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Especial - Caso Dyátlov

 

Ural do Norte, Rússia: – 54 anos depois:

'Não vá lá': O misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov

Esta história misteriosa se passou em 1959, no Ural do Norte, na Rússia. O ocorrido impressionou

as mentes de milhões de pessoas e continua a atormentar pelo seu mistério insolúvel.

 

'O que silencia a Montanha dos Mortos'

(continuação) – Parte 3/4

 

Por Natália Dyakonova*

De Moscou/Rússia

Para Via Fanzine

15/02/2013

  

O Passo Dyátlov.

Leia também:

Nota do editor: 'Não vá lá: a aventura final'

'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov - Parte 1/4

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Os ziguezagues da investigação: costureira tia Niûra inocenta os mansi

  

No entanto, a investigação prosseguiu.

 

Os primeiros suspeitos chegaram a ser os caçadores das famílias mansi, que moravam nos arredores. Havia rumores de que os turistas supostamente poderiam ter violado certas fronteiras sagradas para os mansi, entrando no território proibido. Todos os mansi nos arredores foram interrogados nos primeiros dias da investigação, alguns até foram detidos por Vassili Tempálov, o promotor de Ivdel, sem que o juiz de instrução soubesse disso. Foi também Tempálov quem interrogou aos moradores locais, perguntando-lhes se os mansi poderiam ter assassinado os turistas.

 

Os mansi, tendo ao fundo as suas tradicionais tendas.

 

Mas a população local não acreditava que os mansi poderiam ser culpados.

 

Fragmento do depoimento de Mikhail Mokrúshin, presidente do conselho rural da vila de Burmantovo:

 

Eu não penso em que os mansi atacaram e mataram os turistas. Eu vivo na vila de Burmantovo a partir de 1945 e não houve nenhum caso em que eles atacassem a um russo, e mesmo não ouvi qualquer ameaça da sua parte, embora eu tirava-lhes seus filhos quase por força, para estudarem na escola ou para serem hospitalizados. Os mansi são adotados com frequência como guias pelos geólogos, e jamais houve má opinião deles. Eu sei que a pedra de oração mansi fica nas nascentes do rio Vijay, e não nas nascentes do Lozva”.

 

Fragmento do depoimento de Ivan Uvárov, diretor do museu de Ivdel:

 

Eu conheço o povo mansi, seu modo de vida, há 50 anos já... Eu sei que os mansi têm a sua montanha de oração, conheço-a e estive nela. Seu nome é Yalpyn Ner, que traduzido para o russo significa ‘Montanha de Oração’.

 

Esta montanha, segundo examinei pelo mapa, está localizada a cerca de 40 quilômetros ao sul da montanha, onde pereceram os turistas. Considero errados os rumores de que os mansi atacaram os turistas pelo fato destes tentarem se aproximar da montanha de oração: assim estão pensando e falando as pessoas que não conhecem a vida e os costumes dos mansi.

 

Eu sei que, caso qualquer representante dos povos mansi tivesse a culpa pela morte dos nove turistas, então nenhum mansi chegaria a participar das buscas destes. No entanto, eu soube que três mansi participaram das buscas aos turistas.

 

Também sei que muitos russos, homens e mulheres, visitaram a montanha de oração, e jamais lhes passou nada de ruim; algumas vezes até foram acompanhados dos mansi. Eu, pessoalmente, não admito a ideia de que os mansi tenham atacado os turistas por causa de seus preconceitos religiosos, ou por outros motivos. Como regra geral, a atitude dos mansi para com os russos é muito boa”.

 

Fragmento do depoimento de Ivan Páshin, guarda-florestal:

 

O monte, perto do qual foram encontrados os turistas, não é sagrado para os povos mansi, sendo que estes têm tais lugares muito longe dessa montanha, ao longo do rio Vijay. Os mansi não poderiam atacar os turistas, pelo contrário, conhecendo os seus costumes, seria possível sugerir que eles poderiam até prestar ajuda aos russos. Houve casos quando os mansi levavam consigo pessoas desviadas nessas paragens, criando condições de vida para elas com o oferecimento da sua comida”.

 

Além do mais, não houve qualquer prova contra os mansi: na tenda, ficaram intactas uma grande soma de dinheiro, os víveres e o álcool, que é um produto altamente valorizado na taiga.

 

Tampouco acreditou na culpa dos mansi o juiz de instrução Vladímir Korotáyev, que estava investigando o caso durante os três primeiros dias. A tenda cortada foi um dos fatores de acusação de assalto aos turistas. Mas logo depois, no escritório de Korotáyev, ocorreu um caso curioso, dando uma direção diferente a toda a investigação.

 

Eis o que lembra o ex-juiz de instrução (na época, com apenas 22 anos de idade):

 

Foi-me dado o comando, dois dias antes, para ‘chegar imediatamente a Sverdlovsk para apresentar o relatório à Urákov, procurador-adjunto da RSFSR [República Soviética Federativa Socialista da Rússia, na época, principal parte integrante da URSS, hoje, Federação Russa]. Então, chamou-me Klínov, o promotor [da Óblast de Sverdlovsk]: ‘Volodya! Vem em uniforme!’. Eu disse: ‘Pois, ainda não costurei’. Nessa altura, apenas recebi o título de legista subalterno. ‘Vem imediatamente para o procurador-adjunto, e de acordo com a forma!’. Bem, então, cobrei atrevimento e chamei para o Bytkombinat [serviço de usos domésticos], o diretor me conhecia... Eu digo: ‘Por favor, envie-me uma costureira, eu estou disposto a pagar-lhe de uma vez no escritório’.

 

Então, ela veio, e eu já tinha a tenda [do grupo de Dyátlov] posta no meu escritório. Estava estirada, como eu tinha um escritório na milícia [posto da polícia soviética] (...), constituindo assim um escritório enorme, e a tenda foi estirada lá...

 

 

A tenda do grupo, estirada no escritório de Korotáyev.

 

Ao chegar a costureira, tia Niûra, eu penso: ‘Que tal eu incluir a tia Niûra entre os testemunhos do exame da tenda?’. No entanto, já estou disposto, todos estão dispostos a pensar que a tenda foi cortada por fora... A tia Niûra olha e diz: ‘Vladímir Ivânovitch, pois, todos os cortes foram feitos do lado de dentro. Eu costuro com este tecido já ao longo de 30 anos (...), sendo que entendo disso’”.

 

Assim foi como uma simples costureira, a tia Niûra, mudou o rumo da investigação e salvou os mansi das acusações. 

 

Korotáyev com os mansi.

 

A tenda foi então enviada para uma perícia oficial realizada em Sverdlovsk, de 3 a 16 de abril. Os seus resultados foram os seguintes:

 

Conclusão

 

Na tenda turística do grupo de Dyátlov, no declive direito do tecido que forma o telhado, há três danificações de aproximadamente 32, 89 e 42 cm (assinalados condicionalmente com números 1, 2, 3). Surgiram como resultado de impactos de uma arma afiada (faca), o que significa que são cortes.

 

Todos esses cortes foram feitos a partir do interior da tenda.

 

Perita, colaboradora científica senior G. Tchúrkina”.

 

Lauda com o exame da tenda.

 

Como dizia posteriormente Guenriêtta Tchúrkina, eles poderiam ter apresentado uma análise muito mais detalhada dos cortes e o instrumento, com que estes foram feitos, mas deles foi exigida apenas uma coisa: descobrir, qual era o lado em que a tenda foi cortada. Em geral, a investigação pode ser cobrada pelo fato de estar resolvendo apenas duas tarefas principais assinadas pelas autoridades: encontrar os turistas e descobrir se houve a presença do elemento criminal nas mortes. Não foi realizada a tarefa de analisar a situação estranha e as causas do perecimento dos turistas. Antes, ocorreu o contrário. Vladímir Korotáyev, no mesmo início da investigação, após tomar conhecimento sobre certas “bolas de fogo” misteriosas, que os mansi tinham avistado no lugar nos dias do perecimento do grupo de Dyátlov e, até recebeu deles um desenho destas “bolas”, começou a recopilar mais evidências do referido fenômeno. Entretanto, os seus chefes rapidamente o fizeram parar, aconselhando-lhe, pelo telefone, a não se mover naquela direção.

 

Quanto aos mansi, todos os que se encontravam sob prisão foram liberados. Alguns dos caçadores indígenas participaram, posteriormente, das buscas de uma forma plenamente oficial, cobrando salário.

 

Mas a grande pergunta se faz: o que forçou os membros do grupo de Dyátlov a saltar para fora da tenda? – e sempre falta a resposta.

 

Onde estão os outros quatro?

 

As buscas aos corpos dos últimos quatro turistas demoraram por dois meses inteiros. Ao longo de março e abril, os socorristas, alinhados em fila e armados com longas sondas, estavam percorrendo, metodicamente, setor por setor. A neve estava até os joelhos, às vezes, até a cintura. Em cada metro quadrado, eles cravavam a sonda por cinco ou seis vezes.

 

Os socorristas com neve até a cintura.

 

Às vezes, a sonda não afundava em seu comprimento inteiro, tocando alguma coisa. Surgia então a esperança; mas, escavando a neve nestes lugares, os socorristas encontravam apenas um tronco ou uma pedra.

 

As difíceis buscas numa imensidão gelada.

 

Os socorristas seguem em uma fila espessa.

 

Começaram a surgir versões de que os quatro últimos teriam conseguido abandonar o lugar, indo para algum outro lado, mas onde teriam que ser buscados? A mais provável localização seria perto do labáz, mas este estava intacto.

 

Os socorristas estavam cansados do trabalho monótono e ineficaz, como também de viver em uma tenda na floresta coberta de neve. Tornou-se claro que era preciso esperar o descongelamento da neve, e em abril, perto de Kholat Syakhyl, permaneceu apenas um pequeno grupo de buscadores.

 

Este seguinte episódio extraordinário contribuiu também para uma drástica redução no número das equipes de resgate.

 

Em 31 de março, às 04:00 da manhã, o estudante do UPI V. Meshcheryakov, que estava de plantão naquela noite, deu o alarme, fazendo se levantar a todos. A partir de sul-leste e direitamente para a direção deles, movia-se no céu um grande anel de fogo. O objeto esteve se movendo lentamente durante 20 minutos. Depois, se dirigiu para trás da serra vizinha, surgindo com isso, a partir do meio desse “anel”, uma “estrela”, que logo começou a cair, separando-se do tal anel.

 

Mescheryakov lembra o ocorrido:

 

“Eu não senti medo algum. Marquei o tempo e comecei a observar cuidadosamente o objeto à medida que se estava aproximando, já que a trajetória do voo era de aproximação. Quando passou a serra, ficou perfeitamente visível. Era um anel da cor de fumaça, como uma espécie de gás. Esse gás permanecia sem alterar os seus limites e como se estivesse oscilando, cintilando. As estrelas no fundo do objeto inicialmente desapareciam, mas, depois, tornaram-se visíveis. Parecia que o anel era ora transparente, ora oco. Eu disse em uma voz calma para a escuridão da tenda: ‘Se alguém quiser olhar para esse ‘papão’, saiam’. Eu pensava que todos estivessem adormecidos, mas o grupo pulou imediatamente na ‘rua’.

 

Uma estrelinha brilhante no centro do anel, que se movia com ele, de repente, começou a descer lentamente para abaixo, sem alterar o brilho e o tamanho. Quando o anel veio para a encosta da montanha, a estrelinha já estava perto da sua borda inferior. Logo, o objeto desapareceu atrás da encosta mais próxima, e nós ainda ficamos de pé, como a esperar por algo mais.

 

Passaram cerca de um ou dois minutos, e então nos pareceu que, atrás das montanhas aonde se escondeu o anel, brilhou algo como uma luz de solda elétrica, de modo que se destacaram os contornos da serra. Não chegamos a ouvir nenhum som.

 

O voo inteiro do anel durou 22 minutos. Na opinião geral, a distância entre nós e objeto no ponto mais próximo não era mais que de três a cinco quilômetros.

 

Do sonho, já nem se falava! Caso a direção do movimento do anel tivesse desviado alguns graus, como estávamos demonstrando uns aos outros, então, já poderia ter coberto tanto a nós, como o ex-acampamento do grupo de Dyátlov na encosta! Tínhamos certeza de que aquela era, precisamente, a solução para o perecimento dos nossos companheiros.

 

Na manhã, enviamos um radiograma, descrevendo o estranho objeto. A resposta não veio de imediato, mas apenas no dia seguinte, alegando que eles compreendiam que nós, por assim dizer, estávamos cansados e por isso, começando-nos a falhar a mente.

 

Enviamos um segundo radiograma, desta vez, seco, lacônico, no estilo militar. Logo, apesar do vento nas montanhas, veio um helicóptero, carregando rapidamente a todos, e uma hora depois já estávamos sentados no aeroporto de Ivdel. Ainda voltávamos a si, depois de uma descida quase vertical de uma altura de 400 metros; como resultado desta, alguns começaram a sangrar pelos ouvidos.

 

Troca da equipe de busca.

 

Lá, um dos líderes da expedição de busca veio até nós e francamente aconselhou a guardar silêncio sobre tudo. Eu levei esse conselho como uma ordem e, pela primeira vez em tantos anos, apresento esta história no papel, somente agora...”.

 

No final de abril, a neve começou a desaparecer gradualmente. Perto do cedro, aos olhares dos socorristas apareceram coisas curiosas: tocos cortados de píceas e abetos novos, cujos raminhos estendiam-se em fileira desde o cedro para o barranco, indicando algum tipo de trilha.

 

Na manhã de 5 de maio, o cão do caçador mansi Kúrikov encontrou a 50 metros para o sudoeste do cedro, precisamente onde foram cortados os abetos novos, a metade de uma calça esportiva preta de algodão, que se encontrava numa profundidade de 10 centímetros sob a neve. Lá, foi também encontrada a metade esquerda de um suéter feminino de lã marrom clara. Segundo foi estabelecido, o suéter pertencia a Lyudmila Dubínina. O coronel Gueorgui Ortyukov, chefe das operações de busca, decidiu prosseguir a escavação do fosso a 10 metros para o sudoeste do abeto cortado.

 

Trapo encontrado pelo cão de busca.

 

Radiogramas de coronel Ortyukov para Sverdlovsk:

 

5 de maio:

 

Às 18:40, durante a escavação do fosso, no fundo do riacho corrente foi encontrado um cadáver em suéter cinza, cuja escavação ainda continua. Os trabalhos têm de ser realizados na água. Eu estou indo para o trabalho e peço-lhes preparar para amanhã o voo de helicóptero a fim de trazer para aqui os representantes da promotoria e instrução às 09:00 horas. Alguma pergunta? Ortyukov”.

 

Este corpo era o de Lyudmila Dubínina.

 

O corpo de Lyudmila Dubínina foi encontrado no riacho.

 

6 de maio:

 

Eu decidi continuar a escavação deste fosso, embora seja muito difícil, já que a neve está muito firme. Peço ordem para nos enviar seis pás saparadoras de engenharia muito sólidas, com embocaduras muito resistentes e duas picaretas. Suponho que os mortos encontram-se nas proximidades das escavações. Serão requeridos soldados fisicamente fortes e resistentes, o que eu estou pedindo para ser advertido aos comandantes. Às 17:00 saímos para as escavações. Peço para comunicar a Nevólin [o radioperador] as suas sugestões e orientações para o meu desempenho. Ortyukov”.

 

A suposição do coronel Ortyukov estava correta: os corpos dos perecidos Kolevátov, Zolotaryov e Thibeaux-Brignoles realmente estavam perto do corpo de Dubínina. O espetáculo que se abriu aos olhos dos socorristas era simplesmente terrível. Todos os quatro cadáveres estavam perto um do outro, a 50 metros do cedro, debaixo de uma camada de quatro metros da neve dura, no fundo do barranco, através do qual corria um riacho incongelável.

 

Os corpos de Nikolai Thibeaux-Brignoles, Semyon Zolotaryov

e Aleksandr Kolevátov, no riacho.

 

Retirar os corpos era muito difícil, tanto fisicamente, como moralmente. Gueorgui Ortyukov animava a todos com o seu exemplo pessoal.

  

O coronel Ortyukov e os socorristas retiram os corpos.

 

 

Os corpos de Dubínina e Thibeaux-Brignoles, retirados do riacho.

 

 

Os corpos de Kolevátov e Zolotaryov, retirados do riacho.

 

Perto dos corpos encontrados, foi achado um revestimento feito a partir daquelas mesmas píceas e abetos novos, cujos raminhos tinham sido expostos debaixo da neve na área desde o cedro até o barranco. Sobre o revestimento, estavam postas as peças de roupas, como se preparadas para o assentamento de quatro pessoas: “suéter de lã pura sem mangas, de cor cinza, de produção chinesa; calças quentes melhoradas de malha, cardadas no lado esquerdo, de cor marrom, os elásticos superior e inferior das calças estão rasgados; suéter quente de lã, de cor marrom, com fio lilás; a perna direita das calças foram inicialmente encontradas (...)”. (do radiograma de Ortyukov).

 

O revestimento no barranco.

 

Estava emergindo a imagem da tragédia: os últimos quatro estiveram preparando, de acordo com todas as regras da invernação turística, um revestimento para se sentar na neve, escondendo-se no barranco daquele misterioso perigo, que estaria ameaçando-os. A julgar pelo fato de que tinham sido preparados apenas quatro assentos, eles foram os últimos vivos e sabiam sobre o perecimento dos demais companheiros.

 

O barranco: 1 - lugar onde foram achados os corpos; 2 - lugar do revestimento.

 

Era preciso levar os corpos, embalados em sacos de lona, para Ivdel, para que seja realizada a autópsia. Mas então surgiu um problema: as tripulações dos helicópteros recusaram-se a levá-los a bordo sem caixões de zinco. Nessa altura, já estavam espalhados vários rumores sobre a morte dos turistas, inclusive, uma versão da contaminação radioativa. Os pilotos realmente tinham medo de levar aquela carga a bordo, alegando as instruções correspondentes a tais casos. Ortyukov queixou-se para o centro, sendo que os caixões de zinco logo foram enviados.

 

As buscas terminaram, e as sondas já não mais são necessárias.

 

Segunda perícia médico-legal: um choque

 

A perícia médico-legal dos últimos quatro cadáveres foi realizada pelo mesmo perito, Borís Vozrozhdiônny, em 9 de maio.

 

Borís Vozrozhdiônny.

 

Os resultados desta perícia deixaram estupefatos a todos: os traumas eram muito graves e de um tipo totalmente diferente, em comparação com os primeiros mortos. A leitura de tais materiais não é uma experiência muito agradável, mas remonta uma imagem fidedigna do estado das coisas. Das inúmeras páginas dos laudos, vamos extrair apenas os detalhes mais importantes.

 

Nikolai Thibeaux-Brignoles: ele e Zolotaryov estavam vestidos melhor do que o resto, particularmente, Thibeaux estava até mesmo calçado com válenqui (botas altas de feltro), e em seu bolso, foram encontradas as luvas; isso sugere que os dois homens, Thibeaux e Zolotaryov, encontravam-se fora da tenda no momento em que os outros começaram a se trocar de roupa no seu interior. Aparentemente, também pertenciam a eles as duas fileiras de pegadas à parte das outras, que foram encontradas inicialmente.

 

Thibeaux-Brignoles usava um gorrinho tricotado, um capacete de pele, uma camisa de malha, um suéter de lã, um casaco de pele, dois pares de calças, as meias e os válenqui. Na sua mão esquerda, havia um relógio esportivo, indicando 8:14, e um relógio “Pobéda” (‘Vitória’), mostrando 8:39.

 

O exame encontrou: na ausência de lesões externas, Thibeaux tinha uma terrível fratura deprimida do osso temporal, de 3 x 7 centímetros; congestão no músculo temporal direito; fratura multi-estilhaçada, transitando para a fenda do crânio na região superciliar do osso frontal e da outra parte, na região da sela túrcica.

 

Esquema do trauma no crânio de Thibeaux-Brignoles.

 

Conclusão: “(...) a sua morte resultou de uma fratura fechada, multi-estilhaçada, deprimida, na região da calvária e da base do crânio, com congestão abundante debaixo das meninges e da substância cerebral, havida a ação de baixa temperatura ambiental. A morte foi violenta”.

 

Da conversa do juiz de instrução Lev Ivanov com o perito Borís Vozrozhdiônny:

 

Pergunta: Da ação de que força poderia Thibeaux obter esse tipo de lesões?

 

Resposta: No parecer, é indicado que as lesões na cabeça de Thibeaux poderiam ser o resultado de um empurrão, queda ou arrojamento do corpo. Eu não acredito que Thibeaux poderia receber essas lesões, caindo da altura da sua estatura, ou seja, que ele escorregou e bateu a cabeça. A fratura ampla, deprimida, multi-estilhaçada e muito profunda [da calvária e da base do crânio] pode ser o resultado do arrojamento por um carro movendo-se em alta velocidade, ou de outro acidente de trânsito. Tal trauma poderia ter sido ocasionado, caso Thibeaux fosse atingido por uma rajada de vento forte, com a posterior queda e golpe na cabeça contra as rochas, gelo, etc.

 

Pergunta: É possível presumir que Thibeaux teria sido golpeado por uma pedra que estava na mão de um homem?

 

Resposta: Neste caso, seriam lesionados os tecidos moles, mas isso não foi verificado”.

 

Lyudmila Dubínina: usava dois suéteres, uma camisa cowboy de mangas compridas, roupa interior, meias, dois pares de calças esportivas de algodão; não tinha calçado: uma perna foi envolta em metade das calças, que tinham sido cortadas do corpo de Krivoníschenko, a outra perna, em pedaço do suéter queimado.

 

O exame externo revelou o seguinte: a pele do rosto era da cor amarelo marrom; falta de tecidos moles na região de arcadas superciliares, intercílio, e a região têmporo-malar esquerda; na região do osso parietal esquerdo, há uma lesão tecidual de 4 x 4 centímetros; faltam os globos oculares; as cartilagens do nariz estão achatadas, os ossos do dorso do nariz, intactos; falta de tecidos moles do lábio superior no lado direito; na cavidade bocal, falta a língua; falta o diafragma da boca e da língua. A borda superior do osso hióide está exposta; mobilidade anormal dos cornos do osso hióide e da cartilagem tireóide. Na coxa esquerda, há uma equimose de 10 x 5 centímetros, as manchas cadavéricas localizam-se nas superfícies traseira e lateral do tronco e dos membros da perecida.

 

O exame interno revelou múltiplas fraturas bilaterais de costelas. No lado direito do corpo da perecida foram quebradas a 2ª, 3ª, 4ª e 5ª costelas em linhas média clavicular e axilar média. No lado esquerdo, foram quebradas a 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 7ª costelas, o que provocou congestões consideráveis na cavidade torácica; uma costela quebrada lesou o coração, sendo apenas esse único trauma suficiente já para causar a morte. Após o traumatismo, Dubínina poderia ter vivido 10-20 minutos aproximadamente.

 

Traumas na caixa torácica de Lyuda Dubínina.

 

Como também revelou o exame, Dubínina, igualmente a Zina Kolmogórova, era virgem.

 

Conclusão: “(...) a morte de Dubínina foi causada por uma extensiva congestão no ventrículo direito do coração, múltipla fratura bilateral das costelas, abundante congestão interna na cavidade torácica.

 

As lesões indicadas poderiam ter surgido como resultado da influência de uma grande força, que causou um grave trauma fechado, fatal, da caixa torácica de Dubínina. Além disso, as lesões causadas em vida são precisamente o resultado da influência de uma grande força com a posterior queda, empurrão ou contusão na região da caixa torácica de Dubínina. (...) A morte de Dubínina foi violenta”.

 

Simplificando, os globos oculares foram removidos (até mesmo os rastos da retina não foram encontrados pelo perito, caso contrário ele teria indicado isso), e a língua, juntamente com o diafragma da boca, foram simplesmente arrancadas. Tal conclusão é obtida, se você prestar atenção à “mobilidade anormal” dos cornos do osso hióide, nos quais se fixa a língua; ou seja, estes cornos foram quebrados.

 

Também participou da autópsia a perita Guenriêtta Tchúrkina, que já tinha examinado anteriormente a tenda cortada. Segundo ela, “Eu estava presente também durante a perícia médica dos cadáveres, que foi realizada por Borís Vozrozhdiônny. Lembro-me bem quando, ao despojá-los das suas roupas e pendurar estas nas cordas, notamos imediatamente que essas roupas tinham uma estranha coloração violeta clara, embora fossem de uma variedade de cores. Perguntei à Borís: ‘Você não acha que as roupas foram tratadas com alguma coisa?’ Ele concordou.

 

Quando se descobriu que Dubínina não tinha a língua, fomos surpreendidos ainda mais. ‘Onde esta poderia estar?’, perguntei, novamente. Mas Borís encolheu os ombros. Pareceu-me que ele estava deprimido e até com medo...”.

 

De fato, havia algo com que se assustar: quem poderia extrair de uma pessoa viva (e todos os ferimentos foram reconhecidamente feitas enquanto em vida) a sua língua, juntamente com o diafragma da boca, sem utilizar qualquer instrumento? E para quê?

 

Semyon Zolotaryov: ele foi encontrado praticamente nas mesmas roupas, nas quais andou em esquis, ou seja, ele ainda não havia trocado de roupa no “momento X”. Usava dois chapéus, de tricô e de pele, dois pares de calças de esqui e por cima, um macacão de lona, uma camisa, dois suéters, um colete de pele, uma jaqueta de esqui; os seus pés estavam calçados em búrqui (botas de feltro) acolchoados. Na mão esquerda estava uma bússola, e no pescoço, uma câmera fotográfica, pendurada na correia.

 

Os exames externos e internos mostraram: falta de tecidos moles na região da sobrancelha esquerda de 7 x 6 centímetros, o osso estava exposto; órbitas vazias, falta dos globos oculares (também removidos completamente); na parte direita da nuca há uma ferida de 8 x 6 centímetros, com a exposição do osso; fratura de 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e 6ª costelas à direita, pela linha paraesternal e linha axilar média, com congestão nos músculos intercostais adjacentes; na roupa interior, rastos da defecação.

 

Traumas de Semyon Zolotaryov. Todos os órgãos da sua caixa torácica, sob a influência de alguma força desconhecida,

foram deslocados para a cavidade abdominal. Nas fotos tomadas no necrotério, que não publicamos por razões éticas,

nota-se que o corpo de Zolotaryov tinha a forma de uma pêra.

 

Conclusão: a morte de Zolotaryov “foi o resultado de fratura múltipla de costelas no lado direito, com congestão interna na cavidade pleural, havida a ação de baixa temperatura ambiental. As referidas fraturas múltiplas de costelas de Zolotaryov, com a presença de congestão na cavidade pleural, foram ocasionadas em vida e são o resultado da influência de uma grande força sobre a região da caixa torácica do Zolotaryov no momento da sua queda, pressão ou arrojamento”.

 

Pergunta do juiz de instrução Lev Ivanov:

 

Como o senhor pode explicar a origem das lesões de Dubínina e Zolotaryov: estas podem ser unificadas com uma única causa?

 

Resposta do perito Borís Vozrozhdiônny:

 

Eu julgo que a natureza das lesões de Dubínina e Zolotaryov, a saber, a fratura múltipla de costelas (bilateral e simétrica no caso de Dubínina, unilateral no caso de Zolotaryov), como também a congestão no músculo cardíaco (tanto no caso de Dubínina, como no de Zolotaryov), com a congestão nas cavidades pleurais, mostram que essas lesões foram feitas em vida, sendo o resultado da influência de uma grande força, aproximadamente tal como a que foi empregada contra Thibeaux. As lesões indicadas... assemelham-se muito ao trauma causado por uma onda de explosão”.

 

Um detalhe estranho: no ato da autópsia não há menção alguma sobre a língua de Zolotaryov. Todos os laudos têm registros sobre o estado da língua do perecido, mas não aqui. Com isso, está anotado que “a boca está amplamente aberta” (como também no caso de Dubínina, segundo vê-se na foto do necrotério). Será que também aqui não haveria a língua? E a investigação, assustada, tendo indicações de tirar obrigatoriamente as conclusões sobre a morte por congelamento, decidira deixar de adicionar detalhes inexplicáveis? Deste modo, o perito simplesmente “esqueceu de mencionar”, isso é tudo.

 

Aleksandr Kolevátov: estava bem vestido, usava uma camiseta, uma camisa esportiva, uma camisa quente, dois suéters e uma jaqueta de esqui. Na manga esquerda da jaqueta havia um buraco com bordas queimadas, de 25 x 12 centímetros, e rasgões na manga direita, de 8-7 centímetros. A parte inferior do corpo também estava bem protegida: cuecas, calças de esqui, calças-macacão de lona. Nos seus pés, havia três pares de meias de algodão, e sobre estas, meias de lã, queimadas em alguns lugares; não estava calçado, nem usava chapéu.

 

O exame revelou: mobilidade incomum das cartilagens do nariz (quebradas?); o pescoço, deformado na região da cartilagem tireóide; atrás da aurícula direita, há uma ferida de forma incerta, de 3 x 1,5 centímetros, penetrante até o processo mastóide do osso temporal; na bochecha direita, há um defeito dos tecidos moles, medindo 4 x 5,5 centímetros, da forma oval irregular, chegando até o osso do maxilar inferior.

 

Conclusão: “(...) A sua morte resultou da influência de baixa temperatura. As lesões na região da cabeça, encontradas no corpo de Kolevátov, representando defeitos de tecidos moles, são alterações post-mortem do cadáver, que permaneceu na água durante o tempo imediatamente anterior à sua descoberta. A morte de Kolevátov foi violenta”.

 

Nesta conclusão, surpreende o seguinte: a ferida penetrante na região da orelha direita, aparentemente, não é tomada em consideração, no entanto, precisamente esta poderia ser a causa da perda de consciência e o subsequente congelamento, sobretudo, considerando o pescoço deformado e o nariz lesado... Tampouco foram observados os sinais das partes congeladas do corpo.

 

Outra surpresa é que nos laudos não se faz menção alguma ao fato do aparecimento de uma estranha coloração violeta clara sobre a totalidade das roupas. Possivelmente, Vozrozhdiônny comunicou essa informação à Ivanov verbalmente, porque caso contrário, não se pode explicar o fato de o juiz de instrução ter decidido de repente enviar as roupas dos perecidos a um exame radiológico.

 

Como resultado de medições dosimétricas de substratos sólidos das roupas, a carga máxima foi detectada em um suéter: 9900 desintegrações por minuto, a partir da área de 150 centímetros quadrados. Outros ‘substratos’ têm uma carga significativamente menor. A lavagem experimental das roupas mostra que a contaminação pode ser removida, o percentual da limpeza varia de 30 a 60 por cento.

 

No processo da determinação do tipo de radiação, foi estabelecido que a atividade ocorreu devido às partículas beta. As partículas alfa e partículas gama não foram detectadas.

 

A falta de equipamento e condições apropriadas no laboratório não permitiram realizar a análise radioquímica para determinar a estrutura química da fonte de radiação e a energia desta”.

 

A conclusão radiologista não esclarece, mas remonta uma confusão adicional. A presença de radiação “é causada não pelo fluxo de nêutrons e a radioatividade induzida, mas pelas partículas radioativas...”. Em outras palavras, as roupas foram contaminadas por poeira radioativa. De onde surgiu? Posteriormente, os laudos de exame radiológico desapareceram do inquérito por muito tempo.

 

Voltando ao perito Borís Vozrozhdiônny, vamos dizer que ele se lembrava dos nomes de todos os turistas até 30 anos após os acontecimentos de 1959. Mesmo antes de sua morte, ele não revelou tudo o que sabia e, talvez, ocultasse sobre estas autópsias. A lei de “não-divulgação da informação” era estrita e é claro, que ele assinou os papeis correspondentes sobre a preservação do sigilo.

 

Algo

 

Então, todos os turistas, ou melhor, os seus corpos, foram encontrados. Mas para a investigação, como para o restante dos membros dos eventos, ainda eram nada claras as circunstâncias das suas mortes. Ainda não há resposta a duas questões fundamentais: 1) Por que os turistas deixaram a tenda em pânico?; 2) Por que não voltaram a ela, se a tenda sempre permaneceu no seu local, sem nenhum traço de qualquer invasão estranha?

 

Vamo-nos pensar nisso também.

 

Que imagem do incidente emerge em base a todas as descobertas feitas durante a investigação? Tentemos raciocinar.

 

Os turistas foram obrigados a parar na encosta da montanha Kholat Syakhyl por causa do mau tempo, pouca visibilidade e vento forte. O promotor criminal Lev Ivanov, com base nas últimas fotografias feitas pelo grupo, definiu o tempo de início da instalação da tenda como às 17 horas, devido à natureza do filme, a extensão da luz, etc. Mas é possível afirmar com alto grau de certeza que isso teria ocorrido no mais tardar às quatro horas da tarde. Por quê?

 

Primeiro, o cálculo feito não leva em conta as particularidades da extensão da luz nas montanhas. Olhando para o gráfico do nascer e o pôr do sol e da lua naquele dia, e naquele local, teremos:

 

Coordenadas: 61°45'1.35"N 59°27'43.59"E. (o Passo Dyátlov).

Fuso Horário: GMT +5:00

 

Domingo, 01 de fevereiro de 1959:

Crepúsculo astronômico: 06:53

Crepúsculo civil: 08:42

Nascer do sol: 09:35 azimute 128

Pôr do sol: 16:58 azimute 232

Crepúsculo civil: 17:52

Crepúsculo astronômico: 19:42

 

Segunda-feira, 02 de fevereiro de 1959:

Nascer da lua: 04:25, azimute 128, completude 37%

Pôr da lua: 11:53, azimute 230, completude 33%

 

Isso significa, que em 1º de fevereiro o sol se pôs completamente às 16:58, já estava escuro às 17:52, e às 19:42, veio a noite escura, sem lua, sendo que esta nasceria somente às 04:25. No entanto, na foto da instalação da tenda ainda se vê bastante claridade.

 

Em segundo lugar, nas entradas dos diários, há referência ao fato de que o grupo estava se movendo de 1,5 a dois quilômetros por hora, sob mau tempo e condições pesadas. Naquele dia, eles saíram entre 14:30 e 15:00 horas, rompendo cerca de dois quilômetros apenas, ou seja, eles caminharam por cerca de uma hora: logicamente, não poderiam gastar duas horas em 1800 metros. Então, quando eles decidiram instalar a tenda, eram por volta de 16 horas, respectivamente. A escavação do buraco para a tenda, a instalação desta e a montagem do acampamento tomariam não menos que uma hora. Ocorre que por volta das 17 horas todo o grupo já teria se acomodado na tenda, podendo começar a se trocar de roupa, preparar-se para o jantar e escrever o jornal humorístico.

 

Dois do grupo, Thibeaux e Zolotaryov, obviamente encontravam-se fora da tenda, a julgar pelo fato de que ambos estavam praticamente vestidos e calçados. Eles saíram, provavelmente, por necessidades naturais, levando a lanterninha (portanto, estava escurecendo, ou já estava escuro), a qual, posteriormente, seria encontrada em cima da tenda. Naquele momento, os membros do grupo dentro da tenda estavam se trocando de roupa, sendo que uns estavam mais vestidos e outros menos, mas todos já tinham tido tempo de tirar o calçado.

 

Em um dado momento, os dois de fora vêm “Algo” interessante, incomum e decidem capturá-lo sem falta no filme fotográfico. Rapidamente, informam para a tenda sobre esse “Algo” avistado, os de dentro passam imediatamente a câmera à Zolotaryov (como seria esclarecido posteriormente, em meio da confusão foi-lhe dada a câmera de outra pessoa). Já não mais deixaria essa câmera até o momento da sua morte e seria encontrado com ela. Uma outra câmera foi encontrada de fora, em cima da tenda, ao lado da lanterninha; disso, há registro no ato do capitão Aleksei Tchernyshôv (vice-chefe das operações de busca). A lanterninha poderia ser necessária para a iluminação da câmera no momento do seu ajuste, já que não existiam então as câmeras automáticas.

 

Os outros membros do grupo também urgentemente tiram as suas câmeras; Krivoníschenko teve tempo até para instalar a sua em um tripé e até mesmo inserir um filtro de luz. Geralmente, as fotos são tomadas a partir do tripé à noite, quando o tempo da exposição aumenta. Mas, por que usar um filtro naquelas condições de escuridão, ou pelo menos, de um profundo crepúsculo? Provavelmente, eles estariam filmando algo incrivelmente brilhante.

 

Então, os eventos começaram a se desenvolver muito rapidamente e de forma muito ameaçadora. Todos os aparelhos fotográficos, incluindo aquele que estava no tripé, foram atirados na tenda de qualquer jeito, sendo encontrados depois pelos socorristas Slobtsov e Sharávin diretamente em cima do resto das coisas, misturados aleatoriamente com o calçado e os biscoitos esparramados. Este fato confirma a idéia de que a última coisa da qual se ocuparam os turistas na tenda no momento anterior ao pânico, era a fotografia. O filtro de luz foi quebrado.

 

O grupo percebeu de alguma forma que estaria correndo risco mortal se ficasse na tenda. Mas os turistas, por algum motivo, não deixam a tenda através da entrada, senão começam a cortar freneticamente a superfície lateral. Praticamente, é possível dizer com precisão do minuto quando isso aconteceu: na mão de Ígor Dyátlov, havia um relógio quebrado, muito provavelmente, deixou de funcionar durante esse pânico e marcava 17:31.

 

As pessoas conseguem sair da tenda e por alguns minutos permanecem a 20 metros dela, aparentemente, pisando ora num pé, ora noutro, como se o grupo estivesse à espera de todos os membros, antes de iniciar a descida (haviam marcas de tais pisadas). Durante esses minutos, deixam cair parte das coisas que conseguiram agarrar: calçado, chapéus, luvas, camisa cowboy de Dyátlov com as meias e os chinelos envoltos nela. Em seguida, eles propositadamente, sem parar e sem cair (não há sinais de caídas) caminham todos juntamente para baixo da encosta. Primeiro, aparecem pegadas de sete pessoas, logo, somam-se a estas, pegadas de duas pessoas mais.

 

Fragmento do depoimento de capitão Aleksei Tchernyshôv:

 

A encosta representava uma baixa irregular, atravessada transversalmente por algumas linhas de pedras, indo paralelamente.

 

A partir da tenda, a 30-40 metros, foram encontradas algumas claras e bem visíveis pegadas de pessoas. Estendiam-se em fileiras paralelas, próximas uma da outra, como se as pessoas caminhassem, segurando as mãos. As fileiras de pegadas pareciam como se estivessem estendidas em duas direções: contamos 6 ou 7 pares de pegadas a partir da tenda para o vale, e à esquerda deles, cerca de 20 metros, iam ainda mais dois pares de pegadas. Depois, essas pegadas (2 e 7 pares) uniram-se após uns 30 ou 40 metros, e não mais se separavam”.

 

Aparentemente, ao se aproximar o perigo, Thibeaux e Zolotaryov fugiram para alguma distância, e depois, se juntaram aos companheiros. O grupo não estava indo apenas para baixo, longe da tenda. Eles caminhavam descalços e mal vestidos, por cerca de um quilômetro e meio, buscando a floresta, por ser possível se esconder entre as árvores. Caminhar não era fácil, a neve chegava até os joelhos, e debaixo da neve, encontrava-se frequentemente o kurúmnik, isto é, pedras de vários tamanhos, formando uns “fluxos” de pedras. Este caminho tomou-lhes de 45 a 60 minutos.

 

Os dyatlovtsy desceram do monte para este lugar.

 

As pegadas do grupo na encosta da "Montanha dos Mortos".

 

Assim, atingindo a floresta, todo o grupo parou sob o cedro. Imagine a situação: choque, frio atroz, eles, desarmados, sozinhos frente a alguma ameaça muito grande e com grande probabilidade de se congelar até a morte. Como mostrou o exame pericial, apenas dois membros do grupo tinham fósforos naquele momento: Kolevátov e Slobodín. A primeira coisa da qual certamente se ocuparam, foi fazer a fogueira com ramos de abeto, como descobriram os socorristas. Não foi fácil: os galhos não são fáceis de pegar fogo, é preciso de papel. Eles arrancavam pedaços de roupas e, posteriormente, foram encontrados tais pedaços carbonizados. Um detalhe importante: a fogueira foi armada atrás do cedro, sem que pudesse ser vista do lado da tenda. Consequentemente, o perigo ainda se encontrava lá, eles tentaram passar despercebidos, sendo que o fogo não serviu de farol para aqueles que começaram a se arrastar até a tenda...

 

A fogueira estava ardendo cerca de uma hora e meia, porque os ramos de 8 centímetros de espessura consumiram-se à metade.

 

Certamente, eles discutiram rapidamente a situação, calculando as possibilidades, e foi adotada a decisão de se dividir em três grupos pequenos. O primeiro grupo estava composto por Doroshênko e Krivoníschenko, eles deviam permanecer perto da fogueira e monitorar a tenda. Como? Esta encontra-se a uma distância de 1,5 quilômetros e só pode ser vista de cima, por isso, os rapazes começam a montar um posto de observação sobre o cedro, no qual, de acordo com os socorristas, a uma altura de 5 ou 5,5 metros, foram quebrados os galhos e feita uma espécie da janela para o lado da tenda. Foi um trabalho infernal: subir o tronco escabroso num frio atroz (foi por isso que eles receberam as escoriações longitudinais sobre os braços, pernas e tronco), ao quebrar os galhos grossos e espinhosos. No frio, as mãos congelam-se primeiro, e num frio forte, com o tempo perdem a sua sensibilidade, os dedos dobram-se mal, por isso, os rapazes, ao subirem no cedro, deixaram no seu tronco tanto os pequenos pedaços da sua pele, como o sangue, segundo foi apontado pelo juiz de instrução Lev Ivanov.

 

Este é aquele mesmo cedro. Foto dos socorristas.

 

O segundo grupo, composto por Dyátlov, Slobodín e Kolmogórova, decidiu ainda tentar chegar à tenda e pegar as coisas vitais. Foi como um reconhecimento em vigor. Além do mais, eles simplesmente não tinham escolha: na tenda se encontrava a sua chance de sobreviver. Krivoníschenko e Doroshênko também deveriam observar através da “janela” entre os ramos, o movimento dos três pela encosta. É difícil dizer em que ordem eles estavam indo para a tenda, quem foi o primeiro, quem foi o segundo e o terceiro. É claro que eles não se moviam juntos, mas um por um, às escondidas. O que novamente nos leva à conclusão de que o perigo ainda existia, encontrando-se sempre lá, perto da tenda. Zina passou ou arrastou-se mais longe de todos os três, percorrendo mais de metade do caminho, a morte alcançou-a a 850 metros do objetivo. A 150 metros dela, pereceu Slobodín, e a 180 metros deste, Dyátlov. Seu avanço foi o menor entre todos. Iam caminhando ou se arrastando? Os dois primeiros foram encontrados na posição de quem estava rastejando, significando que tinham medo de serem descobertos.

 

O terceiro grupo, composto por Kolevátov, Thibeaux, Dubínina e Zolotaryov, aparentemente, tinha por tarefa arranjar um abrigo temporário no barranco, a cerca de 70 metros do cedro. A escolha recaiu sobre eles, porque Thibeaux e Zolotaryov estavam vestidos e calçados, portanto, capazes de trabalhar no frio; Kolevátov também estava vestido decentemente, e quanto a Dubínina... Por alguma razão, parece-me que Lyudmila poderia oferecer-se por sua própria vontade para esse grupo, em muitas fotografias da caminhada nota-se que ela é atraída mais por essa parte da equipe. A tarefa dos quatro era cortar píceas e abetos novos para fazer revestimento no barranco. Felizmente, Krivoníschenko tinha a faca, obviamente, a tenda foi cortada com esse instrumento, porque a sua bainha foi encontrada posteriormente sobre a neve, perto da tenda.

 

Os quatro foram mortos por último. Isto é evidenciado por meio das peças de roupas que obviamente foram cortadas dos corpos de Doroshênko e Krivoníschenko e utilizadas parcialmente pelos quatro para o seu aquecimento; como também pelo fato de que o terceiro grupo finalmente arranjou o revestimento no barranco para quatro assentos, isto é, apenas para eles próprios.

 

Chamo a atenção para o clima moral no grupo. Thibeaux e Zolotaryov, estando vestidos e calçados, poderiam ter deixado os amigos, pois tiveram chance real de fugir para o labáz, onde havia um par de esquis e mantimentos. Ou seja, esta era uma oportunidade real para se salvar, como poderiam ter feito outros que estivessem no seu lugar. Mas eles ficaram com o resto do grupo até o fim.

 

Tal foi, por assim dizer, a localização de todos os participantes da tragédia. O que aconteceu lá?

 

Parece que Algo (vamos usar o termo do promotor criminal Lev Ivanov, “Força Maior”, acrescentando apenas as palavras “Não Identificada”, ou seja, FMNI) selecionou para si o cenário da “caça selvagem”. O impacto da FMNI sobre o grupo aconteceu por várias vezes, com intervalos no tempo. Primeiramente, a FMNI expulsou-os fora da tenda para o frio, permitindo-lhes caminhar o suficientemente longe. Depois, essa força (ou fenômeno) não permitiu aos três turistas atingir a tenda, fazendo-os parar no seu caminho, imobilizando-os de alguma forma. Lembremo-nos do sangue nos lábios de Dyátlov, o sangue perto da cabeça de Zina, o sangue no nariz de Slobodín e a fenda no seu crânio. Normalmente, a hemorragia não está presente durante a morte por congelamento, consequentemente, eles receberam primeiro algum impacto que lhes produz a hemorragia e os fez perder a consciência, o resto foi feito pelo frio atroz.

 

Depois de um período de tempo, a FMNI também imobilizou os dois que estavam perto da fogueira, condenando-os à morte por congelamento; estranhas queimaduras até o grau de carbonização, o líquido espumoso da boca, a estranha cor da pele e o líquido espumoso nos pulmões de todos os cinco - tudo isso não pode ser produzido pelo frio, trata-se do impacto de alguma outra força.

 

Logo, como se entrando em um acesso de raiva, a FMNI mutilou fortemente e aniquilou os quatro no barranco.

 

Que “força” era essa? Como os turistas chegaram a receber tão terríveis traumas internos, na falta de quase qualquer lesão externa? Como os corpos dos quatro chegaram a se encontrar no riacho, a seis metros do revestimento, que eles estavam fazendo, empregando as últimas forças que lhes restavam? Por que sobre eles havia uma camada de neve tão grossa, de quatro metros? Porque essa neve resultou ser tão forte que o coronel Ortyukov pediu as picaretas e pás saparadoras para escavá-la? Ninguém pode responder a essas perguntas. Existem apenas conjeturas e suposições a respeito...

 

Toda essa trágica luta do grupo de Dyátlov pela vida durou aproximadamente duas horas, a partir de 17:31 até por volta das 19:30 ou 20:00. Por volta dessa hora, já não havia ninguém vivo. Como isso pode ser deduzido?

 

A partir das 17:31, quando deixaram a tenda para a fuga em pânico, há que adicionar cerca de uma hora na descida do local da tenda para a floresta; logo, pelo menos meia hora que levaram para acender a fogueira, mais uma hora e meia de sua queima – após essa hora ninguém mais mantinha o fogo, pois não restou nenhum vivo. Provavelmente, na última meia hora o fogo simplesmente estava se extinguindo.

 

Há mais duas evidências apontando para as 20:00 (mais ou menos alguns minutos) como o momento da morte de membros do grupo: 1) como estabeleceu a perícia, todos os turistas tiveram a sua última refeição por volta de 6-8 horas antes de sua morte, entanto que eles comeram antes de ir para o Kholat Syakhyl, por volta das 14:00; 2) todos os relógios, exceto o relógio quebrado de Dyátlov, mostram uma hora posterior às 20:00, especificamente, 20:14, 20:39, 20:45. É verificado que os relógios mecânicos da época, tendo como graxa interna um óleo especial, param aproximadamente após 40 minutos depois de serem colocados sobre uma superfície absolutamente fria, isto é, sobre o gelo. A mão de uma pessoa em processo de congelamento esfria-se gradualmente, e o relógio esfria-se simultaneamente com ela, assim, esse processo pode ser ainda mais rápido. Em todo o caso, nós concluímos que por volta das 20:00 horas do 1º de fevereiro de 1959 o grupo de Ígor Dyátlov pereceu na sua totalidade. Lembremo-nos das palavras do jornalista Yuri Yarovoy: “Eles lutaram por suas vidas como homens de ferro”.

 

Caso fechado

 

O obkom (comitê regional) do Partido Comunista em Sverdlovsk, na pessoa do seu 1º Secretário Andrei Kirilênko, e do 2º Secretário, Afanasy Yeshtokin, estava constantemente apressando a investigação, demandando que esta fosse concluída até o 28 de maio, como a Procuradoria Geral em Moscou exigia o inquérito para a revisão.

 

Segundo lembram os investigadores da equipe, Kirilênko, apelidado de “rei e deus” local pelo juiz de instrução Vladímir Korotáyev, naquela altura já estava se preparando para ir à Moscou. E, de fato, ele se mudou para lá em abril de 1962, como membro do Bureau Político, passando para o mesmo topo da hierarquia do partido. Por isso, não queria categoricamente quaisquer complicações e escândalos em relação ao perecimento dos turistas. Segundo ele, os resultados deveriam ser os mesmos que no caso das primeiras vítimas: já que Nikita Khrushchov foi comunicado que os primeiros tivessem sido congelados, então, essa versão deveria permanecer. Em outras palavras, sobre a investigação e os seus resultados foi exercida uma pressão mais rude e grosseira. Foi também pela mesma pressão que o perito Borís Vozrozhdiônny poderia ter deixado de mencionar a totalidade dos dados nos laudos da autópsia. De acordo com Vladímir Korotáyev, “eles [os peritos], depois, também tiveram problemas por causa deste caso”. A ordem era de “remover tudo o desnecessário” do inquérito.

 

Vladímir Korotáyev lembra de sua conversa com Lev Ivanov, acompanhada de um copo de vodka, quando o promotor criminal admitiu francamente: “Yeshtokin tinha me martirizado”. Portanto, a principal conclusão da investigação, chegou a ser a ausência do elemento criminoso no perecimento do grupo de Dyátlov e, como causa da morte, foi assinalado um acidente resultante de uma força maior. Na ocasião, chegaram a ser punidas algumas figuras não muito proeminentes.

 

Fragmento da Resolução sobre o fechamento do processo criminal:

 

Considerando a falta nos cadáveres de lesões corporais externas e sinais de luta, a presença de todos os objetos de valor do grupo, bem como, tendo em conta o parecer da perícia médico-legal sobre as causas da morte de turistas, há que se assumir que a causa do perecimento dos turistas foi uma força elementar que os turistas não foram capazes de superar.

 

Por deficiências na organização do trabalho de turismo e um fraco controle, o CM [Comité Municipal] do PCUS em Sverdlovsk puniu em ordem partidária: a Siunôv, diretor do Instituto Politécnico de Ural; a Zaostrovskikh, secretário do bureau do partido; a Slobodín, presidente do comitê sindical do UPI; a Kûrotchkin, presidente da união municipal de sociedades esportivas voluntárias; e a Ufímtsev, inspector da mesma união. Gordô, presidente da direção do clube esportivo do instituto, foi demitido.

 

Considerando que não existe a causalidade entre as ações das pessoas acima mencionadas, que cometeram falhas na organização do trabalho esportivo, e o perecimento do grupo de turistas, e não encontrando o corpo de delito neste caso, de acordo com o parágrafo 5º do artigo 4º do Código de Processo Penal da RSFSR, é decidido: por meio da instrução posterior, cessar o processo criminal sobre o perecimento do grupo de turistas.

 

Promotor Criminalista, Conselheiro de Justiça Subalterno, IVANOV

 

Chefe do Departamento de Investigação, Conselheiro de Justiça, LUKÍN”.

 

Depois que o inquérito retornou de Moscou, Kirilênko mandou selá-lo, entregá-lo para a seção confidencial e esquecer-se dele, apesar de a Procuradoria da RSFSR não ter emitido instruções para torná-lo secreto. Pela indicação de Klínov, o promotor da Óblast de Sverdlovsk, o inquérito foi enviado à papelada confidencial, e as folhas com o exame radiológico, à papelada estritamente confidencial. A lógica por trás dessa decisão era clara: deste modo, seria possível esconder por longo tempo todas as falhas e imperfeições do processo de investigação e evitar muitas perguntas embaraçosas. Mas, em contrapartida, essas questões, após muitos anos, simplesmente explodiram aquele silêncio artificial que estava cercando o caso do perecimento do grupo de Dyátlov.

 

Os três dos últimos quatro dyátlovtsy foram enterrados no mesmo cemitério Mikhâylovskoye, ao lado de seus companheiros. Zolotaryov foi enterrado no cemitério Ivânovskoye, ao lado de Krivoníschenko; isso pode ser explicado apenas por uma única causa: o sítio no cemitério Mikhâylovskoye era de propriedade do UPI, enquanto Zolotaryov não era estudante deste instituto, além disso, ele nem sequer era um residente de Sverdlovsk. Desde então, no cemitério Mikhâylovskoye ergue-se este memorial abaixo, com as fotos da equipe perecida de Ígor Dyátlov; aqui, eles estão todos juntos, foi decidido não separar os companheiros no monumento.

 

Monumento aos dyátlovtsy no cemitério Mikhâylovskoye.

 

É possível retirar as folhas do inquérito, mas nem sempre é possível fazer calar a consciência. Muitos anos mais tarde, em 1990, o juiz de instrução Lev Ivanov declarou em uma entrevista ao jornal “Уральский рабочий” (“Trabalhador do Ural”): “Levo culpa, muita culpa perante os parentes dos jovens: não lhes permiti acessar os corpos. Bem, mas nem seria fácil suportar tal coisa. Unicamente, uma exceção foi feita ao pai de Lyuda Dubínina: abri um pouco a tampa da urna, para mostrar-lhe que a filha estava vestida devidamente. Ele perdeu a consciência.

 

Tenho apenas uma justificativa: não foi a minha vontade que estava sendo cumprida. O primeiro secretário era então Kirilênko, mas ele não intervinha abertamente no caso, eu fui ‘supervisionado’ por Yeshtokin, segundo secretário. Várias vezes, no curso da investigação, ele me chamou ao obkom. Ouvia os relatórios, dava as instruções. Uma babagem, claro, segundo os padrões de hoje. Mas agora é fácil julgar, enquanto então... Eu mesmo não tinha nenhuma duvida da legalidade da sua intervenção. Então, tudo era feito da mesma maneira. Diziam assim, com um ar de importância: ‘Você é um comunista!’. E foi assim que foi encerrada a investigação. Eu não trabalhei a fundo na versão das bolas luminosas. Consegui apenas realizar a perícia física e técnica. Até mesmo, levei para o lugar, determinado dispositivo, numa grande caixa de madeira...

 

— O contador Geiger? [Instrumento para medição dos níveis de radiação].

 

— Sim, algo parecido. Ele estava-me acusando umas tais ‘castanholas’... Havia radiação lá, sem dúvida. Mas donde e de que tipo, não me deixaram encontrar.

 

— Lev Nikítitch, você não enviou inquirições aos militares, ou cientistas?

 

— Ora, que inquirições poderiam haver naquele tempo... Como também naquela situação, que formou-se em torno do caso. Não, eu não enviei...

 

— Quem tornou o caso secreto e por que?

 

— Eu mesmo tornei-o secreto, retirei o exame, pois foi-me dito para ‘remover tudo o desnecessário’”.

 

Lev Ivanov.

 

Após 25 anos, o inquérito do caso do perecimento dos dyátlovtsy devia de ser queimado, de acordo com a ordem comum. Mas, Vladislav Tuykov, então atuando como promotor da Óblast de Sverdlovsk, não autorizou a fazê-lo, considerando o caso como sendo de “interesse público”. De fato, ele estava certo. A partir do momento quando no período da glasnost, entre 1989-90, foram publicados os primeiros materiais sobre o perecimento do grupo de Dyátlov, a sociedade realmente não pode encontrar a paz, tentando desvelar o mistério dessa tragédia.

 

Graças aos esforços dos entusiastas, os materiais sobre o grupo de Dyátlov chegaram a ser disponibilizados para todos: cópias do inquérito e fotos foram postadas na Internet, em domínio público.

 

As pessoas se reúnem em fundações e outros grupos surgem tentando resolver conjuntamente o mistério do perecimento dos turistas. Há pessoas, para quem essa tarefa se tornou uma espécie de sentido da vida e obsessão.

 

E estão nascendo versões ainda mais incríveis e cada vez mais fantásticas.

 

Na última parte desse trabalho, vamos observar as versões mais comuns. Por nossa vez, tentaremos determinar o assassino e, talvez, até olharmos para ele.

 

Aguarde a parte 4/4 (final) - prevista para o dia 03/03.

   

* Natália P. Dyakonova é licenciada em Filologia, diplomada em Pintura, autora de uma serie de artigos sobre a Literatura, Arte e História. Pesquisadora e historiadora por inclinação. É consultora e correspondente em Moscou para o diário digital Via Fanzine e da Rede VF (Brasil). É editora do blog Protocivilización.

 

- Tradução: Oleg I. Dyakonov.

 

- Revisão final e adaptação: Pepe Chaves.

 

- Imagens:

- As fotos do grupo tomadas pelos próprios turistas estão na internet em livre acesso, receberam a divulgação após o dossiê do caso ter sido acessado pelos pesquisadores.

- O mapa de rota foi confeccionado pela autora a partir de imagem do Google Earth.

 

Leia também:

Nota do editor: 'Não vá lá: a aventura final'

'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov - Parte 1/4

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- Produção: Pepe Chaves

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