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- Itaúna no Circuito
Arqueológico do Brasil (MG)
- A Lendária Vila
Velha (PR)
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- A Esfinge da Gávea e
outros mistérios (RJ)
- A Misteriosa “Z” e o
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América do Sul:
Estranhos signos na arte rupestre do Brasil
Por J.A. FONSECA*
Inscrições na pedra
riscada de Picuí - Paraíba
Apesar de já terem sido efetuados inúmeros estudos
arqueológicos no Brasil, a questão que trata das inscrições rupestres
encontradas em toda a sua vasta extensão territorial continua sendo um
enigma. A idéia de que muitas destas possam estar ligadas a uma antiga
civilização, nos termos compreendidos pela arqueologia, não é ainda
aceita pelos pesquisadores e continua sendo relegada a planos
secundários, insistindo os mesmos que venham tratar-se simplesmente de
arte primitiva, sem maiores pretensões de seus autores, senão gravar
impressões pessoais e coletivas dos momentos que mais lhes chamavam a
atenção.
Além destas impressões mais sofisticadas gravadas na pedra
que ensaiam caracteres de uma escrita, em muitos casos, temos também
certos “monumentos” e arte ceramista, especialmente localizados em
algumas regiões brasileiras que nos levam a imaginar se não estariam
relacionadas a uma antiga civilização americana ou povos de certo grau
de desenvolvimento e cultura.
Neste sentido podemos mencionar, por exemplo, as muitas
excentricidades encontradas na cultura Marajó e Tapajós, contrapondo a
notícia de que esses povos teriam desaparecido completamente, sem deixar
descendentes. Outro caso que nos deixa pensativos é o do monumento
arqueológico da Pedra do Ingá e suas insculturas, estendendo-se nossa
observação até os documentos pétreos de Montalvânia, os signos estranhos
gravados em pedra em diversas regiões do nordeste e do Mato Grosso, sem
nos esquecermos dos monumentos megalíticos de Paraúna (GO), Sete Cidades
(PI), Vila Velha (PR) e outros, os mistérios arqueológicos de Santa
Catarina, do interior de Minas Gerais, de São Paulo e de outros estados
brasileiros.

Parte de um painel de inscrições localizado no sítio Grota Funda,
Carnaúba dos Dantas – Rio Grande do Norte.
Não se pode negar que as teorias sobre o povoamento dos
continentes já se acham há muito consolidadas e aceitas por iminentes
pesquisadores. Porém, diante de certas evidências e novas descobertas,
perguntaríamos se não seria uma atitude anti-científica e contra a
própria cultura e conhecimento humano esconder ou ignorar certos
registros e novas hipóteses que não as que já se acham consagradas pelos
pesquisadores e que são regularmente aceitas para explicar o nosso
passado? Seria penoso demais para os historiadores terem de concordar
com a reformulação dos muitos momentos da história dos homens e que
gritam por uma reflexão, ao invés de insistir em manter suas conclusões
sob a batuta rígida da ditadura dos dogmas acadêmicos e irrefutáveis, só
porque a vaidade de alguns especialistas não lhes permite aceitar o
óbvio que começa a tomar corpo, diante do avanço tecnológico e das novas
possibilidades que surgem para compreender com mais desenvoltura as
minúcias de nosso passado?
Se passarmos uma vista de olhos mais acurada sobre a
história conhecida dos homens vamos descobrir que as terras de além mar
não eram tão desconhecidas das civilizações mediterrâneas e européias,
como se quer fazer crer. Em face disto, poderíamos afirmar, sem medo de
errar, que Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral já teriam em seu
poder documentos importantes e mapas mencionando estas terras
exuberantes das Américas e do Brasil.
Por outro lado e em verdade, pouco se sabe sobre o passado
mais longínquo destas terras americanas, recém-descobertas, mas sua
pré-história mostra a cada dia novas marcas indeléveis de que tenham
sido habitadas há milênios por um povo desconhecido e uma cultura ainda
não catalogada nos compêndios de nossa história.
Assim, não se pode afirmar que o homem primitivo ou quem
quer que tenha produzido as inscrições rupestres encontradas no Brasil,
notadamente, as mais complexas, as teria produzido há apenas 500 anos ou
que estariam ligadas às culturas indígenas que aqui viviam e ainda vivem
até os dias atuais e com as quais este autor já teria feito contato.
Defendemos a hipótese de que esses povos mais antigos pertenciam a um
outro grupo cultural e que estes teriam se utilizado de algum tipo de
combinação de imagens para desenvolver sua “arte” e “escrita”, as quais,
sempre se mostram carregadas de rica simbologia e representações pouco
convencionais.
Observamos ainda que algumas destas manifestações rupestres
e sua grande variedade de signos, figuras geométricas e traços
semelhantes a letras de antigos alfabetos, têm mostrado algo como um
esquema bem organizado, como se determinadas imagens tivessem sido
produzidas de forma planejada, segundo um padrão esquematizado, ou seja,
como se quisessem mostrar certas relações ou funções de um objeto, antes
que viesse ser estabelecida a sua forma definida.

Inscrições em baixo
relevo da enigmática Pedra do Ingá – Paraíba.
A nosso ver, muitas destas manifestações líticas se
destacam em seu conjunto e em sua elaboração, podendo até mesmo serem
enquadradas dentro de um conceito lingüístico, pois que muito se
assemelham a uma espécie de linguagem ordenada e compreensível. É comum
encontrarmos nos painéis líticos de todo o país, demonstrações e
rudimentos que levam-nos a suspeitar que seus autores pareciam querer
“comunicar” alguma coisa de forma mais permanente. Algumas destas
representam objetos, animais e homens associados a determinados signos,
outras figuras apresentam esquemas complicados como já mencionamos e
outros se acham repletos de signos alfabéticos e símbolos, alguns dos
quais expressivamente sofisticados e de caráter universal.
Muitos destes símbolos parecem querer relacionar-se a
representações astronômicas, mostrando sóis, luas, estrelas, cometas,
etc., isolados ou em conjunto com outros grupos. É comum encontrar
registros de um animal semelhante ao lagarto junto destes signos e
também outros animais estilizados, alguns parecidos com lobos,
tamanduás, onças, pássaros, etc.
Mesmo diante de sua sofisticação, muitos pesquisadores não
concordam que estes sinais, agrupados ou não, possam ter algum
significado, considerando apenas que tais inscrições teriam sido
produzidas aleatoriamente. Entretanto, podemos observar que em meio às
reproduções existem alguns signos mais simples e outros mais complexos.
Os mais simples podem ser vistos mais freqüentemente e podem estar tanto
mais agrupados em algumas regiões, quanto mais escassos e esparsos em
outras. Porém, muitos destes estão sempre representados repetidas vezes,
o que pode conduzir a um raciocínio lógico de que poderiam estar
representando letras de um alfabeto ou uma escrita, hoje desconhecida
dos pesquisadores.
Os grupos mais comuns de signos são compostos de figuras
como setas, traços curtos, pequenos círculos, alguns com um diâmetro e
outros com uma cruz ou um ponto centralizando-os, a cruz isolada, em
alguns casos muito bem traçadas, linhas verticais, linhas curvas ou em
ângulo, em forma de T, pequenos tridentes, triângulos, quadrados,
retângulos, retas duplas, pontos estelares, meias luas, letra I, pentes,
espirais, pontos, etc. Ver ilustrações abaixo:

Sob o ângulo de nossa observação, não acreditamos que tais
signos possam ter sido gravados de forma aleatória, pois como já vimos
em muitas das manifestações rupestres reproduzidas neste estudo, alguns
destes parecem estarem relacionados a uma espécie de contexto lógico,
com o objetivo explícito de transmitir uma idéia ou representar aspectos
importantes da cultura de seus autores.
Como se não bastasse, temos ainda a questão dos signos mais
complexos, de contextura mais incomum e bem mais elaborados, que estão
sempre posicionados em determinados lugares, como se tivessem a estes
pretendido atribuir uma conotação especial. Muitos deles chegam a
impressionar de forma contundente o pesquisador e causar-lhe incômodo,
principalmente, quando este se atém à sua estrutura e for-ma, e mesmo em
relação ao modo em que se acham representados. Tais observações levantam
diante do pesquisador atento mais dúvidas do que explicações quanto à
origem e pretensão de seus autores ou que motivos ou ideais os
impulsionaram a produzir figuras tão misteriosas e emblemáticas.
O fato de muitas destas inscrições mais aprimoradas estarem
ao lado de outras mais comuns, em certos casos, não quer dizer que seus
autores tenham sido os mesmos e que tenham sido produzidas numa mesma
época e venham assim serem incluídas num padrão único de análise e
avaliação de importância e datação respectiva.
Para efeito de avaliação, dentre estes signos mais
complexos podemos citar os sóis raiados, os lagartos estilizados, os
tridentes com cabos em tê (T), círculos com sub-divisões complexas ou
com adornos especiais, figuras geométricas justapostas, setas
repetitivas indicando descendência ou ascendência, máscaras, figuras
antropomorfas e zoomorfas estilizadas, objetos estranhos, etc., conforme
pode ser visto nas ilustrações abaixo e para testificação de nossa
perspectiva. Vejamos:

Ilha dos Martírios
– Xambioá - Tocantins

Inscrições em
várias regiões do estado do Pará

Figuras rupestres
em Minas Gerais

Figuras complexas
encontradas em Santa Catarina
Podem-se encontrar também painéis mistos que guardam
representações de figuras justapostas como se tivessem relação umas com
as outras. Podemos, por exemplo, observar uma figura antropomorfa ou
zoomorfa ao lado de uma ou mais figuras astronômicas. Em outros casos
encontramos registros que parecem estar associados a figuras que se
assemelham a letras, triângulos, quadrados, retângulos, linhas sinuosas
e objetos desconhecidos, alguns destes interligados a outros por fios,
sugerindo alguma ligação entre eles.
Diante da expressiva conservação de muitos destes signos,
quando gravados por meio de tintas específicas, é nosso pensamento que
seria importante algum tipo de pesquisa para explicar a causa de sua
longevidade, considerando-se que os pigmentos utilizados no mundo
moderno não possuem esta mesma durabilidade. Outro fator relaciona-se,
ao nosso ver, às “ferramentas” usadas por eles para os casos de
picoteamento e polimento das figuras. No primeiro caso, a preparação e
aplicação dos pigmentos nos parecem já ser algo de grande importância
neste estudo, pois exigiriam, certamente, dedicação e trabalho demorado
de seus manipuladores, além de que, têm indicado que em muitos casos, há
uma variação considerável de cores e notável nitidez. No segundo caso,
algumas inscrições em baixo relevo são bem trabalhadas e teriam exigido
um ferramental apropriado para a sua execução. Diante de nossas
observações não acreditamos que pedras toscas pudessem servir para
conduzir tão bem determinadas obras de “arte” rupestre, trabalhadas com
grande precisão e elevada qualidade técnica.
Muitas destas incisões na rocha mostram signos muito bem
delineados, sem arestas ou quebras por acidente, indicando terem sido
produzidas de forma sofisticada e cuidadosa, fugindo assim da tendência
usualmente tosca com que a primitiva arte do homem não civilizado era
executada. Considerando-se que os tipos de instrumentação deveriam ser
muito restritos ou quase inexistentes, somos forçados a admitir uma
outra hipótese: a de que algumas destas tenham sido produzidas por meio
de um ferramental sofisticado e por homens de conhecimento jamais
cogitado pelos contemporâneos estudiosos em arqueologia.
Se pudermos confirmar que entre estas manifestações de arte
rupestre temos também representações de signos alfabéticos e que
determinados esquemas mais sofisticados podem conter certas noções
técnicas, teremos de nos curvar a uma revi-são dos valores que
alimentamos como verdadeiros sobre o homem primitivo, cria-dores destes
“documentos” pré-históricos e reconhecer que seu desenvolvimento e nível
cultural podem estar, irremediavelmente, enquadrados em outro estágio,
que não o de simples caçadores-coletores ou pescadores ao nível de
subsistência.

Estranha inscrição assemelhando-se a uma escrita (vide destaques)
encontrada no sítio
Vale
dos Mestres III em Canindé de São Francisco – Sergipe
Apesar de nos depararmos freqüentemente com muitos destes
registros pouco compreensíveis, insistimos, muitos pesquisadores em
arqueologia nacional e inter-nacional são de parecer que se tratem
apenas de manifestações inconscientes de arte oriunda do ócio de povos
indígenas e de grupos primitivos que nada de mais expressivo pretendem
expressar.
Em nossas observações, algumas “in loco”, nos indagamos a
respeito desta grande quantidade de “provas” rupestres em nosso país e
pensamos se tais afirmações não pretendem querer simplificar
demasiadamente as coisas e negar-se a ver detalhes importantes em muitos
destes registros que são encontrados também em muitas outras regiões de
nosso planeta. Neste sentido, seria por demais estranho que povos
primitivos, muito distanciados uns dos outros e sem qualquer forma de
contato ponderável, pudessem deixar gravados signos semelhantes e
caracteres muito parecidos, como é o caso dos que se assemelham a
alfabetos mais antigos.
O ilustre amazonense Bernardo Azevedo da Silva Ramos,
pesquisador nato, apesar de desacreditado por muitos outros, não se
perturbou pelas críticas e ousou afirmar que muitas inscrições rupestres
brasileiras se tratam de “escritas primitivas”, comparando-as com letras
de alfabetos conhecidos, especialmente, o fenício e traduzindo alguns
deles, dentre os quais, as inscrições da Pedra da Gávea, no Rio de
Janeiro. Segundo se sabe, chegou a reunir cerca de 3.000 inscrições das
mais diversas regiões do Brasil e outras de países americanos, apontando
muitas semelhanças entre estes signos por ele classificados e os do
Velho Mundo.
Outros arqueólogos preferem afirmar que todos estes
registros milenares se tratem apenas de arte rupestre, distribuindo-os
em grupos temáticos como os já conhecidos motivos geométricos e outras
formas bem definidas como pontos, linhas, círculos em diferentes
tamanhos e combinações, cruzes, retângulos, ziguezagues, etc. produzidos
com maior ou menor precisão. Outros trabalhos foram classificados como
motivos figurativos e se destacam por representarem pessoas, animais,
arbustos e árvores, além de outros objetos não especificados, alguns
destes agrupados sistematicamente como o fazemos em uma escrita regular,
apesar de que tal condição não é regularmente levada em conta.
Insistimos que há muito ainda a ser descoberto em todo este
acervo rupestre do Brasil e do mundo e seria bom que nos dispuséssemos
em aprofundar na pesquisa do significado de determinados símbolos que
demonstram certo grau de dificuldade na sua elaboração e nos conjuntos
que apresentam significativa similaridade.
*
J.A.Fonseca
é economista, aposentado, escritor, conferencista, estudioso de
filosofia esotérica e pesquisador arqueológico, já tendo visitado
diversas regiões do Brasil. É presidente da associação Fraternidade
Teúrgica do Sol em Barra do Garças–MT. É
articulista do jornal
eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br)
e
membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA.
- Todas as ilustrações: Reproduções de J.A. Fonseca/Arquivo Via Fanzine.
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