pelas forças oficiais.
Segundo fontes do governo maltês, ao chegarem ao país os
dois militares disseram que a ordem que haviam recebido era de
bombardear os manifestantes em Benghazi, segunda maior cidade da Líbia e
epicentro dos protestos contra Kadafi.
Uma outra fonte disse que os dois coronéis líbios receberam
autorização para aterrissar depois de comunicarem no ar que desejavam
pedir asilo ao país mediterrâneo. Eles decolaram de uma base em Trípoli
e voaram a baixa altitude a fim de evitar serem detectados por radar.
A polícia maltesa também está interrogando sete passageiros
que chegaram da Líbia a bordo de dois helicópteros com matrícula
francesa.
Fontes do governo disseram que os helicópteros deixaram a
Líbia sem autorização das autoridades locais, e que só um dos sete
passageiros - que afirmam ser cidadãos franceses - tinha passaporte.
* Da
Redação VF, com AP/Expresso (Portugal).
- Tópico associado:
Forças militares atacam populares na Líbia
* * *
Cairo:
Hosni
Mubarak deixa o poder
Pressionado pelo povo, Mubarak renuncia
ao poder no Egito.*
Omar Suleiman, o último vice de Mubarak.
Um dia após anunciar o "fico" em pronunciamento à TV
estatal, o presidente do Egito, Hosni Mubark, renunciou ao cargo nesta
sexta-feira. Ele estava havia 30 anos no cargo. A renúncia foi anunciada
pelo vice-presidente Omar Suleiman, que também deixou o governo.
O governo será exercido por um conselho das Forças Armadas.
Segundo uma fonte da Agência Reuters, o ministro da Defesa, Mohamed
Hussein Tantawi, vai chefiar o Conselho Militar. De acordo com a rede de
televisão Al Arabiya, Conselho Militar vai demitir o gabinete e
suspender as duas casas do Parlamento. A TV acrescentou que o Conselho
Militar vai administrar o país com o chefe da Suprema Corte
Constitucional.
Mubarak tentava uma saída honrosa, mas não resistiu à
pressão da população, há mais de duas semanas aglomerada na Praça Tahir,
no Cairo, e em diversas outras cidades do país. Relatos dão conta de que
14 milhões de egípcios saíram às ruas nesta sexta-feira exigindo a
renúncia de Mubarak.
Curiosidades sobre Mubarak
Logo após o anúncio, os milhares de manifestantes
festejaram agitando bandeiras, gritando, rindo e se abraçando. "O povo
derrubou o regime", gritava a multidão na Praça Tahrir, de acordo com
relato da agência Reuters.
Em pronunciamento na TV, Suleiman disse que o presidente
"decidiu deixar o cargo de presidente da República".
O vice acrescentou que Mubarak passou o poder ao Supremo
Conselho Militar para administrar a nação durante "as difíceis
circunstâncias que o país está atravessando".
Exército e povo: personagens de uma
libertação que durou 30 anos.
Cronologia do conflito
A onda de protestos contra o ditador egípcio Hosni Mubarak
no Egito eclodiu no dia 25 de janeiro. As manifestações que pedem o fim
da permanência do líder no poder - que já dura 30 anos - ecoavam os
protestos que haviam derrubado o líder da Tunísia duas semanas antes.
Só nos primeiros dois dias de protestos, cerca de 500
manifestantes foram presos. Segundo a ONG Human Rights Watch, 297
pessoas morreram nessas quase três semanas de conflito.
No dia 28, Mubarak demitiu todo o seu gabinete e começou a
formar um novo governo. As mudanças não aplacaram os manifestantes, que
continuaram a pedir a renúncia do presidente.
No dia primeiro de fevereiro pelo menos um milhão de
pessoas foi às ruas, em cenas nunca vistas antes na história moderna do
país, exigindo em uníssono a renúncia de Mubarak. Só na cidade do Cairo
ao menos 500.000 pessoas concentraram-se na praça central Tahrir para a
chamada "marcha do milhão", convocada pela oposição. Em Alexandria, a
segunda maior cidade do país, de 400.000 a 500.000 pessoas foram para as
ruas neste dia.
Há uma semana, Mubarak disse que gostaria de renunciar, mas
que teme o caos no país caso deixe o poder. "Estou cheio. Depois de 62
anos no serviço público, eu tive o suficiente. Quero sair", afirmou à
jornalista Christiane Amanpour, da rede norte-americana ABC.
Na última sexta-feira o oposicionista e ganhador do Prêmio
Nobel da Paz Mohamed ElBaradei disse que poderia concorrer nas eleições
presidenciais do Egito se o povo assim o pedisse, rejeitando a notícia
veiculada por um jornal austríaco de que não disputaria o cargo.
Durante a crise o governo interrompeu o acesso à internet e
o sinal de telefones celulares para tentar atrapalhar os planos dos
manifestantes.
Exército egípcio
vai suspender Parlamento e demitir gabinete
O Conselho Militar do Egito vai demitir o gabinete e
suspender as duas casas do Parlamento, informou a rede de televisão Al
Arabiya na sexta-feira.
A TV acrescentou que o Conselho Militar vai administrar o
país com o chefe da Suprema Corte Constitucional.
O comunicado do Exército deve ser divulgado ainda nesta
sexta-feira, segundo a emissora. O presidente Hosni Mubarak anunciou sua
renúncia após 30 anos no poder.
*
Informações de Yahoo! Brasil, com informações da Agência Reuters.
-
Imagens:
Reuters.
- Notícias anteriores:
Queda no Cairo -
Isaac Bigio
Mubarak frustra expectativas e se mantém no poder
Qual
será o futuro da crise egípcia? - Isaac Bigio
* * *
|