Novas reflexões
Mistérios Arqueológicos: Novas Reflexões sobre a ‘Arte’ Primitiva do Brasil É imensurável a variedade e a complexidade de elementos encontrados nos registros rupestres do Brasil e é por isto que decidimos abordá-los novamente, mostrando alguns exemplares para comparação destas excentricidades em diversos lugares.
Por J. A. FONSECA* De Itaúna/MG set/out - 2024
Detalhe de um dos painéis da Lapa do Rezar – Vale do Peruaçu – MG.
No artigo anterior abordamos de forma mais ampla a questão dos mistérios arqueológicos do Brasil, que julga esse autor, necessita ser melhor explicada, por causa de sua real excentricidade em muitos dos casos observados e estudados e que foram aqui apresentados.
Mas, existem muitos outros que precisariam ter um tratamento similar, pois a sua manifestação em terras brasileiras é muito forte e exigiriam maior dedicação de tempo e de exames mais específicos e detalhados para explicá-los.
Por este motivo julgamos que seria conveniente voltar a uma abordagem deste tema numa segunda parte, tratando de alguns casos com maior explicitação e mostrar como são verdadeiramente inusitados e controversos os motivos adotados por seus autores, mesmo que em muitos casos esses artistas do passado não tenham tido habilidades mais requintadas para produzi-los e demonstrar o seu pensamento ou mostrar aquilo que poderiam ter presenciado ou que faziam parte de suas experiências naquele momento.
Desta forma vamos aqui, em sequência à temática anterior, mostrar alguns casos mais comuns de ‘arte’ rupestre e também alguns daqueles outros que nos causam interrogações na mente, mais especificamente por causa da sua estranheza e do grau de dificuldade que os próprios pesquisadores têm para compreender o conteúdo do que foi expressado nas figuras desconhecidas que aqueles homens registraram nas pedras, considerando-se evidentemente a capacidade intelectual e a evolução daqueles autores desconhecidos de antanho.
É imensurável a variedade e a complexidade de elementos encontrados nos registros rupestres do Brasil e é por isto que decidimos abordá-los novamente, mostrando alguns exemplares para comparação destas excentricidades em diversos lugares.
Alguns comentários também foram feitos sobre as figuras que ali estão representadas e seus aspectos mais enigmáticos, em relação com aquelas de conotação mais simples e que também se acham espalhadas por toda a parte. Veremos assim que o que estamos expondo nestes artigos não se trata de exagero de nossa parte ou uma percepção focada sob uma ótica particular, mas uma realidade que pode ser constatável por qualquer pessoa interessada na ‘arte’ lítica registrada em todas as regiões do Brasil, na sua feitura e nos motivos retratados ou nas perspectivas que poderiam nos indicar aspectos mais concisos sobre o que elas poderiam estar representando.
Detalhe de um painel lítico localizado na Serra do Cipó – MG.
É nosso pensamento que este tipo de observação costuma criar certas dificuldades na compreensão de muitos aspectos desta ‘arte’, diante de nossa tendência de pretender atribuir ao homem primitivo quase sempre nômade, esta inumerável obra representada em toda a parte sem, muitas vezes, procurar qualificar os aspectos incompreensíveis que muitas delas apresentam ou que seus autores quiseram demonstrar.
Isto é para nós uma questão de real importância a ser discutida no estudo da arqueologia e na compreensão dos acontecimentos do passado, não só do Brasil como também de outros países e povos em toda a face da Terra. Pode-se ver que elas próprias deixam claro aos nossos olhos que, em muitos casos e aspectos, não poderiam tratar-se de obras produzidas por mãos inábeis e por mentes temerosas ou selvagens, além de que, em alguns dos casos específicos, exigiriam um conhecimento mais avançado e técnicas adequadas, por causa do aprimoramento na sua execução.
Ou seja, muitas destas obras, em se tratando apenas do que costumamos chamar de ‘arte’ rupestre, não poderiam ter a sua execução concluída sem a presença de técnicas adequadas, critérios específicos estabelecidos e motivos bem delineados para a sua produção. Isto implica dizer que muitos de seus autores teriam de ter habilidades artísticas comprovadas pela própria execução da obra e conhecimentos de ‘técnicas’ específicas para a sua idealização e conclusão.
Provas disto são a forte impressão visual que elas causam em todos, estudiosos e observadores, além de uma certa ‘confusão’ mental que acomete a todos nós, por não podermos compreender o motivo que teria levado um ‘homem primitivo’ de mente limitada e carregada de conflitos a reunir condições para ‘criar’ tais maravilhas com a utilização de métodos que ultrapassariam a sua própria capacidade de fazê-los existir e a nossa de as compreender.
Figura humanoide registrada na Serra do Cipó – MG.
É difícil para nós percebermos isto, porque em muitos casos não se trata apenas de examinar a sua imagem idealizada, mas também o seu conteúdo completo e o método que teria sido utilizado para a sua conclusão final.
A exemplo da famosa Pedra do Ingá, com seus sulcos cuidadosamente insculpidos ou moldados de forma admirável e seu conteúdo extravagante e inexplicável, temos ainda muitos outros que mostram ‘traços’ retilíneos cortados na pedra com muita precisão, como se ela fosse apenas uma massa disforme e moldável no momento em que teriam sido ‘trabalhadas’. Que tipo de gente teria feito aquilo, como o teriam feito e por que o fizeram? É preciso pensar sobre isto.
Existem mistérios em nosso passado mais longínquo que nos escapam a uma adequada compreensão agora e penso que não seria demérito nenhum para nós afirmar que não os podemos compreender. Existem certas coisas que sobreviveram às intempéries e ao inexorável passar do inevitável tempo e que nos perturbam, mas que não poderiam permanecer sustentados sob a tutela de teorias apenas nem equiparados a outros casos que são mais compreensíveis para o nosso intelecto e que mais se adequaram àquilo que queremos que eles venham representar.
Muitas das manifestações de ‘arte’ primitiva nos mostram com clareza o que seus autores pretenderam demonstrar originalmente e, na sua simplicidade e incapacidade de bem representar as suas ideias, produziram por meio de garatujas ou desenhos corriqueiros e mal elaborados a sua realidade pungente. Entretanto, encontramos muitas outras destas manifestações que não se comportam desta maneira simples e facilmente constatável, levando-nos a meditar sobre o seu conteúdo e um cuidado maior observado na sua execução.
Outras ainda, vão muito além de uma perspectiva mais acurada por parte de seus autores, pois desafiam a nossa capacidade de entendimento diante de uma técnica de caráter muito sofisticado ali aplicada e, em geral, de cunho inexplicável ou misterioso.
Por razões assim justificadas é que estamos fazendo esta abordagem de alguns casos escolhidos que representarão muitos outros em semelhantes condições, no sentido de demonstrar que representam peculiaridades não muito comuns e conteúdos estranhos ao conhecimento dito ‘normal’ do ser humano em passado remoto e mesmo em nosso momento atual.
Mostramos acima exemplares de manifestações de ‘arte’ rupestre no passado do Brasil que podem ser mais facilmente compreendidos e a seguir mostraremos alguns outros que não são apenas incomuns, mas também carregados de certos elementos, estranhamente sofisticados e desconhecidos, que podem, sem muito esforço, serem notados até mesmo à uma primeira observação.
INHAMUNS – CE
A revista trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de 1887 publicou o artigo de Tristão de Alencar Araripe “Cidades Petrificadas e Inscrições Lapidares do Brasil” onde ele demonstrou, juntamente com diversos outros autores que diversas localidades no nordeste brasileiro trazem um arquivo extenso de inscrições rupestres, figuras diversas gravadas e símbolos que precisam ser especialmente estudados pelos nossos compatriotas pesquisadores.
O enfoque deste longo trabalho estendeu-se mais especificamente sobre o estado do Ceará, terra de Araripe e mostrou muitas cópias de figuras rupestres em diversos lugares feitas por esses pesquisadores, muitas das quais se encontravam já em adiantado estado de destruição provocada pelo tempo e intempéries. Mesmo assim eles mostravam ainda muitas figuras de caráter não convencional e alguns elementos surpreendentes na sua composição. Hoje a maioria deles já não deve estar mais em boas condições e o que temos são os registros que este monumental trabalho do século XIX conseguiu preservar.
Neste artigo incluímos um dos painéis desta ‘arte’ desconhecida do nordeste do Brasil para mostrar a complexidade de muitas das figuras ali representadas e dos caracteres desconhecidos também presentes na sua composição.
Um estranho painel de figuras em Inhamuns com destaque da ‘embarcação’ acima.
JOSÉ DANTAS – RN
José de Azevedo Dantas é um nome que precisa ser, obrigatoriamente, grafado nos anais da história do Brasil pelo inestimável trabalho de pesquisa potiguar e paraibana que este ilustre pesquisador nato realizou naquela região do nordeste brasileiro na década de 1920/1930.
Apesar de o mesmo não ter formação acadêmica em nenhuma modalidade, nem mesmo de caráter primário, causou surpreendente impacto perante os pesquisadores hodiernos por causa de seu espírito de pioneirismo e autodidatismo, revelado nos seus estudos e registros arqueológicos, tanto no que se refere às suas descrições criteriosas, quanto às suas reproduções de inscrições naquela região, apesar dos parcos recursos de que possuía.
Segundo o historiador Helder Alexandre Medeiros de Macedo José Dantas teria iniciado suas pesquisas arqueológicas no Rio Grande do Norte e na Paraíba em 1924, na localidade denominada Xiquexique, onde residia e que hoje correspondem aos sítios arqueológicos Xiquexique I, Xiquexique II, Abrigo do Morcego e Furna do Pau d’Arco.
Apesar de não ter frequentado nenhuma escola oficial, desenvolveu estudos nas áreas da geografia, história, genealogia, meteorologia e arqueologia, além de atuar também como músico, desenhista e editor de jornais manuscritos de pequena circulação em Carnaúba dos Dantas. Munindo-se de lápis e papel ele saiu pelo sertão do Seridó registrando as inscrições rupestres que encontrava, anotando detalhes dos locais pesquisados e fazendo croquis das regiões visitadas.
Os atuais pesquisadores confirmam que as datações do Seridó cheguem próximo de 10 mil anos, ou seja, que os registros ali encontrados se tratem de constatações de ocupações humanas naquele local em época muito remota. Nos abrigos deste sítio são encontradas representações de embarcações estilizadas, motivos geométricos, antropomorfos e zoomorfos.
Nesta região correm os rios Seridó e seus principais afluentes, Carnaúba e Acauã, onde se encontram municípios dos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, constituindo-se de uma área menos árida do Nordeste.
Foi nesta localidade de Carnaúba dos Dantas que se deram as primeiras pesquisas arqueológicas do ilustre brasileiro José Dantas, quando o mesmo acabou por reunir um volumoso e raríssimo manuscrito denominado “Indícios de uma Civilização Antiquíssima” com seus estudos, escritos e reproduções das itacoatiaras. Este importantíssimo documento foi doado ao Instituto Histórico Paraibano por seu irmão Mamede de Azevedo Dantas após sua morte e encontra-se aí arquivado.
Painel do sítio Grota Funda – Carnaúba dos Dantas – RN, reproduzidas pelo autor através dos registros de José Dantas.
Parte central do painel da Pedra do Ingá mostrando a semelhança de figuras em suas inscrições (reprodução do autor).
O painel de Grota Funda, por exemplo, possui cerca de 4 m2 de inscrições elaboradas com elevada sofisticação. Academicamente estas foram classificadas como representações sequenciais de círculos puntiformes, traços verticais e estruturas geométricas, tridígitos, astros, etc., as quais levam-nos a compará-las com as insculturas da Pedra do Ingá, dadas as suas semelhanças (ver ilustrações acima).
Podemos dizer o mesmo dos registros rupestres encontrados no sítio localizado às margens do Rio Bojo, no local conhecido como Cachoeira das Canoas e classificado como Cachoeira das Canoas I, II e III e o próprio José Dantas em seu manuscrito destaca a excepcionalidade destas inscrições lapidares escrevendo o seguinte: “perscrutando bem a impressão desses desenhos e o sentido que eles revelam pude concluir que, não se trata da existência do gentio brasileiro e sim de uma antiquíssima civilização pré-histórica, talvez dos tempos neolíticos, pelas formas e sinais que apresentam essas figuras em contraste com as dos indígenas, historicamente conhecidos.”
PEDRA DE PICUÍ OU RETUMBA – PB
A pedra de Picuí ou Retumba hoje encontra-se desaparecida por causa da construção de um açude na região que a inundou completamente, deixando-a parcialmente à mostra apenas em épocas de seca. Seu nome (pedra do Retumba) está relacionado ao engenheiro paraibano Francisco Retumba que preservou seu conteúdo para estudos posteriores, através de uma reprodução de suas inscrições de forma muito fiel. Atitudes como esta são raras e merecem grande louvor, pois esta atitude patriótica permitiu que pudéssemos ter conhecimento da complexidade de seus signos e estudá-los nos dias de hoje.
Inscrições rupestres gravadas na pedra de Picuí que se assemelham a constelações ou a um estilo sofisticado de escrita.
Analisando-os com cuidado temos a impressão de que seus criadores pretenderam representar o céu estrelado e suas constelações associados a uma escrita cosmogônica. Suas inscrições são constituídas de símbolos variados, alguns de difícil compreensão, como pode ser visto na ilustração acima. Em geral, apresentam uma variedade de cruzes, círculos, pontos capsulares e traços direcionados dentro de um princípio lógico, mostrando-se por inteiro como um perfeito esquema de ideias orientadas segundo uma condução inteligente.
LAJEDO SOLEDADE – RN
Os arqueólogos afirmam que o Lajedo Soledade situado na cidade de Apodi, na divisa do Rio Grande do Norte com o Ceará, é o sítio que possui um dos conjuntos rupestres mais bem conservados do Brasil. É constituído por vários painéis com gravuras e pinturas variadas e tem causado perplexidade até mesmo junto aos estudiosos já acostumados com a antiga ‘arte’ rupestre brasileira.
Alguns especialistas em estudos arqueológicos afirmam que há necessidade de não somente registrar os fatos pré-históricos encontrados em Apodi, mas buscar compreender o significado daqueles registros de caráter absolutamente enigmático.
Conjunto de figuras não muito comuns na chamada Ravina do Peninha.
Conforme ilustrações reproduzidas por este autor pode se notar que não se tratam de rabiscos aleatórios ou desenhos representativos da vida cotidiana, mas indicam uma simbologia própria, com uma certa lógica, que não pode ser ainda compreendida pelos pesquisadores. Em sua maioria as pinturas foram feitas com a aplicação do pigmento avermelhado forte, mas podem também ser encontradas algumas delas nas cores amarelo e preto.
Em um local que é chamado de Tanque das Mulheres existem inscrições com cortes profundos que se assemelham a uma escrita e despertam a atenção pelo fato de se mostrarem como uma página aberta de um livro em pedra. Trata-se de algo pouco comum, pois mostram riscos traçados com precisão e eficiência, assemelhando-se a letras (veja ilustração abaixo). Já encontramos algumas destas pedras riscadas em outros locais no Brasil.
Grafismos semelhantes a uma escrita no local chamado de Tanque das Mulheres.
Tem-se a impressão de que a ‘arte’ rupestre do Lajedo Soledade parece representar uma ideia mais ampla dos acontecimentos presenciados por seus autores e não simplesmente cenas e figuras esparsas do cotidiano. Pelo que as publicações especializadas nos mostram pode-se perceber caracteres variados que se assemelham a símbolos gráficos, estrelas, diagramas específicos, setas indicativas, figuras estilizadas, mãos carimbadas e uma forma de grafismo produzido através de incisões na rocha.
VALE DO CATIMBAU – PE
Um dos mais importantes parques arqueológicos do Brasil se localiza no Vale do Catimbau, município de Buíque, em Pernambuco. Afirmam os pesquisadores que este sítio arqueológico possui conjuntos de pinturas rupestres muito antigas que podem atingir até perto de 18000 anos.
O parque tem 90 mil hectares e possui também inúmeras formações rochosas de grande beleza. Muitos pesquisadores reclamam que tem ocorrido depredações nos painéis de inscrições, pois são encontrados nomes escritos sobre eles, além de furtos de objetos fósseis da região.
Sua importância é notória, pois afirmam que já foram encontrados no parque esqueletos humanos fossilizados que podem alcançar uma idade de mais de 6000 anos.
Inscrições com motivos variados, mostrando figuras semelhantes a signos alfabéticos.
O Vale do Catimbau possui cerca de 150 sítios arqueológicos e trata-se de uma região de grande interesse com variadas inscrições pré-históricas, cemitérios indígenas e fósseis a serem estudados, constituindo-se na segunda maior área de estudos desta natureza no Brasil. A primeira localiza-se em São Raimundo Nonato, no sul do estado do Piauí.
MISTÉRIO EM VARZELÂNDIA – MG Um caso que também causa estranheza em todos aqueles que o vêm é o painel lítico de Varzelândia. Trata-se de um conjunto de figuras pintadas com tinta vermelha e preta, sem maiores cuidados como são vistos muitos outros casos no Brasil, mas que, entretanto, carrega um conteúdo inexplicável para o observador e com difícil possibilidade de compreensão.
Pode-se imaginar talvez que os seus autores pretenderam representar algo que teriam presenciado ou o que se passava em suas mentes naquele momento, mas apenas isto. O caráter enigmático das figuras que compõem este conjunto pictórico primitivo não nos permite ir muito além e saber ao certo o que estas figuras poderiam significar para esses homens e que tipo de mistério elas representariam para eles.
É interessante observar que muitas destas representações de ‘arte’ antiga mostram figuras do cotidiano dessas pessoas, o que mostra um estado de normalidade quando isto ocorre. Porém, quando elas mostram elementos estranhos e de difícil compreensão para os estudiosos ou até mesmo sofisticações exageradas em suas manifestações causam incômodo e afastam-nas para o rejeitado grupo dos ‘sem explicação’.
Estranha mensagem de Varzelândia, mostrando figuras enigmáticas.
O pesquisador Hernani Ebecken fez uma visita ao local em 1963 e reproduziu o painel em sua integralidade (ver ilustração acima). Descreveu o conjunto como se ele representasse um ‘charuto voador’ de origem não terrestre, tendo ao lado uma espécie de o sol, no alto, constituído de círculos concêntricos, uma meia lua à esquerda e uma figura não conhecida bem próximo, representada por um aglomerado de traços, como se fosse uma serpente enrolada. Mais à direita havia uma espécie de “disco voador” como escreveu o pesquisador Hernani Ebecken.
CARMÓPOLIS DE MINAS
Em Carmópolis de Minas foram descobertas estranhas inscrições gravadas em uma pedra que se encontrava soterrada em um pasto, próximo a um barranco. Por volta de 1950/1960 um morador da região viu parte das inscrições que estava à mostra e foi então que ela passou a ser conhecida.
Depois de feitas escavações no local as demais inscrições apareceram e viu-se que elas se tratavam de um conjunto de símbolos que se assemelhavam a uma antiga escrita. O historiador e ufólogo André de Pierre publicou um vídeo no Youtube sobre este assunto e mostrou a pedra e as suas inscrições com detalhes, destacando a diversidade de seus símbolos gravados em baixo relevo.
É espantoso observar que um encontro casual como este venha desvelar mais um dos misteriosos segredos de nosso Brasil antigo e de sua ‘escrita’ primitiva que se torna, a cada descoberta, cada vez mais incontestável.
Caracteres enigmáticos na pedra de Carmópolis de Minas – MG.
VALE DO PERUAÇU – MG
Outro local que também chamou fortemente a nossa atenção é chamada Lapa dos Desenhos no Vale do Peruaçu. Ela é muito especial, porque tem grande destaque na quantidade e na qualidade dos registros rupestres que ela acumula, mostrando-os em agrupamentos belamente constituídos e a alturas consideráveis, revelando um elevado teor de dificuldade e sofisticação na sua execução.
Em toda a extensão deste conjunto rupestre ele exibe uma vasta simbologia em suas inscrições, destacando riqueza nos elementos gravados e cuidados na determinação dos componentes de cada agrupamento lítico, constituído de figuras variadas e desconhecidas, e de difícil identificação.
O painel que chamamos de principal, alcança cerca de dez metros de altura na sua parte mais alta e é exuberante, possuindo ainda elementos gráficos agrupados e harmoniosos, como se representando uma linguagem própria, construindo um conjunto de grande beleza e mistério. Seus registros exercem grande proeminência sobre os demais, como se pretendessem dar ênfase ao seu conteúdo desconhecido e enigmático.
É fato, que alguns de seus componentes teriam sido já destruídos pelo tempo e que alguns outros se acham atacados por desgastes naturais, pois se encontram expostos à luz, ao sol e à chuva, na laje verticalizada onde se acham gravados.
Mesmo assim continuam mostrando a sua grandiosidade, beleza e mistério. Este autor reproduziu as figuras da parte superior e inferior deste painel o mais fiel possível (ver ilustração) e percebeu que alguns elementos do mesmo já se achavam quase imperceptíveis, mas mesmo assim demonstrando elevado grau de sofisticação.
O conjunto rupestre mais importante no imenso paredão pétreo da Lapa dos Desenhos. Sua feitura é admirável e suas figuras são de difícil compreensão.
É preciso mencionar que não somente o conjunto lítico da Lapa dos Desenhos deve ser destacado como possuidor de uma simbologia sofisticada, mas que isto pode ser observado praticamente em todos os grandes painéis de inscrições dos sítios rupestres liberados para visitantes.
Estivemos presentes em todos eles e encontramos aí muitos elementos enigmáticos que revigoraram a ideia de que os moradores antigos destas terras não só se mostravam muito ligados à própria natureza, às plantas, às pessoas e aos animais, mas também a outros significados muito importantes para eles.
Estes últimos, acreditamos, acabaram sendo representados por meio de figuras estranhas e desconhecidas de nós e de muitos simbolismos que, ao final, criaram muitas dificuldades para compreender o que eles pretenderam verdadeiramente representar ou que tipo de realidade fazia parte de suas vidas naquele momento.
SÍMBOLOS XAVANTE – MT
Estes dois estranhos símbolos que destacamos neste artigo acham-se gravados no alto de uma montanha próximo a uma aldeia Xavante, em Matinha, no Mato Grosso. Eles foram mostrados num programa da Rede Globo de Televisão, em 2020, quando o cacique Suminé, levou o repórter até eles e os mostrou, alegando tratarem-se de símbolos sagrados para eles e que não sabiam quem os teriam feito.
No ano de 2009 estive nesta tribo com um amigo do cacique Suminé, com o qual tive uma longa conversa sobre diversos assuntos, inclusive os relacionados aos ‘letreiros’ das pedras. Ele me falou também desta antiga simbologia gravada em pedra no alto da montanha e convidou-me para ir até a aldeia e ficar lá uns dias para andarmos por alguns lugares.
Nesta reprodução que fizemos a partir das filmagens feitas pelo programa, podemos ver que não se tratam de imagens comuns da vida de uma pessoa, mas que, ao contrário, mostram figuras desconhecidas e difíceis de serem imediatamente compreendidas.
Figuras incomuns no alto de uma montanha na reserva Xavante (Xingu) – MT.
PAREDÃO – MT
As enigmáticas inscrições do Paredão, no estado de Mato Grosso, em baixo relevo, também muito nos impressionaram, pois carregam uma rica simbologia que teria sido gravada por mãos ágeis e precisas, dirigidas por ideias predeterminadas, no sentido de produzir e registrar os signos ali representados. Fomos até lá conduzidos por nossos amigos pesquisadores de Primavera do Leste, Givanildo Brunetta e Sávio Egger, que já teriam tomado conhecimento destas preciosidades.
Vemos que os traços de uma grande parte delas foram riscados de forma retilínea e precisa, como se a pedra sobre a qual estes foram impressos estivesse amolecida e o instrumento utilizado tivesse um formato cortante específico. Não se pode conceber que as figuras ali gravadas em profusão pudessem ter sido executadas por meio de instrumentos impróprios, como pedaços de pedra, por exemplo, ou galhos de árvores, devido à sua inexplicável exatidão nos traços, com traçados retilíneos e sem arestas (ver fotografias anexas).
Gravações retilíneas e de forma precisa em pedra no local chamado de Paredão.
Sob o enfoque a que nos propusemos observar as inscrições do Paredão diríamos que estes chamam a atenção por dois motivos sobrejacentes, uma vez que se colocam acima de uma análise puramente convencional no estudo da arqueologia:
1 - A complexa simbologia destas figuras gravadas na rocha em baixo relevo, em sulcos profundos e precisos, enfaticamente recheada de figuras desconhecidas que, como outros registros na região, não são familiares aos silvícolas que aqui viveram e ainda vivem, além de continuarem incompreensíveis em relação à sua mensagem e ao que provavelmente pretenderam dizer os seus autores.
2 - A metodologia utilizada na sua feitura, com traços profundos e traçados precisos, retilíneos e sem arestas, determinando a aceitação de uma hipótese arrojada de que seus executores teriam de ter-se utilizado de instrumentos eficazes que lhes permitiriam a sua elaboração da forma como se mostram ao observador e admitir que esses mesmos autores teriam de conhecê-los e ainda de saber manuseá-los adequadamente.
ITAPEVA – SP
Este rico acervo arqueológico no interior de São Paulo, em Itapeva, praticamente desapareceu, restando dele apenas uma pequena parte de seu vasto complexo de registros milenares. Trata-se de um abrigo encontrado na Fazenda Água Limpa, da família Fraccaroli, cujo conjunto era constituído de um painel de cerca de 20 m de largura e 3 m de altura, na base de um paredão de arenito.
Nele se podiam ver (vide ilustração de sua posição original) figuras gravadas em baixo relevo e pintadas nas cores vermelha e preta, destacando-se animais, signos estranhos, caracteres semelhantes a signos alfabéticos, círculos e símbolos desconhecidos.
Inscrições da pedra do Sol com seus caracteres estranhos antes de sua destruição.
O pesquisador Luiz Galdino disse que este conjunto rupestre chamado de pedra do Sol foi trabalhado por seus autores utilizando de uma técnica mista, ou seja, todos os seus signos foram primeiramente cortados na pedra e depois pintados nas cores vermelho, amarelo e preto.
A figura que mais se destacava do mesmo e da qual sobrou apenas uma parte, após sua mutilação, foi chamada de relógio do sol, uma gravação misteriosa constituída de dois círculos concêntricos e intercessões em toda a sua volta, como marcações de tempo.
URUBICI – SC
O sítio arqueológico mais importante de Urubici é o do morro do Avencal, constituído de painéis que foram vítimas tanto da ação natural do tempo quanto da inescrupulosidade de alguns visitantes. A rocha desta região é do tipo arenito e suas gravações foram feitas através de cortes profundos onde estão representadas figuras diversificadas, dentre as quais, quadrados, triângulos, figuras geométricas, pontos capsulares e formas pouco convencionais. Os contornos de suas insculturas são lineares, diferentemente das que foram encontradas no litoral catarinense, caracterizados por traços largos e polidos.
O padre Rohr que pesquisou a região em 1966 e publicou um livro sobre suas pesquisas (Os Sítios Arqueológicos do Planalto Catarinense) afirmou que encontrou resíduos de tinta preta nos sulcos destas inscrições, concluindo que estas foram assim preenchidas para lhes dar maior destaque à distância.
Também no morro do Avencal podem-se encontrar outros painéis com características semelhantes, mas acrescido de figuras representativas de máscaras humanas. A máscara superior foi chamada de “máscara do guardião” por se localizar numa posição mais elevada e de destaque. Muitas formas triangulares acham-se ali representadas e todas apresentam traçados diferenciados e complementares em seu interior, querendo dar-lhe significações distintas umas das outras.
Inscrições do morro do Avencal.
Inscrições com as “famosas máscaras” do morro do Avencal.
Muitas destas representações rupestres são caracterizadas pelo nome de Tradição Meridional por causa de sua temática geométrica que se constitui de formas espaciais planas como quadrados e retângulos e às vezes círculos, linhas e curvas.
Destas manifestações se destacam dois tipos, distintos entre si: um que se caracteriza pela incidência de círculos rodeados por círculos menores, imitando patas de animais, ou formas ovoides tracejadas ou não; uma outra que se mostra como uma tentativa de escrita, constituída de traços paralelos ou cruzados, havendo a presença também de traços curvos. Em geral, estas inscrições recebem o nome de tridáctilos, pois se tratam de grafismos que unem três traços a uma base.
SÍTIO D. JOSEFA – RS
O sítio arqueológico Dona Josefa está localizado no município de Vera Cruz e possui área já delimitada para estudos. O painel que mostramos abaixo é constituído de figuras geométricas em geral, mas também mostra diversos caracteres agrupados que não nos deixam de pensar poderem tratar-se de uma espécie de escrita.
Inscrições no Sítio D. Josefa – Tradição Meridional – RS.
Os arqueólogos atribuem estas inscrições rupestres e muitas outras encontradas nas paredes de abrigos ou em blocos de pedra isolados na região sul a grupos de homens primitivos que viveram na região por volta do ano 2000 a.C. Porém, à semelhança das demais outras que mostramos neste trabalho, elas apresentam sempre grafismos diferenciados e complexos e não apenas riscos comuns, que são naturais de quem não possui discernimento para produzir algo mais especializado.
Não se esgotam aqui as evidências que delineiam a existência de uma história desconhecida no Brasil e que se encontram expostas em toda a parte. As inúmeras manifestações de ‘arte’ em todo o território nacional demonstram que os tempos longínquos deixaram sinais incontestáveis de que uma cultura diferenciada teria habitado por estas bandas e percorrido todo o país com a sua linguagem secreta e seu simbolismo enigmático. Nestes exemplos que colocamos em destaque podemos ver que não será por meio de uma análise simples que iremos explicar este mistério que envolve as possibilidades de ter havido uma ‘escrita’ primitiva em terras brasileiras, assim como o destas múltiplas figuras não conhecidas que se acumulam em toda a parte e que somos desafiados a identificar.
Sentimo-nos de certa forma, frustrados, por não conseguir perceber o que esses tais ‘homens primitivos’ pretenderam demonstrar em sua chamada ‘arte’ rupestre no Brasil e em todo o planeta e o que eles teriam conseguido, de fato, ‘esconder’ em suas belas manifestações figurativas e ao mesmo tempo carregadas de mistério.
* J. A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail jafonseca1@hotmail.com.
- Fotografias: Gláucio Bustamante, Gustavo Viana e J. A. Fonseca.
- Ilustrações: J. A. Fonseca.
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Esta matéria foi composta com exclusividade para Via Fanzine©.
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