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Geoglifos
Rússia enigmática: Anomalia 'Kaslínskaya' no Ural do Sul Os misteriosos círculos, sua origem e finalidade, geraram grande interesse e controvérsia. Houve tentativas de associá-los à arqueologia, mas não há qualquer vestígio de antiga habitação humana na área.
Por Natália P. Dyakonova* De Moscou/Rússia Para Via Fanzine 04/12/2013
Os círculos de Kaslí em imagem ampliada. À esquerda, são visíveis o lago Kutashí e sua margem pantanosa. Leia também: Mistérios em torno do geoglifo no Ural Rússia: Geoglifo pode ser mais antigo que as linhas de Nazca Nas supostas ruínas de Natividade da Serra - Por C. P. Gomar A antiguidade dos registros rupestres do Brasil - Por J.A. Fonseca Cueva de los Tayos: a verdadeira caverna do tesouro - Por Yuri Leveratto Você sabe o que é Arqueologia? - Por Paulo R. Santos Descoberta arte rupestre nos Açores Mais descobertas relevantes nos Açores Quem descobriu os Açores, afinal? Descoberta uma importante xancra em Portugal
Em matéria de nossa autoria, intitulada “Mistérios em torno do geoglifo no Ural”, publicada anteriormente em Via Fanzine reportamos sobre a descoberta do enorme geoglifo “O Alce”, na Óblast (Região) de Tchelyabinsk, no sul do Ural. Na mesma área onde, em fevereiro deste ano, caiu um meteorito, causando confusão, tanto no sentido literal, como figurativo. Mas, esta vasta região guarda também outros mistérios. Um deles é a chamada anomalia “Kaslínskaya”. Como no caso da descoberta do geoglifo “O Alce”, a sua detecção se deu graças aos mapas por satélite do Google. Em 2009, perto da cidade de Kaslí, uma atenta usuária da Internet, moradora da cidade de Yekaterimburgo, notou a existência de misteriosos círculos concêntricos do seguinte aspecto mostrado nas imagens a seguir.
O fenômeno passou a ser conhecido como a anomalia “Kaslínskaya” (por conta da cidade de Kaslí), localizada nas coordenadas 55° 53' 7.83", 60° 49' 3.38".
Os círculos estão localizados a dois quilômetros em linha reta da cidade Kaslí, na floresta situada do outro lado do lago Kutashí. O modo da construção destes círculos é bem diferente daquele que foi empregado no caso do geoglifo “O Alce”, o qual aparece 'desenhado' no chão com umas linhas largas e claras. Os círculos perto de Kaslí foram criados por meio da edificação de uns aterros de pedra altos e largos, similares a diques, que hoje se encontram cobertos parcialmente pela floresta.
Os aterros com que foram traçados os círculos, agora têm de 50 a 70 cm de altura e a largura de cada um não é inferior a três metros.
Atualmente, a altura dos aterros que formam os círculos diminuiu visivelmente, sendo que no passado era claramente maior (de um metro ou mais), assim como a largura destas construções térreas.
Os círculos são enormes e, por isso, podem ser vistos unicamente de cima, sendo que as pessoas paradas no chão simplesmente não podem distingui-los da paisagem geral. Foi por isso que, cortando a terra através deles uma estrada vicinal foi aberta (como ocorrido com alguns desenhos no deserto de Nazca, antes de serem visualizados do alto. Esse também foi o caso do enorme geoglifo "O Alce", na mesma Óblast de Tchelyabinsk, situado a apenas 140 quilômetros desses círculos).
Os círculos vistos do outro ângulo: o Norte está abaixo, o pântano e o lago, à direita.
Olhando atentamente para o mapa, a primeira coisa que chama a atenção, é um enorme losango despido de vegetação, cujos contornos foram parcialmente destorcidos pela floresta crescente, mas ainda permanecem claramente visíveis. Se tentarmos restaurar o tamanho original do losango, considerando os limites das florestas menores ao longo do seu contorno, o tamanho inicial de cada lado resultaria em pelo menos 800 metros.
Entre as formas geométricas ainda visíveis podemos notar quatro círculos, dois grandes e dois pequenos, estando estes últimos conectados entre si por uma linha reta. Os eixos das coordenadas dos círculos cabem perfeitamente dentro do losango.
O losango e os seus eixos. Vê-se claramente que os eixos passam de uma forma perfeita pelos centros de todas as quatro circunferências.
Mas, por que árvores têm crescido em círculos e linhas retas de uma maneira tão rigorosa? Alguns observadores notaram que em todos os círculos pequenos sempre está crescendo uma quantidade anormalmente grande de morangos. Provavelmente, ali, funcionam certas peculiaridades energéticas do geoglifo, fazendo com que as sementes das árvores germinem mais vigorosamente ao longo das linhas do esquema. Mas, provavelmente, as leves sementes de bétulas e álamos simplesmente se detiveram em volta dos aterros, nas direções dos ventos dominantes, mais densamente em alguns lugares e menos em outros. Também é possível que isto seja devido à variada presença de umidade nos aterros e próximo deles.
O círculo em imagem ampliada.
Círculo pequeno em imagem ampliada.
Fazendo as medições precisas com uma régua do Google, concluímos que os círculos grandes têm não menos de 310 metros de diâmetro, e os menores, 100 metros. Os diâmetros dos pequenos círculos conectados por linha reta correspondem aos dos pequenos círculos inseridos dentro dos círculos maiores: 100 metros cada um. A distância entre as circunferências dentro dos círculos maiores é de 50 metros. Circundando todo o sistema de círculos com uma linha colorida, obtivemos esse esquema a seguir.
Esquema desta composição geométrica.
Os misteriosos círculos, sua origem e finalidade, geraram grande interesse e controvérsia. Houve tentativas de associá-los à arqueologia, mas não há qualquer vestígio de antiga habitação humana na área. Houve alguns que encontraram semelhança dos círculos com a disposição da divisão da defesa antiaérea. Para cada míssil S-75 que estava em serviço na década de 1970, era designado um terreno vedado de parapeito. No centro, era posto o radar. Mas os militares negaram imediatamente tal versão: primeiramente, os mísseis não eram colocados tão perto uns dos outros e, depois, se compararmos essa imagem com a imagem real das antigas posições de mísseis, tornar-se-á claro que eles não têm nada em comum.
Esquema típico da divisão da defesa antiaérea soviética.
Perante o cenário de discussões acaloradas sobre os misteriosos círculos, apareceu de repente, outra versão, que passou a ser oferecida insistentemente aos usuários curiosos da Internet. Supostamente teria sido exposta por um correio eletrônico dirigido para um dos membros da “Kosmopoisk”, uma associação russa que se dedica ao estudo dos fenômenos anômalos, mas que possui uma reputação duvidosa. Supostamente, o autor de tal versão teria sido um dos ex-funcionários da fábrica de rádio da cidade de Kaslí. Segundo ele, a fábrica uma vez teria realizado testes de certos radiogoniômetros naquele lugar. No centro do círculo, alegadamente, teria sido instalado um aparelho analisador de dados, e os radiogoniômetros teriam sido levados em círculos por caminhões (sem existir, de fato, quaisquer rastros destes últimos).
Este sistema de carros-radiogoniômetros "Rama" foi criado e testado ainda nos anos de 1960, em Leningrado. Entre 1972 e 1986, alguns equipamentos foram produzidos para eles na fábrica de rádio da cidade de Kaslí, entre outros locais. Tais carros com radiogoniômetros, de acordo com esta versão duvidosa, supostamente teriam andado dentro ou em cima dos círculos da anomalia “Kaslínskaya”.
Alegadamente, de acordo com esta versão, nos anos de 1990, após o desmoronamento da URSS, a produção dos equipamentos teria sido parada, os testes teriam cessado e o polígono teria sido abandonado.
Esta versão não pode causar nada mais que um sorriso nos especialistas do rádio e da eletrônica, que nem sequer ouviram falar da existência de 'testes' que precisassem de semelhantes andaduras em círculos para a calibração/verificação dos equipamentos de rádio. Se aqui fossem usados grandes carros com goniômetros que teriam andado dentro ou em cima dos círculos, seria natural que os aterros dos círculos tivessem fendas para sua entrada e saída entre os aterros de altura não inferior a um metro. Mas todos os círculos são inteiros e não existem quaisquer vestígios da passagem de veículos a motor por cima dos aterros, nem vestígio algum da pista dos carros dentro dos círculos. Ou por acaso esses veículos pesados foram transferidos de um círculo para outro através do ar?
Para limpar da floresta um território tão grande, sem que fique um único tronco de árvore sequer, mas apenas a área plana e, depois, edificar tais aterros de pedra, seriam precisos muitos geodesistas especializados, além de instrumentos de topografia adequados e um grande número de trabalhadores.
Os círculos são feitos de pedregulho do tipo mostrado, que se encontra bem compactado com o solo. Milhares de toneladas destas pedras tinham que ser trazidas de algum lugar, porque as vizinhanças são locais bem pantanosos.
Kaslí é uma cidade pequena, de apenas 18-20 mil habitantes, de modo que todos os eventos e pessoas estão à vista. A construção e uso de um objeto tão grande a apenas dois quilômetros da cidade seriam conhecidos por todos em Kaslí. Contudo, para os moradores locais a descoberta dos círculos chegou a ser uma grande surpresa. E o mais importante: após ter lido a detalhada história da fábrica de rádio em questão, eu não encontrei qualquer menção deste suposto polígono.
Em 2010, alguns membros da associação “Kosmopoisk”, após visitarem a anomalia “Kaslínskaya”, trouxeram como 'prova' da versão dos tais testes, um pedaço de cabo velho, supostamente encontrado na área. O mais lógico, obviamente, seria se dirigir diretamente à própria fábrica. Mas, por alguma razão, os pesquisadores não o fizeram. Vale acrescentar também que, durante a inspeção do lugar, foram completamente ignorados os círculos pequenos, sendo verificados apenas os grandes.
E, finalmente, o fato mais importante, vem confirmar que a versão em questão não passa de uma mera invenção. Tal fato é a floresta. Sob o duvidoso pretexto de 'falta de tempo', ninguém do grupo "Kosmopoisk", em 2010, não se envolveu em um assunto tão importante como a definição da idade das árvores crescidas em cima dos círculos e, tampouco, das florestas em algumas áreas do losango uma vez despojado. Mas, vamos fazer isso agora.
Como é que, em 20 anos cresceram árvores tão grandes em cima dos círculos, bem como ao seu redor?
Como dizem os expertos silvicultores, em uma área de desmatamento típica para a Rússia, as primeiras árvores pequenas da floresta secundária sempre aparecem somente entre 10 a 20 anos. Como regra geral, são as bétulas e os álamos, pois essas espécies são fáceis de habitar espaços abertos por causa das suas sementes leves, por exigência da luz e alta velocidade de crescimento.
Eis como aparenta a floresta secundária que tem cerca de 20 anos de idade. Preste atenção à espessura dos troncos.
Esta floresta secundária tem uma idade de 50 a 70 anos, entre as bétulas e álamos já apareceram espécies nativas: abetos e carvalhos.
Eis como é a floresta secundária de bétulas e álamos de 70 a 100 anos de idade.
Um exemplo: esta bétula foi cortada análise no Passo Dyátlov (também no Ural). Apesar de seu tamanho modesto, sua idade é de aproximadamente 100 anos.
O que vemos, examinando a floresta crescida na clareira ao lado da anomalia “Kaslínskaya”, mesmo como sobre os círculos?
A floresta dentro de um dos círculos. Ao lado da alta floresta de bétulas e álamos, cuja idade obviamente não é inferior a 70 anos, já cresceram abetos altos.
Estas árvores antigas cresceram entre os círculos. A bétula que está à direita tem mais de 100 anos.
Esta é também uma floresta crescida diretamente sobre os aterros dos círculos. Além das bétulas muito antigas (algumas de idade não inferior a 100 anos) são claramente visíveis os abetos altos.
Diante do acima exposto e das imagens mostradas, vamos emitir a nossa conclusão: a idade da floresta dentro dos círculos e sobre os aterros é de 100 anos ou mais. Trata-se do prazo temporal durante o qual os geoglifos estariam se cobertos pela vegetação, deixando de ser utilizados de qualquer jeito. Até 1941, Kaslí era praticamente uma vila, obtendo o status de cidade somente em 1942. E, curiosamente, foi apenas em 1941 que foi transferida para Kaslí uma fábrica de rádio evacuada da cidade de Kharkov (na época, temporariamente ocupada pelas tropas nazistas alemãs, quando a Segunda Guerra Mundial se desenvolvia no território da URSS). Em 1945, a fábrica de rádio retornou à Kharkov, deixando em Kaslí a sua sucursal, justamente, a mesma fábrica de rádio que em nossos dias está sendo vinculada ao fenômeno dos geoglifos.
Mas, deste modo, pode-se afirmar com alto grau de seguridade, que a fábrica de rádio não está ligada de forma alguma aos geoglifos. E, por volta de 1972, quando na fábrica começou a produção de equipamentos para os complexos “Rama”, a anomalia já estaria coberta pela floresta durante décadas.
Mas ainda é difícil dizer, quando foi criado o sistema de círculos naquele espaço em forma do losango.
Considerando todo o mencionado, também podemos chegar à outra conclusão, de que a versão sobre os míticos testes é uma daquelas que são lançadas a fim de apagar o interesse por algum fenômeno extraordinário e inexplicável. Tal prática é muito comum, como é evidenciado pelos fatos. O efeito foi conseguido em uma determinada parte do público, cujo interesse pelo assunto diminuiu, mas há muitos daqueles que não acreditam nesta explicação.
Contudo, o que é, ou foi, a chamada anomalia “Kaslínskaya”?
Lembremo-nos de que o círculo é um símbolo muito antigo, encontrado em todos os povos do nosso planeta. Quase sempre, simboliza o céu (enquanto o quadrado simboliza a terra). Os círculos concêntricos têm significados diferentes, dependendo do seu número (as fases da Lua, a posição do Sol acima do horizonte, o sistema solar etc.). É provável que nós ainda sabemos muito pouco sobre o simbolismo de círculos concêntricos. Em todas as partes do mundo podem ser encontrados círculos concêntricos em forma de petróglifos, geoglifos, edifícios e labirintos antigos, e até mesmo "crop circles". A seguir, eis apenas alguns exemplos entre o monte destes círculos:
Geoglifo de círculos concêntricos muito antigos, de origem desconhecida, localizado perto de Tchernobyl (Ucrânia). O seu diâmetro não é inferior a 100 metros.
Petróglifos em Nevada, EUA.
Petróglifos em Barra do Garças-MT, Brasil.
Petróglifos na Suíça.
"Crop circles" em Wiltshire, Inglaterra.
Mais "crop circles" na Inglaterra.
Os misteriosos círculos concêntricos também são observados nos mares. Estes círculos brilhantes foram registrados em 8 de junho de 1984, pela equipe do navio de pesquisa soviético "Professor Pavlenko" no Mar Adriático.
Portanto, é difícil explicar o surgimento e a finalidade dos círculos da anomalia “Kaslínskaya”. Mas, se escolhermos como ponto de partida o fato de que toda a composição geométrica é visível apenas de cima, chegamos à conclusão de que, provavelmente, os círculos eram parte de um sistema de navegação aérea ou qualquer outro sinal de informação, visível somente àqueles que se encontravam acima do solo.
Na superfície do nosso planeta, existem os chamados "geoglifos militares", que podem ser visualizados apenas de cima. Foram criados no século XX para calibrar instrumentos ópticos de aeronaves e satélites: para isso, é necessária a orientação sobre um padrão contrastante. Com este intuito, algumas linhas claras de diferentes larguras são postas na superfície de asfalto ou concreto, na forma de tabelas. Mas para a calibração, ninguém está a construir tais complexos de aterros de granito como aqueles vistos perto de Kaslí.
Pela tecnologia da sua construção, os geoglifos de Kaslí se assemelham mais com as valas e os aterros celtas e os geoglifos do Brasil e Cazaquistão, descobertos recentemente.
Para muita gente, a história da criação e o propósito desses geoglifos gigantes perto de Kaslí continua sendo um mistério.
* Natália P. Dyakonova é filóloga e pintora profissional, pesquisadora e historiadora por inclinação.
- Seu blog é http://protocivilizacion.blogspot.ru (Com dispositivo para tradução automática).
- Tradução do russo: Oleg I. Dyakonov. - Revisão final e adaptação: Pepe Chaves.
- Fontes e referências: - Mapas do Google Earth, editados e marcados pela autora; - Fotos do local da anomalia "Kaslínskaya" (com livre acesso, autor: A. Lyúbushkin), marcadas pela autora; - Outras fotos da Internet (com livre acesso).
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