UFOVIA - ANO 5 

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 entrevistas

 

 

Exclusivo:

Entrevista com Bob Pratt

Abordando: Operação Prato, coronel Hollanda e casuística brasileira.

 

Por Pepe Chaves & Fábio Bettinassi*

Para Via Fanzine/UFOVIA

AGOSTO/2005

Tradução: Paulo Santos**

 

Bob Pratt_

 

O pesquisador norte-americano Bob Pratt nos concedeu entrevista exclusiva abordando detalhes da Operação Prato e seu trabalho de pesquisa ufológica no Brasil. Em suas diversas visitas ao Brasil, Pratt cultivou uma legião de amigos que o agraciou com o título de "Ufólogo Honorário do Brasil", haja vista seu dedicado trabalho de pesquisas em regiões brasileiras com maiores incidências ufológicas. Pratt estudou grande parte da casuística de diversos Estados brasileiros, com prioridade para os casos ocorridos na região Norte e durante a Operação Prato, no final da década de 70. Amigo e companheiro de Uyrangê Hollanda, Pratt nos descreve nesta histórica entrevista sua relação com o coronel e descreve detalhes inéditos de sua entrevista com o mesmo, em 1997, cerca de dois meses antes da morte de Hollanda.

 

UFOVIA: Quando, como e por que o senhor se interessou em pesquisar os casos de supostos ataques alienígenas na região Norte do Brasil? Por favor, nos faça um resumo de seus trabalhos de pesquisa realizados no Brasil.

Bob Pratt: O Brasil é um país excelente para os pesquisadores de UFOs. Desde 1975 eu já estudei centenas de casos de UFO em 12 países. Eu viajei por todos os EUA, grande parte do Brasil e também para várias cidades na Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Japão, México, Peru, Porto Rico, Filipinas e Uruguai. De todos esses países, o Brasil é, com certeza, o mais fascinante. É inacreditável a quantidade de avistamentos e encontros de diversos graus que ocorreram, e ainda ocorrem, neste país. Mas o que eu considero mais intrigante é que as ocorrências de UFOs no Brasil têm sido bastante agressivas e até mesmo mal intencionadas. Eles aterrorizaram e feriram muitas pessoas, e chegaram até a deixar alguns à beira da morte. Quase todos os casos narrados no meu livro Perigo Alienígena no Brasil - Perseguições, Terror e Morte no Nordeste (CBPDV - Biblioteca UFO),  mostram o quanto o encontro com um UFO pode ser perigoso no Brasil. E isso inclui ferimentos, abduções, mortes, levitações, tentativas de levitação e pessoas sendo atacadas por raios de luz emitidos pelos UFOs. Uns ficaram paralisados, alguns queimados ao tentar fugir, outros foram perseguidos e os UFOs continuaram a procurá-los mesmo após terem se escondido. Também, algumas vezes, as vítimas foram abduzidas. As pessoas não estavam seguras nem mesmo dentro de suas casas. Raios de luz perfuravam os tijolos do teto como se eles não existissem, e queimavam as pessoas lá dentro. Isso aconteceu em Colares e possivelmente em outros vilarejos próximos, durante a onda de UFOs que assolou o norte do país entre 1977 e 78, e que foi investigada por agentes da Força Aérea Brasileira (FAB). Os ataques de UFOs começaram a me interessar desde a primeira vez que estive em São Luis, Estado do Maranhão, no final de novembro de 1978. Mas eu era um cético no que se referia aos UFOs até uns 3 anos e meio antes desta data. Somente quando eu trabalhei como repórter para uma revista nos EUA, em 1975, e fui designado para investigar um suposto pouso de UFO, que mudei de idéia e comecei a me interessar pelo tema. Nos anos seguintes, realizei muitas reportagens sobre UFOs nos EUA e Canadá. Os avistamentos eram extraordinários e eu pensava que o fenômeno era inofensivo. Mesmo quando algumas pessoas ficavam feridas, provavelmente por acidente, eu nunca pude perceber que havia também um lado perigoso ou hostil neste fenômeno, isso até ir ao Brasil. Em 1978, Irene Granchi, uma ufóloga veterana do Rio de Janeiro, me disse que 1 homem tinha sido morto e 2 feridos num pequeno barco de pesca em 25 de maio de 1977. Isso aconteceu na Ilha do Caranguejo, situada na Baía de São Marcos e próxima à São Luis. Irene soube do caso através de seu filho, Roberto, que esteve em São Luis para fazer reparos eletrônicos em um barco. Roberto, por sua vez, ficou sabendo do caso diretamente de um dos homens que foram queimados. Eu passei 31 dias, entre novembro e dezembro de 1978, em São Luis e em várias pequenas cidades mais a oeste. E enquanto investigava o caso da Ilha do Caranguejo, soube que tinha ocorrido uma onda extraordinária de UFOs nesta área há apenas 1 ano e meio atrás. Mas o acontecimento ficou restrito ao local, e era desconhecido fora da área de São Luis. A onda se concentrou na pequena cidade de Pinheiro, cerca de 100 Km a Oeste de São Luis, aonde os UFOs eram vistos todas as noites, nos meses de abril, maio, junho e julho de 1977. O prefeito da cidade estimou que 50.000 pessoas viram UFOs durante este período. Mais significativo ainda era o fato de que uma boa quantidade de pescadores e lavradores que tinham sido perseguidos pelos UFOs e alguns até queimados pelas luzes emitidas por eles. Este aspecto nocivo do fenômeno me deixou intrigado, e eu acabei retornando 7 semanas depois, em fevereiro de 1979. Desta vez eu fui à Belém, São Luis, Natal, Belo Horizonte e Brasília. Foi em Belém que me encontrei pela primeira vez com o coronel Uyrangê Hollanda, que era capitão nesta época. Foi também a primeira vez que eu estive em Colares, foco da grande onda de 1977 e 78, quando algumas pessoas foram queimadas e pelos menos duas mortas pelos raios emitidos pelos UFOs. Esta onda de UFOs foi oficialmente investigada pelos sargentos do serviço de inteligência da FAB. Em janeiro de 1980 eu fiz uma quarta viagem ao Brasil, através da revista para a qual eu trabalhava.

 

UFOVIA: Além dos locais citados o senhor pesquisou outros casos no Brasil, tendo recebido como reconhecimento da comunidade ufológica, o título de “Ufólogo Honorário do Brasil”. Em quais outras localidades brasileiras o senhor esteve?

Bob Pratt: Estive em diversas cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, Niterói, Varginha, Belo Horizonte, Belém, Natal, Campinas, Curitiba, Londrina, Maringá, Florianópolis e Pelotas. Sempre procurando por relatos de avistamentos de UFOs. Os casos que envolviam ferimentos eram os que eu considerava os mais interessantes e, por causa disso eu continuei voltando ao Brasil. Mas foi somente depois de ter investigado a casuística brasileira por vários anos que eu percebi que os casos de Pinheiro e Colares fizeram parte de uma longa e vasta onda de UFOs, que cobriu uma enorme parte da área do norte do país, provavelmente de São Luis até Manaus. Em julho de 1981 eu saí da revista e retornei imediatamente ao Brasil, às minhas próprias custas. Fui direto à Belém para encontrar com Hollanda, que tinha mantido contato comigo durante este período. Ele, eu e um outro pesquisador norte-americano voamos para Colares aonde, utilizando Hollanda como intérprete, entrevistamos várias testemunhas da onda de 1977 e 78. Meu amigo e eu alugamos um avião Cesna, contratamos um piloto e, tendo Hollanda como co-piloto, voamos para Monte Alegre e Santarém. Passamos muitos dias viajando de avião ou barco para vários vilarejos ao longo do rio Amazonas até a cidade de Óbidos. Mais tarde, nesta mesma viagem, eu retornei até São Luis e fui à Fortaleza, aonde trabalhei com Reginaldo de Athayde e Jean Alencar. Deste então, estive no Brasil mais nove vezes, quase sempre retornando à região Norte. Muito do meu tempo foi dedicado à pesquisa de casos ocorridos nos Estados do Pará, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Alguns dos mais incríveis ocorreram nestes Estados, incluindo levitação, tentativas de abdução, abduções, ferimentos e mortes. O Estado do Rio Grande do Norte era o meu local preferido, porque casos realmente estranhos aconteceram por lá. Eu também realizei pesquisas no vale do Rio das Velhas, em Minas Gerais, ao norte de Belo Horizonte. Esta é uma outra área impressionante no que se refere à atividade de UFOs e, provavelmente há mais de 50 anos. Este vale é, com certeza, minha segunda área favorita para a pesquisa de UFOs. Se eu fosse mais jovem, sem compromissos com ninguém (quero dizer, sem família e podendo ficar quanto tempo quisesse) e tendo dinheiro suficiente, faria uma pesquisa em cada um dos estados do Brasil, porque eu acho que os UFOs têm atuado em todas as partes deste país. No total estive em Belém 6 vezes e 4 vezes em Colares. Todas essas visitas tiveram o objetivo de obter mais informações sobre a onda de UFOs na área de Colares. Também fiz uma viagem à região de Monte Alegre, Santarém e Óbidos, junto com Hollanda.

 

Desenho de Flávio Costa, da Operação Prato, mostrando um objeto

com dois tripulantes e as manobras executadas pelo mesmo.

 

UFOVIA: O senhor chegou a presenciar ou mesmo registrar alguma espécie de fenômeno durante as oportunidades em que esteve na Amazônia ou em outros locais do Brasil?

Bob Pratt: Eu nunca vi um UFO na Amazônia e nem em nenhum outro lugar.

 

UFOVIA: Após suas diversas andanças e pesquisas naquela região, o que o senhor deduziu a respeito destes fatos?

Bob Pratt: Não muito, apenas que, aquilo o que aconteceu naquela região é muito semelhante ao que ocorre em outras regiões do Brasil. Uma conclusão que eu cheguei é de que o fenômeno é real.

 

 

UFOVIA: Na entrevista citada, o coronel afirmava com veemência que aqueles fenômenos se tratavam exclusivamente de manifestações de natureza extraterrestre, descartando toda e qualquer possibilidade de terem sido praticados por seres humanos. Sendo autor do livro Perigo Alienígena no Brasil - Perseguições, Terror e Morte no Nordeste, certamente, o senhor também compartilha dessa opinião. Comente, por favor. 

Bob Pratt: Não posso dizer que os UFOs são extraterrestres mas, com certeza, eles são alienígenas a tudo o que nós conhecemos aqui na Terra. Eu posso apenas especular de onde os UFOs vieram, de outros planetas, estrelas ou universos, mas tudo é somente um palpite. 

 

UFO filmado durante a Operação Prato. A operação registrou mais de 500 fotografias de UFOs na Amazônia e diversas filmagens em Super 8.

 

UFOVIA: Sabemos que a morte do coronel por suicídio, após dois meses da reveladora entrevista à Revista UFO, dividiu opiniões na Ufologia brasileira, criando até atritos entre pesquisadores. Alguns ufologistas acreditam que o coronel não teria se suicidado, mas sim, que teria sido assassinado por ter revelado informações sigilosas à imprensa; há também quem diga que o coronel não morreu e que a Operação Prato trata-se de uma grande manobra de disfarce acerca de manobras terrestres naquela região. Tendo conhecido-o pessoalmente, qual é a sua opinião sobre a morte do coronel? 

Bob Pratt: Eu não sei como Hollanda morreu, mas Gevaerd me disse que ele e Marco Antônio Petit viram a certidão de óbito e isso é suficiente para mim. Eu definitivamente não acredito que a Operação Prato foi montada por alguém, terrestre ou não, para disfarçar algum outro tipo de manobra.

 

UFOVIA: Temos notado o aumento de atividades de UFOs em diversos países, sobretudo, nos últimos 3 anos, a que o senhor atribui este aumento? 

Bob Pratt: Não posso responder a esta pergunta. Não sei se realmente tem havido um aumento ou redução de avistamentos nos últimos 3 ou 30 anos. Uma grande parte desta contabilidade, eu acredito, depende da maneira com que a imprensa reage aos relatos de avistamentos e decide em publicá-los ou não. A minha crença é que somente uma pequena parcela de avistamentos e encontros de diversos graus são relatados para alguém. Por isso, eu creio que nós não temos nenhuma maneira de saber o quão muito ou pouco existe de atividade UFO.

 

UFOVIA: Considerando sua grande experiência com o assunto, quais são suas recomendações aos expedicionários da Operação Trilha, que no ano de 2006 irão executar pesquisas de campo acerca dos notórios acontecimentos da região Norte? 

Bob Pratt: (1) Estudaria todos os documentos sobre a Operação Prato que vazaram para os ufólogos durante os anos 90; (2) Teria grandes conversas com Daniel Rebisso Giese em Belém, que é o grande expert nesta operação, e tentaria fazer com que ele se juntasse à sua causa; (3) Obteria mapas detalhados do IBGE de todos os municípios em volta de Belém e de uma área de 200km ao norte e oeste desta cidade; (4) Tentaria falar com Camilo Ferraz de Barros, que foi o coronel responsável pela inteligência da base da FAB em Belém. Ele era o chefe de Hollanda e provavelmente sabe tanto quanto Hollanda sobre a Operação Prato. Camilo se aposentou como general brigadeiro e, segundo ouvi dizer, vive numa fazenda no interior de Minas Gerais. Também concentraria a minha área de pesquisa na grande Colares, e não tentaria ir à Ilha de Marajó, a não ser que eu tivesse bastante tempo disponível.

 

UFOVIA: Ao seu ver, quais serão os maiores obstáculos que a Operação Trilha poderá encontrar durante suas pesquisas de campo?

Bob Pratt: Encontrar as pessoas com as quais você precisa falar. Um grande número de testemunhas deve ter morrido ou se mudado, assim como os homens envolvidos na Operação Prato. Vocês precisarão da ajuda de Daniel Rebisso Giese para localizar os sobreviventes. Nas 4 vezes em que estive na área de Colares, eu estive em Colares e na ilha do Mosqueiro. Mas vocês também precisarão ir à Vigia, Benevides e praticamente todas as outras cidades e vilarejos citados nos documentos da Operação Prato. Como eu já lhe disse antes, você deveria tentar encontrar os hospitais que existiam durante a onda de UFOs e descobrir quais médicos trabalhavam lá, para depois tentar encontrá-los e saber quantas pessoas foram queimadas e se elas morreram em Colares.

 

Bob Pratt e a pesquisadora brasileira Irene Granchi.

 

UFOVIA: Quais são suas expectativas sobre os resultados da Operação Trilha e o que este projeto poderá legar de útil ao estudo dos fenômenos do Norte?

 

Bob Pratt: Eu acho que, se você se preparar corretamente e souber exatamente aonde ir e o quê procurar, será muito bem sucedido. Ainda há muita coisa que nós não sabemos, sobre o quê realmente aconteceu em toda aquela região durante a onda de UFOs. Finalmente, como você ainda é um homem relativamente jovem, você deverá retornar para esta região muitas vezes nos anos seguintes para investigar os avistamentos no Maranhão e a Oeste, talvez até em Manaus, porque esta foi uma onda enorme de UFOs que continuou por muitos meses, talvez até por 2 anos. Pessoas   foram   queimadas   em   áreas bem distantes de Colares.

 

UFOVIA: Suas considerações finais:

Bob Pratt: Boa sorte!

 

* Pepe Chaves é editor do jornal Via Fanzine, webmaster do portal UFOVIA e coordenador da Operação Trilha.

 

* Fábio Bettinassi é publicitário, ufologista e articulista de Via Fanzine, co-editor de UFOVIA e coordenador da Operação Trilha.

 

** Paulo Santos é tradutor e traduziu o presente texto com exclusividade para o Portal UFOVIA.

 

Coronel Uyrangê Hollanda:

'Um verdadeiro filho do Brasil'

Pratt nos fala sobre o coronel Hollanda.

 

Coronel Uyrangê Hollanda nos anos 70.

 

Bob Pratt conheceu e compartilhou da amizade do coronel Uyrangê Hollanda, comandante da Operação Prato, deflagrada pela FAB para estudar a questão dos notórios ataques do “chupa-chupa” à grande parte da população paraense no final dos anos 70 e a vasta onda de avistamentos de UFOs naquela região. Com exclusividade Pratt nos fala um pouco sobre o coronel Hollanda, que foi também seu entrevistado, além de companheiro de longas andanças pela região Norte do Brasil.

 

Por Bob PRATT*

 

Hollanda era um homem muito interessante, e um verdadeiro filho do Brasil. Ele me disse uma vez que o seu sangue era uma mistura de índio, português, Judeu, francês e Holandês, e que tinha orgulho do fato de uma de suas bisavós ter sido índia e membro de uma tribo canibal chamada Porintintin. Talvez por causa destes ancestrais, ele tinha um grande interesse nos índios e nos seus costumes, e como parte de suas tarefas militares ele chegou a trabalhar com índios dentro das florestas.

 

"Eu vivi junto deles por cerca de 6 anos, quase todo mês", disse-me ele quando Cynthia Luce e eu o entrevistamos na cidade de Cabo Frio, em agosto de 1997. "Eu nunca tive problemas com eles. Eu tinha uma grande afeição por eles e eles por mim. Quando chegava numa tribo eles gritavam: Oh, o nosso capitão voltou! Capitão Hollanda! Capitão Hollanda!", contou ele.

 

Hollanda era inteligente e bem educado. Passou 7 anos estudando e treinando na academia da FAB, aonde ingressou em 1958, aos 17 anos. Ele se tornou um guerreiro, oficial de finanças, piloto, pára-quedista e especialista em operações na selva. Aprendeu a falar francês e inglês fluentemente, e esteve a cargo de uma unidade anti-guerrilha no sul do Pará por 5 anos. Ele serviu na força aérea por 36 anos, se aposentando em 10 de março de 1992. Por 24 anos foi membro da A-2, o serviço de inteligência da Força Aérea Brasileira.

 

'Perderam o barco, os quatro rifles automáticos, suas pistolas, munição, binóculos e tudo o mais, além de quase perderam as suas vidas'

 

Além de viver e trabalhar com os índios na selva, comandar forças anti-guerrilha, pular de aviões e pilotá-los, Hollanda teve outras aventuras na sua carreira. Talvez a mais perigosa tenha ocorrido em 1973, quando foi enviado para o Norte, através do território do Amapá até a fronteira com a Guiana Francesa junto com dois cabos.

 

Ele contou: "Passei uma semana treinando os cabos para a missão na selva: Como cruzar rios, como subir em cachoeiras, como pescar, como conservar a comida, como obter frutas e conhecer os animais na floresta, como fazer uma casa nas árvores, como fazer barcos, como sobreviver, como comer insetos, plantas e como viver na região. Nesta missão, nós poderíamos comer alimentos convencionais algumas vezes, como macarrão ou arroz, mas eles nunca seriam suficientes para 3 meses. Por uma ou duas semanas nós teríamos que confiar no nosso conhecimento da floresta... Nós fomos para o rio Cuc, aonde havia muitas cachoeiras perigosas".

 

Hollanda em 1997, dois meses antes

de sua morte.

 

Hollanda tinha 4 objetivos em sua missão:

 1. Ir até a fronteira com a Guiana Francesa para investigar o relato de que um francês, que segundo ele "estava em território brasileiro roubando nossos índios e transportando-os para o território francês, além de estar procurando urânio... Eu confirmei que o francês estava lá, mas nós não tínhamos ordens para interromper as suas atividades. Nós poderíamos ‘tê-lo feito’ se necessário. Nós tínhamos metralhadoras...";

 

2. Encontrar locais na selva aonde pistas de pouso pudessem ser construídas;

 

3. Capturar um homem que tinha assassinado 4 índios, "Eu fui enviado para capturá-lo", afirmou Hollanda. Perguntei-lhe sobre o que aconteceu ao assassino e Hollanda disse que estava inoperante. Passando meu polegar esticado diante da minha garganta, perguntei-lhe: "Está dormindo com o diabo agora?". Hollanda continuou falando sobre a tribo desses índios por algum tempo e concluiu sobre o assassino: "Eu acredito que está dormindo com o diabo agora."

 

4. Reunir quase 300 índios na área do rio Cuc, que estava sob a influência de uma epidemia de doença, e levá-los de volta para Molokopote, um outro posto índio numa localidade mais saudável, aonde a FAB tinha uma pista de pouso. Mas quando Hollanda chegou lá, descobriu que os índios já tinham partido por causa do ataque de uma outra tribo hostil.

 

Entretanto, foi quando ele completou a última missão que uma aventura de verdade começou. Ele e os outros dois cabos estavam descendo o rio num bote quando foram puxados por uma cachoeira perigosa. Perderam o barco, os quatro rifles automáticos, suas pistolas, munição, binóculos e tudo o mais, além de quase perderam as suas vidas.

 

'Se você entrar na floresta para procurar comida, frutas ou ovos de animais, você pode ser atacado por pumas, cobras, arbustos com espinhos...'

 

Hollanda contou que, "Nós caímos na cachoeira e o nosso barco foi destruído. Nós nadamos para uma pequena ilha e construímos uma jangada. Naquela noite, dormimos na ilha, sentindo muito frio e suportando muita chuva durante toda a noite. No dia seguinte, utilizamos cipós para amarrar os pedaços de madeira e finalizar a jangada. Mas quando nós conseguimos deixar a ilha, acabamos caindo em outras cachoeiras, e quebrando a jangada. Eu consegui me agarrar em dois pedaços de madeira, e os cabos em outros dois pedaços, mas eles estavam feridos. Um deles quebrou a clavícula e outro a rótula. Eu os chamei para que se juntassem a mim, mas eles nadaram para o outro lado do rio. O grupo ficou separado por 4 dias. Tinham pouca coisa para comer além de algumas nozes, de vez em quando”. Desarmados e com dois feridos, eles não se arriscaram a entrar na floresta para procurar comida.

 

"É perigoso",  explica Hollanda. "Se você entrar na floresta para procurar comida, frutas ou ovos de animais, você pode ser atacado por pumas, cobras, arbustos com espinhos... O melhor é ficar na água. Ao dormir, enquanto eu estava separado dos cabos, eu nunca entrava na floresta. Eu dormia nas pedras no meio do rio, e havia milhões de mosquitos! Trilhões deles! Eu inventei uma solução: cobrir todo o meu corpo com a lama do rio, o que também me mantinha aquecido".

 

'Em 1967, um milionário norte-americano com 74 anos de idade comprou 1.7 milhões de hectares de terra no rio Jari e iniciou um empreendimento de florestagem e fazenda'

 

Os cabos construíram uma outra jangada e, no quarto dia, conseguiram se juntar a Hollanda, que estava nadando rio abaixo, enquanto as lontras e araras o observavam com curiosidade, além dos pequenos peixes, que o mordiam de vez em quando (não as piranhas, que não mordem em águas em movimento). Nove dias e 240 km depois, eles cruzaram com um pequeno grupo de índios na floresta. Os índios os guiaram para o que era então conhecido como a Fazenda Ludwig.

 

Em 1967, um milionário norte-americano com 74 anos de idade comprou 1.7 milhões de hectares de terra no rio Jari e iniciou um empreendimento de florestagem e fazenda. Alguns anos mais tarde, ele comprou um enorme e moderno moinho de polpa de madeira no Japão, transportou-o pelo oceano até a costa do Brasil, atravessando o cabo da boa esperança, entrou pelo afluente do rio amazonas e chegou finalmente na fazenda ao lado do rio Jari. Mas isso ocorreu somente muitos anos após Hollanda ter chegado nos escritórios daquela fazenda.

 

Ele conta que, "Quando cheguei lá, eu tinha cicatrizes na face, estava vestido como um nativo e com cabelo longo. Passei quase 4 meses na floresta até chegar no Jari. Tinha perdido 17 kg, nadando por 13 dias. Saí de Belém em 15 de novembro de 1973, e retornei em 24 de fevereiro".

 

Cinco anos depois, em 16 de fevereiro de 1979, eu conheci Hollanda. Foi Irene Granchi que me contou que uma comissária de bordo falou alguma coisa sobre Hollanda e uma onda de UFOs. Junto com um intérprete, fui para a base da FAB em Belém e encontrei Hollanda no seu escritório, aonde ele trabalhava como oficial responsável pelas finanças. Naquela época ele tinha cerca de 1,7m de estatura e pesava cerca de 73 kg. Ele ficou um pouco desconfiado por causa da época em que esteve trabalhando com as forças anti-guerrilha, mas, depois de algum tempo, decidiu que podia confiar em mim.

 

Naquela noite, ele e o sargento Flávio da Costa, que era o segundo em comando durante a Operação Prato, vieram ao meu hotel e nós conversamos sobre Colares e a onda de UFOs. Eles me mostraram cópias de algumas das fotos que eles tiraram. No dia seguinte, eu contratei um piloto, um avião Cesna e junto com Flávio, meu intérprete, e voamos para Colares, a uns 20 minutos de distância. Esta foi a primeira de minhas 4 viagens a Colares.

 

'A última vez que o vi foi em 13 de agosto de 1997, quando Cynthia Luce e eu passamos a melhor parte de dois dias entrevistando-o em Cabo Frio'

 

Estive com Hollanda novamente em uma outra visita a Belém, naquele mesmo ano ou no ano seguinte, e também em julho de 1981. Ele, eu e um outro norte-americano voamos para Colares, Santarém e Além. Nós ficamos lá por uns 3 ou 4 dias. Naquela época Hollanda era major e tinha ganhado um pouco mais de peso. Mas ele perdeu este peso extra e estava bem mais magro na outra vez que o vi, acho que em 1992, ao parar em Belém no caminho para São Luis e Natal. Ele tinha se aposentado e caminhava com uma perna dura, que disse ter quebrado quando caiu da janela do quarto andar.

 

A última vez que o vi foi em 13 de agosto de 1997, quando Cynthia Luce e eu passamos a melhor parte de dois dias entrevistando-o em Cabo Frio. Ele e Cynthia conversaram sobre fazer um livro biográfico, mas, infelizmente, ele morreu em menos de dois meses depois, no dia 02 do outubro de 1997. Ele tinha tanta coisa a nos dizer... Sobre a Operação Prato e muitos outros eventos da vida dele.

 

* Bob Pratt, jornalista, faleceu em janeiro de 2006.

 

 

 

- Imagens:

Site de Bob Pratt - www.bobpratt.org

Operação Prato (FAB, 1977).

Ilustração de Flávio Costa (para Operação Prato).

 

 Exclusivo VF: Falece o ufólogo norte-americano Bob Pratt SAIBA MAIS

 

- Saiba mais sobre a Operação Prato:

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