Brasil Antigo

 

Mistérios Arqueológicos:

Simbologia Mística no Brasil Antigo

Aflorou-se em muitas regiões das Américas a possibilidade de que raças mais primitivas, anteriores aos silvícolas, das quais esses poderiam ter-se originado, teriam vivido aqui e deixado estas relíquias arqueológicas de difícil compreensão.

 

Por J. A. FONSECA*

De Itaúna/MG

Janeiro - 2024

jafonseca1@hotmail.com

 

Símbolo teogônico em baixo relevo, Lajedo JK, Goiás.

 

Durante muitos anos tem sido o nosso objetivo registrar e fazer estudos sobre os diversos símbolos primitivos que podem ser encontrados com grande variedade em gravações rupestres em todo o território brasileiro, muitos dos quais tivemos a oportunidade de os ver in loco. Em nossa opinião estas manifestações se acham relacionadas a um enigmático e antigo povo que teria vivido nestas terras em um tempo longínquo, mesmo antes da chegada dos silvícolas que aqui foram encontrados em 1500 por Pedro Álvares Cabral. 

 

Assim, nos sentimos conduzidos a acreditar que algo de muito importante poderia ter acontecido em um passado remoto nestas terras do “novo mundo” e que deixaram como testemunho esses variados e especiais registros pré-históricos em pedra, como verdadeiras relíquias silenciosas de um tempo não conhecido. É importante dizer que muitos dos símbolos que foram registrados no Brasil não se tratam de uma exclusividade de nosso país, mas podem ser encontradas em muitas outras partes do mundo, não se tratando, portanto, de um fenômeno de caráter regional ou localizado, mas universal.

 

Com o decorrer do tempo e com as novas pesquisas dos arqueólogos e achados que foram feitos, aflorou-se em muitas regiões das Américas a possibilidade de que raças mais primitivas, anteriores aos silvícolas, das quais esses poderiam ter-se originado, teriam vivido aqui e deixado estas relíquias arqueológicas de difícil compreensão. Foram descobertas diversas itacoatiaras (pedras pintadas) que carregam em seu dorso um conteúdo complexo de figuras enigmáticas, muitas das quais produzidas com muita habilidade, e que em muitos casos assemelham-se até mesmo a uma escrita primitiva, tema já abordado por este autor em artigos no seu site.  

 

Muitas destas marcas secretas do tempo são encontradas em diversos lugares do Brasil, mas determinadas regiões mais ao norte do país as tem demonstrado com maior incidência. A nosso ver, tratam-se de produções deliberadas feitas por povos mais antigos em um passado desconhecido, que destacam uma simbologia complexa desse seu conhecimento e que se acham também relacionadas a antigas culturas do chamado ‘velho mundo’.

 

 

Este autor diante das figuras enigmáticas do livro de pedra do Lajedo JK, em Goiás.

 

Como já dissemos, esta estranha simbologia mística pode ser encontrada em diversas partes do Brasil como, por exemplo, na cerâmica Marajó e outras da Amazônia por meio de apliques e incisões na louça; inscrições na Pedra de Picuí, hoje desaparecida, assim como em muitas outras regiões da Paraíba; na Pedra Riscada em Tocantins; no livro de pedra do Lajedo JK no estado de Goiás; na fantástica Pedra do Araguaia em Mato Grosso; nas grutas misteriosas de Montalvânia em Minas Gerais; em muitas inscrições de Florianópolis em Santa Catarina, para citar apenas algumas delas, além de muitas outras localidade em terras brasileiras, conduzindo-nos a pensar que essas tão fortes incidências de registros não poderiam estar dissociadas umas das outras ou que venham tratar-se de uma simples coincidência.   

 

Poderia se dizer que há uma tendência universal em muitos dos símbolos que são encontrados no Brasil e que estes teriam até mesmo um caráter cosmogônico e teogônico, pois que sugerem representar a origem e a evolução do mundo e também o surgimento dos deuses. Por isto, poderíamos dizer que esta rica simbologia brasileira possui também este sentido mítico e religioso, uma vez que eles procuraram representar por meio de suas figuras a manifestação destas forças incompreensíveis que se manifestam no mundo material e que sustentam tudo o que existe, conforme os mitos de muitos povos antigos. 

 

 

Neste sentido e de acordo com alguns estudiosos do Brasil remoto, poderíamos afirmar que esta simbologia a que estamos nos referindo e que iremos demonstrar têm sua origem sustentada em valores mnemônicos (que ajudam na memorização), ideográficos (representando ideias), onomatopaicos (que imitam sons) e teogônicos (que se relacionam ao surgimento dos deuses que a tudo sustentam), essencialmente ligados a uma Divindade Suprema. Assim, diríamos que estas representações simbólicas faziam sua ligação transcendente por meio da percepção das formas geométricas do Universo manifestadas e perceptíveis pelo homem, associadas à sua própria percepção destas mesmas formas geométricas encontradas em seu próprio mundo, com suas múltiplas variações em todos os reinos da natureza.

 

Assim, por meio dos cinco corpos regulares (o ponto, a linha, o triângulo, o quadrado e o círculo) o homem constrói as formas geométricas essenciais para o seu desenvolvimento e compreensão do mundo em que vive e evolui. As figuras do triângulo, do quadrado e do círculo, que se tornaram sagradas e, portanto, teogônicas acabaram tendo sido também utilizadas para delinear sinais alfabéticos de vários povos e que viriam a constituir-se em signos representativos de sons em diversos idiomas da Terra. Até nos dias de hoje muitos destes símbolos ainda permanecem fazendo parte dos alfabetos de diversas nações.  

 

A linguagem sagrada dos antigos demonstrava que os números é que regiam as figuras geométricas. Desta maneira, a forma representativa do número 1 seria o ponto (.), do número 2 seria a linha ( ̶ ), do número 3 o triângulo (∆) e do número 4 o quadrado (□). O universo era representado pelo círculo (¡), uma vez que esta figura é constituída por uma linha ininterrupta que não tem começo e nem fim. Já o universo manifestado foi representado pelo número 10, o número perfeito, que corresponde à soma dos valores numéricos das demais figuras (1+2+3+4=10), símbolo do Espírito-Matéria. Estas figuras fazem parte do elenco de símbolos básicos que os indígenas brasileiros usam em sua arte tradicional e são representadas por desenhos feitos nas cerâmicas e no próprio corpo, em momentos de cerimônias específicas. 

 

 É importante observar que esta rica simbologia, especificamente a de forma circular e suas variações e significados, podem ser vistos junto de outras figuras e caracteres, alguns misteriosamente complexos e compondo conjuntos enigmáticos, quando não isolados ou ligados entre si.

 

Para os povos mais antigos do Brasil a figura do círculo e de suas variações diversificadas demonstravam estarem relacionadas a algo de sagrado. A sua presença na chamada ‘arte primitiva’ era sempre explícita e fortemente associada a uma simbologia sempre complexa. Assim, figuras como estas que estamos mostrando parecem estar especialmente sintonizadas com as antigas tradições dos povos indígenas do Brasil, não nos permitindo negar o seu caráter de universalidade e de coesão, pois que foram amplamente utilizadas por culturas diversas de norte a sul do país, além de se mostrarem presentes em muitas outras regiões de nosso planeta, mantendo o seu caráter cosmogônico e teogônico. 

 

Os símbolos que representam a cruz foram utilizados de forma variada pelos povos antigos, demonstrando estarem relacionados a um elevado grau de importância juntamente com o círculo, fazendo com ele, em alguns casos, associações importantes. Para os pesquisadores brasileiros Alfredo Brandão e Matta e Silva, o símbolo da cruz era um dos mais importantes sinais divinos desses povos, pois que representava a própria Divindade Suprema manifestada. Sua origem está ligada ao fenômeno da luz e ao seu caráter transcendente.  

 

Recorrendo ao seu valor onomatopaico, que imita o som do que quer significar, Alfredo Brandão atribuiu à cruz a expressão TISIL ou TZIL, concluindo que este vocábulo estaria a indicar o ruído provocado por uma estrela cadente. É o que se poderia chamar de som da luz ou a voz da divindade em seu estado de normalidade, enquanto que o trovão representaria a sua voz em estado de agitação e de fúria. Assim, o som TZIL passou a ser a representação de Tupã (a luz e seu ruído no espaço), o Deus Supremo dos silvícolas brasileiros, pois que este se trata do Senhor dos Céus, Aquele que produz o ruído do trovão. Este seu valor mnemônico que além de estar ligado à Cruz, estaria também relacionado ao Cruzeiro do Sul, à Criação e a Deus, atribuía a estes o princípio teogônico da crença e da manifestação da força divina em toda a parte. A cruz latina e a grega representam o tê (T) de Tupã, mas quando ela é mostrada como uma estrela (*) ou (*) quer indicar também a Constelação do Cruzeiro do Sul e à luz que ela emite sobre a Terra. Este símbolo pode ser explicado como sendo representativo da cruz e da luz em conjunto, o que nos remete à imagem de uma estrela, como acima referendado. Em seu apoio vêm também outros símbolos em forma de cruz estilizada como, por exemplo, o Tau assim representado (T), além dos sinais adiante. Diz-se, portanto, que esta é uma figura universalmente conhecida e registrada por todos os povos, além de vir a representar uma forma ideográfica simples de ser memorizada (seu valor mnemônico) que costuma exprimir o princípio do Sagrado e a presença do próprio Criador em todas as coisas. As figuras rupestres brasileiras que se acham relacionadas com o símbolo da cruz estão adiante representadas.

 

É importante relembrar também que os povos tupis e guaranis veneravam a CURUÇÁ, que em sentido místico representa a cruz sagrada. Em certos ritos cerimoniais desses povos o pajé produzia fogo através do atrito entre dois pedaços de madeira, cruzando-os, posteriormente, para simbolizar a cruz sagrada e com este gesto mostrar o poder criador ou fogo sagrado de Tupã, manifestado em toda a parte.

 

As formas triangulares são também muito importantes nas culturas brasílicas e são encontradas em gravações líticas por todo o território nacional. Este é um símbolo representativo do fogo e pode-se dizer que representa a própria pirâmide, uma vez que esta, em seu próprio nome, contém o princípio ígneo do fogo ou da luz. Quando dois triângulos (o de vértice para cima e o de vértice para baixo) se juntam isto quer dizer que as duas forças (do céu e da terra) estão em atividade, conduzindo-os à figura do hexágono, que mostra a sua condição de equilíbrio. Quando as figuras do triângulo se mostram com um ponto no centro ou um pequeno círculo, querem expressar uma espécie de olho divino que tudo vê e que, portanto, está ciente de todas as coisas, princípio semelhante ao dos antigos povos egípcios (o olho de Rá) ou ao triângulo maçônico. 

 

 

Os símbolos triangulares sempre estiveram relacionados às divindades e foram sempre respeitados. Depois, nas suas variadas representações vieram também constituir-se em caracteres gráficos de alfabetos de vários povos da Terra e que permanecem até os dias de hoje em muitos deles. No quadro acima mostramos algumas das manifestações triangulares encontradas nos lajedos do Brasil. 

 

É importante mencionar que uma simples imagem de uma cruz gravada num rochedo despertava na mente daqueles povos elementos importantes que se achavam ligados aos princípios divinizados que eles acreditavam e temiam. É muito provável que, por isto, sua forma acabou por dar origem às letras T e X que passaram a incorporar os alfabetos que foram surgindo há muitos milênios.

 

 

Signo da cruz mística em Chapada dos Guimarães (MT).

 

O pesquisador brasileiro Alfredo Brandão abordou o intrigante tema sobre a existência de uma provável escrita primitiva no Brasil. Em seu livro “A Escrita Pré-histórica do Brasil”, publicado em 1937, ele fez comparações de vários caracteres que foram aqui encontrados com os mais antigos alfabetos e levantou uma tese de que estes sinais rupestres brasileiros tratavam-se de “restos de uma escrita antiquíssima e universal, mãe de todos os sistemas atualmente existentes.” Disse também que por meio de suas lendas os indígenas desta terra conservaram resquícios de antigos termos cosmogônicos que seriam de uso geral em passado bem remoto, os quais achavam-se ligados aos elementos naturais observáveis que eles não podiam explicar, como a luz, o espaço, o trovão, o sol, a lua, o mar, a chuva, etc.

 

Para Alfredo Brandão os símbolos sagrados no Brasil teriam sido gravados com a utilização de um sistema mnemônico (que ajuda a memorizar) e de fácil assimilação ou até mesmo por meio de objetos, com o objetivo de avivar a memória das pessoas e não deixar esquecer o mistério das coisas importantes e desconhecidas que eles presenciavam. Neste contexto, afirma Brandão que a mnemônica não representaria propriamente uma escrita e também não relatava fato algum, mas que a sua função primordial seria a de despertar na memória desses povos detalhes importantes de coisas relevantes de sua vida e de sua tradição, que não podiam ser esquecidos. Afirma também que o homem pré-histórico representou a divindade por meio da cruz (È) e que este símbolo representava o fenômeno da natureza que eles chamavam de ‘ara’ (a luz). A figuração da Divindade Suprema, a luz, no símbolo da cruz, queria mostrar uma espécie de espírito da imagem transcendental que aqueles povos antigos tinham a respeito de Deus. Assim, a luz teria sido, provavelmente, a divindade primitiva mais relevante de todos os povos e a sua representação se tornou fortemente atuante em todos os lugares.

 

É muito provável que teria havido uma época em que a magia dominava completamente as sociedades dos homens, quando se davam grande importância ao transcendental e ao desconhecido como algo divino, ao contrário de hoje, em que o peso do conhecimento intelectual afastou as pessoas de seu lado mais interior, relegando-o a planos secundários. Algumas das lendas existentes em meio aos grupos indígenas do Brasil, e que tratam de temas sobre a criação, guardam ainda reminiscências misteriosas de acontecimentos transcendentais, que se assemelham em seus conteúdos aos ‘relatos’ de outras culturas da Terra, como se elas procedessem de uma mesma fonte de conhecimento, salvo algumas distorções não muito relevantes que são decorrentes do passar impiedoso do tempo e da emigração dos povos.

  

  

É importante mostrar que muitos destes símbolos que estamos tratando, mostram-se estranhamente coincidentes com muitos daqueles que representam os antigos conceitos esotéricos preservados por antigas civilizações e que passaram a ser conhecidos, mais especialmente, com pesquisas feitas por historiadores em muitos países e com a divulgação de documentos secretos de antigas religiões do oriente, como é o caso da grande obra da autora Helena P. Blavatsky, “A Doutrina Secreta”, publicada em 1891. É no mínimo curioso constatar que muitos dos símbolos que esta escritora descreve em seus livros acham-se também gravados em pedras, paredões, grutas e lajedos em diversas regiões do Brasil, dando indicações de que esta antiga simbologia, inclusive a cruz, eram perfeitamente conhecidas desses povos milenares que habitaram estas antigas terras sul-americanas. Mostramos acima algumas figuras que fazem parte desta simbologia abstrata divulgada por Helena Blavatsky, em relação aquelas que se acham gravadas em terras brasileiras.

 

Constatamos assim que não são raras as manifestações rupestres no Brasil que mostram elementos que sugerem estar ligados a uma antiga tradição. Esta simbologia constitui-se de algumas figuras isoladas em alguns casos, apesar de que, em sua maioria, se mostram agrupadas entre si, demonstrando elevado grau de estranheza. Nas ilustrações que mostramos neste artigo podemos ver a real e vasta incidência destes símbolos de forma que possamos desvestir a nossa mente da condição de que venham ser aleatórios, indicando que os povos que habitaram estas antigas terras brasileiras, de norte a sul, teriam de ter algum tipo de conhecimento definitivamente objetivo desta simbologia e de seu significado em suas vidas.

 

Estamos vendo, pois, que à maneira das antigas tradições da Índia e de algumas civilizações do mundo antigo, os silvícolas do Brasil também representavam suas divindades e os fenômenos cósmicos por meio de uma simbologia estranhamente semelhante, mostrando esta universalidade nas suas manifestações ideográficas. Apesar disto, é nosso pensamento que as figuras gravadas em pedra e que também representam esta simbologia mística em nosso país, não se tratam de obra desses povos indígenas mais recentes e que aqui estavam presentes quando da chegada dos europeus.

 

 

Simbologia mística em baixo relevo – livro de pedra do Lajedo JK, Goiás.

 

Por isto, queremos incluir neste trabalho as relevantes referências míticas dos povos tupis e guaranis e sua simbologia complexa, tendo como referência as figuras que estamos estudando. Isto não implica em dizer-se, repetimos, que teriam sido estes grupos os executores das figuras cosmogônicas e teogônicas que eles veneravam, mas que estas sejam, de fato, muito mais antigas do que eles e que estejam ligadas a uma gente bem mais remota, da qual estes últimos poderiam ter herdado suas crenças e o seu conhecimento.

 

É sabido que a vida cultural do nativo brasileiro sempre foi fortemente povoada por elementos sobrenaturais. Apesar disto, ele tinha uma noção clara de um Ser Supremo como Criador do céu e da terra e regente de todo o Universo e dos seres. Especialmente os grupos tupis e guaranis tinham consciência da existência de um outro Sol, além deste que é perceptível e que dá luz, vida e calor a tudo quanto existe. Sabiam também que esta Grande Luz tinha sua origem em uma Grande Consciência que, para eles, era invisível e inextinguível.

 

Os povos guaranis, por exemplo, tinham uma Teogonia muito complexa. Ela foi recentemente trazida ao conhecimento público por meio de uma pesquisa feita pelo paraguaio León Cadogan a partir de 1.924, quando as ficou conhecendo. Ao estudar as lendas e as tradições desses povos guaranis que viviam nas fronteiras do Brasil, Paraguai e Argentina, após muitos anos de contato e convivência com eles, acabou ganhando a confiança de seus líderes. Para a sua surpresa, um dia o cacique Pablo Werá perguntou-lhe se ele gostaria de conhecer as “ne’e porá tenondé”, ou seja, as “primeiras palavras formosas”, que estavam ligadas à tradição mais antiga de seu povo. Cadogan concordou imediatamente e foi então levado para participar do “nimogarai”, uma das mais importantes cerimônias da tribo Guarani, quando lhe foi assim revelada uma história secreta de elevado conteúdo esotérico que muito o impressionou.

 

Em 1948 Cadogan concluiu o seu trabalho sobre a fantástica mitologia guarani, o “Ayvú Raptá”, “Os Fundamentos do Ser”, mas somente conseguiu publicá-la em 1959 em um dos boletins editados pela Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, com a ajuda de Egon Schaden, catedrático de antropologia naquele Instituição.

 

No ano de 2001, um descendente da tribo guarani, Kaká Werá Jecupé, reportando ao excepcional trabalho de Cadogan, escreveu um livro intitulado “Tupã Tenondé”, que também procurou relatar a espantosa Teogonia dos povos Mbyá-Guarani. Neste trabalho ele faz referência aos símbolos milenares da antiga tradição destes povos, indicando o seu significado e o seu grande mistério, que foi preservado pelos anciães de sua tribo e somente passado oralmente aos que eles confiavam.

 

O autor Kaká Werá Jecupé fala sobre o princípio das coisas segundo o “Ayvú Raptá” e a tradição revelada a ele pelos antigos pajés guaranis. Segundo informa, Ñande Ru Tenondé é “Nosso Pai Primeiro” e é um dos nomes que é dado à Suprema Consciência ou Grande Som Primeiro, Tupã Tenondé, cuja essência é Namandu, o Imanifestado e o Grande Mistério. Eles atribuíam símbolos para estas manifestações divinas e tinham-nas como relíquias secretas e muito valiosas.

 

 

 

Curiosamente, eles representavam as suas divindades por meio de figuras circulares muito semelhantes a estas que estamos estudando. Vejamos:

 

 

A primeira figura, o círculo com um ponto no centro, representava Namandu, o Grande Mistério, o Imanifestado, o UM.

 

 

A segunda figura, o círculo com um outro menor em seu interior, representava a primeira manifestação do Imanifestado, chamado pelo nome de Kuaracy, o Fogo-Mãe, o DOIS.

 

A terceira figura, o círculo com um outro menor em seu interior e um ponto no centro, representava o desdobramento do Todo, com o nome de Tupã, o TRÊS.

 

A quarta figura, composta de três círculos concêntricos e um ponto no centro, representava o mundo material chamado de Nande Cy, a Terra, o QUATRO.

 

Vemos que estas figuras e suas representações não deixam de nos surpreender fortemente, em face de suas incontestáveis semelhanças com as demais outras que fazem parte deste trabalho e que podem ser encontradas, gravadas em pedra, em diversas regiões do Brasil.

 

Para esses povos tupis e guaranis todos estes símbolos circulares são considerados sagrados, além de remontarem a um tempo muito remoto que eles não sabem identificar. Assim, somos levados a concluir que toda esta simbologia de caráter cosmogônico e teogônico encontrada abundantemente no Brasil tenha também a sua origem em tempos muito mais longínquos e que estaria ligada a um povo desconhecido e de épocas antiquíssimas.

 

Ficou, portanto, demonstrado que estas gravuras líticas e místicas do Brasil não se tratam de algo aleatório, casual ou mesmo produto da ociosidade de seus autores, mas que carregam silenciosamente um elevado grau de significado ideológico, que passa a incluí-las num contexto que vai muito além de nossa percepção comum e de seu entendimento. Em verdade, estas sempre fizeram parte da vida desses povos, assim como as demais outras que foram aqui mencionadas e que se acham relacionadas com as mais antigas civilizações de nosso planeta.

 

* J. A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail jafonseca1@hotmail.com

  

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