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 Voos privados

 

 

Desmilitarização espacial:

Nasa autoriza voo privado à Estação Espacial

Missão pioneira será lançada no final de novembro e deverá demonstrar que ‘os sistemas de

transporte espacial da iniciativa privada podem levar e trazer cargas da estação espacial’.

 

Por Pepe Chaves*

De Belo Horizonte-MG

Para ASTROVIA

BH-17/08/2011

 

A espaçonave Dragon está sendo preparada para ir ao espaço até novembro.

 

Público & privado

 

Uma importante parceria público-privada está para ser efetivamente realizada bem acima de nossas cabeças. A empresa americana Space Exploration Technologies (SpaceX) anunciou nesta semana que, com o aval da Nasa, realizará o primeiro voo até a Estação Espacial Internacional (ISS) para teste de sua nave reutilizável Dragon (Dragão).

 

Entretanto, esta espaçonave não tripulada criada por uma empresa privada se restringirá somente ao lançamento de cargas (e não pessoas) ao espaço orbital. Porém, com o desenvolvimento do projeto, dentro de alguns anos, ela poderá se tornar uma nave adaptada para o transporte de astronautas.

 

O lançamento da nave por um foguete Falcon 9 será realizado em parceria com a Nasa, através do Commercial Orbital Transportation Services (COTS), o programa da agência espacial americana para a realização de voos comerciais privados.

 

Após a aposentadoria dos ônibus espaciais, os EUA buscam manter parcerias com a iniciativa privada para continuar executando seus projetos na estação espacial, entre outros. Mas, sobretudo, porque não desejam se tornar reféns dos russos, que detêm as cápsulas Soyuz, únicas naves espaciais aptas à execução de viagens tripuladas até a órbita terrestre na atualidade.

 

De acordo com um comunicado da SpaceX, a missão demonstrativa deverá ser realizada até o final de novembro de 2011. Ela terá por objetivo, demonstrar que “os sistemas de transporte espacial da iniciativa privada podem levar e trazer cargas da estação espacial”, afirma a SpaceX.

 

Esta será a segunda missão promovida pela SpaceX utilizando a cápsula Dragon como possível veículo de substituição aos ônibus espaciais da Nasa.

 

Demonstração de eficiência

 

Em nota publicada no seu portal, a empresa afirmou que, “Ao longo dos últimos meses, a SpaceX tem trabalhado arduamente para preparar o nosso próximo voo - uma missão para demonstrar que uma empresa privada desenvolveu um sistema de transporte espacial capaz de entregar cargas à Estação Espacial Internacional. A Nasa estabeleceu o prazo de até 30 de novembro de 2011 para executarmos o lançamento, que deverá ser concluído nove dias depois, quando a nave Dragon atracar à estação espacial”, informa.

 

Ainda de acordo com o informe da empresa espacial, “A Nasa concordou, a princípio, em permitir que a SpaceX combine todos os testes e demonstrações que originalmente somariam duas missões separadas (COTS Demo 2 /Demo 3) em uma única missão”, afirma.

 

A SpaceX também informou da realização de vários testes bem sucedidos no centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, na Flórida. Para a empresa, “Esta próxima missão representa um grande marco não só para a SpaceX, mas também para a Nasa e o programa espacial dos EUA. Quando a nave estacionar na estação e os astronautas abrirem a escotilha e entrarem na nave espacial Dragon pela primeira vez, será marcado o início de uma nova era nas viagens espaciais”, observa a SpaceX em seu comunicado.

 

Além disso, a SpaceX declara seus planos futuros para transportar cargas adicionais a bordo da segunda etapa de seu foguete, o Falcon 9. Este potente lançador será implementado logo após a Dragon e, segundo a empresa, em breve estará apto a lançar naves para a estação espacial.

 

Equipe coordenadora dos trabalhos da Dragon.

 

Serviços Comerciais de Transporte Orbital (COTS)

 

Tais empreendimentos somente serão possíveis porque a Nasa firmou com duas empresas privadas espaciais, a SpaceX e a Orbital, o programa Commercial Orbital Transportation Services (Serviços Comerciais de Transporte Orbital/COTS), voltado para o envio de tripulação e carga comercial ao espaço.

 

O objetivo do programa COTS, segundo informou a agência espacial americana, é investir recursos financeiros e técnicos para estimular os esforços dentro do setor privado no sentido de desenvolver e demonstrar as capacidades de transporte espacial seguro, confiável e rentável.

 

O COTS gerencia acordos em parceria com a indústria privada dos EUA, totalizando US$ 500 milhões para demonstrações do transporte comercial de cargas, além do investimento de outros US$ 50 milhões para iniciativas de desenvolvimento comercial para tripulação.

 

De acordo com informações da SpaceX, em abril de 2011, a Nasa repassou à empresa, a importância de US$ 75 milhões para desenvolvimento de uma revolucionária base de lançamento para a espaçonave Dragon.

 

Veículos cargueiros

 

Atualmente as naves cargueiras Dragon e Cygnus estão sendo desenvolvidas pelas empresas SpaceX e Orbital e visam, também, em médio prazo, lançar missões tripuladas, além dos seus atuais carregamentos cargueiros.

 

Somente a Nasa, a Roskosmos, além dos sócios do consórcio ISS, Japão e Europa, através de suas respectivas agências JAXA e ESA, lançaram nos últimos anos seus veículos cargueiros à estação espacial. Ainda em caráter experimental, os cargueiros não-reutilizáveis dessas agências foram lançados e acoplaram com sucesso total, fornecendo grande quantidade de materiais à estação espacial.

 

Ilustração mostra a espaçonave Dragon em órbita.

 

 

Negativa russa à iniciativa privada

 

O projeto da Estação Espacial Internacional, mantido por 15 países, salvo em raras exceções, manteve até o momento, relacionamentos somente com os setores militares de seus membros.

 

Anteriormente, os russos já haviam se manifestado contra a inserção da iniciativa privada nos desígnios da Estação Espacial Internacional. Um clima tenso foi criado, após as polêmicas declarações de Alexéi Krasnov, diretor da seção para voos espaciais tripulados da agência espacial russa Roskosmos, ao saber dos investimentos e pretensões da indústria espacial americana.

 

Faz alguns meses, Krasnov tornou público que as novas naves privadas norteamericanas Dragon e Cygnus não receberão a autorização por parte da Rússia para se acoplarem à Estação Espacial Internacional. Segundo ele, a Rússia se recusará a receber projetos privados na estação espacial, a menos que demonstrem se tratar de veículos seguros e confiáveis.

 

As declarações de Kranov foram prontamente rebatidas pela imprensa e por grande parte do meio científico dos EUA. As empresas privadas SpaceX e Orbital, que desenvolvem as naves Dragon e Cygnus, respectivamente, esperam estabelecer uma nova com os seus veículos e então romper com a frieza da militarização espacial.

 

Nicho bilionário

 

É bom lembrar que a Nasa paga atualmente à Roskosmos a quantia de US$ 62 milhões por cada vaga de astronauta a bordo da nave Soyuz. Portanto, seria razoável supor que a Rússia não deseje abrir precedentes que possa culminar na criação de naves espaciais tripuladas que um dia venha concorrer com a sua ímpar Soyuz.

 

No entanto, para os EUA, além do elevado valor pago por corpo em órbita, o maior vexame é se tornar agora “refém espacial” do seu ex-adversário da guerra fria. Nenhum americano que vibrou com a chegada à Lua ou com a vitória na guerra fria, jamais imaginou que, décadas depois, seu país iria permanecer por tanto tempo com os pés na Terra e nas mãos dos russos.

 

Dentro dessa atual configuração, o transporte de cargas e materiais para a estação espacial se tornou um grande filão, que deverá gerar significativos bilhões de dólares somente nos próximos cinco anos. Com a retirada dos ônibus espaciais desse mercado, foi aberta uma brecha para a iniciativa privada, decolar, literalmente, enquanto aqui na superfície, os EUA enfrentam uma crise econômica jamais sonhada pelas futuras gerações astronáuticas.

 

E, graças a tudo isso, empresas como a SpaceX e a Orbital, atentas à carência de determinados setores espaciais, podem se tornar históricas pioneiras de um milionário mercado cargueiro, ao qual estamos presenciando o seu nascimento e deverá, a longo prazo, abrir caminho para a indústria do turismo e do entretenimento espacial, além de outras atividades voltadas às populações acadêmicas e civis na órbita terrestre.

 

Por conta do corte de verbas do governo Obama para o setor espacial e o golpe de misericórdia com o encerramento do programa dos ônibus espaciais, espera-se que excelentes profissionais deixem a Nasa ou outros departamentos para ser absorvida pelas empresas privadas do mercado aeroespacial nos EUA e no exterior.

 

Imagens ilustrativas das espaçonaves Dragon (SpaceX) e Cygnus (Orbital).

 

Monopólio russo versus inovação americana

 

E, evidentemente, os russos devem lutar para defender esse rentável mercado do transporte de cargas e pessoas à órbita planetária que, hoje está inteiramente em suas mãos.

 

Atualmente e ainda por alguns bons anos pela frente, somente as naves da série Soyuz, de tecnologia antiga, mas eficaz ao que se propõe, são capazes de atender à demanda para o envio periódico de cargas e pessoal à órbita terrestre.

 

Certo é que, com a drástica redução de verbas governamentais para o setor espacial, salvo o recurso da parceria com empresas da iniciativa privada, os EUA, a depender unicamente da Nasa, não deverão colocar nenhuma nave espacial tripulada no espaço dentro de, no mínimo, uns 60 anos.

 

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine e Rede VF (Brasil).

- Com informações da Nasa e SpaceX, com tradução do autor.

 

- Imagem: NASA/JPL-Caltech e SpaceX.

 

- Colaboraram: Márcio R. Mendes e J. Ildefonso P. de Souza (SP).

 

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- Extras:

Vídeo demonstrativo Spacex Comercial Crew

Spacex - Updates

Informações para a imprensa – SpaceX (PDF)

Página do COTS no portal da Nasa

 

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