Marte
Colonização marciana: Holandeses recrutam colonizadores para Marte A empresa holandesa Mars One anuncia que vai oferecer viagens só de ida para o início da colonização no planeta Marte.
Da Redação* BH-28/04/2013
Ao custo inicial de US$ 6 bilhões, a empresa Mars One planeja construir a primeira colônia humana em Marte. Leia também Assista vídeo da Mars One - projeto para colonização de Marte Equipe simula estadia em Marte por 120 dias Viagem a Marte é programada para 2018 Robô Opportunity completa oito anos em Marte Estrutura branca em Marte chama a atenção Curiosity, o sucessor dos robôs marcianos Marte: Um eclipse solar extraterrestre Nasa lança novo jipe robô Curiosity a Marte Robô Spirit é sepultado na poeira de Marte Nasa vê água corrente em Marte
O homem em Marte
A iniciativa de uma empresa holandesa Mars One está dando o que falar em todo o mundo, após anunciar na última semana que deverá abrir inscrições para voluntários que desejarem colonizar o planeta Marte, mas com passagem só de ida.
Alvo de pesquisas do homem faz séculos, Marte é o planeta mais próximo da Terra e está, em média, localizado a uma distância aproximadamente 60 milhões de quilômetros. O planeta já foi atingido por várias sondas terrestres e é pesquisado atualmente pelo jipe robô Curiosity. Anteriormente foram enviados os jipes robôs Pathfinder, Spiritit e Opportunity, todos da NASA. Além disso, as agências espaciais norte-americana e europeia mantêm complexas sondas na órbita marciana.
Mesmo assim oferecendo uma passagem só de ida ao planeta vermelho, a Mars One já recebeu dados de milhares colonos em potencial.
Bas Lansdorp, fundador da Mars One, explicou à BBC em Londres sobre a razão de se tratar de um voo sem volta e quais devem ser as características dos candidatos que devem ser escolhidos.
De acordo com Lansdorp, todo o projeto, desde a seleção dos candidatos até a viagem, vai ser transmitido em um programa de televisão, nos moldes de um reality show. Ele também esclareceu que os voluntários precisarão ser resistentes, flexíveis e engenhosos.
Adaptações essenciais
Para atingir Marte com as tecnologias atuais, estima-se que os primeiros astronautas que chegarão a Marte terão de enfrentar uma viagem que deve durar entre sete a oito meses, devendo perder considerável massa óssea e muscular.
Lansdorp explicou que, depois de passar um tempo vivendo em um campo gravitacional bem mais fraco de Marte, seria quase impossível ao organismo humano se reajustar biologicamente para se readaptar a gravidade terrestre.
Para tanto, deverá haver uma intensa preparação, onde os candidatos selecionados passarão por treinamento físico e psicológico. Ainda de acordo com Lansdorp, a equipe vai usar tecnologia já existente em todos os aspectos do projeto.
Rasgando o espaço em direção a Marte, durante a viagem, os astronautas vão desfrutar e se manter a bordo com energia gerada exclusivamente pelos painéis solares de sua espaçonave. Toda a água levada a bordo será reciclada. Em Marte os astronautas devem extrair água do solo para cultivar seus próprios alimentos. Os primeiros colonizadores também contarão com uma grande carga de suprimentos de emergência. Além disso, está programado que, a cada dois anos, novos exploradores vão se juntar ao grupo de colonos.
Lansdorp: Desde a seleção, vários estágios do projeto serão transmitidos em um programa de televisão, nos moldes de um reality show.
Vento solar varre a superfície
Assim como os demais planetas na nossa periferia, Marte é fortemente varrido pelo vento solar, partículas ionizadas que se desprendem do Sol. Na Terra estamos protegidos dos efeitos do vento solar porque o planeta possui um forte campo magnético que expele. No entanto, em Marte, cuja atmosfera é rarefeita, os efeitos do espaço exterior chegam a sua superfície e podem ser mortais aos organismos vivos.
Segundo os cientistas, Marte também já teve uma atmosfera densa e protetora, mas isso faz quatro bilhões de anos. Atualmente, a maior parte da atmosfera do planeta vazou para o espaço e assim, a sua superfície perdeu o que teria sido a proteção natural.
O que prevê a Mars One
A Mars One pretende captar investidores privados e não envolver nenhum dinheiro ligado aos meios políticos ou aos contribuintes. Dentro das projeções da Mars One, espera lançar em 2016, um satélite de comunicação e uma missão para o envio e suprimentos a Marte. Para 2018, o plano é enviar um jipe robô para sondar o melhor local para a instalação da colônia humana. Em 2020 estão previstos os envios de mais um jipe robô, suprimentos e as moradias utilizadas pelos colonizadores. As sondas deverão preparar os abrigos infláveis para aguardar achegada dos primeiros humanos. Finalmente, em setembro de 2022, partirá para Marte a primeira tripulação de colonizadores, que atingirá o destino somente em abril de 2023.
Um vídeo disponibilizado pela Mars One mostra detalhes do projeto. Assista vídeo da Mars One - projeto para colonização de Marte
Cientistas analisam viabilidade de projeto
Segundo Veronica Bray, cientista do Laboratório Planetário e Lunar da Universidade do Arizona (EUA), a superfície do planeta vermelho é extremamente hostil e por isso, vê o projeto holandês com ceticismo.
A cientista aponta que não há água líquida, a pressão atmosférica é "praticamente um vácuo", os níveis de radiação são mais altos e as temperaturas variam muito. Segundo Bray, "A exposição à radiação é uma preocupação, especialmente durante a viagem. Isto pode levar ao aumento do risco de câncer, sobretudo, em um sistema imunológico mais frágil e, possivelmente, causar a infertilidade".
Para minimizar os contatos com a radiação, o projeto prevê uma cobertura com vários metros de terra sobre as cúpulas onde os colonos deverão viver. Este abrigo deverá ser cavado pelos próprios habitantes do local.
"Não tenho dúvidas de que podemos, fisicamente, colocar um humano em Marte. Se ele vai conseguir sobreviver durante um período maior de tempo, é algo muito mais duvidoso", acrescentou Bray.
Gerard't Hoof, embaixador do projeto e um dos ganhadores do prêmio Nobel em física teórica em 1999, admite riscos ainda desconhecidos para saúde. Ele afirma que a radiação é "de uma natureza muito diferente" do que qualquer coisa que já tenha sido testada na Terra. Segundo Hoof, "Comunicaremos aos candidatos que há riscos, mas será nossa responsabilidade manter estes riscos em níveis aceitáveis".
O astronauta da Nasa Stan Love já enfrentou dificuldades tecnológicas na Estação Espacial Internacional. Segundo ele, os aparelhos que reciclam o lixo humano e transformam "o café de ontem no café de amanhã precisam de manutenção constante e provavelmente não sobreviverão a anos de uso contínuo em Marte".
Love voltou recentemente da Antártida e comparou o ambiente gelado com Marte. "É cheio de água, você pode sair e respirar ar. É um paraíso comparado a Marte e, mesmo assim, ninguém se mudou permanentemente para lá", afirmou.
No entanto, apesar de suas dúvidas em relação ao financiamento, riscos da radiação e tecnologia, Love aprova a iniciativa da Mars One. Ele acredita que organizações particulares como esta podem ajudar na elaboração de novas tecnologias para ajudar em viagens futuras ao planeta vermelho. "Sonhamos com isso há 50 anos. A Lua seria apenas um trampolim para Marte. Mas quando você estuda o problema, você percebe que é imensamente difícil", afirmou.
Um dos candidatos a uma vaga de colonizador de Marte, Alison Rigby, de 32 anos, afirmou que o fato de ser uma viagem sem volta não é assustador. "Uma passagem só de ida me assusta, mas não é o bastante para me fazer mudar de ideia. Uma vida bem-sucedida em Marte será o grande feito da minha vida e fico feliz de deixar minhas preocupações de lado na esperança de algo melhor", declarou.
Custo 'astronáutico'
Além das adversidades ambientais, outro problema significativo em relação à execução do projeto projeto é o alto custo em dinheiro. Somente para o envio do primeiro grupo o custo é estimado em US$ 6 bilhões. Para Chris Lintott, da Universidade de Oxford, o projeto é tecnologicamente plausível, mas ele não acredita que a verba necessária seja conseguida. Para ele, a execução desse projeto, "Está relacionada à vontade política e à solidez financeira para fazer isto acontecer. E ninguém conseguiu resolver isso até agora".
Apesar de todos os impedimentos atuais, o fundador da Mars One acredita que é possível levantar o dinheiro e cita os direitos de transmissão das Olimpíadas de Londres. "Este será o maior evento da humanidade. Em 15 anos as pessoas ainda estarão assistindo. Explorar nosso mundo e, agora, além, é o que os humanos fazem, está em nosso genoma. O sonho dos colonos de Marte se tornará realidade".
* Com informações as agências.
- Fotos: Mars One/Divulgação.
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- Extra: Assista o vídeo de um eclipse em Marte
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