Ural do Norte, Rússia: – 54 anos depois:
'Não
vá lá': o
misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov
Esta história misteriosa se passou em 1959, no Ural do Norte, na
Rússia. O ocorrido impressionou
as
mentes de milhões de pessoas e continua a atormentar pelo seu mistério
insolúvel.
'Viagem sem regresso' – Parte 1/4
Por
Natália Dyakonova*
De
Moscou/Rússia
Para
Via
Fanzine
09/01/2013
O
Passo Dyátlov.
Leia também:
Nota do editor:
'Não vá lá: a aventura final'
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 1/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 2/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 3/4
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Ígor Dyátlov - Parte 4/4
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A Rússia
é rica em zonas anômalas. Também existem na Óblast (Região) de
Sverdlovsk, sendo a mais famosa delas a altitude 1096 (nos mapas
antigos, 1079), no seu extremo norte. O povo mansi, que vive ali há
muito, em seu idioma, chama esse lugar de “Kholat Syakhyl” (Холат Сяхыл),
ou a “Montanha dos Mortos”. Os mansi são parentes dos índios
norte-americanos e se dedicam, principalmente, à caça e criação de
cervos.
Na
encosta desta montanha, muito afastada da habitação humana, em 1959,
pereceu em circunstâncias misteriosas, um grupo de nove turistas
experientes, liderados por Ígor Dyátlov. Em sua homenagem, este lugar
ficou tristemente conhecido como o Passo Dyátlov (Перевал Дятлова),
no qual todos pereceram. Na época, os juízes de instrução concluíram
sobre os resultados da investigação que “a causa da morte foi por
conta de uma força elementar que os turistas não puderam superar”.
Mas, qual seria essa força misteriosa que não deixou testemunhas?
Tentaremos entendê-la ao longo desse artigo.
Neste trabalho reproduzimos fotografias tomadas pelos membros do grupo
de Dyátlov durante a sua última e fatal caminhada. Essas fotos
foram tomadas pelas câmeras fotográficas levadas pelos jovens, as quais
foram encontradas posteriormente, durante as buscas pelo grupo
desaparecido.
Como
tudo começou
Imagine
o que ocorria na então União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS)
na segunda metade da década de 1950. Havia se passado apenas 14 anos da
devastação causada pela Segunda Guerra Mundial, chegando ao fim da
sufocante era de Stalin e iniciando-se um período de “degelo” político
de Nikita Khrushchev, o “último romântico do socialismo”, como foi
chamado pelos pesquisadores em história.
Nesse
cenário positivo, o povo soviético estava cheio de otimismo, olhava
corajosamente para o futuro. A ciência e a indústria estavam se
desenvolvendo a ritmos acelerados; já se voava pelo espaço e os
primeiros satélites artificiais da Terra eram lançados pelos
soviéticos.
Aqueles
anos dourados para a União Soviética também foram marcados por um
florescimento incomparável do turismo esportivo, especialmente, entre os
estudantes. Em 1957, o turismo esportivo foi introduzido oficialmente na
Classificação Esportiva Única da URSS. A nova modalidade esportiva
rapidamente se tornou popular: dava a oportunidade de visitar lugares
novos, expandir os horizontes pessoais, fazer novas amizades e conversar
intimamente com velhos amigos ao redor de uma fogueira, cantar canções
de sua própria autoria ao som de um violão, provar a sua resistência e
aperfeiçoar a sua preparação física. Clubes especializados em turismo
esportivo foram criados em quase todas as escolas e em todas as
instituições do ensino superior. Duas vezes por ano — durante as férias
de inverno e de verão — era possível encontrar em todo o país, multidões
de jovens envergando jaquetas impermeáveis, saindo com as suas
mochilas para a próxima caminhada.
Os
turistas escolares na década de 1950.
O UPI
(sigla em russo para o Instituto Politécnico de Ural), atual
Universidade Técnica Estadual de Ural, contava com destacados atletas
naquela época. O UPI está sediado na cidade de Sverdlovsk (atual
Yekaterimburgo), como foi chamada durante a era soviética. A cidade foi,
e ainda é um importante centro tecnológico, inclusive, para o complexo
militar-industrial. No Instituto que se destacou por gerar tantos
talentos para a engenharia soviética, formou-se, em 1955, Boris Yeltsin,
que viria a se tornar o primeiro presidente da Rússia.
Cidade de Sverdlovsk, Instituto Politécnico de Ural, em
cartão postal da década de 1950.
Em
dezembro de 1958, um grupo de estudantes universitários, todos turistas
experientes, planejou uma grande caminhada turística na terceira e mais
alta categoria de dificuldade. Eles passariam pelo norte da Óblast de
Sverdlovsk, buscando o cume do monte Otortén.
As
preparações para essa viagem se estenderam ao longo dos meses de
dezembro de 1958 e janeiro de 1959, durante os quais, os estudantes
ainda estavam prestando seus
exames. A caminhada deveria ser realizada somente nas férias de inverno.
O número
de participantes mudou várias vezes, pois alguns dos estudantes que se
inscreveram para a caminhada, posteriormente, e sem motivo aparente, se
recusavam a participar. Este é um dado curioso, pois, de acordo com as
estatísticas, em aviões, navios ou trens que sofreram acidentes não se
apresentaram, geralmente, de 16 a 17 por cento dos passageiros
previstos, conforme também se passou neste caso trágico.
Desta
forma, em vez dos previstos 14 participantes, saíram para a caminhada
liderada por Ígor Dyátlov, 10 pessoas, sendo seis estudantes do UPI,
três jovens engenheiros, que há apenas seis meses tinham recebido seus
diplomas. Ainda no início da caminhada, se uniu ao grupo um instrutor de
acampamento turístico, o mais velho de todos, Semyon Zolotaryov, de 37
anos, conhecido unicamente por Dyátlov.
Durante as férias de inverno de 1959, no mesmo dia 23 de janeiro, vários
grupos de estudantes do quarto e quinto ano do
UPI partiram para as
viagens de esqui em várias categorias de dificuldade.
O grupo que empreendeu uma caminhada em segunda categoria para o Ural do
Sul, foi liderado por Mikhail Sharávin, um estudante do quarto ano. Pela
rota da viagem da terceira, ou mais alta categoria de dificuldade, pelo
Ural Polar, seguiu o grupo de estudantes do quarto ano, sob a direção de
Serguei Sógrin. Nas rotas similares da terceira categoria pelo Ural do
Norte partiram ao mesmo tempo e, até no mesmo vagão do trem, os grupos
de Yuri Blinov e Ígor Dyátlov. Vários grupos fizeram suas viagens pelas
rotas clássicas do Médio Ural.
Deste modo, naquele inverno de 1959, praticamente todo o Ural estava
coberto por uma rede de rotas de esqui da seção turística do clube
esportivo do UPI. Aquela foi uma grande conquista do turismo estudantil
amador. Particularmente, pareciam atraentes as rotas pelo Ural Polar,
onde estava prevista uma experiência turística nova para os estudantes
do UPI: tratava-se de três subidas invernais aos cumes dos montes Sáblya,
Neroyka e Telposíz.
A
rota do grupo de Ígor Dyátlov pareceu não menos atraente: pretendiam
subir a misteriosa montanha de Otortén, o topo da crista Poyasóviy no
Ural do Norte. Na língua mansi, o nome Otortén significa "Não vá lá".
Ural do Norte no inverno (foto: autor desconhecido)
O grupo de Dyátlov foi uma das equipes esportivas mais fortes e
experientes da seção turística do UPI e o seu líder era altamente
respeitado, não só dentro de sua equipe, mas também entre os turistas da
seção turística da cidade.
Não era fácil de entrar
na
sua equipe. Ele colocava altas exigências não só quanto à resistência e
força física dos participantes, mas também às qualidades morais da
pessoa, como o senso de camaradagem, comunicação, paciência, bondade,
capacidade para se relaxar e apreciar a beleza da natureza.
Para
melhor compreendermos o comportamento e as ações dos membros do grupo na
posterioridade, apresentamos a seguir, uma síntese de seus respectivos
perfis.
— Ígor
Dyátlov, nascido em 1937, foi líder da fatídica caminhada, estudante
do 5º ano da Faculdade de Radiotécnica do UPI, especialista altamente
erudito e, definitivamente, um engenheiro talentoso. Para 1959, Ígor já
tinha uma grande experiência de longas caminhadas em diferentes graus de
dificuldade e, entre os membros da seção turística do clube esportivo do
UPI, ele foi considerado um dos esportistas mais experientes. As pessoas
que conheciam Ígor se lembram dele como um homem pensativo e que não
tinha inclinação para decisões precipitadas.
— Yuri Doroshenko, nascido em 1938, era estudante da Faculdade de
Máquinas de Elevação e Transporte do UPI. Era considerado um turista bem
preparado, com experiência de longas caminhadas em diferentes graus de
dificuldade. Conhecia de perto o restante do grupo.
— Lyudmila
Dubínina, nascida em 1938, era estudante do 3º ano da Faculdade de
Engenharia e Economia do UPI. Desde os seus primeiros dias no instituto,
ela teve uma participação ativa no seu clube esportivo. Cantava
excelentemente e gostava de fotografia, inclusive, muitas das fotos da
caminhada de inverno de 1959 foram tomadas por ela. A jovem tinha uma
considerável experiência turística. Durante uma caminhada nos montes
Sayan Orientais, em 1957, sofreu um ferimento na perna por causa de um
tiro acidental de um caçador que acompanhava os estudantes e suportou
corajosamente o ferimento, até receber o doloroso transporte. Logo
depois, em fevereiro de 1958, ela mesma liderou uma caminhada na segunda
categoria de dificuldade pelo Ural do Norte.
— Aleksandr
Kolevátov, nascido em 1934, era estudante do 4º ano da Faculdade de
Física e Tecnologia do UPI. Para 1959, ele também tinha experiência em
caminhadas turísticas nas diferentes categorias de dificuldade. Ordenado
até ponto de pedantismo, era responsável, contido, com traços de líder.
— Zinaída
Kolmogórova, nascida em 1937, era estudante do 4º ano da Faculdade
de Radiotécnica do UPI. Igualmente aos demais, ela tinha uma vasta
experiência em caminhadas pelo Ural e Altai em variados graus de
dificuldade. Durante uma das viagens a jovem foi mordida por uma víbora,
permanecendo um tempo entre a vida e a morte. Resistiu com muita coragem
e dignidade ao sofrimento que lhe tocou. Por seu destacado carisma,
Zinaída se dava muito bem com outras pessoas ao seu redor. Era capaz de
consolidar o coletivo e sempre foi uma convidada bem vinda em qualquer
meio estudantil, pois era querida de todos.
— Gueorgui
Krivoníschenko, nascido em 1935, se graduou pelo UPI em 1958. Em
1959 era um engenheiro principiante. Amigo de Dyátlov, ele participou de
quase todas as caminhadas anteriores realizadas por Ígor. Gueorgui era
também amigo de quase todos os demais participantes da caminhada que,
muitas vezes, frequentavam o apartamento de seus pais, em Sverdlovsk.
— Rustem
Slobodín, nascido em 1936, era graduado pelo UPI e participou
durante alguns anos de caminhadas em vários graus de dificuldade. Ele
era, sem dúvida, um turista experiente. Um jovem muito atlético, ativo e
resistente, se apaixonara pelas corridas de longa distância. Também
tocava perfeitamente o bandolim, instrumento que levou na caminhada.
— Nikolay Thibeaux-Brignoles,
nascido em 1934, era graduado pela Faculdade de Construção do UPI em
1958. Pensava-se que era filho de um comunista francês, reprimido
durante os anos de Stalin, e de uma russa.
Tal foi a lenda que contava Nikolai mesmo,
para evitar problemas desnecessários relacionados ao seu sobrenome
incomum. Na verdade, Nikolai veio da família russificada dos
Thibeaux-Brignoles. O bisavô de Nikolai era um mecânico francês,
François Thibeaux-Brignoles, veio para a Rússia no final do século XVIII
ou no início do XIX, instalando-se em São Petersburgo e casando-se com
uma russa. Um dos seus filhos se tornou arquiteto, e o outro, engenheiro
de minas. O neto, que viria ser pai de Nikolai, também se tornou um
engenheiro de minas. Em 1931, durante as repressões de Stalin, foi
condenado a 10 anos, com um grande grupo de engenheiros e técnicos, pelo
caso do “Partido Industrial” (era por isso que Nikolai não gostava de
responder questões sobre a família). O irmão mais velho de Nikolai,
Vladimir, morreu nas frentes da Segunda Guerra Mundial.
Nikolay era um amante de livros, pessoa
amigável, com destacado senso de humor. Era um aventureiro cheio de
energia. Tinha experiência em caminhadas turísticas em várias categorias
de dificuldade, conhecia bem os membros do clube turístico do Instituto.
— Yuri
Yúdin, nascido em 1937, era estudante do 4º ano da Faculdade de
Engenharia e Economia do UPI. Já estando no instituto, se interessou
pelo turismo e fez um total de seis longas caminhadas em várias
categorias de dificuldade, incluindo a terceira e mais alta.
A imagem
de Yuri acima foi tomada durante a trágica caminhada.
— Semyon (Aleksandr) Zolotaryov,
nascido em 1921, era o membro mais velho da caminhada. Nos anos de 1950,
ele trabalhava como instrutor chefe para o turismo no acampamento
turístico “Koúrovskaya”. Participou da Segunda Guerra Mundial e recebeu
quatro condecorações militares.
Ainda que, pelos documentos, seu
verdadeiro nome era Semyon, sempre pediu para que lhe chamassem “Sasha”
(diminutivo de Aleksandr). Este curioso fato dá aos fãs de espionagem e
versões criminosas um amplo espaço para a imaginação. Mas a explicação é
simples: de acordo com as fotos que ficarão e as opiniões de Yuri Yudin,
Zolotaryov era a 'alma da companhia' e um 'galanteador', o que explica,
a propósito, o seu estado de solteiro. Na época, o nome “Sasha (Aleksandr)”
foi muito popular no culto ambiente urbano, enquanto o nome “Semyon”
(Simão) era considerado muito mais rústico, ou folclórico, sendo o
próprio Zolotaryov um nativo de áreas rurais, e seus pais, umas pessoas
muito simples. Numa das fotos, Zolotarev, vestido como um dândi urbano,
aparece sentado ao lado de seus idosos pais rurais e é possível notar
que ele queria pertencer a um meio social diferente. Obviamente,
Zolotaryov não gostava do seu original nome rústico e pediu às pessoas
do seu círculo que pelo menos lhe tratassem pelo nome de moda.
A
caminhada
Os
membros do grupo decidiram realizar uma caminhada de terceiro grau, ou
seja, na maior categoria de dificuldade, dedicando-a ao próximo XXIº
Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Não apenas
pelo fato de ser então uma prática popular a dedicação de algumas das
conquistas pessoais aos eventos importantes do país, mas também porque
os jovens eram todos membros da Komsomol, a União da Juventude
Comunista. Além disso, tal dedicatória dava ao grupo um aparente status
oficial, numa oposição ao “turismo selvagem”.
O que é
a “terceira categoria de dificuldade” para uma caminhada turística como
essa? Segundo a classificação da década de 1950, isso significava que
deveriam ser cobertos pelo menos 350 quilômetros, cuja duração da
caminhada seria de pelo menos 16 jornadas, das quais, oito delas seriam
caminhar em uma área pouco povoada, além de se fazer pelo menos seis
pernoites no campo, utilizando-se de uma tenda. Ígor Dyátlov, no
entanto, pretendia realizar um número duas vezes superior de tais
pernoites.
A rota
da caminhada foi projetada pelo próprio Dyátlov. Partindo de Sverdlovsk,
o grupo devia seguir de trem até a pequena cidade de Serov, depois,
também de trem, até a vila de Ivdel e, finalmente, de ônibus, até a vila
de Vijay. De Vijay, o grupo seguiria em esquis até a vila de Vtoróy
Séverniy, seguindo para o noroeste, através do vale do rio Áuspiya e os
afluentes do rio Lozva, rumo ao monte Otortén.
Rota de Sverdlovsk até o monte Otortén.
Depois de subir até o topo do Otortén, planejavam virar para o sul,
atravessando à longa serra Poyasóviy Kámen (“Pedra do Cinto”), passando
pelas cabeceiras das nascentes dos rios Unya, Vischera e Niols, até o
monte Oyko-Tchakur (Oykatchahl). De Oyko-Tchakur, seguiriam para a
direção leste, através do vale do rio Tóshemka e, novamente, para a vila
de Vijay. Eles pretendiam fazer da mesma forma com relação a Sverdlovsk.
Rota de Ivdel até Otortén: a linha amarela mostra o caminho percorrido,
a linha vermelha mostra o
caminho que os turistas não conseguiram percorrer. O Passo Dyátlov é o
lugar em que o grupo pereceu.
Em 23 de
janeiro de 1959, o grupo saiu de Sverdlovsk, chegando à Serov às 7 horas
da manhã do 24 e passando o dia inteiro nesta pequena cidade.
Paralelamente ao grupo de Dyátlov, também chegou até Serov e Ivdel, o
grupo de turistas sob direção de Yuri Blinov. Ali suas rotas divergiam:
o grupo de Blinov seguiria para o oeste, até a serra Molebny Kámen
(“Pedra da Oração”) e o monte Isherim (1331 metros), e o grupo de
Dyátlov, seguiria para o noroeste, até a serra Poyasóviy Kámen e o monte
Otortén (1182 metros).
Em Serov,
o grupo se acomodou para descansar em uma escola local, onde foram
recebidos com grande entusiasmo, propiciando boas condições para sua
hospedagem. Os alunos escolares os “torturavam” com perguntas sobre
turismo, equipamentos e assuntos afins. As crianças eram especialmente
cativadas por Zina, e quando o grupo partia, a meninada costumava
chorar, não desejando se despedir dela.
Zina na escola, em foto tomada durante a última caminhada.
Chegaram a Ivdel, vindos de trem de Serov
e ali eles pernoitaram na própria estação. Na manhã seguinte, já no
primeiro ônibus, o grupo seguiu para Vijay. O interior do ônibus era
apertado com as mochilas e equipamentos, mas isso não impediu aos jovens
turistas de cantar suas canções prediletas durante todo o caminho. Em
Vijay, eles se acomodaram em um modesto hotel local.
Após
Vijay, os turistas ainda pernoitaram mais duas vezes sob um teto: foram
levados por um caminhão até a vila “41 kvartal” (“Bairro 41”), onde
moravam os madeireiros e onde os componentes foram instalados em uma
habitação coletiva. Ali, conversaram gostosamente com os moradores
locais, chegando a anotar textos de algumas canções novas que aprenderam
com eles. À noite, mesmo na habitação coletiva, parte do grupo assistiu
à “Sinfonia de Ouro” - belo filme musical austríaco, de 1956, sobre
patinadores artísticos e balé no gelo, dando-lhes excelente ânimo.
Alguns turistas aproveitaram para ajustar o equipamento de esquis.
Este caminhão leva-os
diretamente à morte. Todos estão se divertindo e somente
Yuri Yudin (de pé, à
direita) pressente claramente que algo mau está por vir.
O
grupo se despede dos madeireiros locais.
No dia
seguinte, eles receberam um carrinho, no qual foi carregado o
equipamento, e eles, sem a bagagem, esquiando, puderam alcançar a vila
desabitada de Vtoróy Séverniy (“Segundo do Norte”), onde passaram a
noite em uma casa abandonada.
Imagem
mostra o grupo já nos esquis e um cavalo puxando as bagagens.
A
desértica localidade de Vtoróy Séverniy (“Segundo do Norte”).
Foi
no quinto dia da caminhada que surgiria uma surpresa desagradável: Yuri
Yúdin adoeceu. Ele se queixava de uma dor nas costas, caminhava
lentamente e atrasava o restante do grupo. Por isso, ficou decidido que
ele deveria abandonar a rota. Assim foi feito e ao abandonar a
caminhada, Yuri Yúdin cedeu aos companheiros a sua bagagem e roupas
quentes. No total, 40 quilos de bagagem foram repartidos entre os
membros do grupo. Despedindo-se dos companheiros, Yuri pegou o caminho
de volta.
Zina se despede de Yuri Yúdin, à direita, Semyon Zolotaryov (foto tomada
na última caminhada).
Lyuda Dubínina se despede de Yuri Yúdin.
Ninguém do grupo podia então supor que aquela seria uma despedida para
sempre e que, naquele momento, o mal-estar estava salvando a vida de
Yuri. Posteriormente, com base nos relatos de Yuri, como também através
dos diários encontrados dos membros do grupo, foi reconstituída a rota
da caminhada.
Ao despedir-se de Yuri, Ígor Dyátlov pediu para que ele informasse ao
clube turístico do Instituto que eles enviariam um telegrama de Vijay,
não no dia 10, mas em 12 de fevereiro, e voltariam à Sverdlovsk, não no
dia 12, mas no 14.
Nos
meados de fevereiro, outros grupos de turistas começaram a retornar das
suas rotas para Sverdlosvk. Regressaram os grupos de estudantes sob
direção de Yuri Blinov e Mikhail Sharávin.
Mas
do grupo de Dyátlov, não houve notícia alguma.
Em
12 de fevereiro, o grupo de Dyátlov deveria enviar um telegrama de Vijay,
noticiando sobre o fim da caminhada, e em 14 de fevereiro deveria
retornar a Sverdlovsk. Mas, o telegrama não chegou nem no dia 15, bem
como o grupo não retornou.
O
desaparecimento
Os
primeiros a dar o alarme foram os pais da Dubínina e Slobodín e a irmã
de Aleksandr Kolevátov, como também Yuri Blinov, líder daquele outro
grupo de turistas do UPI que realizou o início da caminhada junto com o
grupo de Dyátlov, de Sverdlovsk até Ivdel.
A
direção do clube turístico e a Faculdade de Educação Física do UPI não
manifestaram preocupação por mais dois dias, pois já haviam ocorrido
casos de atraso dos grupos por diferentes razões. Mas, ao longo dos
próximos dois dias, a ausência dos jovens e as respostas negativas às
inquirições em Vijay e Ivdel sobre a volta do grupo de Dyátlov, já
indicavam, com certeza, que um imprevisto havia se sucedido.
Iniciou-se a busca por esclarecimentos. Primeiramente, interrogaram:
para aonde, enfim, foi o grupo de Dyátlov? Descobriu-se que no clube
esportivo não havia cópia da agenda da rota tomada pelo grupo. Dyátlov
formalizou, de acordo com o prescrito, três cópias de mapas da rota: uma
para ser levada consigo, a outra para ser entregue ao clube esportivo do
instituto e, a terceira, aparentemente, era de reserva. Assim, por ordem
obrigatória era necessária a apresentação da rota. O fato de o mapa da
rota não ter sido entregue ao clube esportivo, resultou de um “duplo”
erro de Dyátlov: ele não tinha comunicado sobre a rota nem em pessoa,
nem posteriormente, através de Yúdin.
Enfim, a rota do grupo era desconhecida. Isso criava imensas
dificuldades na projeção das buscas.
A
organização das operações de resgate foi assumida pelo mestre do Esporte
no Turismo Evgueny Máslennikov e o coronel Gueorgui Ortyukov, diretor da
Faculdade Militar daquele Instituto. Na época, os estudantes dos
estabelecimentos de ensino superior soviéticos não serviam o exército,
mas recebiam a preparação militar em tais faculdades, obtendo, ao
finalizar os estudos, não apenas o diploma profissional, mas também a
patente de oficial inferior.
Gueorgui Ortyukov e Evgueny Máslennikov
Os
investigadores interrogaram os amigos e parentes dos desaparecidos na
tentativa de recuperar a rota tomada por Dyátlov. Convidado pelos seus
parentes, Yuri Yúdin, que estava descansando após o regresso da
caminhada, foi convocado para prestar depoimentos. No dia 19 de
fevereiro conseguiram reconstituir uma rota aproximada. Naquele mesmo
dia, o coronel Ortyukov seguiu até Ivdel para organizar o estado-maior
nas operações de busca.
Esquema de disposição das equipes de busca do grupo de Dyátlov.
(Mapa do pesquisador Evgueny Buyánov)
Setas amarelas — caminho do grupo de Dyátlov.
Linha amarela pontilhada — rota de Dyátlov, suas variantes de reserva e
saídas de emergência.
Setas vermelhas — caminho de Slobtsov.
Ovais de linha branca pontilhada — áreas de busca das equipes.
Nos marcos brancos — sobrenomes dos chefes das unidades.
Setas brancas em negrito com número — lugar de desembarque das equipes e
seu número.
Setas brancas pontilhadas — reunião das equipes no vale do rio Áuspiya.
Triângulo vermelho — tenda de emergência do grupo de Dyátlov.
Triângulos azuis — acampamento da Equipe de Resgate em Áuspiya.
O
esquema geral da rota era claro: da vila Vtoróy Séverniy o grupo de
Dyátlov teria passado para o nordeste, pelo vale do rio Lozva e as suas
nascentes até o monte Otortén (1182 m). Depois de atingir este ponto
eles teriam planejado voltar bruscamente para o sul, passando ao longo
do lado ocidental da serra Poyasóviy Kámen, pelas cabeçeiras das
nascentes dos rios Unya, Vischera e Niols até o monte Oyko-Tchakur (ou
Oykatchahl, 1322 m). De Otortén para Oyko-Tchakur são 70 quilômetros em
linha reta, mas na realidade os “dyátlovianos” (dyátlovtsy)
deviam passar 100 quilômetros pela cordilheira e as cabeçeiras dos rios
Unya e Vischera. De Oyko-Tchakur, em direção leste, pelos vales dos rios
Málaya Tóshemka (“Tóshemka Pequeno”) ou Bolsháya Tóshemka (“Tóshemka
Grande”) até sua confluência no rio Sévernaya Tóshemka (“Tóshemka do
Norte”); passando pelo vale deste rio, o grupo devia pegar a estrada
para a vila de Vijay, fechando então, o círculo da caminhada. Assim, a
caminhada deveria terminar com o retorno através de Vijay — Ivdel —
Serov até Sverdlovsk.
Ainda que esse esquema geral da rota fosse mais ou menos claro, existiam
inúmeras variantes da sua passagem em diferentes trechos, especialmente,
na fase final da caminhada. Nem estariam claras quais seriam as
nascentes do Lozva, pelas quais o grupo devia passar em seu trecho
inicial até Otortén.
Foi
em algum dos trechos desta rota que o grupo desapareceu.
Em
20 de fevereiro foi realizada uma reunião de turistas do UPI sob o lema
de “Estado de emergência do grupo de Dyátlov!”. Esse evento deveria
tratar da mobilização e capacitação dos grupos de busca. Foram
cadastradas 70 pessoas. A equipe de busca e salvamento foi composta
unicamente por rapazes fortes, que tinham experiência turística e com o
uso de equipamentos. Estudantes do sexo feminino auxiliaram ativamente
aos homens na organização da logística, como a comunicação,
preparativos, transferência de informações etc. Elas também promoveram a
convocação de voluntários dentre outros rapazes, seus conhecidos, para
tomar parte nas buscas.
Em
22 de fevereiro o estado-maior para os trabalhos de busca do instituto
formou seis grupos de busca. Para liderar esses grupos, foram indicados
os turistas com experiência de liderança em várias caminhadas. Foi
decidido deslocar o grupo de Vladislav Karélin, que se encontrava em
caminhada aproximadamente em torno da área das buscas, diretamente para
essa área, fornecendo-lhe alimentos. Também se prontificou às buscas, um
grupo de militares da divisão das tropas interiores do Ministério do
Interior, liderado em Ivdel pelo capitão Chernyshóv. Um pouco mais
tarde, se uniram aos buscadores os guias Moiséyev e Mostovóy, com cães
de busca e serviço, e mais tarde, os sapadores do coronel Shestopálov
com detectores de minas.
Também foram atraídas para as buscas, as populações locais, como as
famílias dos indígenas mansi. Também se uniram aos grupos de busca
alguns outros moradores locais, como caçadores e guias, e um pouco mais
tarde, geólogos-radioperadores, com equipamentos de rádio portátil para
se comunicar. Foram interrogados ativamente os caçadores, prospectores e
moradores da zona, para saber se eles tinham visto o grupo turístico de
Dyátlov naquelas imediações. Todos foram convidados a comunicar ao
estado-maior, caso encontrassem qualquer rastro do grupo desaparecido.
O
reconhecimento aéreo da área das buscas começou em 21 de fevereiro. O
pessoal do resgate sobrevoou a rota dos dyátlovtsy, mas não
encontraram nada. A área de busca era enorme, às vezes estorvavam muito
as condições meteorológicas desfavoráveis. A visão geral a partir da
aeronave era muito limitada, de modo que era quase impossível encontrar
o grupo ou avistar as pistas de esquis na neve, nas vastidões da
taiga, a floresta de coníferas ou floresta boreal.
O
coronel Ortyukov e Evgueny Máslennikov decidiram estreitar a zona das
buscas. O padrão seguido pelas equipes de resgate era na seguinte ordem:
o grupo desembarcava na área de busca, dividindo-se em várias unidades
de pesquisa de dois ou três homens, que durante um dia realizavam a
busca dos rastos em direções diferentes, tentando adivinhar o caminho
que o grupo de Dyátlov poderia ter seguido. Depois, a equipe de resgate
inteira trasladava-se para um ponto novo na suposta rota dos
dyátlovtsy, montando outro acampamento e empreendendo uma nova
busca.
Um
dos grupos de resgate, no centro, Boris Slobtsov.
Em
24 de fevereiro, os caçadores mansi informaram que no rio Áuspiya,
aproximadamente entre 14 e 16 de fevereiro, eles avistaram restos de um
recente acampamento de algum grupo de turistas: havia vestígios de
fogueira próximos ao local em que se encontrava instalada a tenda. Como
outros grupos de turistas não tinham passado por aquela área de busca,
ficou claro que o acampamento abandonado muito provavelmente teria sido
uma das bases do grupo de Dyátlov.
Na
busca, o estado-maior dirigiu dois grupos de resgate para aquele
determinado trecho. Do lado de baixo, pelo rio Áuspiya, estava avançando
o grupo mansi, que incluía o radioperador Yegor Nevólin; e ao norte, em
direção a cabeceira do vale da Áuspiya seguia o grupo liderado por Boris
Slobtsov, que também era um estudante do UPI e experiente turista.
No
caso de encontrar o grupo de Dyátlov, todos tinham a indicação de
acender três grandes fogueiras, formando um triângulo de 30 metros e,
caso fosse possível, comunicariam pelo rádio.
A
tenda
Os
11 membros da equipe de resgate, sob direção de Boris Slobtsov foram
levados no helicóptero para o cume do monte Otortén. Em 24 de fevereiro
eles revistaram o lugar, certificando-se de que o grupo de Dyátlov não
tinha estado aqui, pois não foi identificado nenhum sinal ou vestígios
dos turistas desaparecidos.
No
dia 26 de fevereiro, a equipe de resgate finalmente teve
sorte.
Na encosta do monte vizinho ao Otortén, chamado na língua mansi de
“Kholat Syakhyl” ("Montanha dos Mortos") foi encontrada a tenda dos
turistas.
Segue um fragmento do relato de Boris Slobtsov:
“O
nosso caminho com Sharávin e Ivan, o caçador, ia para o passo ao vale do
rio Lozva e para a serra, desde a qual esperávamos avistar o monte
Otortén por meio dos binóculos. No passo, Sharávin, avistando através de
binóculo a encosta leste da serra, viu sobre a neve algo que parecia uma
tenda caída. Decidimos ir até lá, mas sem Ivan. Ele disse que não estava
se sentindo bem e que esperaria por nós no passo (percebemos que ele
simplesmente ‘tinha os pés frios’). Ao aproximarmo-nos da tenda, a
encosta tornava-se mais íngreme e a crosta de neve gelada, mais densa e,
assim, tivemos que deixar os esquis e caminhar as últimas dezenas de
metros sem eles, mas com paus.
Finalmente, topamos com a tenda; estamos parados, em silêncio e não
sabemos o que fazer: o declive da tenda está rasgado no centro, por
dentro há neve e certas coisas, os esquis eretos, e na entrada, um
machado de gelo cravado na neve, não se veem as pessoas, horrível, é um
pavor!”.
Foto tomada no dia seguinte após o achado.
Esta
tenda era a única de seu tipo: foi costurada pelos próprios estudantes a
partir de duas tendas para quatro pessoas, de modo que o tamanho dela
era 1,8 por 4 metros. Slobtsov, que liderou a equipe de resgate,
reconheceu imediatamente aquela tenda, pois ele tinha participado
pessoalmente do processo da sua costura.
Foi
precisamente essa tenda que foi usada pelo grupo de Dyátlov.
Instalação da tenda pelos membros do grupo de Dyátlov,
em
foto tomada na última caminhada.
A
parte superior externa da tenda estava rasgada em vários lugares. O
pessoal do resgate inspecionou cuidadosamente a tenda por dentro,
através da abertura no telhado. Sondaram com um machado de gelo o espaço
dentro da tenda: não havia cadáveres lá. Foi a primeira boa notícia,
pois significava que havia esperança.
As
coisas que estavam em cima e dentro da tenda, foram tiradas em desordem.
No amontoado dentro da tenda estava pendurada uma jaqueta impermeável,
no bolso da qual havia uma caixa que originariamente tinha sido de
rebuçados. Nesta foram encontrados os documentos de Ígor Dyátlov,
bilhetes de retorno do trem, dinheiro e documentos de rota do grupo.
Esta seria a segunda boa notícia: se todos os objetos de valor se
encontravam no seu lugar e não havia pegadas ao redor da tenda, então, o
grupo não tinha sido atacado e não haveria contexto criminal na
história.
Na
tenda, Slobtsov apanhou o diário do grupo, no qual todos os
participantes da caminhada, respectivamente, tomavam nota sobre os
eventos. O último registro foi de 31 de janeiro e, segundo descobriu o
resgate, naquele dia o grupo tinha feito um labáz (armazém
temporário para coisas e víveres) no vale do Lozva, assim, poderiam
subir o monte Otortén sem bagagem e pegar a carga no caminho de volta.
De acordo com este registro, em 31 de janeiro, todos os membros do grupo
estavam vivos e saudáveis.
Em
torno da tenda, não havia pegadas na neve, mas estas eram visíveis ao
longe, se iniciando a aproximadamente uns 15 a 20 metros da tenda e
dirigindo-se diretamente para a floresta. Slobtsov e Sharávin (este
último, também estudante do UPI, que acabava de regressar da caminhada
turística sob a sua própria direção) não chegaram a estudar
cuidadosamente as pegadas, nem se ocuparam de cavar a entrada da tenda,
coberta de neve, pois estava começando a nevasca e eles tinham pressa
para voltar ao seu estacionamento antes do anoitecer e relatar aos
companheiros sobre o achado. Slobtsov e Sharávin voltaram rapidamente
nos esquis ao seu acampamento. Eles levaram a caixa com os documentos, o
diário, um frasco de álcool (nas caminhadas, era observada a lei seca,
mas o álcool era necessário como um medicamento contra o congelamento) e
três câmeras fotográficas como “provas materiais”.
Ainda naquela noite se agregou ao grupo o operador de rádio Yegor
Nevólin, que comunicou ao estado-maior sobre a descoberta pelo rádio.
Felizes com o sucesso do achado, e principalmente, com o fato de não
haver cadáveres na tenda, membros da equipe e resgate decidiram celebrar
o feito, tomando meio copo de álcool diluído - aquele mesmo que
trouxeram da tenda abandonada. Quando eles levantaram um brinde “pela
saúde dos dyátlovtsy”, dois caçadores locais que participaram das
buscas, severamente responderam que, mais provavelmente, deveriam
brindar “para que descansem em paz”. Depois dessas palavras, por
pouco não irrompeu uma briga, pois os estudantes ainda acreditavam que
não havia ocorrido nada sério aos seus companheiros. Acreditavam que,
talvez houvesse apenas feridos ou doentes no grupo de Dyátlov e que
então eles estariam em algum lugar seguro, à espera do socorro.
Não queriam considerar outro desfecho.
Embora conseguissem resgatar todos os documentos, objetos, dinheiro e
até provisões, a ausência das pessoas apontava claramente a uma possível
situação trágica.
O estado-maior para as operações de busca
se instalou no local do achado. Para lá foram enviadas duas tendas do
Exército para 50 pessoas cada uma. Os homens do resgate foram deslocados
e o coronel Ortyukov chegou voando junto com Tempálov, o promotor de
Ivdel.
Equipe de resgate perto da sua tenda.
A
área ao redor da tenda e a tenda em si foram cuidadosamente
inspecionadas. Ficou claro que os turistas deixaram-na em pânico: a
poucos metros da tenda foram encontrados alguns gorros congelados na
neve, chinelos de diferentes pares - após esquiar, os esquiadores mudam
obrigatoriamente a roupa e os sapatos antes de dormir. A 20 metros para
baixo, pela encosta da montanha, começavam as pegadas de sete pares de
pernas, algumas delas deixadas por pés praticamente descalços ou
calçados em uma meia.
As buscas: 1 - tenda
retirada; 2 - mochilas e esquis dos turistas do grupo de Dyátlov;
3 - Еvgueni Máslennikov;
4 - promotor Vasili Tempalov.
Depois de algumas dezenas de metros surgiam pegadas
de mais dois pares de pés calçados. Era evidente que as pegadas não
seguiam uma após a outra, mas estavam dispostas em fila, ou seja, as
pessoas teriam andado em linha, tentando não perder de vista uma à
outra. As pegadas eram claramente visíveis, pois a neve debaixo delas
tinha sido pressionada, congelando-se posteriormente. No entanto, a neve
em torno das pegadas foi soprada pelo vento bastante forte nas encostas.
Mais abaixo, a 500 metros da tenda, as pegadas desapareciam sob uma
massa de neve.
Pegadas dos membros do
grupo na grossa camada da neve. Nota-se as pegadas de pés descalços.
Quem
foi que cortou a tenda? Caso fossem os próprios jovens, o que, então,
fez com que nove turistas experientes promovessem dois atos
autodestrutivos: eles teriam cortado a tenda (ou seja, privar-se-iam da única proteção
contra a neve e o frio naquelas paragens ásperas e desérticas) e
retirado-se pela encosta da montanha, quase despidos e
descalços, numa temperatura de 20 graus abaixo de zero?
Afinal, onde estão eles?
-
Clique aqui para acessar
a parte 2/4.
* Natália P. Dyakonova
é licenciada em Filologia, diplomada em Pintura, autora de uma serie de
artigos sobre a Literatura, Arte e História. Pesquisadora e historiadora
por inclinação.
É consultora e correspondente em Moscou para o diário digital
Via
Fanzine e da
ZINESFERA (Brasil). É editora do blog
Protocivilización.
- Tradução: Oleg I. Dyakonov.
- Revisão final e
adaptação: Pepe Chaves.
- Imagens:
- As fotos do grupo
tomadas pelos próprios turistas estão na internet em livre acesso,
receberam a divulgação após o dossiê do caso ter sido acessado pelos
pesquisadores.
- Os dois mapas de rota
foram confeccionados pela autora a partir de imagem do Google Earth.
- O mapa das buscas foi
elaborado por Evgueny Buyánov, um dos notáveis pesquisadores do caso.
- A foto do edifício da
UPI é de um cartão postal da época, assim como a dos turistas escolares,
todas em livre acesso na internet, mas sem menção da fonte, nem do nome
do autor.
Leia também:
Nota do editor:
'A aventura final'
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 1/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 2/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 3/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 4/4
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