Paraná
Vila Velha: Itacueretaba Poderiam estas colossais estruturas se tratar de colunas de um templo dedicado ao deus Tupã?
Por J. A. FONSECA* De Itaúna-MG maio/2014
Restos de alguma coisa? Estas formações rochosas são mesmo esculturas naturais ?Leia também outros trabalhos de J.A. Fonseca: Cidades e povos perdidos do Brasil
Do antigo Tupi, Itacueretaba foi o nome dado aos monumentais monólitos de pedra da Vila Velha, no estado do Paraná, pelos seus mais legítimos habitantes e senhores daquela região, os povos indígenas. Ita (pedra), cuera (velho, extinto), taba (aldeia, povoação, cidade), ou seja, a cidade extinta de pedra que esses povos de antanho relataram em suas lendas, mostrando o seu apogeu e a sua ruína. Seu nome primitivo era Abaretama, aba (índio, homem), etama (terra, pátria), a terra dos homens que estava protegida pelo deus Tupã e os seus habitantes viviam felizes em toda aquela região.
Após a sua ruína, conforme relata a lenda tupi, Abaretama foi castigada e transformou-se na velha Itacueretaba, que nos dias de hoje impressiona os seus visitantes, diante de suas figuras multiformes e de suas muralhas monumentais, extensos corredores e salões exuberantes entre pedras colossais e de grande magnitude e beleza. A visão do seu conjunto pétreo nesta imensa planície verdejante faz com que ela assemelhe-se mesmo a um conjunto arquitetônico em ruínas, como se fora uma fortaleza extinta. Ao nos aproximarmos dela vem à nossa mente uma espécie de questionamento insistente, fazendo-nos refletir a respeito da lenda tupi e pensar até que ponto esta poderia ter um fundo de verdade.
Para os geólogos sua origem remonta ao Período Carbonífero da Terra que teria ocorrido a cerca de 340 milhões de anos. Segundo informam estes estudiosos, nesta época longínqua, muitos fenômenos geológicos teriam acontecido e, em decorrência, toneladas de areia, detritos e fragmentos rochosos trazidos por massas de gelo passaram a acumular-se naquele local. Tais acúmulos de massas amorfas congeladas provocaram o surgimento de grandes erosões no solo que incorporaram na sua trajetória hecatômbica uma grande quantidade de resíduos rochosos. Terminado o desgelo da região, todos esses materiais ficaram aí depositados e com a contínua erosão produzida pela água e pelo vento todo o material rochoso aí existente passou a ser esculpido naturalmente, levando, no decorrer do tempo, à formação dos grandes blocos de arenito e às suas características multivariadas. Permanecendo sob a ação da chuva, do sol e do vento durante milênios os antigos monumentos continuaram sofrendo profundas erosões, fraturas e diferenciações produzindo, finalmente, as gigantescas figuras de formatos variados e os imensos paredões compactados em aprumo.
Imenso contraforte semelhante ao de uma grande fortaleza.
Desta forma teríamos na velha Itacueretaba apenas formações rochosas naturais esculpidas ao prazer do tempo e dos elementos por longos anos de ininterrupto trabalho. No entanto, sua estranha forma semelhante a uma cidade abandonada pela ira do deus Tupã não deixou de dar-lhe uma outra conotação que a lenda tupi lhe proporcionara, causando espanto aos seus visitantes diante da multiplicidade de formas aí esculpidas.
O seu nome moderno Vila Velha lhe foi dado por causa destas formações extravagantes e belas e pelo fato de assemelhar-se mesmo a uma imensa cidade em ruínas. Apesar disto, os geólogos continuam afirmando tratarem-se de formações naturais apenas, sob a ação de chuvas fortes e dos ventos da região, depois de grandes transformações que os milênios produziram após o descongelamento. Sua composição geológica, conforme estudos realizados é constituída de arenitos sílico-argilosos, sedimentos permocarboníferos e limonita. Explicam os estudiosos que em face de não haver uniformidade na sua composição geológica, as inúmeras precipitações pluviométricas e os fortes ventos que assolavam a região acabaram por imprimir-lhes as suas formas atuais, mas que elas continuarão a ser remodeladas continuamente no decorrer do tempo.
Paredões íngremes dão a estes monumentos a visão de uma fortaleza inexpugnável.
Uma visão exuberante de uma grande muralha em meio a ruínas colossais.
Entretanto, queremos reportar ao espírito de nossos antepassados brasílicos e às suas lendas, especialmente comoventes e que se mostram muitas vezes como histórias fantásticas de um tempo perdido e a antiga Abaretama. Hoje Itacueretaba, pode continuar inspirando no íntimo de muitos que a visitam que estas venham tratar-se mesmo de ruínas de uma cidade e de um tempo grandioso em passado longínquo de nossa terra. Isto por causa de tudo aquilo que se descortina diante dos olhos destas pessoas, estruturas colossais e paredões uniformes, colunatas areníticas e figuras antropomorfas e zoomorfas gigantescas, como a querer dizer-lhes algo velado sobre a sua verdadeira origem.
Em face disto não poderíamos nos desvestir do mérito desta magnífica lenda tupi com tanta facilidade que, vencendo as barreiras do tempo e de uma transmissão estritamente oral, o que, sem duvida, deforma muitos dos princípios reais de sua história original, manteve-se viva na tradição destes povos mais antigos do Brasil, sustentando-se por sua força até os dias de hoje. Tanto que a memória viva do Abaretama, que foi transformado no Itacueretaba, preservada pelos antigos povos tupis, faz da região de Vila Velha um local amaldiçoado, uma vez que foi destruído pela ira do deus Tupã.
Quando penetramos em seus contrafortes em meio aos seus corredores longitudinais e observamos seus imensos paredões pétreos, a antiga lenda baila fortemente em nossa mente e obriga-nos a imaginar-nos percorrendo pelo interior de uma antiga cidade em ruínas. Tal impressão em nossa mente não nos parece produzida pela simples vontade de querer que ela assim seja definida, mas por causa dos grandes monólitos ajustados na forma de colossais colunatas e estruturas fortemente estabelecidas. Além disto, causa-nos séria discussão mental o fato de ao observarmos em volta vermos apenas uma planície verdejante que se estende próximo ao rio Tibagi, sem que nela sejam notados quaisquer indícios de outras pedras amontoadas ou formações geológicas semelhantes a estas de Itacueretaba.
Poderia se dizer que esta escultura se trata de uma esfinge? O que estaria ela fazendo ali?
Uma grande cabeça, coroada ao lado de paredões descomunais aumentam o seu mistério.
Sabendo-se que a extensão deste conjunto megalítico é de cerca de 2000 metros de comprimento e 600 metros de largura, numa área de 1200 km2 aproximadamente, é de indagar-se o porquê de tal acontecimento geológico ter-se localizado num espaço tão restrito, diante do que a própria geologia expõe em suas teses, argumentando terem ocorrido o deslocamento de grandes massas de gelo e produzido grandes erosões no solo. Teria a natureza caprichos tão bem delineados assim, ao ponto de concentrar num pequeno espaço toda a sua “arte” e deixar as demais sem quaisquer resquícios de sua atividade?
Quando nos detemos na lenda do Abaretama, a terra dos homens, escolhida pelos primitivos habitantes da região e a divina proteção do deus Tupã para preservar o “precioso tesouro”, o Itainhareru, e nos colocamos diante dos contrafortes de Vila Velha, o Itacueretaba, a cidade extinta de pedra, tendemos a acreditar mais nesta antiga história transmitida com desvelo pelos anciães desta raça no decorrer do tempo do que nos estudos geológicos feitos pelos nossos contemporâneos.
Segundo a lenda, os remanescentes do povo antigo, tão logo acontecera a terrível destruição se mudaram para outras paragens, fundando outros impérios distantes das terras que foram amaldiçoadas por Tupã. Suas ruínas ficaram como testemunho de seu poderio antigo e sua lenda sobreviveu como um tênue registro imorredouro de sua glória para prevenir as gerações que surgissem após o seu grande desastre.
Sem dúvida, Vila Velha encanta por sua beleza e grandiosidade e nos permite especular sobre os seus monumentos pétreos extravagantes, mesmo que já tenhamos um parecer definitivo da ciência sobre a sua origem. Entretanto, um pouco de tradição tupi, pensamos, faz com que ela se torne ainda mais atraente e há quem diga que a lenda é uma forma poética de preservar a verdadeira história dos povos, seus erros e acertos no decorrer do tempo, de forma que ela se mantenha viva e contundente na memória, além de servir de um forte instrumento cultural e de aprendizado para a sua descendência e preservação do conhecimento de seus ancestrais.
Vista do alto dos monumentos. Em volta há apenas uma planície verdejante e nenhum outro sinal de monólitos.
Lenda ou realidade geológica, a velha Itacueretaba está aí presente com suas pedras modeladas e seus paredões íngremes, que parecem querer sussurrar em nossos ouvidos, quando dela nos aproximamos, que existe muito ainda a ser contado de seu passado, algo muito além das especulações que podem ser feitas por quantos queiram fazê-lo sobre a sua verdadeira origem. De qualquer forma não se pode querer punir alguém por ter anseios de descobrir a verdade, esteja ela envolta pelo racionalismo científico contemporâneo ou encoberta por uma velha lenda, preservada por estes antigos povos destas igualmente antigas terras do Brasil. As fotografias que anexamos a este artigo mostram que pode ter havido algo mais por estes lados do vasto continente sul-americano, cheio de mistérios por serem desvelados.
* J.A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil com o intuito de melhor compreender seus mistérios milenares. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail: jafonseca1@hotmail.com.
- Fotografias: J. A. Fonseca.
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- Produção: Pepe Chaves © Copyright 2004-2017, Pepe Arte Viva Ltda.
Esta matéria foi composta com exclusividade para Via Fanzine©.
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