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Museu

 

Fogo no Museu Nacional:

Manifesto contra desprezo à ciência

Manifestantes dizem que há desprezo com a ciência em protesto no museu*. Bancos integram rede de apoio para reconstruir Museu Nacional. Funcionários entram no Museu Nacional em busca de peças do acervo. PF vai conduzir investigações sobre incêndio no Museu Nacional. Governo vai liberar recursos emergenciais para o Museu Nacional no Rio.

  

Com críticas ao poder público de modo geral e ao governo federal, o ato apontou descaso com a história do Brasil, com a ciência e instituições públicas de ensino e pesquisa.

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Um protesto de indignação e solidariedade após o incêndio no Museu Nacional no Rio reuniu uma multidão na porta da Quinta da Boa Vista na manhã de hoje (3). Com críticas ao poder público de modo geral e ao governo federal, o ato apontou descaso com a história do Brasil, com a ciência e instituições públicas de ensino e pesquisa.

 

Os manifestantes começaram a chegar pouco depois das 9h, mas foram impedidos de entrar na Quinta da Boa Vista por guardas municipais. O museu, que foi a residência da Família Real durante o Império, fica dentro do parque e guardava um acervo de história natural considerado o maior da América Latina, além de peças de importância antropológica vindas de diversas partes do mundo.

 

O protesto continuou do lado de fora do portão e houve momentos em que os manifestantes tentaram entrar, quando os portões tinham de ser abertos para a passagem de veículos. Em ao menos um desses momentos, houve uso de spray de pimenta, e o clima ficou tenso.

 

A servidora e pesquisadora da Fiocruz Márcia Valéria Morosini foi ao ato prestar solidariedade aos funcionários do museu e defendeu que era preciso liberar a entrada, porque o protesto era um gesto de abraço.

 

"Todos nós, brasileiros, tínhamos que estar aqui. O que se perdeu hoje é muito representativo e é muito simbólico das perdas acumuladas para a ciência do Brasil", disse ela. "O que perdemos é uma memória do mundo. Nós éramos guardiões de uma parte da memória da humanidade."

 

A estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vitória Barbosa, de 18 anos, conta que foi ao protesto se manifestar contra o descaso com a universidade pública no Brasil. O museu é administrado pela universidade, que teve outros registros de incêndio em prédios importantes nos últimos anos. "Vim protestar tanto pela universidade quanto por todos os espaços públicos de cultura e educação."

 

O pró-reitor de graduação da UFRJ, Eduardo Serra, negociou com a Guarda Municipal para que os manifestantes pudessem entrar na área da Quinta da Boa Vista. Segundo Serra, a entrada dos manifestantes será liberada depois que o museu for cercado por grades. O que deve ocorrer nas próximas horas.

 

Os portões da Quinta da Boa Vista foram fechados pelas equipes da Guarda Municipal, nesta manhã, por medida de segurança, para evitar tumultos e prevenir acidentes. Equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil permanecem trabalhando no local, que ainda oferece riscos. Cerca de 400 pessoas, incluindo servidores, estudantes e manifestantes, que já estavam no parque permanecem no espaço, mas estão sendo orientadas a ficarem afastadas do prédio.

 

Bancos integram rede de apoio para reconstruir Museu Nacional

 

Em resposta ao incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, na noite de ontem (2), o presidente Michel Temer articulou hoje a criação de uma rede de apoio econômico para viabilizar a reconstrução do museu.

 

Formado inicialmente pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Vale e Petrobras, o grupo deve se empenhar nesse objetivo “no tempo mais breve possível”, segundo nota divulgada hoje (3) pelo Palácio do Planalto.

 

“Outros participantes poderão ser agregados durante a elaboração do projeto. Os ministérios da Educação e Cultura estudam mecanismos para que as empresas se associem na reconstrução do edifício e na busca pela recomposição do acervo destruído ontem. Uma das primeiras alternativas é usar a Lei Rouanet para financiar a iniciativa”, diz o comunicado.

 

Segundo a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, o presidente está cumprindo hoje agenda privada em São Paulo.

 

Chamas dominam o Museu Nacional na noite de 02/09/2018.

 

Funcionários entram no Museu Nacional em busca de peças do acervo

 

Um grupo de aproximadamente 15 funcionários do Museu Nacional entrou no prédio, às 15h de hoje (3), em busca de objetos e peças do acervo que possam ter escapado às chamas. Eles entraram pela porta principal, acompanhados por soldados do Corpo de Bombeiros.

 

Os funcionários removem cuidadosamente restos de escombros, como pedaços de madeiras, telhas e mesmo vigas metálicas, na esperança de encontrar algum objeto de valor histórico. Normalmente, o trabalho de rescaldo é feito apenas pelos bombeiros, mas como se tratam de peças antigas, é necessário acompanhamento dos especialistas, para distinguir um simples resto de escombro de um artigo valioso.

 

Munidos com martelos, pás e enxadas e usando apenas capacete, sem luvas, os funcionários trazem para fora as peças que encontram, colocando as menores dentro de caixas plásticas. Algumas rochas da Coleção Werner, que ficavam próximas à saída, foram retiradas, inclusive rochas pesadas, carregadas nos ombros.

 

Uma das primeiras peças retiradas foi um grande quadro, ainda emoldurado, carregado por quatro funcionários. O trabalho é lento e minucioso, pois muitas peças ainda podem estar em condições de recuperação, abaixo de toneladas de madeiras queimadas e telhas de barro. Os três andares do museu desabaram um por cima do outro até o chão.

 

Apenas bombeiros e funcionários do museu podem ingressar dentro do prédio. Os jornalistas e demais pessoas ficam a cerca de 20 metros de distância, por questão de segurança. Entre as peças mais raras, estão as múmias egípcias, compradas pelo Brasil por Dom Pedro I, e o crânio de Luzia, o mais antigo fóssil humano encontrado no país, com cerca de 12 mil anos.

 

A busca dos funcionários, entretanto, durou apenas 15 minutos. Agentes da Polícia Federal pediram para eles se retirassem para dar início às investigações sobre as causas do incêndio.

 

PF vai conduzir investigações sobre incêndio no Museu Nacional

 

Controlado o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, a previsão é que equipes de bombeiros entrem no prédio para avaliar as condições da estrutura. O trabalho de perícia e de investigação será conduzido por agentes da Polícia Federal da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio.

 

Não há previsão para o início da avaliação das condições do prédio nem da perícia, pois há locais ainda com focos de incêndio.

 

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o fogo foi controlado por volta das 3h de hoje (3), e os militares fazem o trabalho de rescaldo em pequenos focos de incêndio que ainda persistem, na tentativa de evitar o reinício das chamas.

 

Pela manhã, foi possível verificar parte da extensão da tragédia. A fachada foi atingida pelo fogo, desabou o teto e o interior do edifício foi praticamente destruído.

 

O incêndio começou por volta das 19h30 de ontem (2). Os bombeiros tiveram dificuldades em controlar o fogo porque os hidrantes não funcionaram. Foi necessário recorrer à companhia de águas e saneamento do Rio e ainda buscar água no lago do parque nacional onde está o museu.

 

Governo vai liberar recursos emergenciais para o Museu Nacional no Rio

 

O ministro da Educação, Rossieli Soares, afirmou hoje (3) que o governo vai liberar recursos emergenciais para atender o Museu Nacional do Rio de Janeiro, após o incêndio, neste domingo (2), que destruiu o prédio e o acervo da instituição. Segundo ele, é necessário que se faça um projeto executivo após avaliar as perdas, para saber exatamente quanto terá de ser empregado para a recuperação do museu. “A prioridade [do governo] é que se coloque o recurso necessário para a recuperação do museu”.

 

O ministro, que concede hoje coletiva de imprensa para tratar da qualidade das escolas brasileiras, iniciou as apresentações citando o incêndio no museu e reafirmando apoio. Ao final, voltou a falar da tragédia.

 

Segundo ele, caso o projeto fique pronto este ano, o recurso poderá ser liberado este ano. “A obra não será rápida, o prédio é histórico, não é refazer de qualquer jeito”, disse, ao ser questionado por jornalistas. O ministro afirmou ainda que não tem uma estimativa de quanto será necessário para a reconstrução. 

 

O ministro disse ainda que há cerca de dez dias encontrou o reitor Roberto Leher, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável pelo museu, justamente para discutir a necessidade de reforma da instituição. “Um dos temas que tratamos era a reforma do museu com recursos angariados e aquilo no que o MEC precisaria atuar. A responsabilidade [do governo] existe, é histórica e nós entendemos que agora é o momento da reconstrução com todo mundo junto”. 

 

Segundo ele, não apenas o museu, mas outros prédio da universidade precisam de cuidados. “A UFRJ é muito peculiar por ocupar muitos prédios históricos, esse será um dos temas de discussão [da reunião de hoje à tarde]”.

 

Perguntado sobre a responsabilidade do MEC pelo que ocorre, uma vez que o Museu Nacional é vinculado à UFRJ, que por sua vez é vinculada ao MEC, o ministro assumiu que a responsabilidade “é nossa, mas não é exclusiva de agora”.

 

“Fizemos um trabalho importante com a sanção do Orçamento do MEC sendo melhorado para 2019, o que é um sinal importante, mesmo em tempos difíceis”, afirmou e acrescentou: “Mas a reforma necessária, desde a época que se tinha mais recursos, não foi feita, provavelmente, a reforma necessária”.

 

Hoje à tarde, Soares e o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, reúnem-se com o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher. O reitor disse que cobrará do governo federal empenho para reconstruir o prédio e o acervo da instituição, que, segundo o próprio Museu Nacional, tem a maior coleção da América Latina.

 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou que está a disposição da direção do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para redirecionar recursos já aprovados para o museu para se somarem aos esforços de reconstrução do prédio, além da restauração do acervo.

 

Na nota, o BNDES se solidariza com e lamenta a tragédia: “Alinhado ao sentimento de perda do conjunto da sociedade brasileira, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lamenta o trágico incêndio que acometeu neste domingo (2), o Museu Nacional, no Rio de Janeiro”.

 

Um contrato assinado em junho, durante as comemorações de 200 anos da instituição, previa a destinação de R$ 21,7 milhões para a terceira fase do plano de investimento de revitalização do Museu (as duas fases anteriores não contaram com recursos do Banco).

 

Segundo a nota, o primeiro desembolso do contrato entre o BNDES, a Associação de Amigos do Museu Nacional e a UFRJ, cujo prazo total de execução seria de 4 anos, estava previsto para outubro deste ano, no valor de R$ 3 milhões.

 

O apoio do Banco a essa terceira fase previa, inclusive, a elaboração de projeto executivo de combate a incêndio e, por exigência do BNDES, previa também sua efetiva implantação. “Estavam incluídos ainda, no escopo do contrato, a remoção de toda a coleção armazenada em solução inflamável para uma edificação anexa ao prédio histórico, a reestruturação do sistema elétrico e a criação de um fundo patrimonial para garantir a sustentabilidade financeira de longo prazo do museu”.

 

Na manhã desta segunda-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entrou em contato com a direção do Museu Nacional, para oferecer apoio, bem como suas próprias instalações físicas. O instituto se colocou à disposição do museu “para ajudar no que for preciso”.

 

Em nota, o IBGE lamentou “profundamente o incêndio".

 

* Informações de Karine Melo, Vladimir Platonow, Mariana Tokarnia e Vinícius Lisboa, com Nielmar de Oliveira/Agência Brasil.

  03/09/2018

 

- Foto: Thomas Silva e Tânia Rego/Agência Brasil.

 

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