Minas Gerais

 

Arqueologia:

O 'Livro de Pedra' de Montalvânia

Montalvão perquiriu mais o sentido místico dos “escritos” e das “mensagens” nos registros de Montalvânia e equiparou os seres e as figuras desconhecidas ali impressas aos deuses da mitologia grega e latina, mostrando um emaranhado de decodificações aparentemente estranhas e de difícil entendimento.

 

  Por J. A. FONSECA*

De Itaúna-MG

julho/2014

jafonseca1@hotmail.com

 

Ilustrações em rocha têm ricos motivos em Montalvânia.

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Montalvânia surgiu de um sonho. Seu fundador Antonio Lopo Montalvão idealizou-a como um centro espiritual depois que descobriu as incríveis figuras pintadas e insculpidas em suas grutas. O filósofo sertanejo viu ali um local remanescente de um tempo muito antigo e os seus registros como se fossem uma “bíblia de pedra” escrita com figuras multiformes e caracteres estranhos, mostrando ter havido ali mais do que grupos nômades, caçadores-coletores que usavam as suas grutas para se esconderem dos perigos em torno e das noites tenebrosas.

 

Quando vi os escritos de Montalvão pela primeira vez em 1980, em seu livro Analogia do Naturalismo Universal, imediatamente interessei-me por Montalvânia e tive ímpetos de conhecer o seu criador. Em 1986 estive com uma pessoa na Secretaria do Planejamento do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte, que o conhecia e deu-me de presente um folheto intitulado Re-vista do Brasil Remoto, com fotografais daquela região e interpretações feitas pelo seu funda-dor. Meu interesse em ver de perto aquelas figuras ficou insustentável e meu interesse de conhecer Montalvão aumentou de forma incontrolável. Mas, este ‘sonho’ só veio a realizar-se, parcialmente, apenas em meados de 1992. Quando lá cheguei, ele havia falecido havia apenas 20 dias. Fora encontrado morto, vítima de um forte ataque cardíaco. Morava só e nada pôde ser feito quando o encontraram. Propus-me então sair em busca de alguém que pudesse falar-me sobre a região e auxiliar-me para viabilizar visitas em algumas de suas grutas. Encontrei-me então, por intermédio de um natural, como o Sr. João Elmiro Vieira, o João das Grutas, que era o antigo acompanhante de Montalvão em suas pesquisas pelas grutas de Montalvânia.

 

Conforme fui informado por este grande conhecedor da região, existiam naquela data, oito grutas por ele descobertas onde se podia ver uma grande variedade de registros rupestres, pintados ou insculpidos na pedra. E o João das Grutas falava daquelas figuras com desenvoltura e grande entusiasmo e parecia ter aprendido muito com o filósofo sertanejo que ali se estabelecera.

 

O que torna esta região diferente das demais é que ali se acham gravadas muitas figuras, objetos estranhos, signos, caracteres e tipos antropomorfos e zoomorfos, ligados entre si, como se quisessem dizer que há neste emaranhado de formas justapostas uma história que foi contada por causa de sua real estranheza.

 

De fato, impressiona o observador a expressividade das figuras e a sua profusão, justificando os dizeres de Montalvão que estes registros se tratam de um “livro de pedra” a ser decifrado pelo homem contemporâneo. Suspeita-se que estas gravações venham remontar a um antigo tempo destas terras brasílicas, de uma época que não pode ter qualquer relação com os períodos já estudados pelos pesquisadores, nem mesmo com os povos indígenas que aqui viviam quando da descoberta do Brasil, pois a sua simbologia é marcante e marcante também são as figuras ali representadas.

 

 

Esta gruta recebeu o nome de Poseidon por causa da estranha figura anfíbia que se acha gravada em meio aos seus inúmeros registros em baixo relevo. Na ilustração abaixo da principal o deus Poseidon em destaque.

 

O acesso às grutas é muito difícil não se encontrando picadas abertas na sua direção. Conseguimos chegar até duas delas por meio de uma longa caminhada pelo mato seco da região e caminhos pedregosos, acompanhados que estávamos pelo atencioso e grande conhecedor da região João das Grutas e de seu filho. O terreno é áspero, muito seco nesta época do ano e o sol é escaldante. Mas, a chegada ao nosso destino se torna compensadora.

 

Antonio Montalvão dizia que a primeira civilização da Terra teria se desenvolvido nesta região e que se acham gravadas nas pedras figuras de seres voadores que representam povos que pertenceram a esta antiga raça. Segundo ele, nestas grutas estão representados muitos seres mitológicos e que estes são os mesmos tratados pela mitologia grega, sendo, porém, esta posterior aos registros enigmáticos de Montalvânia. Uma prova disto, diz, é a representação do grande deus Poseidon, o senhor dos mares, numa das grutas, que visitamos e que tem o seu nome. Esta figura está de fato gravada em baixo relevo entre figuras e sinais ondulados que se parecem representação do mar. Tem longos braços estendidos, sendo que o direito segura no alto um tridente e o outro, abaixado, segura um objeto desconhecido ao lado do corpo. No lugar dos pés tem uma longa cauda de peixe. Por causa disto este local foi chamado de Gruta de Poseidon.

 

Não é estranho encontrarmos a representação de uma figura anfíbia que reporta à lendas de povos distantes numa região seca como esta do norte do estado de Minas Gerais?

 

Para Montalvão o acervo pictórico de suas inúmeras grutas é uma espécie de tesouro histórico, um “livro de pedra”, no qual se acham registrados gigantescas figuras, tipo ciclopes, sereias e seres mitológicos, como se fossem comprovações de que a linhagem humana tivesse sido precedida por seres exóticos de caracteres antropomorfos e uma história não conhecida dos tempos atuais.

 

Um estranho conjunto de figuras onde um ser antropomorfo parece flutuar e acha-se preso por um fio a um objeto que parece elevar-se no ar. Outras estranhas figuras acham-se próximas dele.

 

Montalvão perquiriu mais o sentido místico dos “escritos” e das “mensagens” nos registros de Montalvânia e equiparou os seres e as figuras desconhecidas ali impressas aos deuses da mitologia grega e latina, mostrando um emaranhado de decodificações aparentemente estranhas e de difícil entendimento. Mas, seu conteúdo ainda está por ser decifrado e não poderíamos dizer simplesmente que todo aquele imenso acervo esteja sintonizado apenas com as crenças de povos antigos e que teriam sido produzidas de forma aleatória.

 

Seria simples demais pensarmos assim quando nos colocamos diante da complexidade dos registros rupestres que ali se acham gravados e de sua multiplicidade de formas, símbolos, caracteres e figuras justapostas, num verdadeiro emaranhado de elementos insólitos e de difícil compreensão e execução.

 

Se Montalvão “aventurou-se” em analisar por muitos anos estes antigos e inexplicáveis registros, nós que ali estivemos uma única vez, haveremos de concordar com ele em muitos pontos e, de outro lado, anotar algumas referências sobre algumas de suas figuras mais significativas e que nos poderiam transportar para uma visão igualmente ousada sobre o simbolismo das mesmas. A própria gruta de Poseidon, nome dado por Montalvão a uma destas que visitamos, por se achar gravado nesta, em baixo relevo, picotado, a figura de um ser com aparência de homem, braços alongados e rabo de peixe. Assemelha-se a um “livro de pedra”, no dizer de Montalvão, face à grande quantidade de figuras aí gravadas nas paredes de alto a baixo e também no teto. O assoreamento do solo da gruta indica que as inscrições descem mais abaixo do piso atual. Com pequenas escavações nos cantos das paredes de pedra percebe-se que há muito registro soterrado nesta gruta, uma vez que as chuvas, apesar de não muito frequentes na região e a entrada em declive favorecem o acúmulo de resíduos de terra e areia, que são arremetidos para o seu interior, ocasionando os soterramentos das figuras. E não é preciso ser um “expert” para ver com clareza que a profusão de seus registros, figuras justapostas, signos estranhos e ‘letras’ se parecem verdadeiramente a páginas escritas de uma história desconhecida, eivada de sutilezas e acontecimentos estranhos para o nosso atual modo de compreender as coisas. Pode-se até mesmo especular sobre muitas outras coisas observando-se as figuras atentamente e fazer voar a nossa mente na busca da compreensão de seu real significado que, sem dúvida, haverá de existir.  

 

Esta figura mostra dois corpos em órbita ao lado de um outro e outros enigmáticos objetos se agrupam em torno. Seria uma escrita ideográfica?

 

Seguindo a trilha apontada por Montalvão, podemos nos extraviar por conceitos mirabolantes e controversos, no entanto, certas figuras gravadas nas grutas locais mostram cenários compondo inexplicáveis contextos que nos levam a imaginar que há, de alguma forma, algo mais a ser tirado dali. Por exemplo, em determinado lugar na gruta de Poseidon uma figura humana, de braços abertos e que parece flutuar no espaço, se mostra ao lado de um objeto semelhante a um foguete espacial em vôo, com jatos projetores, e uma linha parece unir este artefato com a figura antropomorfa que flutua. Nas imagens acima, pode-se ver figuras semelhantes a um esputinique ou a algo voador.

 

Em outro conjunto vemos sete setas que se projetam de um ponto único e, em torno de si, estão expostos alguns signos variados. Pode-se perceber que estas não se encontram ali por simples decoração e que querem mostram algo em conjunto com as figuras que se agrupam próximo delas. Em outro lugar vemos uma espécie de órbita de dois corpos em torno de outro e vários objetos e figuras antropomorfas se apresentam em conjunto. Em muitos lugares, círculos concêntricos e outras figuras circulares podem ser vistas. Algumas, com um ponto no centro e outras com aposição de figuras desconhecidas, além de uma grande profusão de imagens que perturbam a nossa visão e nos levam a pensar sobre o motivo que teria levado aquele grupo de pessoas a desenvolverem um trabalho tão expressivo e ao mesmo tempo tão exaustivo e complexo. Alguma coisa de grande poder e força teria impulsionado esses autores anônimos a fazer aquilo e nada pode nos fazer acreditar que se se tratasse apenas de pura ociosidade ou de registros inconscientes de homens sem qualquer forma de discernimento.  

 

 

Este é outro enigmático conjunto de signos, dentre os muitos outros que compõem o ‘livro de pedra’ de Montalvânia e guardam por sua decifração.

 

De qualquer forma os registros de Montalvânia estão lá, vívidos e desafiadores, insuflando as mentes para a sua compreensão e não será por meio de simples explicações que seu conteúdo poderá ser trazido à luz e perfeitamente conhecido. Exigirão dos seus observadores mais do que técnicas e intelectos preparados e, talvez até mesmo suscetibilidades mais aguçadas para penetrar no âmago de sua muda linguagem pictórica de modo a fazê-la expressar-se e, por fim, compreender.

 

Antonio Montalvão era um idealista. Depois de fundar Montalvânia em 1952 lutou para torná-la município, conseguindo-o apenas em 1962. Fundou o Instituto Filantropo Cochanino (a cidade se estabelecera às margens do rio Cochá) que passou a dedicar-se aos estudos das inscrições rupestres e do seu simbolismo. Por meio deste Instituto lançou edições da Revista do Brasil Remoto, onde fez as suas próprias interpretações, muitas vezes exóticas, das pinturas e insculturas de Montalvânia e dizia que sua cidade se localizava no centro do Universo e que todas as lendas e os mitos teriam nascido ali, às margens do rio Cochá e se espalhado pelo mundo após a destruição da Atlântida.

 

Montalvão falecera em 1992, com 75 anos, de ataque cardíaco e fora encontrado morto, só, em sua rede na sede do Instituto por ele fundado, deixando uma lacuna no espírito que sustenta as lendas brasileiras e suas fantásticas histórias de tempos longínquos, da mesma forma que muitas outras que ainda persistem e que sobrevivem ainda com intensidade nos recantos mais re-motos destas imensas dimensões do nosso desconhecido Brasil.              

 

* J.A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e  realizado incursões em diversas regiões do Brasil  com o intuito de melhor compreender seus mistérios milenares. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail: jafonseca1@hotmail.com.

 

- Fotografias e ilustrações: J. A. Fonseca.

 

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