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 ARQUIVO express - por antônio siqueira  

 

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O BLOG DO ANTÔNIO SIQUEIRA

 

 

 Poesia Carioca

Tavinho Paes  foi atração em Campo Grande

Encontro de Poetas do Rio de Janeiro é sucesso de público e crítica na Lona Cultural de Campo Grande.

 

Por Antônio SIQUEIRA*

Do Rio de Janeiro

Para Via Fanzine

 

Tavinho Paes e Antônio Siqueira se encontram na poesia carioca.

 

Numa linda noite de sábado (18/03), depois de chover granizo sobre a região de Campo Grande no Rio de Janeiro, a poesia foi Senhora em todos os momentos e deu o tom do maior encontro de escritores e poetas já produzido na região. O I Encontro de Poetas do Rio de Janeiro, realizado na Lona Cultural de Campo Grande, teve coordenação de Dalberto Gomes e Paulinho D'Athayde, mais Fátima Oliveira, Américo Mano, entre outros, que buscam unificar o movimento literário  entre as Zonas Sul, Norte e Oeste da cidade.

 

Os momentos musicais foram meros coadjuvantes numa noite em que a linguagem em verso e prosa sobrepôs todas as expectativas e só fez confirmar: o público gosta de poesia, sim! O público gosta de ler, sim!

 

A cada apresentação surgia uma novidade performática, onde artistas da Zona Sul se integraram de forma harmoniosa aos das Zonas Norte e Oeste. Campo Grande mostrou que é, de fato, um dos maiores celeiros culturais da cidade. Maurício Araújo abriu a noite com seu violão e voz e em seguida, Américo Mano e Rita Gemino recitaram versos do circuito literário. O bom e velho Hugo Gruenwald recitou poemas da Ciranda Cultural, seguido pelo talentoso grupo Parador Bangu com a bela Leandra Nel e Bruno Lemarque no Violão; poesia recitada e cantada que encantou a platéia, repleta de adultos e crianças de todas as idades. Vintém de Cobre, Bom Dia Poesia, Poesia no Poste, Luiza Fernando Proa, Bárbara Santos e  Gladis Lacerda deram um show em recitas que iam de suas próprias autorias até forte flertes com Fernando Pessoa, Guimarães Rosa e Pablo Neruda.

 

Marcos Damasceno entoou duas canções do seu álbum Momentos Felizes, destaque para Nega Marina e P’ra Você, canções que são carros-chefes desse trabalho e já se tornaram sucesso. O Poesia Mix de Marcelo Girard, Jiddu Saldanha, Poesia nos Arcos, todos se destacaram positivamente nesta grande festa literária.

 

Um dos pontos altos desse evento durou apenas três minutos, mas comoveu a todos: A poetisa, violonista e compositora Zezé Lacerda, trouxeram consigo sua filha, a belíssima bailarina Cristina Lacerda, que fez uma performance maravilhosa para Canção Mulher de autoria de Zezé, numa homenagem à mulher do século 21. Fez belíssima performance com direito a um carinhoso beijo de Cristina em sua mãe, ao final da apresentação.

 Marcos Damasceno

Outro destaque foi o ator, jornalista e poeta Dalberto Gomes que, ao lado de Fátima Oliveira, nos mostrou com bom humor e irreverência sem iguais, típicas dos franceses, arrancou gargalhadas e aplausos do público. Poesia Simplesmente e Mano Melo deram seu recado para o agrado e apreciação de todos, além da excelente educadora e escritora Denise Almeida que dedicou sua recita à criançada. Denise é contadora de histórias e autora de literatura infantil, escreveu o livro Quem não presta atenção... Só se mete em confusão!. Denise nos declarou que o tempo para as apresentações fora muito curto e, com críticas construtivas, deu alguns toques que podem sim, ser seguidos pela organização do evento, sobretudo, porque “...é o 1° Encontro deste porte. O primeiro a gente dá o direito de errar, como experiência foi muito válida e nós precisamos destacar esses talentos maravilhosos...” , disse ela citando Erivelton Reis, um dos organizadores como seu maior referencial. Denise reclamou da possível desigualdade, mas achou proveitosa a noite e destacou também o cenário belíssimo do palco montado por pessoas, que segundo a própria, foi feito por pessoas de extrema sensibilidade.

 

O diretor do Teatro de Arena Elza Osbone, perguntado por nós se o projeto teria continuidade revelou: “Sim! Esse projeto  e outros que tenham haver com a música, com a poesia e com a participação da comunidade, teatro, música e você sabe que o melhor acontece aqui!”, declarou Yves, que administra de forma perfeita esse espaço tão importante na Zona Oeste do Rio.

 

O Administrador Regional e sub-prefeito administrativo de Campo Grande, Adenil Costa, que também marcou presença foi perguntado por nós se esses projetos poderiam ir para as praças e para mais perto das populações carentes:”Eu acho que não só esses projetos, eu acho que precisamos ir mais além! Acho que em todas as praças ou localidades que têm fluxo de pessoas todas as sextas, sábados e domingos, deveríamos levar também o Quiosque do Livro. Já que pedem também para implantarmos quiosques de alimentação para venderem cerveja e cachaça,  por que, também, não implantarmos quiosque do livro para incentivarmos a cultura do ler na nossa região? Nós já temos implantados alguns quiosques do livro em algumas praças e a coisa está indo bem”, disse o sub-prefeito.

 

Luiz Guima fechou o Momento Musical, abrindo espaço para a figura mais aguardada da noite, o poeta, letrista, compositor e performático, Tavinho Paes.

 

 Tavinho Paes, o poeta show

"Estão remixando o Fascismo"

Conheci Tavinho Paes pessoalmente nesse I Encontro de Poetas do Rio de Janeiro. O poeta preparava-se  para conceder uma entrevista à TV digital local Campograndense, juntamente com Dalberto Gomes, quando adentrei os bastidores de um espaço que conheço bem: o Teatro de Arena Elza Osbone, que é como se fosse nossa segunda casa. Tavinho absorveu bem esse clima de amizade e camaradagem entre todos que ali estavam.

Ele contou-me sobre o seu Jour Now (www.viafanzine.yan.com.br/journow.htm), em que as notícias se antecipam aos fatos. Este trabalho foi tema de artigo do competente jornalista José Aloise Bahia, escritor mineiro e colaborador de Via Fanzine.

Paes: "O primeiro Papa do século 21 vestiu o uniforme nazista e atuou na retaguarda dos exércitos do 3° Reich, que invadiu a pátria do Papa que ele substituiu e manteve vivo às caneladas por mais de duas décadas, enquanto a sua maçonaria centenária apossava-se dos cargos-chave da burocracia eclesiástica, preparando-se para enfrentar os exércitos dos islãos desembestados numa nova guerra fanática: estão remixando o fascismo!". "Incisivo" e até "visceral", seriam substantivos leves para a retórica desse escritor rebelde e tão gentil ao mesmo tempo.

 

A performance de Tavinho foi baseada nesse tema, forte e escarnecedor, que arrancou aplausos esfuziantes da platéia e que, também, nos leva a acreditar que esse país ainda pode melhorar e muito, ao menos ideologicamente falando.

 

Tavinho Paes nos presenteou com o primeiríssimo exemplar impresso do Poema Show (também vendido em e-book), que é, em suma, o próprio Jour Now, 100% independente e já circulando na maioria das bancas do Grande Rio.

 

Vida longa a Tavinho Paes e ao nosso dileto editor de Via Fanzine, Sir Pepe Chaves, que nos deu a honra de conhecer este amigo e poeta fantástico, em verdade, mais um grande membro desse país de “talentos irretocáveis”.

 

Clique aqui para ler na íntegra: 'Estão remixando o Fascismo', por Tavinho Paes.

 

 

*Antônio Siqueira (Rio de Janeiro/RJ) é músico, cronista e articulista de Via Fanzine.

 - Contatos com a coluna EXPRESS: antonioexpress@yahoo.com.br

 - Fotos: Arquivo do autor.

 - Produção: Pepe Chaves.

 

- Visite os sites de Tavinho Paes:

www.totalmentedemais.com.br e www.poemashow.com.br.

 

- Tavinho Paes em Via Fanzine:

www.viafanzine.yan.com.br/journow.htm

 

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Infantil:

Adriana Partimpim é espetáculo luxuoso

Calcanhoto investe em música para a criançada.

Por Antônio SIQUEIRA*

Do Rio de Janeiro

Para Via Fanzine

 

A maioria dos bons artistas brasileiros flerta com o público infantil, mesmo quando não se direcionem, exatamente, para seres especiais e extremamente exigentes. Beatriz, de quatro anos, talvez não saiba o que é um anglo-saxão, não conheça um menino caprino, não tenha visto um mocho e nem tenha a menor idéia de onde fica Xangai. Mas se diverte cantando as músicas complicadas do DVD Adriana Partimpim – O Show (Sony-BMG), segundo trabalho infantil de Adriana Calcanhotto. É difícil enganar uma criança sem jogadas de marketing e outros meios osmóticos.

 

Foi pensando nessa precocidade das crianças da era da internet que Adriana Calcanhotto adotou o sobrenome Partimpim – apelido que tinha na infância – e decidiu, em 2004, lançar um CD para a “gurizada”, como diriam seus conterrâneos gaúchos. A iniciativa foi tão bem-sucedida que Adriana deu continuidade à sua veia de “titia”, já que ela não é mãe e nem pretende ser. Um pouco antes do Natal chegou às lojas o DVD Adriana Partimpim – O show (também vendido num set CD + DVD), um dos discos mais inteligentes e bem produzidos de 2005.

 

O respeito de Adriana pelo público infantil começa pelo local escolhido para a gravação do DVD: o imponente Teatro Carlos Gomes, na histórica Praça Tiradentes, Centro do Rio de Janeiro.

 

Acompanhada de sua competente banda – Ricardo Palmeira (violão e guitarra), Dé Palmeira (baixo), Marcos Cunha (teclados) e Guilherme Kastrup (bateria e percussão) – Adriana canta as 10 músicas do CD de estúdio mais oito novidades.

 

Adriana com máscara usada no show

 

Entre elas, estão O Poeta Aprendiz, de Toquinho e Vinicius de Moraes; Quando Nara Ri, homenagem de Kassin à filha Nara; e uma seqüência de quatro poemas de Ferreira Gullar musicados por Adriana, extraídos do livro “Um Gato Chamado Gatinho”.

 

Calcanhoto hipnotizou a platéia, que manteve os olhos brilhando enquanto fitava o palco. Durante todo o show, era possível ver as crianças fascinadas. Enquanto as emissoras de TV massificam e fazem de videogames e brinquedos eletrônicos o maior atrativo para o público infanto-juvenil. Calcanhoto utiliza a poesia para tocar o coração de crianças e adultos, permitindo a todos, por algumas horas, sonhar com um mundo mais feliz. Puro encantamento!

 

Destaque muito especial para a música mais moleca do cd/dvd, “Oito Anos” de Paula Toller e Dunga, mostrando a fase mais controversa de qualquer criança: a dos “Por quês?”

 

“Por que os dedos murcham”.

Quando estou no banho

Por que as ruas enchem

Quando está chovendo

 

Quanto é mil trilhões

Vezes infinito

Quem é Jesus Cristo

Onde estão meus primos”. 

 

SHOW - com Direção Hamilton Vaz Pereira, Adriana Partimpim e Leonardo Netto Direção musical Dé Palmeira.

 

A BANDA Adriana Partimpim - Violão, guitarras, berra-boi, casco de cavalo, sapo, caixinhas de música, prato e colher, água, chocalhos de bebê, surdo, apito, celular de camelô Dê Palmeira Baixos, baixo de boca, lixa, pistom cretino, berra-boi, ocean drum, chocalho de tampinhas, vocais Ricardo Palmeira Guitarras, violões, guitarra portuguesa, cabo, berra-boi, vocais Marcos Cunha Teclados, samples, escaleta, flauta, guitarra slide, casiotone, berra-boi, garrafa-pet Guilherme Kastrup Percussão, bateria, MPC, programação, latas, objetos, brinquedos...

 

No palco, Adriana conta com um grande aparato. Ela começa o show “voando”, presa por cordas cedidas pela Intrépida Trupe. Um dos extras do DVD mostra todo o processo de ensaio deste número e de outro em que a cantora se pendura em um balanço.

 

Adriana Partimpim - O Show- BMG, 2005

1        . 01:50 .       Bolero de Rapel 

2        . 03:16 .       Saiba 

3        . 03:22 .       Ciranda da bailarina  

4        . 05:14 .       Ser de sagitário 

5        . 03:15 .       O poeta aprendiz 

6        . 02:55 .       Formiga Bossa Nova 

7        . 04:02 .       Canção da falsa tartaruga 

8        . 02:55 .       Borboleta 

9        . 04:22 .       O Mocho e a Gatinha 

10      . 04:41 .       Quando Nara ri 

11      . 04:07 .       Gato pensa? 

12      . 02:52 .       O ron-ron do gatinho 

13      . 02:07 .       Dono do pedaço 

14      . 04:12 .       O gato e a pulga 

15      . 03:08 .       Fico assim sem você   

16      . 03:27 .       Lig-Lig-Lig-Lé 

17      . 08:24 .       Lição de baião 

18      . 05:28 .       Oito anos 

  

Mas o que realmente chama a atenção é a grande quantidade de elementos usados como instrumentos musicais. A lista é das mais estranhas: casco de cavalo, brinquedos, apito, celular de camelô, pistom cretino, berra-boi, chocalho de tampinhas, garrafa pet, saco plástico, bacia d’água e muito mais.

 

Apesar da miscelânea, o resultado sonoro é surpreendentemente harmônico. Os vários elementos se encaixam com perfeição aos instrumentos tradicionais, produzindo efeitos muito interessantes.

 

Nesse clima, a tímida Adriana Calcanhotto – quer dizer, Partimpim – esquece o pudor e deixa aflorar o lado criança. Ela usa máscara e antena de formiga, dança funk e beija um sapo de brinquedo que faz som de grilo, entre outras peraltices.

 

A melhor música do disco é Saiba, de Arnaldo Antunes, com uma letra muito inteligente. Mas o show só esquenta na parte final, quando Adriana canta sua versão intimista para Fico Assim sem Você, sucesso da dupla Claudinho & Buchecha.

 

“Tem criança na platéia?”, grita a titia Partimpim, enquanto a câmera mostra crianças de todas as idades – e os pais, é claro – cantando junto.

 

A seqüência final vem com a divertida marchinha Lig-Lig-Lig-Lé, a dançante Lição de Baião, cantada meio em português, meio em francês e, o citado acima, Oito Anos, que é outro sucesso.

 

O Natal já passou, mas o DVD de Adriana Partimpim continua sendo um ótimo presente não só para as crianças. E ainda vai ser por muito tempo.

 

*Antônio Siqueira (Rio de Janeiro/RJ) é músico, cronista e articulista de Via Fanzine.

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- Produção: Pepe Chaves.

 

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Cantando a vida:

Sonho de moço

 O Maestro pernambucano Dery Nascimento nos mostra que

a Utopia não é um sonho impossível em seu dicionário existencial.

 

Por Antônio SIQUEIRA*

Do Rio de Janeiro

Para Via Fanzine

 

Coral “Um só Tom

 

A música é uma arte mulher, amiga, avó e mãe zelosa! Nos abraça, nos conquista, nos mima e, principalmente, nos educa. Dery Nascimento, pernambucano no melhor sentido da palavra (lê-se; grandeza), traz consigo o gen desta arte-música, imperativamente, para ser perpetuado, dividido entre crianças que nos mostram e revelam, quão sempre foram o bem maior.

 

O Coral “Um só Tom” corresponde a essa magia abençoada e advinda do talentoso Maestro Dery, que em 1999, deu início ao seu “Sonho de moço”, num projeto social, admiravelmente bem sucedido. Professor de música, Dery formou um coral só de crianças de áreas menos favorecidas na periferia de Guarulhos, na grande São Paulo.

 

A idéia deu certo e a molecada é sucesso, como muito bem definiu a denodada cronista, Morgana Gomes: “Graças à iniciativa de Dery Nascimento, depois de meia década de existência, o Coral Um Só Tom, trilha um caminho de sucesso, tanto musical quanto social. Os integrantes do grupo, além de se enriquecerem culturalmente por meio da música e da poesia, se tornaram jovens socialmente ativos, após terem deixado a rua”. A nave decolou. 

 

Dery, já se apresentou com essa turminha talentosa em diversos espaços e eventos, interpretando com graça e técnica, clássicos de uma passagem gloriosa do cancioneiro popular contemporâneo. Releituras maravilhosas das obras de Francisco Buarque de Hollanda, Elomar Figueira de Mello e da esplêndida banda 14 Bis, formada originalmente em 1979 por Flávio Venturini, Vermelho, Sérgio Magrão, Luis Cláudio Venturini e Hely Rodrigues.

 

 

 

As interpretações foram feitas com muito sucesso e reconhecimento do público, pois os respectivos artistas reverenciados e citados anteriormente, adoraram a performance da criançada.

 

Novo Show -  “Brasilidade" é o título do novo projeto do Coral Um Só Tom, trazendo o que há de melhor e mais criativo na história da MPB moderna ou parte dela. Dery trará versões de canções consagradas de compositores e interpretes que escreveram seu nome na eternidade dos astros da musica nacional: Antônio Carlos Jobim, Gonzaguinha, Ivan Lins, Renato Teixeira, Caetano Veloso, Luis Gonzaga (o pai do baião), Chico Buarque, João Bosco e Pixinguinha.

 

Cada canção do repertório será uma obra importante desses monstros sagrados, mostrando assim, que bom gosto e talento andam de mãos dadas: Querelas do Brasil, Madalena, De frente pro crime, Falando de amor, Garota de Ipanema, Sabiá, Romaria, Carinhoso, Luíza, Todo sentimento, Sampa, Asa branca, Não existe pecado ao sul do equador e O que é o que. Estes são alguns títulos que serão mostrados pelo Um Só Tom nas primeiras apresentações de 2006.

 

Dery  Nascimento e seus meninos e meninas encantados, são a prova eminente de que o tal Sonho de Moço e os ideais de igualdade e inclusão social, não fazem mais parte de uma utopia perdida no tempo.

 

*Antônio Siqueira (Rio de Janeiro/RJ) é músico, cronista e articulista de Via Fanzine.

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25 anos sem John Lennon:

Lennon: 25 anos de retóricas pela paz

‘Se todos os homens dessem as mãos, não sobrariam mãos para tocar em armas’

(John Lennon)

Por Antônio SIQUEIRA*

Do Rio de Janeiro

Para Via Fanzine

 

Há 25 anos Lennon lutou em prol da paz...

 

Em 8 de dezembro de 1980, John Lennon (1940-1980), considerado o líder intelectual dos Beatles e o mais influente músico pop da história do rock, era morto por um fã em frente ao edifício Dakota, em Nova Iorque, onde residia com Yoko Ono e o filho Sean.

 

Passado um quarto de século, vale uma vez mais mapear aspectos relevantes do legado público de Lennon, reconhecendo a sua extensa influência artística e recuperando o sentido crítico de sua obra e de suas intervenções políticas, marcadas por um pacifismo anárquico, não raro, temperado por uma irreverência cristalinamente ocidental, de “anti-herói palhaço”, mas não no sentido negativo atribuído por certa imprensa abutre da época, especuladora da vida privada e cúmplice do mais vetusto conservadorismo moral e político.

 

Pensar sua vida, incluindo falar sobre sua morte, não é permanecer numa cândida fixação nos anos 1960, que o próprio Lennon rejeitou. Trata-se de rever uma figura sintética central, expressão singular e social da grande reviravolta juvenil, que teve na contracultura e no rock – o inovador estilo musical surgido nos anos 1950 – os combustíveis necessários para a sua irrupção no cenário dos grandes quadros culturais da modernidade. Como disse Paulo Chacon (1983, p. 74), quem rejeita com um “olhar superior” temas assim, “não compreendeu muita coisa dos últimos 40 anos (agora já 60) e do que está por vir”.

 

'Fico orgulhoso de ser o palhaço do ano neste mundo em que as pessoas

ditas sérias estão matando e destruindo em guerras como a do Vietnam' 

 

Memorial Central Park - Yoko e a paz

 

Lennon, um homem marcado de berço pela guerra, foi, acima de tudo, um defensor da paz. Quando nasceu, os alemães bombardeavam Liverpool (Sagastume, 2005), o que lhe valeu o segundo nome, Winston, uma homenagem a Churchill, o “lorde da guerra”. Ao contrair sua união com Yoko Ono – a artista de vanguarda que o surpreendeu numa exposição em Londres, quando ele, curioso, subiu uma escada e, por um olho mágico pendente num quadro no teto, leu, simplesmente, “yes” –, infenso aos valores machistas e à guerra, John, ao invés de dar o seu nome a Yoko, aproveitou para deixar o lorde de lado e passou a se chamar John Ono Lennon.

 

Quando os Estados Unidos invadiram o Vietnã, pagou um comercial de página inteira no The New York Times e em jornais de outros países, deflagrando a campanha “A guerra pára, se você quiser”. Foi um dos movimentos que pesou internamente contra o belicismo criminoso dos agentes-laranja de Nixon. O primeiro ato pela paz, como afirmou Lennon em sua histórica entrevista à Rolling Stone (in Wenner, 2001, p. 55), foi o “Bed peace” (“Na cama pela paz”), a irreverente lua-de-mel com a imprensa em Amsterdam, depois em Toronto, onde ficaram dez dias na cama em protesto.

 

De fato, ele estranhava uma ineqüação óbvia do sistema, mas pouco notada; uma espécie de sintoma esquizofrênico da sociedade, em que a violência corre a olhos vistos, ao passo de que as pessoas precisam se esconder para fazer amor. Criticado, respondeu: “Fico orgulhoso de ser o palhaço do ano neste mundo em que as pessoas ditas sérias estão matando e destruindo em guerras como a do Vietnam”.

 

Nesse embalo, gravaram Give peace a chance que, como observou Antônio Bivar (in Bravo!, 2005, p. 45), é uma música de letra simplíssima: “pegou pelo refrão-grude, tocando o coração até dos mais insensíveis”. Como não poderia deixar de ser, suspeito de “envolvimentos radicais” com Jerry Rubin e outros, Lennon enfrentou ameaças de expulsão dos Estados Unidos, situação que só se reverteu em seu favor após a revista Rolling Stone denunciar uma conspiração ilegal para deportá-lo do país.

 

'Quando se declarou socialista, não foi hipócrita:

assumiu a sua condição-contradição de rico'

 

Música e crítica social

 

Afora a língua afiada ao paladar da crítica salobra, o viés mobilizador do ícone John Lennon foi a música de cunho político-social. Em Working class hero, ao bom estilo Bob Dylan, discorreu sobre a difícil situação dos trabalhadores. The woman is the nigger of the world é uma canção com a sensibilidade de reunir numa única frase, sincronicamente, o repúdio à condição subalterna das mulheres e dos negros.

 

Em Happy Christmas (war is over), após a guerra, como o nome diz, desejou Feliz Natal para brancos, negros, amarelos e vermelhos, reconhecendo as diferenças raciais. Tema que hoje, grandes intelectuais resgatam ao centro do debate social. Em Power to the people, criticou novamente as condições do trabalho e preconizou a derrubada dos seus exploradores em favor do poder para o povo.

 

Imagine, a sua principal obra e uma das mais belas músicas já feitas, ao questionar a religião, a propriedade, as nações, a ganância, a fome e, de certa forma, o valor de troca (“imagine todo mundo vivendo para o dia de hoje”), defendendo uma vida comum e fraterna entre os homens, representou, para a formação de muitos adolescentes, que ainda não tinham ouvido falar de Marx, uma espécie de prelúdio do Manifesto do partido comunista.

 

Cobrado sobre os grandes concertos beneficentes, vistos como uma espécie de função social da música, Lennon revelou-se crítico da caridade assistencialista.

 

Porém, para lembrar um poema de Brecht (1983), não incorreu propriamente no caso de “Quem não sabe de ajuda”, pois de muitas campanhas participou até se convencer de que isso só geraria mais dependência, jamais oferecendo uma solução positiva à pobreza, favorável à autonomia e afirmação dos povos. E quando se declarou socialista, não foi hipócrita: assumiu a sua condição-contradição de rico. Por essas e outras compreende-se por que, em Havana, Fidel Castro considerou meritório inaugurar oficialmente uma estátua em homenagem a John Lennon.

'Nada na música contemporânea foi tão traumático

quanto seu assassinato frio e cruel'

 

Beatles, Jesus, homem pré-histórico & Lucy in the Sky

 

Que os Beatles tenham sido mais populares do que Jesus Cristo, como Lennon afirmou numa de suas mais sonoras e polêmicas frases, é obviamente muito difícil, dado o histórico traço judaico-cristão do Ocidente, mesmo que a mídia lhes tenha feito as vezes das cruzadas em direção ao Oriente.

 

Mas, à parte com as comparações, Lennon e os Beatles ficam com a vantagem de terem, indiretamente, “batizado” o primeiro ancestral do homem. O cientista Donald Johanson conta no seu livro de divulgação, assinado com Maitland Edey, que, após a localização do fóssil, houve tanta euforia que à noite ninguém dormiu. E um gravador tocou direto o hit Lucy in the sky with diamonds, até que a alguém da equipe ocorreu a idéia de chamarem a descoberta de suas vidas de “Lucy” (1996, p. 24-25).

 

Seria esse um detalhe banal, pois nomes podem surgir quase que de quaisquer coisas ou casualidades? Talvez. Mas, no entremeado terreno da ciência e da cultura, depois de Lucy, a história da evolução não pode ser mais contada sem, pelo menos, uma nota de rodapé para os Beatles... E o próprio Johanson o releva: “- Lucy? Essa é a inevitável pergunta de quem vê o fóssil pela primeira vez. E tenho sempre que explicar: - Sim, era uma fêmea. E tem aquela história dos Beatles”

 

Nada na música contemporânea foi tão traumático quanto seu assassinato frio e cruel. John morreu combatendo a violência. Ironia ou não do pai destino, uma coisa é certa: do outro lado da vida, os critérios e os fundamentos puramente espirituais, regem o que chamamos de Plano Terreno. “Um simples canalha matou o Rei em menos de um segundo”.

 

Esse texto é dedicado a dois intrépidos e geniais artistas do cenário nacional, os mineiros Beto Guedes e Vermelho (14 Bis). São expoentes e sobreviventes de uma época de ouro da música contemporânea planetária.

 

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Lançamento musical:

Maria Rita e o Segundo Tom

 Segundo trabalho de Maria Rita tem co-produção

de Lenine e vem trazer novas pérolas à MPB.

Por Antônio SIQUEIRA*

 

Apesar de ser um trabalho de menor impacto comparado ao anterior,

o segundo CD de Maria Rita mostra uma intérprete bastante inspirada.

 

A cantora Maria Rita se apresenta menos séria e racional em seu segundo CD. A grande repercussão do seu primeiro e estupendo álbum com estréia meteórica que encantou mídia e público encontra-se agora diluída em Segundo Tom. Já está disponível nas lojas há, pelo menos, um mês, em edições simples (apenas CD) e dupla (CD+DVD e making off).

 

Em seu segundo trabalho, os vocais mais leves atenuaram um pouco a força dramática da interprete que dividiu duas faixas com Milton Nascimento em Pietá, último trabalho do músico mineiro. Segundo é um bom disco, mas não se compara ao primeiro trabalho de Rita. O número de canções de qualidade, agora é menor. A obra-prima entre as inéditas é Despedida, o surpreendente Ijexá do Hermano Marcelo Camelo. O baterista Cuca Teixeira batuca no chão do estúdio Toca do Bandido. O arranjo é envolvente.

 

Segundo Tom, é uma produção de Maria Rita e Lenine (pérola já consagrada da MPB contemporânea), mas o cd não tem a personalidade musical do artista pernambucano que é um arranjador hábil, sobretudo, quanto à mistura de sotaques e ritmos. “Culpa”, talvez, do competentíssimo formato piano, baixo acústico e bateria que aparecem em todas as faixas do álbum e que acaba limitando algumas delas, exemplo: Ciranda do Mundo careceu demais de um tcham percussivo.

 

O carioca Rodrigo Maranhão domina o repertório assinando três das 13 faixas. Maranhão mostra sua inspiração na singela Caminho das Águas, no samba Recado e num mantra composto com Pedro Luiz (da Parede). Mantra é a faixa escondida de Segundo, contudo, o trabalho se mostra menos arrebatador que o primeiro.

 

Maria Rita Mariano mostra que sua musicalidade universal é mesmo familiar e sua personalidade dá sinais de talento nato, originalidade e vida longa às eternas canções da MPB.

 Rita: traços de Elis_

 

*Antônio Siqueira (Rio de Janeiro/RJ) é cronista e articulista de Via Fanzine.

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Egberto Gismonti:

O mago da universalidade musical

Saiu do Rio de Janeiro para beber de todas as fontes musicais possíveis.

 

Por Antônio SIQUEIRA*

 

Egberto Gismonti

UM MÚSICO ZEN - O multi-instrumentista, compositor e arranjador brasileiro Egberto Amin Gismonti é certamente dono de uma das obras mais vastas e coerentes dentro da música brasileira. Nascido no Rio de Janeiro, dentro de uma família bastante musical, começou seus estudos aos cinco anos de idade. 

Estudou flauta, clarinete, violão e piano - este último, inclusive tendo como professor o renomado Jacques Klein. Em 1968 chamou a atenção do público e da crítica com sua composição O Sonho.

De 1968 a 1971 residiu na França, onde estudou com os expoentes da música erudita contemporânea Jean Barraqué e Nadia Boulanger. Esta o encorajou a se voltar para as linguagens musicais brasileiras e não se deixar se influenciar demasiadamente pela música européia.

Em 1969 lançou seu primeiro disco, intitulado Egberto Gismonti. Ao voltar ao Brasil, estabeleceu-se em Teresópolis/RJ. No decorrer dos anos 70, a música de Gismonti foi se orientando para o lado instrumental e para estruturas mais complexas, o que dificultou seu relacionamento com o selo EMI/Odeon, para o qual gravava.

'A música de Egberto Gismonti abrange uma vasta gama de paletas sonoras,

texturas, dialetos musicais e estados de espírito'

EXPERIMENTAÇÕES - Em 1976 gravou, com o grande percussionista Naná Vasconcelos, o seu primeiro disco para a ECM, o hoje clássico Dança das Cabeças. Nesse trabalho, internacionalmente elogiado, o virtuosismo violonístico de Gismonti aparece em toda a sua plenitude. É interessante notar que Gismonti só começou a tocar seriamente o violão em 1968, após muitos anos de estudo sistemático de piano. Em busca de um veículo mais adequado à sua música e à sua técnica, Gismonti migrou, ao longo dos anos, do violão de seis cordas, sucessivamente, para instrumentos de 8, 10, 12 e 14 cordas. Paralelamente, nunca deixou de ser um virtuose do piano. Sendo que o violão de 14 cordas foi reinventado por ele próprio.

No Brasil, Gismonti passou um mês entre os índios Yawaiapiti do Alto Xingú, tendo conhecido o chefe Sapaim. A comunicação entre Gismonti e os integrantes da tribo se dava principalmente através da linguagem musical. A experiência foi determinante na elaboração de seu trabalho seguinte, Sol do Meio-Dia (fantástico álbum), com a participação de astros em ascensão no selo ECM, o saxofonista Jan Garbarek, o percussionista Colin Walcott e o violonista Ralph Towner.

A partir do final dos anos 70, Gismonti se tornou uma unanimidade entre os apreciadores da música instrumental brasileira. Realizou turnês pela Europa e tocou com grandes nomes do jazz e da world music, entre eles, Naná, Garbarek, Walcott, Herbie Hancock, Airto Moreira, Flora Purim e Charlie Haden (que participou de seus discos Folk Songs e Mágico, de 1979). Em 1985 gravou Sanfona, um notável álbum duplo: em um dos CDs, Gismonti toca sozinho, e no outro é acompanhado pelo grupo Academia de Danças, formado pelo saxofonista e flautista Mauro Senise, o baterista Nenê e o contrabaixista Zeca Assumpção. Em 1995 gravou com a Orquestra Sinfônica Estatal da Lituânia o disco Meeting Point, consagrando-se como compositor erudito.

'Quem conhece sabe que ouvir Palhaço com Egberto Gismonti

e orquestra é uma experiência para se levar para outras vidas...'

INFLUÊNCIAS DISTINTAS - A música de Egberto Gismonti abrange uma vasta gama de paletas sonoras, texturas, dialetos musicais e estados de espírito. Pode soar grandiosa ou introspectiva, dramática ou lúdica, nostálgica ou futurista, brasileira ou oriental... Suas composições são concebidas para os mais variados instrumentais, desde o violão solo até a orquestra sinfônica, passando por instrumentos étnicos e teclados eletrônicos. Entre as principais influências de sua linguagem musical, podemos citar Heitor Villa-Lobos, Maurice Ravel, Django Reinhardt, John McLaughlin, Baden Powell, Astor Piazzolla, o folclore nordestino e do centro-oeste brasileiro, a música indígena e a música indiana, entre outras.

Romanticamente falando, ouvi com a alma e o coração os discos Circense e Carmo, hoje relançados em CD pela Warner. Raros de encontrá-los, pois são importados, mas não é impossível. Estive em dois concertos de Egberto que emocionaram: um foi em Lambari/MG em 1987, no antigo festival Encontro das Águas que promovia encontros de "Almas Musicais" que não eram desse mundo, tais como Sagrado Coração da Terra, 14 Bis, Quaterna Réquien, entre outras constelações. Posso dizer que ainda não vi nada igual. O erudito e o popular gerando  sons inacreditavelmente fascinantes. Quem conhece sabe que ouvir Palhaço com Egberto Gismonti e orquestra é uma experiência para se levar para outras vidas...

*Antônio Siqueira (Rio de Janeiro/RJ) é cronista e articulista de Via Fanzine.

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Polemista genial

 Gore Vidal e sua carreira de polemista

 Aos oitenta anos, Gore Vidal ainda é uma pedra no sapato

da conservadoramente  hipócrita Sociedade Americana.

Por Antônio SIQUEIRA*

 

Embora tenha começado a sua carreira antes do nascimento do cineasta e documentarista Michel Moore, hoje Gore Vidal pode ser comparado ao diretor de Faheinhigth 11 de setembro. Na mesma linha de Moore, mas com uma dose maior de acidez, Vidal é uma voz dissidente do perigosamente consensual Planeta América.

Ambos compartilham, também, de uma certa postura sarcasticamente bem humorada (embora o escritor seja mais elegante e até considerado um gentleman), pois preferem promover a consistência crítica, embarcando sem medo em teses conspiratórias do que se deixar perder uma boa provocação.

Esta verve incisiva do escritor fica patente até nos títulos de seus livros, manifestando ataques abertos às medidas descabidas do governo Bush.

No ano passado, por exemplo, Vidal lançou um ensaio chamado Dreaming War, blood for oil and Bush-Cheney junt (Sonhando com a Guerra: Sangue por Petróleo e a Junta Cheney-Bush).

 Gore Vidal e Michel Moore no detalhe

          

Quem leu o artigo anterior – nesta página, abaixo - deste cronista que vos escreve, certamente terá uma idéia do estrago que essa publicação fez na mídia americana. Destroçada por que Vidal apresentou denúncias verídicas embasadas e acusações de cooperação indecente às campanhas militares no Afeganistão e no Iraque, mostrando nas entrelinhas que os atentados em Nova York e Washington foram negligenciados já com a intenção de um contra-ataque militar covarde (onde inocentes morrem aos milhares) a já devastada nação afegã como um trampolim para o saque ao Iraque do não menos nocivo Sadan Hussein.

   

O romancista é quase tão polêmico quanto o cientista-político-demolidor-de-hipocrisias, Gore Vidal começou a causar reboliços já com o seu terceiro romance, “A cidade e o Pilar” de 1948. A história de um jovem homossexual provocou comoção no coração puritano da América (não o suficiente, porém, para impedir o autor de continuar freqüentando recepções milionárias, como as da família Guggenhein ou de privar sua amizade com John Kennedy).

 

O Primeiro livro de Vidal foi recebido com elogios, mas sem escândalo. Lançado recentemente no Brasil (em outubro de 2004, mais de meio século depois), Williwaw (Ediouro; 250 páginas; R$; 39,90 nas melhores livrarias do país) narra a viagem de um capelão e dois oficias, a bordo de um navio, às ilhas Aleutas, no mar de Bering. Em um prefácio recente a esse romance de estréia, Vidal admite que boa parte dos episódios da obra não tem nada de ficcional.

 

É baseada na sua experiência como piloto da Força Aérea Americana (USAF), durante a Segunda Guerra Mundial, nas Aleutas perto do Alaska (Williwalls são ventos devastadores e repentinos, muitos comuns naquela região).

 

Casos como o do marinheiro que se suicida bebendo o álcool metílico de uma bússula, são reais. O livro é inspirado no clássico Lord Jim, de Joseph Conrad, do qual herda os temperamentos rudes e a sutil fronteira entre acaso e o dilema moral. Certamente, temas tempestuosos demais para um jovem escritor de vinte anos. Contudo, Vidal sai ileso deles, nos presenteando com uma leitura fantástica.

 

Toque da coluna:

Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle

 

Em 1831, o joven naturalista inglês Charles Darwin partia para uma viagem de cinco anos a bordo do navio Beagle,visitaria a América do Sul_inclusive o Brasil_e a Oceania. Foi nessa longa viagem que ele amadureceu a idéia da evolução por meio da seleção natural, que cerca de vinte anos depois seria apresentada no livro A origem das espécies, estudo sugerido e instituído educacionalmente em todo mundo.

 

Bisneto de Darwin, o cineasta Richard Darwin que em 1951 trabalhou com Carlos Chagas Filho, no Brasil pesquisou extensivamente cartas, diários e outros documentos para reconstituir aquela que é talvez mais famosa excursão cientifica da historia.

 

O livro é ilustrado com desenhos feitos por Darwin e outros tripulantes do Beagle e é outra obra maravilhosa que sugiro a você, prezado leitor de Via Fanzine.   

 

*Antônio Siqueira (Rio de Janeiro/RJ) é cronista e articulista de Via Fanzine.

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60 anos do nascimento de Elis:

 Música para mais sessenta séculos

Os 60 anos de Elis Regina faz lembrar que o Brasil

ainda é órfão de uma música popular de qualidade.

 

Por Antônio Siqueira*

 

Por inúmeras vezes foi difícil acreditar que, naquela manhã de janeiro de 1982, o Brasil tenha amanhecido sem a sua maior interprete, estrela de uma luz incessante e de uma quase unanimidade, no auge de uma carreira batalhada com unhas e dentes; Elis Regina, além de ser a maior cantora que o Brasil já havia produzido, era também uma “guerrilheira” de si mesma. Uma doce “guerrilheira”.

No princípio foi complicadíssimo dado ao fato de que o pai, um militar conservador e reacionário; tentava de todas as formas impedir o brilho da “estrela” que desde a infância mostrava, sem a mínima intimidação, que havia nascido para cantar, brilhar, encantar e conquistar o mundo da forma mais pacífica e honesta que se tem conhecimento; com a força e beleza de sua voz e de sua canção.

 

SUCESSO IMEDIATO - A pequena guerreira saiu de casa aos 14 anos de idade, assinou um contrato numa emissora de rádio, dando início à carreira profissional. Com um sucesso imediato e o reconhecimento de que era um grande prodígio, a pequena notável cuidava da carreira como gente grande, enfrentando obstáculos (bem menores do que os de hoje, mesmo assim), conquistando um espaço precioso, num Brasil que respirava a brisa da Bossa Nova carioca. Era uma brisa que soprava, intermitentemente, das praias de Ipanema para todas as outras do mundo. Nascia aí o "pianizado" brazilian's beach song.

 

Alguns anos mais tarde, lá pelos seus 19 anos, e no início de um 1964 fatídico politicamente (Golpe Militar), Elis gravou dois LPs e um compacto que passaram desapercebidos pelo grande público.  Passou a residir no Rio de Janeiro, se apresentado de cara, na extinta TV Rio e no “lendário” Beco das Garrafas. No “Beco”, foi apresentada à nata da Bossa Nova; gente de peso como o Zimbo Trio, Luiz Carlos Miele, Ronaldo Boscoli, Wilson Simonal. Um tesouro de 1,50 cm de estatura, mas de primeira grandeza e valor inestimável. Contudo, portava-se quietinha e tímida, ao lado de gente da pesada.

 

Elis e o Zimbo Trio, no Rio de Janeiro.

 

1964 - Em março do fatídico 64, ela vence o primeiro Festival da Música Popular Brasileira, interpretando “Arrastão” que, na minha opinião é a canção mais “brasileira” já criada pelo cancioneiro popular. Obra prima assinada pelo Mestre Edu Lobo e pelo poetinha Vinícius de Moraes. Segundo pesquisadores de peso das minhas relações, dois dias depois, com produção de Walter Silva, estrearia o show Dois na Bossa, ao lado de um garoto que cantava alto e afinadinho chamado Jair Rodrigues, e do Jongo Trio. Transformado em LP, esse show deu origem imediata ao programa O Fino da Bossa, fazendo o Brasil voltar seus olhos para a dupla, até então mais famosa do cenário musical brasileiro.

 

Todos os compositores de expressão desse cenário maravilhoso passaram pelo programa: Gilberto Gil, Edu Lobo, Marcos Vale, Dorival Caymmi, Adoniran Barbosa, Cartola, Nelson Cavaquinho, Cyro Monteiro, Sérgio Ricardo (o homem que quebrou o violão e atirou na platéia), Baden Powel, entre outras feras. Elis buscava a música em sua forma única e universal, bebendo de fontes e estilos inesgotáveis, dada a grande diversidade e do grande patrimônio cultural (o de quem fazia a cultura florescer) que, já formava seus pilares à época, para ganhar o status de Música Popular Brasileira de Qualidade.

 

ENCANTADORA CONSOLIDAÇÃO - Com a extinção do programa em 1967, Elis deu asas à sua carreira. Apresentou-se na América Latina e na Europa, lapidou ainda mais (se é que isso era possível) a sua forma de cantar e interpretar. Ganhou em suavidade, não perdeu a força e ainda presenteou gente como Chico Buarque de Holanda, Milton Nascimento, Gonzaguinha, Ivan Lins (que sonhava com algumas de suas criações já com a voz da Estrela), Belchior, João Bosco, entre outros. Através de suas interpretações que eternizou cada obra e alçou e vez no cenário nacional, cada um dos citados compositores – por sua vez, todos, se encontravam no auge da criatividade. Mais madura Elis viajou o Brasil e o mundo cantando e encantando. Da imponência à simplicidade, traçava-se um só caminho, uma linha uníssona entre a genialidade e a mulher forte, apelidada pela imprensa e amigos de Furacão e Pimentinha, Elis Regina começava a escrever perpetuamente, seu nome na história da música mundial.

 

A grande voz do Brasil trazia uma bagagem de influências de outras grandes cantoras, também brasileiras, mas construiu um legado único e incomparável; sagrado e intransponível. Espetáculos fantásticos como “Falso Brilhante” e “O Trem Azul”, ficaram gravados na memória de quem os viveu e os assistiu.

 

Seu “namoro” e quase “casamento” com o Clube da Esquina foi um marco histórico na música brasileira. Milton Nascimento, que foi um dos maiores amigos e admiradores da “Pimentinha” a conheceu no Rio, no mesmo Beco das Garrafas, onde meu pai, jovem contestador à época, os viu juntos, várias vezes, antes do Festival da Canção de 67. Neste festival, Milton eternizaria os seus primeiros passos da sua Travessia pelo universo da “Mãe Música” até se transformar no word music man da atualidade. Elis, ao gravar a “Canção do Sal” de Milton e Ronaldo Bastos com sucesso incontestável, abriu espaço para uma parceria que durou uma década esplendida, num grande ápice de uma explosão criativa jamais visto na MPB.

 

ELIS E OS MINEIROS - Conviveu com as gravações do “Clube da Esquina “ de Milton e Lô Borges (guri prodigioso de 18 anos, na época). Elis dividiu o palco com Milton em várias capitais e em várias oportunidades, deixou-nos de presente a sua voz, numa de suas maiores interpretações, ao lado do próprio Bituca.

Cantou como se fosse pela última última vez “O que foi feito de Vera” do álbum  “Clube da Esquina n°2”, fazendo “tremer” as estruturas dos estúdios da EMI. Na primeira apresentação no festival de Montreux na Suíça, onde há até hoje uma noite só para artistas brasileiros (atualmente, com o pior que se produz aqui), fez da introdução de seu show uma seqüência maravilhosa com Ponta de Areia, Fé cega, faca amolada e Maria Maria, que na voz da “baixinha”, deslumbrou o Brasil.

 

Gravou Beto Guedes, Lô Borges, Nelson Ângelo, Luiz Guedes e Thomas Roth e  lançou para o Brasil a célebre frase:_“Se Deus quisesse nos falar, nos falaria pela voz de Milton Nascimento.” Elis gravou o “Clube” com carinho, amizade e admiração, marcando para sempre a vida daqueles jovens mineiros de talento e criatividade fenomenais.

 

Em 1977, o show “Falso Brilhante” estava em cartaz a todo vapor, e veio parar aqui no Teatro Arthur Azevedo, em Campo Grande, antiga zona rural da cidade do Rio de Janeiro. A região é famosa por fecundar grandes artistas como o falecido Robson Jorge, o “Paralama” João Fera, Marcos Damasceno, Jackson do Pandeiro entre outros. [N.E.: Siqueira é campo-grandense da nata...]. Meus pais foram a este show e por não terem com quem me deixar, aos nove anos, me levaram e o grande medo deles era a minha inquietude. Era a primeira vez que eu assistia, ao vivo, um show musical e, podem estar certos, fiquei quietinho e bestificado. Elis era tão grande, tão brilhante e onipotente no palco, que fez um moleque doido como eu ficar sentadinho assistindo àquela que foi a maior cantora do planeta música.

 

Elis fez o Brasil cantar por quase vinte anos. Sua carreira esbarrou algumas vezes com o triste desfecho político do país. Foi vigiada de perto pela Ditadura Militar sempre e não raro, eram vistos carros estranhos rondando as imediações de sua residência na Estrada das Canoas, na zona sul do Rio. Em entrevistas, as quais ainda tenho reproduções de muitas bem guardadas, declarava sua insatisfação com o sistema e dizia-se sem muita esperança no futuro, tanto político, quanto cultural de nossa gente.

 

Elis Regina de Carvalho Costa, nascida em 17 de março de 1945, há exatos 60 anos, reescreveu a história da música brasileira e enalteceu a nossa cultura pelo planeta afora. Naquela triste manhã chuvosa de 19 de janeiro de 1982, fui para a escola com um sentimento de perda ao ver minha mãe chorar a morte de um ídolo. Elis morreu no seu apartamento em São Paulo, por intoxicação.

 

Antes que os mais conservadores venham gritar pelos motivos da morte de Elis, me ponho à frente, alegando que o sistema sempre destruiu os seus ídolos prematuramente, talvez sem esperar que ídolos mortos prematuramente, costumam ser elevados ao máximo de seu status e cultivados com devoção. Janis, Hendrix, Morrinson, todos destruídos pela Máquina do Estado, mas todos estão eternizados.

 

'AGORA EU SOU UMA ESTRELA' - Como dizia, o Brasil continua órfão de uma cultura popular mais sólida, mais abrangente e mais BRASILEIRA por excelência, deixando o biscoito fino para grupos alternativos e, às vezes, nem isso. Elis Regina é exemplo de que, levar a cultura e a motivação para viver a vários pólos de nossa sociedade, não é uma tarefa tão complicada e assim, como ela mesma dizia: “Precisávamos aqui no Brasil de um pouco mais de boa vontade”. Ou como bem frisou, o meu dileto amigo e irmão da mais tenra infância; Fernando Toledo, em artigo recente, o qual me inspirou também a falar de Elis: “Elis era magistral. A grande cantora, a quem os fãs não se esquecem e carpem até hoje sua perda.”

 

Ao completar sessenta anos de seu nascimento, a  “Pimentinha“ nos dá a certeza de que ainda há música viva em sua alma de estrela, para mais sessenta séculos. Assim como ela mesma suspirou certa vez: “AGORA EU SOU UMA ESTRELA!”.

 

Antônio Siqueira (Rio de Janeiro/RJ) é cronista e articulista de Via Fanzine.

 

Imagens:

amazing.sub.jp/.../ ElisReginaVol5Brazil.htm

http://www.geocities.com/Nashville/Opry/6544/

www.paulogoncalo.com/elis1.html

  

Nota da coluna: O maravilhoso conto AQUILO, do nosso querido editor, Pepe Chaves, não poderia deixar de ser citado nesta coluna. Pepe, seu talento como escritor é imprescindível para esse país e, principalmente, para toda Minas Gerais.

 

A Ufologia é uma ciência fantástica e poucos se metem à estudá-la de fato, sem falácias e especulações imbecis e você é um dos elos perdidos entre a verdade e a razão disso tudo. Pressionem as autoridades, mostrem a esse povo que é humana e fisicamente impossível “estarmos sós”....

Antônio Siqueira (RJ).

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Comportamento:

Gênios e loucos na arte da vida

 

Munch, Van Gogh, Picasso, Dali – De muitos artistas sempre se disse que

não batiam bem da cabeça. Pois agora, aumentaram as evidências

científicas que a criatividade e doença mental andam de fato muito próximas.

 

Por Antônio SIQUEIRA*

  

“Muitas pessoas já me caracterizaram como louco”, escreveu certa vez Edgar Allan Poe (1809-1849). “Resta saber se a loucura não representa, talvez, a forma mais elevada de inteligência”. Nessa sua suspeita de que a genialidade e a loucura talvez estejam intimamente entrelaçadas, o escritor americano não estava sozinho. Muito antes, Platão mostrara acreditar em uma espécie de “loucura divina” como base fundamental de toda criatividade.

 

Uma lista interminável de artistas célebres, parte deles portadores de graves transtornos psíquicos, parece confirmar o ponto de vista do filósofo grego. Vincent Van Gogh, Paul Gauguin, Lord Byron, Liev Tolstói, Piotr Ilich Tchaikóvsk, Amadeus Mozart, Robert Schumamnn – o célebre poder criativo desses indivíduos, caminhava lado a lado com uma estabilidade psíquica claramente dotada de traços patológicos. Excentricidades megalônomas, extremas variações de humor, manias, fixações, dependência de álcool ou drogas ainda hoje, atormentam a vida de muitas mentes criativas.

Einstein: imagem do gênio louco

 

No início do século XX, a busca pelas raízes da genialidade era um dos temas mais pulsantes da investigação psicológica. Cientistas de ponta tinham a certeza de que certos males psíquicos davam asas à imaginação. Sigmund Freud também se interessou pelo assunto. Convicto de que encontraria “algumas verdades universais”, analisou vida e obra de artistas e escritores famosos, buscando indícios de transtornos mentais. A loucura e a criação fariam um casamento perfeito nesse meio milênio e Vincent Van Gogh foi uma espécie de antítese de um conservadorismo que insistia em contaminar a Europa do século XIX.

 

'Van Gogh começou a expressar nos seus desenhos o que

sentia pelas pessoas que o cercavam. Vivia tão pobre quanto elas'

 

Vincent Van Gogh

 

Vincent Van Gogh [ao lado]não se enquadra em nenhuma escola de pintura, embora sua extraordinária percepção das cores possa ter se originado das teorias impressionistas. Foi depois de se juntar ao irmão Théo, em Paris, e conhecer os " Impressionistas " que Van Gogh começou a abandonar os tons escuros que até então usara, preferindo as cores puras primárias e secundárias, e adotar as pinceladas irregulares que davam uma sensação de luminosidade e leveza aos quadros impressionistas.

Começou também a pintar ao ar livre, hábito que conservou até morrer. A técnica de pinceladas firmes e carregada que criou para seu próprio uso, aplicadas sem hesitação, permitiu-lhe pintar rapidamente e produzir um vasto volume de obras nos últimos dois anos e meio de vida.

Vincent William Van Gogh nasceu em Groot-Zundert, uma cidadezinha em Brabante, no dia 30 de março de 1853.

Auto-retrato de Van Gogh

 

O pai era pastor protestante e Van Gogh herdou dele o forte sentimento religioso pela vida e natureza que caracterizou o seu trabalho. Ele e o irmão mais novo, Théo eram muito amigos e este não só incentivou o seu desejo de ser pintor como, na verdade, sustentou-o financeiramente nos últimos anos de vida. O primeiro emprego de Vincent foi nas filiais de Paris, Bruxelas e Londres da Goupil et Cie, empresa que negociava objetos de arte fundada por seu tio. Mais tarde, tentou ensinar em Londres e, depois, trabalhou pregando nas minas e distritos agrícolas pobres de Brabante. Foi aí que Van Gogh começou a expressar nos seus desenhos o que sentia pelas pessoas que o cercavam. Vivia tão pobre quanto elas, ao lado de uma prostituta que tomara a seus cuidados, mas a sua dedicação cristã foi mal compreendida e a igreja o censurou.

 

Mais tarde, um amor não correspondido levou-o a tentar o suicídio. Em 1880, Van Gogh resolvera estudar arte em Bruxelas e Haia. Acabou por juntar-se ao irmão Théo, que trabalhava para Goupil et Cie em Paris. Ali, Van Gogh conheceu Degas, Pissaro, Signac, Seurat, Toulouse-Lautrec, Monet e Renoir, e descobriu sua verdadeira vocação.

 

Depois de dois anos em Paris, durante os quais pintou mais de duzentos quadros com a ajuda financeira do irmão, Van Gogh foi para Arles, no sul da França. Alugou um estúdio num local batizado de Casa Amarela e ali esperou que o amigo Gauguin viesse lhe fazer companhia. Gauguin relutava, mas, como Théo era o seu marchand, sentiu-se obrigado a passar algum tempo com Vincent.

 

'Van Gogh retirou-se voluntariamente num asilo para doentes

mentais em St-Rémy-de-Provence, onde esperava recuperar

a confiança em si mesmo e a estabilidade mental'

    

Paul Gauguin

 

Gauguin presenteou Van Gogh com um auto-retrato onde ele combina sua figura com um pequeno retrato de Émile Bernard, um amigo em comum. Os contornos nítidos são característicos da arte japonesa, que os três apreciavam.

 

Os dois homens estabeleceram-se em Arles, mas a tensão entre eles era muito grande, principalmente, devido ao temperamento exaltado de Van Gogh. Gauguin anunciou que ia voltar para Paris. Uma noite, percebeu que estava sendo seguido pelos jardins públicos de Arles por Van Gogh que o ameaçava com uma lâmina de barbear ou faca.

 

Gauguin dormiu aquela noite no hotel e, no dia seguinte, voltando a Casa Amarela, soube que tinham levado Van Gogh para o hospital. Vincent cortara parte da orelha e a dera de presente a uma prostituta do bar que os dois costumavam freqüentar.

 Auto-retrato de Gauguin

Depois disso, Van Gogh retirou-se voluntariamente num asilo para doentes mentais em St-Rémy-de-Provence, onde esperava recuperar a confiança em si mesmo e a estabilidade mental. Enquanto esteve internado, pintou sem parar e escrevia ao irmão e a Gauguin garantindo-lhes que já estava curado. Um ano depois, teve um segundo ataque de loucura. Outros se seguiram; Van Gogh percebeu que era vítima de uma doença incurável.

 

Em 1890 deixou St-Rémy e o clima ameno do sul e, seguindo o conselho de Pissaro, foi para Auvers-sur-Oise, onde um certo Dr. Gachet cuidou dele. Ali continuou pintando, mas, depois de uma visita a Paris, onde soube das dificuldades financeiras do irmão e da doença do sobrinho, Van Gogh teve uma recaída. Um dia, enquanto pintava ao ar livre em Auvers, deu um tiro no peito. O ferimento não parecia ser muito grave. Dr. Gachet fez o curativo e chamou Théo em Paris. Dois dias depois, em 29 de julho de 1890, Vincent Van Gogh morria. Foi enterrado no cemitério de Auvers.

 

'Com os bigodes arrogantemente arrebitados, tornou-se

uma figura familiar para milhões de pessoas que nunca

tinham chegado perto de uma galeria de arte'

 

Salvador Dali

 

Salvador Dalí foi um grande artista que também era o marketeiro de si mesmo, além de showman. A combinação foi uma fórmula irresistível para o sucesso. Dalí, o showman, com os bigodes arrogantemente arrebitados, tornou-se uma figura familiar para milhões de pessoas que nunca tinham chegado perto de uma galeria de arte. Com este disfarce, ele parecia estar sempre na mira com uma cantilena de auto-elogios ligeiramente absurdos que poderiam ou não ter fundamento. Mas quem o desprezava como charlatão não podia deixar de admitir que ele criou uma multidão de imagens estonteantes. 

Dalí era espanhol, nascido na pequena cidade catalã de Figueras. De certo modo, o mundo inteiro de Dalí era Figueras, a planície de Ampurdán onde se localiza a aldeia de pescadores de Cadaqués, logo atrás das montanhas, e o vizinho Port Lligat onde ele construiu seu lar. Estes são os cenários da grande maioria de seus trabalhos, até mesmo quando o fundo é ocupado por uma crucificação ou guerra civil.

Auto-retrato de Dalí

Embora tenha adquirido mais do que a sua cota de neuroses infantis e fixações sexuais, Dalí veio de uma família sólida de classe média. Eles tinham amigos  ricos e cultos que incentivavam o jovem Dalí e o mantinham extraordinariamente bem informado sobre os dramáticos desenvolvimentos no mundo das artes.

 

'As primeiras exposições de artistas visuais que já anunciavam

a arte surrealista, ocorreram no início da década de 20' 

 

O Surrealismo

 

O Surrealismo enquanto movimento artístico se iniciou em 1924 com o “Manifesto Surrealista” de André Breton, porém desde o início da década de 20 já começavam a aparecer os indícios dessa corrente, pois muitos acontecimentos contribuíam para tal, as mudanças políticas, a psicanálise de Freud e sua interpretação dos sonhos e a necessidade dessa arte de voltar-se para o mundo do maravilhoso. Um “grito da mente voltada para si mesma”, tendo como algumas fontes de inspiração a arte visionária, primitiva e até a arte psicopatória. Ao grosso modo, seu nascimento coincide com o final da Primeira Guerra Mundial, e o seu término, com o desencadear  da Segunda. Vivido por homens que se exprimem através da poesia, da pintura, do ensaio, ou da conduta particular da vida, enquanto sucessão de fatos, o surrealismo pertence à história e  é uma seqüência de manifestações no tempo.

 

Girafa em chamas

 

As primeiras exposições de artistas visuais que já anunciavam a arte surrealista, ocorreram no início da década de 20.  Max Ernst (1921), André Masson (1924) e Joan Miró (1925) foram então os antecessores daquela arte que buscava a total liberdade de imaginação e a exaltação do imaginário. A este grupo juntaram-se aos poucos Yves Tanguy, Salvador Dalí, René Magritte. Mas a primeira exposição de arte realmente Surrealista, que, aliás abrangia diversos campos da arte tais como fotografia, literatura, pintura, escultura, cinema entre outros, aconteceu em 1926 em Paris, na Galerie Surrealiste, com Breton e seus amigos, desses destacam-se Soupault – que colaborou na escrita do manifesto – e Louis Aragon, que colaborou com a revista “Littérature”. Mais tarde juntaram-se ao grupo Paul Eluard e Benjamim Peret. Em 1936 foi realizada na Grã Bretanha a primeira Exposição Internacional Surrealista, e foi pelo ano de 1930 que André Breton escreve seu segundo manifesto. Nele, Breton reiterava os objetivos do primeiro, a compreensão como “um caminho para um mundo mental de possibilidades ilimitadas”, a realidade interna e externa isenta de contradições, porém, tudo de forma menos insistente, pois a maioria dos artistas atravessava momentos difíceis devido a aproximação da Guerra Civil espanhola, e por outros problemas políticos pelos quais atravessava a Europa.

 

Leia mais sobre Salvador Dalí e veja suas obras em Via Fanzine.

 

- Colaborou: Sandra Britto

- Fonte: Universo On Line  

- Fotos:

www.abcgallery.com/ V/vangogh/vangogh.html

www.excite.fr/search/ image/results/full?q=Sal...

www.cronologia.it/storia/ biografie/gauguin.htm

www.fuenterrebollo.com/albert-einstein.jpg

 

*Antônio Siqueira (Rio de Janeiro/RJ) é cronista e articulista de Via Fanzine.

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- Edição final: Pepe Chaves.

 

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O som das nascentes

Uma breve análise da música de qualidade nas últimas décadas.

Por Antônio SIQUEIRA*

PARTE 1:

Um renascimento musical

 

Flávio Venturini, Sérgio Hinds, Luiz Moreno e Sérgio Magrão: O Terço dos bons tempos.

 

Na década de 80, surgiram acontecimentos fonográficos significativos; trabalhos, cuja performance florescia da mente de arranjadores competentes como Rogério Duprat, Wagner Tiso, Ary Sperling, Luiz Avellar Cristóvão Bastos, César Camargo Mariano, Liminha, Gilson Peranzzeta, entre outras verdadeiras feras que deixaram seu toque de arte em obras primas da MPB moderna, em trabalhos excelentes de personagens celebres de nossa música.

 

ROCK NACIONAL - Também foi a década do reconhecimento nacional e, por que não, mundial do Rock brasileiro, com o surgimento de ótimas bandas como o Ira, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, o rock teatral da Blitz, o Barão Vermelho, os Titãs, a Legião Urbana de Renato Russo, Lobão e seus Ronaldos (que formariam pilares preciosos para a carreira solo do polêmico roqueiro). Além de artistas que vieram solo, como o inglês Ricthie, com o seu pop politicamente correto.

 

Sós, mas muito bem acompanhados a excelentes músicos, foi a Era “pós-anos de chumbo”, da ditadura militar. A censura caducava e a abertura "lenta e gradual", possibilitou a livre manifestação dos desejos de uma geração que não foi brilhante no ponto de vista ideológico, porém, feliz, se olhada do ponto vista estético.

 

Aprenderam algumas coisas advindas da "Sociedade Alternativa" do paradoxal Raul Seixas, da anarquia dos fantásticos Os Mutantes, e das sinfonias progressivas de verdadeiros monstros sagrados do gênero, apresentando ao Brasil grupos da estirpe de A Barca do Sol que destacou figuras como Nando Carneiro (com o próprio Ricthie, citado acima, tocando flauta) e Jacques Morellembaun, O Som nosso de cada dia, o Bicho da Seda; e mais tarde O "Violeta de Outono". O grupo Bacamarte de Mário Netto e Sérgio Villarin - que nos mostrou o "Canto da sereia", de Jane Duboc e O Terço, que obteve várias formações em duas décadas de atividades. Teve no seu auge, a formação que compunha - além de Sergio Hinds - Luiz Moreno, falecido no ano passado e Sérgio Magrão e o tecladista mineiro Flávio Venturini.

 

 

O TERÇO - O Terço gravaria com Venturini, dois discos antológicos, "Criaturas da Noite" com a suíte "1974", composta pelo próprio), considerada a "mãe" de todas as composições do gênero progressivo da MPB que, inclusive, (ganhou uma super produção do Royal Ballet de Montreal, encenada pela primeira vez em Porto Alegre e que depois ganhou o mundo), e "Casa Encantada", com forte apelo rural e instrumentais inspiradíssimos. Esse disco consagraria definitivamente essa formação, finalizando a participação de Flávio, que dois anos mais tarde, prepararia os "planos de vôo" do 14 Bis que despontaria como das bandas mais importantes do cenário nacional, no final dos anos 70.

  Magrão, Flávio e Hinds: no mundo da lua.

                                                                                            

FLÁVIO - Flávio Venturini surgiu nos festivais universitários de Belo Horizonte, passou por estúdios de gente ilustre (participou dos primeiros trabalhos de Beto Guedes e Lô Borges, além de incisivas intervenções em diversas obras de outras “feras” da MPB).

 

Com um talento excepcional para a criação, Venturini é autor de obras eternizadas por seus admiradores, que não são poucos. Suas apresentações lotam espaços por todo Brasil, arrastando um público seleto. Seu estilo único abraça misturas e musicalidades de diversos gêneros, do clássico ao popular, flertando intimamente com o Rock Progressivo e a Beatlemania (essa última, uma febre que influenciou não só sua carreira, mas também a grande maioria dos excelentes artistas do mundo musical), produzindo assim, um tempero muito especial às suas canções.

 

PARTICIPAÇÕES - Esse mineiro, de jeito tímido, olhos de um verde todo especial, fala mansa e bem colocada, é considerado por críticos de bom senso, como um dos principais melodistas da canção popular brasileira. Sua discografia é imensa, se juntarmos à sua carreira solo os trabalhos com O Terço e 14 Bis. A sua obra atravessou 30 anos, mais viva do que nunca, e discos como "Criaturas da Noite" e "Casa Encantada" (de "O Terço") "14 Bis II", "Espelho da Águas", "Além Paraíso", "Idade da Luz", “Sete” e "14 Bis ao vivo" (que marcou a sua despedida da banda em 88), fazem parte da discoteca ou "cdteca", de obras primas da música popular brasileira.

 

ALGUNS TRABALHOS - O trabalho solo de Venturini é primoroso até o quarto disco; o muito bem vendido e executado "Noites com Sol". Até então, Flávio envolvera-se com temáticas que abusavam da harmonia pura e simples, arranjos e instrumentações impecáveis no ponto de vista técnico.

 

O segundo trabalho, "O Andarilho" é quase uma trilha sonora de uma viagem que começaria nos Andes Peruanos e terminaria bem Santiago de Compostela, transportada pelo violino elétrico de Marcus Vianna, num lirismo que embalava minhas tardes, regadas a muita caipirinha e pensamentos bons, até com uma certa inocência diante de uma humanidade tão caótica, mas parecia ser essa a proposta: "viver e deixar viver", como se mostraria, também no terceiro disco, "Cidade Veloz", já trazendo uma face urbana e um "namoro" com a New Age às canções de Flávio: "Pela cidade vou, sonhos de neon, olhos que não me vêem", bem frisada nos versos de Murilo Antunes, parceiro freqüente de suas melhores obras.

 

PARTE 2:

Nascente, o disco

 

Nascente

NASCENTE - O disco de estréia da carreira solo de Flávio Venturini foi o excepcional "Nascente", título de uma das mais belas canções criadas, por nosso cancioneiro popular.

Com produção de um dos maiores "Dinossauros" da indústria fonográfica brasileira; Mayrton Bahia e concepção gráfica de Tadeu Valério, Jô  Oliveira, José Luiz Pederneiras e Juliana Prates e redesenhado pela competente Pós Imagem Design, este álbum saiu do forno em 1982 e foi lançado oficialmente com shows  em 1983  - e que shows maravilhosos aqueles, pois tive a oportunidade de assistir na primeira versão do Circo Voador em 1984, já com "O Andarilho" na bagagem.

Este trabalho traz na capa, uma foto de Flávio sentado ao lado da mina nascente do Rio São Francisco, na Serra da Canastra, na região centro-oeste de Minas Gerais [acima].

Foi um disco pouquíssimo badalado, ouvido em rodas seletíssimas, por almas  puramente musicais e por um público mais ligth e vale a ressalva: até hoje me  pergunto o por que de excelentes obras serem tão negadas às grandes massas, mesmo sabendo-se que a resposta é tão obvia.

A projeção do disco não foi lá essas coisas, mas "Espanhola", "Princesa" e a faixa título, "Nascente" eram tocadas em boas rádios FM por Rio, São Paulo e BH, mas o disco foi ficando esquecido do grande público. Relançado em CD no ano de 2003, me inspirou a escrever e comentá-lo como clássico da MPB.

A princípio, "Nascente" parece um álbum descompromissado com o sucesso imediato. O disco encanta pela sonoridade e pelo time de feras que se apoderaram do estúdio; cujos arranjos são assinados por "Gente Grande" como Wagner Tiso, Claudia Cimbleris, Vermelho (companheiro e parceiro e composições fantásticas nos tempos de "14 Bis"), Marcus Vianna e o próprio Venturini.

'Fascinação é outro poema de adoração à alma,

ao demasiadamente humano:

... na fascinação de amar você, doidamente amar você,

cultivando a barra de viver'

É um disco delicioso, em que a gente ouve com o encarte e a ficha técnica à mão. A primeira faixa, "Princesa", parceria com Ronaldo Bastos foi composta para uma antiga namorada, "Estrela cintilante, vem me valer" é um trocadilho com o nome da moça, que se chama Cínthia. Há uma mostra do entrosamento com o irmão caçula, o excelente guitarrista, Cláudio Venturini, além dos violinos de Marcus Vianna passeando e enriquecendo o ambiente, "vale tentar viver tudo demais". E vale mesmo!

Em seguida, "Pensando em Você", com letra do gaitista Kimura é uma declaração de amor rasgada e regada a um romantismo que sempre foi à tônica de seu trabalho; com um arranjo excelente de cordas, nos mostra a sensibilidade e competência de Vermelho.

Fascinação é outro poema de adoração à alma, ao demasiadamente humano: "... na fascinação de amar você, doidamente amar você, cultivando a barra de viver". Nessa gravação, destacam-se a guitarra e a viola de 12 de Zé Eduardo, bom compositor mineiro e ainda, o arranjo de cordas de Claudia Cimbleris (repare no oboé que se destaca com frases bem colocadas do início da 2ª parte até o final da canção), uma antiga professora de Venturini, que também estudou composição com Walter Stemak.

"Espanhola", quando lançada nesse disco, não havia explodido como atualmente, mas é o referencial do criador. A versão desta canção em "Nascente" é saborosamente interpretada por todo o "14 Bis". Flávio e Cláudio fazem um duo vocal encantador, num ritmo quase flamenco, mais moderado, com um ovation aço solo que dobra a cada passagem, auxiliados luxuosamente por uma base perfeita, destacando-se as castanholas de Hely Ribeiro (baterista do 14 Bis).

 

 Flávio em foto de "Nascente"

'Esse disco é eterno, histórico e a música de Flávio

Venturini, pode ser executada em qualquer lugar do planeta...'

Outra música com forte apelo ambiental de quem ama a natureza sabe o que é "Chama no Coração". Apresentando aí, o Rock Progressivo que nos mostrou seus primeiros passos na música. Mais uma vez, a guitarra de Cláudio Venturini dá um show à parte com os arranjos de base, trazendo ainda Paulinho Carvalho no baixo e Neném na bateria; "A fúria, o pão; tudo se vai na queimada". Nesse disco, o instrumentista é valorizado como em poucos que ouvi, sendo o próprio autor da obra, um tecladista virtuoso.

“Teu Olhar, Meus olhos”, parceria com Zé Eduardo e Paulo Oliveira, é,  certamente, um mimo para uma mulher muito especial, numa base sonora doce e acertada, com a viola de 12 do mesmo Zé Eduardo, combinando perfeitamente com o piano e o órgão; “olhei teus olhos, vi o meu olhar e uma luz nasceu em mim”, doces versos de uma canção adorável.

Mas, o que de fato sobressai em "Nascente" são as três peças instrumentais compostas para esse disco. A faixa três traz "Jardim das Delícias" que parece uma viagem com dois pianos casados numa harmonia comovente, um verdadeiro passeio pelas "delícias" da música instrumental. O naipe de violinos e a guitarra de Cláudio fazem o ouvinte delirar num arrojado tema que poderia ser trilha sonora de qualquer produção hollywoodiana. Simplesmente belíssima.

"Qualquer coisa a ver com o paraíso", faz jus ao título e foi composta em parceria com Milton Nascimento que faz vocal da faixa. O violão foi muito bem colocado sobre um arranjo de Wagner Tiso - que faz orquestração e regência - criando uma atmosfera  impregnada da mais brasileira das músicas. Esta música mereceu, anos mais tarde, uma delirante versão que conta com participação vocal do vocalista inglês Peter Gabriel, ex-vocalista da banda inglesa Genesis.

"Fantasia Barroca" é a faixa instrumental regravada por Flávio em dois discos ao vivo, sendo que um deles conta com participação de Toninho Horta.
"Fantasia" foi gravada, assim como em "Espanhola", na companhia do "14 Bis", sendo uma das canções mais belas do disco. O arranjo é assinado por
Flávio e Marcus Vianna e pode ser tido como dos mais bem produzidos na MPB moderna.

Flávio Venturini interpreta o seu grande clássico, "Nascente" de uma forma quase intimista onde se inclui o excelente arranjo de cordas e o violão solo, tocado de forma quase bucólica, por seu irmão. Nos mostra o autêntico som das Minas Gerais, contendo o eco forte das montanhas, os Belos Horizontes, o Som das Nascentes. "Clareia manhã, o sol vai esconder a clara estrela ardente, pérola do céu, refletindo seus olhos...".  Ardente como as paixões que eternamente serão embaladas por canções maravilhosas. Esse disco é eterno, histórico e a música de Flávio Venturini, pode ser executada em qualquer lugar do planeta que, com certeza, penetrará em qualquer coração, por mais endurecido que esteja.

Antônio Siqueira (Rio de Janeiro/RJ) é cronista e articulista de Via Fanzine.

      - Fotos: www.oterco.com.br

- Edição final: Pepe Chaves.

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- Produção: Pepe Chaves

 

 
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