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Por Pedro Cardoso Costa*

De São Paulo-SP

Para Via Fanzine

 

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* Pedro Cardoso Costa é bacharel em Direito e colaborador de Via Fanzine

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A vida é o bem maior

 

Por determinados períodos, alguns temas tomam conta do noticiário. Há pouco tempo, duas palavras ou frases não precisam de mais detalhes para a identificação do que se fala. A “Lista” e “produzir prova contra si”. A primeira se referia à lista aos chamados “fichas-sujas”, pretensos candidatos que respondem a processo. Fora elaborada e divulgada pela Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB. A segunda referia-se, na sua maioria, ao direito dos pretensos bebuns convictos a não se submeterem ao teste do bafômetro, com amparo no princípio constitucional de não produzir prova contra si.

 

Todas as críticas à lista vinham dos candidatos e de alguns formadores de opinião. As críticas dos interessados, por mais injustas, são injustificáveis, mas compreensíveis. As dos pretensos assessores de imprensa não merecem nada mais do que desconfiança, possivelmente uma defesa prévia de interesses escusos.

 

O fato de ser processado não significa a culpa; nem a inocência. Não se justificaria a alegação de que a AMB não poderia publicar por não haver trânsito em julgado. Ora, os responsáveis pela lista repetiram várias vezes de que não estavam atribuindo aspecto valorativo aos processados. A divulgação já deveria estar ocorrendo há muito mais tempo, já que em regra geral, os processos são públicos e quem pretende defender ou representar gama da sociedade não pode pretender se esconder do seu passado. O problema são os fatos que deram origem aos processos em si, não a publicidade.

 

Antes de se discutir a produção de prova contra si como meio de impunidade aos bêbados, o debate relevante seria a aplicação de todos os meios para a preservação da vida. A lei deveria permitir a não realização do teste, mas isso corresponderia a uma confissão presumida.

 

Pela ótica dos magistrados que concedem habeas corpus preventivos aos interessados para não realizarem o teste do bafômetro, ninguém deveria ser obrigado a realizar exame de DNA para atestar a paternidade. Nada é mais prova contra si do que esse exame. Pior, a não realização do DNA autoriza o reconhecimento presumido de paternidade. Um exemplo mais comum entre os famosos, especialmente em décadas passadas, quando não era comum a uso de preservativos.

 

Pelé negou a paternidade de uma filha até a morte literalmente, mas nem por isso deixou de ser reconhecido como pai. Ou se aplica aos dois exames o mesmo peso e se obriga os potenciais embriagados assassinos à realização do exame, ou desobriga a todos de não produzir prova contra si em qualquer processo. Além disso, no exame de DNA, a paternidade de forma presumida fere o princípio constitucional da Presunção de Inocência.  Neste caso ou se produz prova contra si ou já se é previamente culpado. A lei é, e deve ser, igual para todos e em todas as situações idênticas.

 

Todos devem ser obrigados à realização do exame de DNA, por serem mais importantes o bem-estar das crianças e o direito a um pai; e ao do bafômetro, por estar acima dessa suposta violação os milhares de vidas de inocentes. Todos os outros princípios são secundários. Nada, absolutamente nada, deve ser considerado mais relevante do que a vida.

 

Pedro Cardoso Costa© - 25/65/2014

 

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Insatisfações pipocam por todo lado

 

Greve de policiais militares na Bahia; greve de policiais civis em 13 estados; de motoristas de ônibus na capital paulista; dos professores municipais paulistas, e assim, greve e manifestações Brasil afora.

 

Ninguém entende por que tantas categorias estão insatisfeitas num país onde tudo anda às mil maravilhas nas versões oficiais.

 

Por formação histórica, a sociedade brasileira, em sua grande maioria, é contra a greve e tacha os grevistas de irresponsáveis. Quem faz greve são os escravos atuais que possuem, a duras penas, o direito de manifestar suas insatisfações.

 

Mais do que contra a realização da Copa do Mundo de futebol, já há algum tempo as manifestações refletem muito mais um mal estar, uma angústia reprimida, que pode chegar até a uma aflição raivosa contra os desmandos, a falta de qualidade nos serviços públicos e até contra a linguagem contemporizadora das autoridades, totalmente dissociada da realidade.

 

A saúde pública está num verdadeiro caos, próximo ao esculacho, com a presença contante de atos de deboche e menosprezo aos pacientes. Como não tem solução, as autoridades só falam dos milhões destinados e percentuais de primeiro mundo. Ora, isso reforça que algo está muito errado quando sai dos cofres públicos dinheiro de primeiro mundo para fornecer um serviço desumano de mundo nenhum. As perguntas sem respostas são as de sempre: para onde foi o dinheiro e quem deveria fiscalizar esse percurso? Essa sangria se aplica à educação, à segurança, ao transporte público.

 

Com toda essa agitação, a imprensa chapa-branca, as autoridades e as pessoas que não utilizam esses serviços vendem a ideia maldosa de que o povo reclama fortuitamente, apenas por capricho de grupos contrários ao governo, por puro interesse político-partidário. É uma defesa simplista demais para uma situação que requer serenidade. Faltam olhar no próprio umbigo e perceberem a sujeira que fizeram com esse país. Não podem alegar desconhecimento, surpresa ou qualquer outra estratégia tola como essas.

 

Parece óbvio demais que a insatisfação transcende à onda da Copa. E nisso há outro equívoco ingênuo. Os mesmos que defendem a Copa como vitrine para mostrar o país ao mundo criticam os protestos por serem oportunistas. Eles defendem protestos nos desertos. Só os incautos defendem paralisações sem prejuízo a alguém e sem nenhuma visibilidade.

 

Recentemente, o ministro Teori Zavaski deu um exemplo dessa linguagem dissociada da realidade. Num dia mandou soltar 12 presos de uma operação da Polícia Federal, no dia seguinte determina a prisão de todos, exceto, coincidentemente, o diretor da Petrobras, o principal acusado do esquema. E rebate aos críticos dessa decisão pingue-pongue com a afirmação de que não mudou o entendimento e nem retrocedeu. Quer dizer que os argumentos e fundamentos jurídicos podem ser os mesmos para fazer ou desfazer sobre as mesmas pessoas e os mesmos fatos? Quem entendeu que responda.

 

Posição semelhante são as ameaças de punição aos grevistas de ônibus pelas autoridades paulistas. Enquanto eles ameaçam trabalhadores insatisfeitos – e com certeza punirão – continuam os caixas eletrônicos subindo aos ares em todo o estado de São Paulo.

 

É inconcebível que façam tanta ameaça de punição a trabalhadores aviltados nos seus salários e benefícios, ao mesmo tempo em que não há nenhuma resistência aos assaltantes de banco. É bom que as autoridades não repitam o menosprezo do governador Geraldo Alckmin no início das manifestações há um ano. Ao povo só resta a indignação geral e os recados estão surgindo de todas as partes. Caso as autoridades prefiram coisas dissociadas da realidade, esse desvario pode levar o país a uma convulsão social.

 

Pedro Cardoso Costa© - 26/05/2014

 

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Cadê o metrô de Salvador?

 

Para um nordestino que chegava a São Paulo nos anos oitenta nada era mais novidade do que andar por “debaixo da terra”; andar de metrô.  Com o passar do tempo deixou de ser novidade porque houve a expansão para outras cidades, inclusive no Nordeste.

 

Como terceira cidade mais populosa do Brasil, Salvador não poderia ficar de fora desse meio mais prático e rápido de transporte coletivo.

 

Então, deu-se início à construção da tão necessária obra e, como a maioria dos empreendimentos no Brasil, já se passou tanto tempo que o noticiário já varia na sua data de nascimento. Alguns citam 1997 e outros 1999. Para os “comunas” que dependem das notícias já veiculadas fica difícil saber qual a data precisa.

 

Seja uma dessas datas, já não há argumento que justifique tanta demora. É difícil mensurar quantas pessoas tiveram a ilusória imaginação de ir ao trabalho e voltar com mais conforto e rapidez.

 

Na cantilena da construção desse metrô o que mais chateia é o sumiço do noticiário a quantas andam as obras e quando – e se – enfim o metrô será entregue à população. Nenhuma pessoa de bom senso poderia sonhar que não ficasse pronta até a realização da Copa do Mundo. Ainda que o Brasil só arrume a casa para receber visitas, nem assim os gringos darão um passo de metrô. Quem não tiver carro particular nem dinheiro para táxi, desfrutará da qualidade dos ônibus coletivos da capital baiana.

 

Os vícios dos gestores repetem-se com essa demora infinita. Quem está no comando sempre responsabiliza quem passou, um a um, já se foram vários governadores e prefeitos.

 

Ouço críticas veementes aos “baderneiros” e aos black blocs, mas não vejo a mesma ênfase contra esse modelo de gestão. E reforço sempre: sou contra a destruição dos bens públicos e particulares na mesma proporção que compreendo a saturação da população com tantos desmandos na administração pública. E também contra o quebra-quebra, mas não tenho fórmula substituta de protesto pacífico capaz de produzir algum resultado.

 

Ao contrário do que apregoa a maioria “sensata”, acompanhada recentemente pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, numa entrevista, ação de fato é muito mais exercício de cidadania contra os maus políticos do que apertar tecla no dia da eleição, independentemente da escolha do eleitor. Atribuir essa importância toda ao botão de urna é o maior, o mais decantado e até histórico equívoco repassado ao povo brasileiro.

 

Tal como nas greves, não saberia apontar qual a forma de protestar que, sem algum prejuízo a outrem, trouxesse algum resultado efetivo. Assim como não tenho dúvida de que os governantes não moverão uma palha se perceberem que os bilhões de cordeirinhos iriam às ruas apenas para gritar palavras de ordem.

 

Com a palavra – e a receita de resultados – os críticos aos protestos prejudiciais. A grande maioria que se manifesta de forma raivosa contra qualquer manifestação sempre foi – e continua - omissa e passiva quanto a esse modelo de administrar, como ocorre com a construção do metrô de Salvador.

 

Pedro Cardoso Costa© - 23/02/2014

 

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Metrô age igual à Assembleia Legislativa

 

No último dia 4 de fevereiro de 2014, o Metrô de São Paulo apresentou mais um defeito na linha 3 - Vermelha, na estação Sé. Isso não é novidade alguma, já que no metrô e nos trens e nos ônibus os problemas são reiterados.

 

Ninguém esquenta a cabeça mais com os defeitos, afinal todos já nos acostumamos com eles. Agora com relação às desculpas das autoridades, a grande maioria da população não tolera mais. Elas ferem mais do que as graves consequências dos problemas com o Metrô.

 

As paradas trazem cansaço, dores nas pernas, na cabeça; vontade de fazer xixi e outras necessidades fisiológicas, sofrimento que seria amenizado se tivesse um banheiro limpo para uso. Um sofrimento menor daquele causado pelas justificativas infundadas, porque dói na alma das pessoas.

 

O secretário responsável pelo Metrô argumentou que o problema pode ter sido causado por sabotagem porque as pessoas asfixiadas apertaram um botão de alarme. Quem conhece o inferno que é o metrô lotado não poderia esperar outra atitude a não ser fazer valer a lei natural da sobrevivência, uma tentativa desesperada de continuar vivo. O óbvio para os cidadãos não o é para o governador e seus auxiliares.

 

Basearam seus argumentos porque teriam sido ouvidas "palavras de ordem", sem nenhuma outra fundamentação lógica que reforçasse essa tese. Não apresentaram nem sequer uma imagem de televisão nem de celular como indício da suspeita de sabotagem. Essa tese só teria sentido se alguns sabotadores tivessem bola de cristal para estarem no metrô certo, naquele que fosse apresentar defeito, na viagem e na estação onde apresentasse o problema, além de estarem dentro e com a porta fechada. Se um desses itens fosse alterado, não daria certo o plano dos "meliantes".

 

É fato que as pessoas não toleram e, de forma progressiva, não vão mais tolerar passivamente serviços ruins e vão reagir cada vez com maior veemência. Disso, as autoridades ainda fingem não entender. Os serviços são prestados por servidores que não possuem qualificação técnica e psicológica, não sabem informar nada com precisão e não tem um telefone, nem um plano emergencial para amenizar qualquer interrupção do metrô ou dos trens.

 

E essa reação não é maior porque o acesso do povo brasileiro à informação ainda é predominante por meio do rádio e da televisão, que não divulgou a troca da frota de veículos pela Assembléia Legislativa de São Paulo, a um custo de quase 6 milhões de reais.

 

Cabe ressaltar que alguns dos carros que seriam trocados nem sequer chegaram a ser usados. Os carros "velhos" foram comprados em 2010, modelo Vectra, ao custo total de 8,9 milhões de reais. Desistiram de trocar a frota inteira após perceberem que a maioria não tinha sequer 1.000 quilômetros rodados. Daí se estabeleceu que só deveriam ser substituídos aqueles com mais de cinco anos de uso ou com mais de 100 quilômetros rodados.

 

No modelo de governar de Geraldo Alckmin, abrir uma porta para escapar da torrefação do metrô paulistano – e poderia ser de qualquer outro transporte coletivo – é sabotagem, é ação articulada; mas o mesmo argumento não se aplica ao grupo que troca Vectras por Cruzes tendo como justificativas o poder e direito privilegiado dos diferenciados do andar de cima.

 

Caso sejam mantidas justificativas como a do governador para um caos que todo mundo conhece e para compras como fez a sua base aliada, com a tomada de consciência da população, fatalmente as consequências sociais serão muito graves em curto ou médio prazo, sem possibilidade de contenção apenas com balas e cacetadas das polícias militares. Pelo tamanho do movimento, a reiterada desculpa de que se trata de um grupo articulado de baderneiros não servirá.

 

Pedro Cardoso Costa© - 10/02/2014

 

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A hora do mensalão mineiro

 

Com a prisão dos mensaleiros, especialmente do ex-primeiro-ministro José Dirceu, o brasileiro agora tem certeza de que gente de cima vai para cadeia. O recado está dado a todos aqueles que já corromperam muito apostando na impunidade – até então com toda razão.

 

Em virtude da preocupação com as verbas de publicidade do governo federal, grande parte da mídia vem dando eco à choradeira dos advogados dos presos, perdidos com a quebra da espinha dorsal de suas habituais chicanas.

 

Há uma inquietação exacerbada de alguns setores da sociedade, especialmente de funcionários públicos comissionados, de que essa punição não passa de perseguição ao governo ou que será apenado apenas esse caso. Alegam que a corrupção grassa neste país desde que foi descoberto e que só agora houve prisão.

 

É gritantemente lógico que uma hora se faz o que deveria ter sido feito antes. Foi assim com a escravidão, vai ser assim com a manutenção do voto obrigatório, com a necessidade de reconhecimento de firma e tantas outras situações tipicamente brasileiras. Não seria diferente para frear a impunidade generalizada.

 

Esses torcedores são capazes de ignorar que sete dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal – STF foram nomeados por Lula ou por Dilma Rousseff. Se a Suprema Corte é um primor ou um covil, a responsabilidade não é de outro governo.

 

Esse raciocínio se assemelha ao de quem defendesse o direito de um ladrão não ser preso por ter sido pego no primeiro assalto a banco porque outro mais esperto ficou imune após vários assaltos. Para um petista inebriado pela mania de conspiração, não se aplica o princípio legal da individualização da pena nem a popular lógica de que cada um responde pelos seus atos.

 

Ninguém de bom-senso se pode dar por satisfeito com a punição apenas de um caso isolado. As instituições têm que funcionar para punir a todos, especialmente àquele que se aproveita da confiança e da fé pública para meter a mão exatamente no que deveria cuidar.

 

Por isso, esse julgamento será muito mais relevante se servir como marco de ruptura com a impunidade do que pela punição em si. O Ministério Público Federal e o próprio Supremo Tribunal – STF devem se equipar de tecnologia avançada para acelerar o andamento do mensalão mineiro a fim de evitar a prescrição, uma indústria que imperou até hoje em benefício do andar de cima. É bom que todos saibam que o relator é o ministro Luís Roberto Barroso, que pegou o processo num espaço exíguo de tempo, caso se confirme a possibilidade de prescrição em 2014.

 

Com certeza não deixará de ser julgado, mesmo que haja um esforço concentrado. Além disso, os futuros julgamentos precisam ser mais céleres. Ao contrário do que a maioria interessada diz, a eternidade não qualifica nenhum julgamento.

 

Assim como não podem ficar impunes as máfias do cartel no metrô do estado de São Paulo, da prefeitura da Capital/SP com a cobrança de propina às construtoras, o Carlinhos Cachoeira, a investigação da riqueza de Antonio Palocci, cuja residência, de milhões de reais, era de propriedade de um ajudante de pedreiro desempregado e muitos outros. Sem esquecer as quase duzentas ações penais contra políticos tramitando, em banho-maria, no STF, relacionadas pela revista Carta Capital.

 

O STF também deve redobrar o cuidado para evitar a concessão de habeas corpus de legalidade duvidosa e de resultados catastróficos. Gilmar Mendes tem no seu currículo a soltura do banqueiro Daniel Dantas e de Roger Abdelmassih, condenado a quase 300 anos de prisão, ficando livre como um passarinho para continuar estuprando as suas pacientes. Após essas prisões, toda a Justiça brasileira estará na berlinda e terá que ser célere e implacável com a impunidade, sob pena de ter dado um tiro no próprio pé e ficar ainda mais desacreditada.

 

Pedro Cardoso Costa© - 23/11/2013

 

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Profissionais de invasões

 

Notícias recentes nos jornais afirmavam que houve um aumento exponencial nas invasões de prédios vazios e terrenos baldios na capital paulista. Mas a questão é o porquê de tantas invasões, com pouca ou nenhuma resistência do poder público. Ninguém sabe ao certo como se desencadeia a organização de grupos para invadir terrenos e prédios. Ninguém duvida que há uma negligência absurda da prefeitura em evitar esses abusos.

 

Problema maior é que a grande maioria dos invasores já se tornou especialista nessa matéria e não é formada de pessoas sem-teto, denominação dada aos invasores. Longe de precisar efetivamente de uma moradia.

 

Muitos têm o objetivo meramente especulativo. Pertencem à classe média. Numa invasão na região do Grajaú, bairro da zona sul da capital paulista, a maioria tem casa própria e carro, outros possuem imóveis alugados e tem invasor com carro acima de cem mil reais. Vários cercam mais de um imóvel para revenda. É assim em todas. Não estão nem aí se ocupam um terreno de quem paga aluguel e não tem nenhuma condição de adquirir uma casa de outra maneira. Essa é a ética e solidariedade daqueles que mais gritam contra a injustiça da falta de moradia. Não associa que, por causa de sua ganância, vidas podem ser ceifadas nas próximas chuvas de verão.

 

Ninguém desconhece que há muito tempo a falta de moradia é um problema crônico no Brasil inteiro. Esse problema precisa ser encarado para beneficiar quem precisa de um lar e não permitir que se torne uma indústria de favorecimento aos espertos e desonestos, protegidos por servidores omissos e corruptos. O Poder Público é o responsável pela segurança geral dos imóveis dos cidadãos. E ainda que inicialmente a vigilância caiba ao proprietário, toda construção tem que ter o aval da prefeitura quanto à sua regularidade. Nesse momento seria a hora de agir e evitar as construções irregulares, que tanto matam nesse país de muitos governos, de muitas regras e de nenhuma eficiência.

 

Há outro agravante: quando há desapropriação, geralmente a Justiça obriga o Poder Público a indenizar os donos pelo material utilizado nas construções, exatamente sob o pretexto de que só construíram em razão da negligência dos entes estatais. Isso gera uma despesa triplicada. A primeira é exatamente o pagamento de indenização a quem construiu onde não deveria. A segunda são as despesas com a retirada dos moradores, derrubada das edificações, acondicionamento e transporte dos entulhos. E por último, todo valor gasto com a readequação do imóvel para a finalidade pretendida, já que os terrenos são perfurados para a construção de fossa e da própria estrutura das casas.

 

Seria preciso criar um cadastro de todos aqueles comprovadamente sem-teto, com os números dos respectivos CPF e título de eleitor para evitar que uma mesma pessoa seja favorecida mais de uma vez. O beneficiado teria seu nome mantido no banco de dados, com bloqueio automático caso viesse tentar um novo cadastro, pelo menos até que todos os demais recebessem suas moradias ou se desligassem voluntariamente.

 

Hoje, acobertada pela ineficiência ou desídia das prefeituras, há uma verdadeira institucionalização de invasores de áreas para vender terrenos - a maioria até mais de um - e depois invadir novamente e fazer tudo de novo, tornando a invasão uma profissão bastante lucrativa.

 

Pedro Cardoso Costa© - 21/10/2013

 

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Reduzir, reaproveitar, reciclar

 

Em 2006, esse título deveria ser acrescido de mais um “R” para significar o quadrado mais famoso da seleção brasileira: Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos e Robinho. Definitivamente, a relevância dos “Rs” aqui tem o objetivo de tentar salvar o planeta, e não apenas o Brasil que, comprovadamente, não foi salvo pelo seu quarteto mágico.

 

Virou moda falar em reciclagem como alternativa ao aumento de consumo e de produção. Em alguns países essa medida já está num estágio bastante avançado, grupo do qual o Brasil não está incluído. Faz-se necessário a inclusão imediata para que haja solução para o lixo e tudo que está relacionado a ele.

 

Mas antes mesmo de se praticar a reciclagem, há dois procedimentos necessários, que não dependem dos cidadãos em geral, mas das autoridades e das empresas. O primeiro “R” seria para reduzir a produção de bens descartáveis, uma exclusividade da indústria de produção, que não tem correspondido nem pelas empresas brasileiras nem pelas multinacionais. Exemplos: o uso de uma toalha de pano em vez de papel, copos de vidro ou de louça para substituir os de plásticos, processos e documentos de papel deveriam dar lugar aos eletrônicos.

 

Já o segundo “R” preventivo refere-se ao “reaproveitamento” das coisas materiais. De início, a resistência à aplicação desse “R” vem sob a alegação de segurança quanto à higiene. Nesse ponto o Brasil ainda engatinha. E, como de hábito, culpa-se logo o fato de não ter uma lei especificando como deve ser reaproveitado isso ou aquilo. Deveria acontecer uma mudança de hábito antes da lei. Casas e apartamentos deveriam ser construídos com estrutura para reuso de água de pias e de máquinas de lavar, como já se faz em países desenvolvidos.

 

Fecha-se o ciclo de “R” com o da “reciclagem” que se confunde naturalmente com os demais. Num determinado momento os “Rs” anteriores se esgotam, aí está a fase da reciclagem, praticada de forma parcial pela população. Faltam políticas públicas efetivas para permitir aos cidadãos a entrega do material reciclado. Os munícipes deveriam exigir de forma incisiva que cada prefeitura coloque em prática a reciclagem em toda a cidade, com a retirada do material na residência. Na cidade de Cerquilho, em São Paulo, a coleta de material reciclado ocorre em dias determinados e noutros os orgânicos. Se o morador misturar ou inverter os resíduos, ele recebe uma multa e não é retirado enquanto não for separado.

 

O conjunto dos verbos reduzir, reutilizar e reciclar deve ser praticado concomitantemente; um não exclui os outros. Eles se complementam e todos são necessários para consolidar a cidadania e a construção de um planeta melhor. Mas para isso acontecer precisa de uma atuação integrada entre pessoas, empresas, ONGs e governos.

 

Pedro Cardoso Costa© - 11/08/2013

 

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Mídia será alvo das manifestações

 

Alguns segmentos sociais precisam entrar em consonância com a sociedade brasileira. Um desses é a mídia brasileira, em especial os canais de televisão aberta.

 

Na cobertura das manifestações era claro o viés para desmoralizá-las, quando tratava de forma generalizada como vândalos, baderneiros e depredadores, cujos adjetivos visavam enfraquecer os movimentos. Outro posicionamento que deixava isso muito claro era responsabilizarem os manifestantes pelo início dos incidentes contra a Polícia Militar.

 

Essa cobertura tendenciosa continua com as tais respostas das autoridades às reivindicações. As matérias são sempre narrativas, sem qualquer análise técnica para comprovar a viabilidade dos delírios das autoridades.

 

Quando o Supremo Tribunal Federal – STF mandou prender o deputado Natan Donadon, ninguém se dignou a questionar o relator ou presidente da Corte por que a prisão só ocorreu três anos depois da condenação e logo após a insurgência nacional. Além disso, nenhuma pesquisa é feita para averiguar os muitos processos contra parlamentares que continuam mofando nos escaninhos dos tribunais brasileiros.

 

Mesmo conclamando por melhor qualidade na saúde e educação e maior segurança, a resposta federal girou em torno da reforma política. Todos aceitaram como se fosse algo sério e não disseram uma vírgula no que isso melhoraria nessas áreas. Também não se compreende por qual motivo não há uma menção à extinção do voto obrigatório. Não há questionamento sobre o fato das medidas só trazerem resultados para prazo longínquo, quando a necessidade é para ontem. Nada, absolutamente nada, está sendo feito para melhorar essas três maiores reivindicações imediatamente. O resultado mais próximo seria o trabalho compulsório por dois anos para os alunos de medicina que ingressarem a partir de 2015 nas faculdades. Ou seja, no mínimo teria início em seis anos. Até lá milhares já morreram sem atendimento nas filas.

 

A cereja desse bolo de embromação foi a aprovação de uma emenda constitucional para a retirada do segundo suplente de senador. Não há registro na história de que um segundo suplente tenha ocupada a vaga de senador, já que para isso teria que saírem o titular e o primeiro suplente. Mas essa enganação conseguiu até manchete de primeira página do jornal O Estado de S. Paulo sobre a retirada do segundo suplente, que, numa análise séria, traz zero de benefício à população.

 

Muitos apresentadores de televisão instigam a violência policial. José Luiz Datena, um verdadeiro camaleão nas suas posições, lidera com a frase matreira de que a “cobra vai fumar”, numa alusão explícita à truculência policial. Quando vier a revanche, eles não vão se lembrar do telhado de vidro. Assim como os políticos, a mídia, liderada pela Rede Globo, está atravessada na garganta da sociedade brasileira. Nas manifestações anteriores muitos jornalistas já foram hostilizados, e se a mídia não encontrar o rumo certo de fazer jornalismo, a “cobra vai fumar” nos próximos protestos.

 

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Primavera Brasileira

 

O movimento por um país mais administrativamente decente recebe crítica por sua principal virtude, o fato de não ter um dono. Ele não se originou de partidos, nem ONGs, nem grupos religiosos nem de radicais. Seus fundadores são estudantes, para não dizer do povo, de todos os brasileiros insatisfeitos. Se seguissem alguma instituição seriam tachados de alienados, quando não seguem são chamados de perdidos, sem foco e sem ideal. Os críticos não conseguem entender que a importância está no fato de a participação ser justa, seja iniciado espontaneamente ou por alguma organização.

 

Outra parte grandiosa critica o fato de os insurgentes não andarem de ônibus.  Mesmo o jornalista Roberto Pompeu de Toledo entrou na onda ao sugerir que esses deveriam pleitear passagem gratuita de avião. Por essa ótica eu nunca deveriam ter me manifestado contra a violência doméstica, especialmente o espancamento de mulheres pelos companheiros, já que eu nunca agredi minha esposa.

 

Antes da manifestação histórica do último dia 17 de junho, grande mídia chamava genericamente a todo o movimento de baderneiro, além da veemência dela e das autoridades na defesa da truculência policial, como condição inevitável. Sempre era a polícia quem reagia. Não levavam em conta a possibilidade de infiltração por quem tem interesse em desmoralizar e tirar a legitimidade do movimento.

 

Depois do ocorrido a miopia acabou e reconheceram que os baderneiros são uma minoria.  Além disso, ninguém, absolutamente ninguém, disse que a responsabilidade de prendê-los é da polícia. E aí cabe reconhecer que não é fácil no meio daquela multidão e também tem que ter o apoio claro das lideranças, dos manifestantes de bem, inclusive com força suficiente para reprimirem os baderneiros, é necessário repetir que eles devem ser responsabilizados civil e penalmente pelos seus atos, uma redundância, mas que serve como reforço.

 

De forma nenhuma se justifica quebra-quebra. Mas só não é compreensível que uma agência bancária quebrada pelos oportunistas repercuta muito mais do que as centenas que voam aos ares todos os dias pelas dinamites da bandidagem. E, por maiores que sejam os prejuízos, é uma gota d’água no oceano da corrupção que, de tão arraigada na nossa cultura, as pessoas defendem a diminuição e não em acabar.

 

Nesse afã de criticar, a maioria se esquece de que o nome correto é criminoso para quem quebra ou danifica bens alheios, sejam públicos ou particulares, ou agride outras pessoas.

 

Outra crítica dissimulada é diminuir a importância do aumento da passagem. É caro qualquer valor cobrado por serviços de qualidade idêntica à dos transportes públicos no Brasil. Quem utiliza trem, metrô ou ônibus em horário de pico sabe que é indecente e desumano. Ainda que fosse gratuito teria que melhorar, pois como está ofende a dignidade da pessoa humana.

 

Todos já sabiam que qualquer fato poderia ser a gota d’água. Foram os 20 centavos.  O movimento cresceu de centenas para milhares numa semana. É preciso definir uma data nacional de manifestações simultâneas em todas as capitais e grandes cidades. Daqui por diante, assim como nas greves, seria importante manter em estado de manifestação, até que se inicie um processo de melhorias nos serviços públicos e privados.

 

Ferrenhos analistas dizem que as autoridades não sabem como responder aos pleitos por não ter um foco. Em nenhuma hipótese essa ausência de metas é da responsabilidade dos manifestantes. Já que os governos não sabem, aqui vai uma sugestão: bastaria melhorar acima de mil por cento a qualidade do ensino público básico, a saúde, a segurança, os transportes coletivos, as estradas, o saneamento básico, a limpeza dos rios, o acesso à cultura. Só isso. O verdadeiro motivo de tamanha oposição é não saber conviver com reivindicações e isso é bem mais grave do que os baderneiros.

 

 

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O merecido bolo

 

Não resta dúvida de que a sociedade brasileira tem demonstrado uma insatisfação total diante da péssima prestação dos serviços públicos. Por enquanto, os protestos têm se limitado aos gritos. De tanta gritaria, alguns slogans viraram meros clichês.

 

Um desses são os gritos por justiça... justiça... justiça... Todos os dias a televisão brasileira transmite programas mostrando pessoas numa grita geral diante de mais um corpo de um jovem assassinado pela polícia, por ex-companheiro do tráfico ou do crime em geral. Essas reclamações não têm trazido resultados práticos. Eis o ponto crucial para um debate.

 

Existe uma cobrança generalizada por mais politização dos brasileiros e se alega a pouca participação nas ações dos gestores públicos.

 

Mas são esses mesmos que não criticam um vidro quebrado, um carro virado, um rolo de papel atirado nos endeusados políticos. Certa vez, o governador Mário Covas tentou passar por cima do professorado em greve e foi atingido por um ovo na testa. Repetiu-se a argumentação de época do risco à democracia.

 

Claro que em sã consciência ninguém é favorável à depredação de bens públicos. Entretanto, os chamados formadores de opinião precisam apontar uma forma de reivindicação adequada e que traga resultados concretos.

 

Por exemplo, precisam dizer como se deve fazer um protesto contra o aumento abusivo no preço das passagens de ônibus para forçar a diminuição do preço. Quebrar não deve, impedir a saída das garagens não pode, pois atrapalharia a vida de quem não tem nada a ver. Tudo bem: basta os críticos dizerem o que deve ser feito.

 

São totalmente ignorados os emails, os telefonemas, os desabafos em redes sociais e as denominadas manifestações pacíficas. A prova recente disso são as eleições dos presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, da Comissão dos Direitos Humanos e das Minorias da Câmara dos Deputados.

 

Os palpiteiros literalmente agem como todo brasileiro comum. Eles se colocam acima ou fora do problema ao atribuir solução sempre como dever do outro. Há que se ter a coragem de defender algumas medidas drásticas nos embates reivindicatórios. Por mais erros que cometam, a opinião pública tem que definir de qual lado está. Defender participação sem consequências é contraditório e sociologicamente insustentável.

 

Como tento praticar as ideias que defendo, certa vez fui convidado para falar sobre cidadania e a participação política.

 

Pedi aos organizadores que fizessem dois bolos. Um de chocolate, com cerejas na cobertura, o outro de fubá, bem sem doce, propositalmente horrível. E comecei a falar de tratamento igualitário, de participação das pessoas para que os políticos melhorassem a condição social da população. Sempre que faço qualquer palestra, sugiro que as perguntas sejam feitas na hora da dúvida para saírem mais contextualizadas – e não no fim, como a maioria exige.

 

Com os demais componentes da mesa, começamos a comer o bolo de chocolate, e a plateia o de fubá. Em poucos minutos, um cidadão indagou por que a diferença de tratamento, se eu pregava exatamente em sentido contrário.

 

Respondi que o objetivo seria aquele questionamento. Expliquei que assim são as políticas públicas no Brasil. Enquanto eu não corresse o risco de perder o bolo de chocolate, eu jamais melhoraria o bolo deles. Apenas melhoraria o deles, se não houvesse risco de perda, mas somente igualaria se houvesse ameaça de perder tudo. Eu resistira enquanto pudesse e usaria todas as armas para manter minha mordomia. Já a população só chegaria a igualdade se me vencesse. E nós estamos no plano físico, e o Estado é a prova inconteste de que, em última instância, a força física é quem predomina. Cabe aos formadores de opinião mencionar como e até onde empregá-la. Outro discurso é teoria dissimulada com o objetivo deliberado de manter cada um comendo o bolo que merece.

 

*  *  *

 

O Supremo ‘venezuelizou’

 

Poder falar: isso não tem preço. Graças a essa possibilidade é que posso dizer que respeito, do ponto de vista apenas subjetivo a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a possibilidade de a Câmara votar os vetos como quiser, mas discordo totalmente dessa posição e acho que apenas se acovarda diante da complexidade das consequências da decisão. Isso no caso de alguns ministros, quanto a Antonio Dias Toffolli e Ricardo Lewandowiski, por que suas escolhas falam por si.

 

Voltando aos vetos. A ministra Carmen Lúcia alegou a não interferência entre os Poderes. Perdão, ministra. O Poder Judiciário tem exatamente a função precípua de “interferir” nos outros. Parece-me que é pacífico que fica a cargo da Suprema Corte a observância ao estrito cumprimento da Constituição Federal por todos os Poderes, inclusive daquele em que está inserida.

 

Além disso, não está em discussão a tripartição nem a independência dos poderes. Discute-se a desobediência à ordem constitucional, e essa salta aos olhos, como gosta de mencionar o ministro Gilmar Mendes.

 

Se não for assim, os ministros têm a obrigação de dizer para que serve o prazo de 30 para os vetos serem votados e a disposição que diz que se esse prazo for extrapolado, as demais matérias, sem exceção, ficam sobrestadas. Para rememorar: a validade das leis no Brasil não é a partir das decisões judiciais, mesmo que seja da Suprema Corte. E que são válidos os atos que não contrarie as leis.

 

Não há que se falar numa interposição, como se a Suprema Corte, de livre e espontânea vontade, invadisse a Câmara, o Senado ou outro órgão qualquer; nem sobre um Poder. Mas quando se está em julgamento, parece óbvio ululante que a demanda judicial, por si, já caracteriza a possibilidade de uma interferência, em caso de uma decisão de mérito. Ao se pleitear, presumidamente, já há uma busca última de alguém corrigir um erro para se fazer o que é justo, o que é certo legal ou constitucionalmente.

 

Com esses posicionamentos, fica muito claro, que a pretexto da não interposição, os deputados e senadores podem fazer o que bem entender, pois as normas legais, incluindo a Constituição Originária, não tem valor jurídico algum da porta para dentro da Câmara e do Senado brasileiros. Donde se conclui que os deuses congressistas estão acima das leis; que dá no mesmo afirmar que não são todos que precisam cumprir a Constituição.

 

Piora a situação o fato de os meios de comunicação não contra-argumentarem, de os especialistas famosos se manifestarem, em razão da repercussão que trariam com suas posições favoráveis ou não. Todos silenciam.

 

Conclusão: a Constituição diz que todos são iguais em direitos e obrigações. Todos. Estabelece que as diferenças do que prevê deve estar Nela. Expressa que os vetos devem ser votados em 30 dias. Tá explícito. Também diz que se não forem votados nesse prazo, todas, todinhas, sem exceção, as matérias ficam sobrestadas, paradas, até que os vetos sejam votados. Ela diz que o Supremo é o responsável pelo seu cumprimento, por todos, sem exceção.

 

O Supremo Tribunal Federal diz que não. Com juízes dando lição jurídica aos colegas discordantes, como o ex-advogado do Partido dos Trabalhadores, que não passou para juiz singular, mas se tornou ministro do Supremo Tribunal Federal. Esse comentário serve apenas como vingança, já que o defendi contra esse argumento, por entender possível a pessoa evoluir e se capacitar.

 

E eu, somente bacharel em direito, com fundamento no direito de livre manifestação do pensamento, digo a todos, com exceção aos juízes, presumidamente conhecedores das regras federais, que o Poder Judiciário tem como função precípua interferir em todos os Poderes, mesmo que seja com o gosto de jiló ou de fel do ministro Ayres Britto. Claro, que com as suas decisões!

 

Ia me esquecendo: nossa Suprema Corte superou a da Venezuela na decisão que empossou um presidente num leito hospitalar, de onde talvez não saia.

 

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Golpes oficiais

 

O chamado jeitinho brasileiro tornou-se sinônimo de expertise do nosso povo ao longo do tempo. Já foi muito enaltecido, cantado em verso e prosa. É universal entre as camadas sociais. Seu significado é ser contrário à forma correta de praticar algum ato.

 

Têm algumas condutas tanto mais reiteradas quanto negadas. Quem quer passar no primeiro exame para tirar uma habilitação para dirigir sabe muito bem do que se está falando. Isso vem de muito longe. Em agosto de 1995 a revista Veja São Paulo trouxe na capa a compra de uma carta por 200 reais. A reportagem apontava que a repórter não sabia dirigir. Ela cometera faltas propositais que seriam suficientes para reprovação de quatro candidatos, mas foi aprovada, além de o instrutor ter feito praticamente tudo por ela para evitar mais erros. Assim funciona o Brasil oficial. Quando se paga por fora, vale tudo, mas acontece; quando não, busca-se pelo em ovo e a coisa não anda.

 

“Limpar” pontos da carteira de habilitação era um negócio tão explícito que faixas tomavam conta de toda a cidade de São Paulo. A lei Cidade Limpa ajudou a diminuir, mas vez outra aparece alguns anúncios. Cada lugar tem o modo próprio dos seus golpes oficializados.

 

No desfile das escolas de samba no Anhembi é de doer a omissão dos órgãos oficiais. Primeiro, se proíbe entrar com comida e água. Lá dentro, um cachorro quente, apenas com pão, salsicha e alguns grãos de milho custa 7,00 reais. Quando permitem entrar com uma garrafa d’água, que custa 1,50 fora, os controladores da entrada retiram a tampinha “para evitar que atirem na pista”. Lá dentro se consegue as garrafas lacradas com as mesmas tampinhas ao custo de 5,00 reais.

 

Outro exemplo de golpe corriqueiro é a proibição de tirar fotos com as máquinas próprias em festa de formatura. Nem mesmo contratar um fotógrafo do seu gosto é permitido. É o verdadeiro golpe casado.

 

No caso dos desfiles, o espaço é público, jorra dinheiro público para as escolas e o evento se torna uma mistura que ninguém sabe onde termina o público nem onde começa o privado.  Isso serve para não identificar responsáveis com clareza quando precisar, como no caso da boate Kiss, em Santa Maria/RS.

 

Fiscalizar talvez seja a função mais essencial da administração pública. Nela, a omissão é a regra e a corrupção grassa país afora. Os preços deveriam ser tabelados dentro dos sambódromos ou de quaisquer eventos públicos para evitar os abusos, que começa com o preço dos ingressos. Em São Paulo custou de 80 a 120 reais nas arquibancadas, mesmo com a derrama de dinheiro público para as escolas.

 

Com relação às formaturas, cada pessoa poderia ser livre para levar sua máquina ou seu fotógrafo. O argumento de que o espaço não poderia comportar tanta gente não passa de desculpa, afinal, a maioria iria apenas levar suas máquinas e “revelar”  quando quisesse ou pudesse. De novo, caberia uma fiscalização sobre o preço abusivo das fotos mais valiosas do mundo.

 

Esse funcionamento “casado”, formando uma verdadeira teia de aranha, com abuso nos preços, ocorre também nas casas de shows, buffet, prestação de serviços de TV, internet e outros. Muitos são verdadeiras cadeias particulares, mas todas deveriam ser fiscalizadas, além de muitos emaranhados desses pertencerem ao próprio poder público. E o pior, nesses eventos um questionamento é rechaçado com ameaças e não se tem a quem recorrer. Como sempre, o cidadão fica apeado no meio deste misto de ganância particular e negligência pública.

 

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