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Geoglifos
Itatiaiuçu: Descobertos geoglifos em Minas Gerais O conjunto contém 30 círculos regulares e interligados por corredores retos, dispostos de maneira ordenada numa área de quase meio quilômetro quadrado.
Por Pepe Chaves De Belo Horizonte-MG Para Via Fanzine 15/07/2012
Os geoglifos em círculos estão dispostos de maneira ordenada e têm diâmetro médio de 15 metros cada um. CLIQUE AQUI PARA VER MAIS IMAGENS AMPLIADAS Leia também: Nas supostas ruínas de Natividade da Serra - Por C. P. Gomar A antiguidade dos registros rupestres do Brasil - Por J.A. Fonseca Cueva de los Tayos: a verdadeira caverna do tesouro - Por Yuri Leveratto Você sabe o que é Arqueologia? - Por Paulo R. Santos
Um pouco além do muro
Estaremos mostrando na próxima edição do programa Matas de Minas, disponibilizado pela TV FANZINE, um antigo muro de pedras situado à beira de uma estrada rural medindo, em média, cerca de 350 metros de extensão com mais de um metro de altura por 60cm de largura.
Esse muro de pedras está erguido na região de Ponta da Serra, distrito de Itatiaiuçu-MG, próximo à divisa com Itaúna. Na ocasião dessa visita estive acompanhado pelos pesquisadores J.A. Fonseca e Alvimar Viana, ambos residentes em Itaúna.
Fotografamos e filmamos o muro que se encontra em bom estado de conservação e está situado muito próximo ao lugar onde a mineradora MMX (do grupo EBX, de Eike Batista) pretende construir uma barragem para rejeitos de minério de ferro, obra essa, bastante contestada pela população local.
Duas semanas após termos visitado e registrado esse muro tivemos outra agradável surpresa, vinda também daquela região.
Geoglifos são descobertos
Na manhã do sábado, 14/07, recebi uma mensagem de Alvimar Viana, afirmando que acabava de ligar para nosso amigo J.A. Fonseca comunicando a ele que descobriu através do aplicativo Google Earth, um curioso conjunto de círculos gravados no solo daquela região.
Ele me explicou que, pelas imagens do satélite aquilo se aparentava a geoglifos circulares. Os círculos se encontram situados a algumas centenas de metros adiante da estrada onde estivemos recentemente registrando o dito muro de pedras, na Ponta da Serra.
Geoglifos são valas cavadas no chão que podem atingir alguns metros de profundidade por outros de largura e extensão. Vistos por imagens aéreas, alguns desses sulcos formam curiosos desenhos. Embora distintas hipóteses sejam especuladas, sua utilidade no passado ainda é discutida.
Ao entrar no aplicativo, orientado quanto à localização, eu pouco demorei a encontrar o conjunto de geoglifos apontados por Viana e, confesso, me surpreendi com o que vi nas imagens. O conjunto com os círculos quase perfeitos cavados no chão e interligados por linhas retas ocupa uma grande superfície e está distribuído sobre várias partes da encosta de uma montanha. No alto dessa serra localizam-se vários aglomerados de rochas negras espalhados por uma extensão considerável.
De certa maneira, embora sejam menos elaborados, estes geoglifos encontrados em várias regiões do Brasil costumam ser associados às linhas de Nazca, no Peru, pelo fato de formarem desenhos gigantescos que podem ser observados a vários metros de altitude.
Ao observar as fotos que fizemos dos geoglifos pelo aplicativo, o pesquisador arqueológico J.A. Fonseca se declarou “encantado” com a descoberta e prometeu em breve comentar sobre o assunto, tão logo visitemos o conjunto.
Todo o conjunto de geoglifos visto a partir de um ângulo superior. CLIQUE AQUI PARA VER MAIS IMAGENS AMPLIADAS
Medições locais
Graças aos recursos do aplicativo, além de tomar fotos por diversos ângulos e altitude, pude também estimar algumas medidas quase precisas em torno desta enigmática construção que se estende por quase meio quilômetro quadrado em um terreno irregular.
Através das imagens de satélite, pude contar exatos 30 círculos, quase todos estão interligados por pelo menos uma linha reta, geralmente, unida até outro círculo. Alguns são de difícil localização pela imagem de satélite, já que parecem se encontrar semi assoreados ou tomados por matagais.
Todos estes círculos se encontram numa área de aproximadamente 450 metros quadrados e, certamente, esta ocupa mais de uma propriedade particular atualmente. Contudo, pode haver outros geoglifos desses nas imediações e que possam estar ocultados pela mata e outros fatores, inclusive, o assoreamento natural.
Segundo nossas medições eletrônicas, os tamanhos desses círculos variam de nove a 15 metros de diâmetro, sendo que os maiores se encontram na região mais central e os menores em locais mais distantes dessa, na baixada do outro lado da encosta.
Calculadamente, as linhas que unem estes círculos, bem como as linhas que perfazem suas circunferências, mantêm largura média de 2,5 a 3 metros.
Não pudemos estimar a profundidade dessas linhas, mas supomos que devam ter mais de um metro, para que sejam observadas pelo satélite.
É provável a utilização por parte de seus construtores de algum tipo de conceito matemático para dispor os círculos em posições mais ou menos simétricas, tal como se encontram.
Também arriscaria dizer, que se fossem feitos estudos e prospecções arqueológicas nessa região, outras evidências desses tempos antigos poderiam ser encontradas, como objetos de uso dessas tribos e até mesmo ossadas humanas. Ao longo dos tempos, a região de Ponta da Serra demonstra possuir indícios de que deveria ter populações muito ativas no passado, as quais poderiam ter deixado outros substanciosos vestígios de suas respectivas culturas.
Utilizando o aplicativo Google Earth, este local poderá ser acessado por qualquer pessoa, através das coordenadas: W44º28’40.8” e S20º12’24.48”.
Imagem mostra a disposição dos geoglifos na encosta da serra. CLIQUE AQUI PARA VER MAIS IMAGENS AMPLIADAS
Geoglifos brasileiros
Recentemente, cientistas brasileiros divulgaram a investigação de grandes geoglifos descobertos na região amazônica, após desmatamentos que os revelaram. Em verdade, ainda não se sabe ao certo a função dessas construções cavadas na terra, mas uma hipótese muito aceita é que possam se tratar de equivalentes a trincheiras ou fortificações para defesa de antigos povos.
No caso de ter sido usado como trincheira ou algum tipo de fortaleza, sua formação, dispondo corredores que interligam os círculos em torno da serra, sugere uma espécie de labirinto para comunicação entre os supostos entrincheirados.
Contudo, a extensa obra poderia ter outra finalidade ainda desconhecida, inclusive, se consideramos que toda aquela região deveria ser completamente diferente em tempos passados, ainda mais, se formos considerar outras eras. E tais alterações locais podem incluir, além da vegetação, a topografia e o relevo do solo.
Certo é que a construção dessas inúmeras valas interligadas deve ter gerado um imenso trabalho e mobilizado dezenas de pessoas. Decerto, em épocas de parcos recursos em material e ferramental para escavação mais profunda, além da elaboração dos cálculos arquitetônicos empregados na construção.
Ao observar a disposição do conjunto, nota-se que a sua construção deveria ter sido muito trabalhosa e, decerto, bem planejada. Podemos observar certo ordenamento na disposição dos círculos e linhas – ainda que seus construtores, talvez, não pudessem vislumbrar toda a obra do alto, como fazemos agora através das imagens de satélite.
Curioso é notar que não se trata de escavações recentes, pois, ainda que superficialmente em princípio, se observa em alguns pontos, marcas de assoreamentos muito antigos. E, definitivamente, estas não seriam obras da cultura indígena que ali sabidamente habitou em certa época da história. Bem como, dificilmente, seriam obras do Brasil colonial, sobretudo, considerando o seu extenso feitio e a escassa mão de obra durante aquele período. Além disso, caso se tratasse de escavações de épocas coloniais, decerto, saberíamos sobre a sua utilização ou finalidade.
É pitoresco refletir que, aquelas marcas devem estar por ali há tempos incontáveis e podem ser antigas conhecidas da população local, no entanto, ninguém havia as tornado públicas até esse momento.
Evidentemente, para o desdobramento dessa presente e ainda superficial abordagem, seria de suma importância uma visita no local, o que pretendemos fazer em breve, com registros em vídeo e foto, além de mais observações.
Seria imprescindível constatarmos a profundidade dessas valas que, possivelmente, poderia nos revelar a altura aproximada dos seus construtores.
Além da visita ao conjunto de círculos, seria igualmente necessário interpelar a população daquela localidade, sobretudo, os mais velhos, procurando saber o seu parecer sobre aquele complexo conjunto de sulcos naquele terreno.
Vista panorâmica da região do conjunto (amarelo) que tem quase meio quilômetro quadrado. CLIQUE AQUI PARA VER MAIS IMAGENS AMPLIADAS
Pré-história mineira
Estas profundas ranhuras cavadas em terras mineiras podem se tratar de obras muito mais antigas do que podemos supor em princípio. Há indícios de que possam ser obras de antiguíssimas tribos pré-indígenas, então formadas por hominídeos, cujos restos mortais ainda têm sido encontrados e que remontam à pré história em Minas Gerais, faz 12 mil anos.
Comprovados cientificamente, em épocas pré-históricas, estes pequenos homens habitavam determinadas regiões do interior de Minas Gerais, sabidamente, num raio de até 50 quilômetros do colar metropolitano de Belo Horizonte, abrangendo também essa região dos geoglifos.
Chamado pelos pesquisadores de “Homem de Lagoa Santa”, este aborígene de pequeno porte encontrado no município que o nomeia, teria vivido durante a nossa pré-história e media pouco mais de um metro de altura. Este indivíduo foi descoberto e difundido aos meios científicos pelo arqueólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund, que esteve em Minas Gerais realizando suas pesquisas ainda no século 19.
Ao descobrir fósseis humanos em 1842, Lund escreveu uma carta ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, publicada naquele mesmo ano e intitulada “Sobre a antiguidade do homem de Lagoa Santa”.
Apesar de antiga, só recentemente a importante descoberta desse hominídeo mineiro vem ganhando força e chamando a atenção de instituições, alguns pesquisadores do meio acadêmico, como também dos autônomos.
Possivelmente, estas tribos de “pigmeus brasileiros” teriam sido extintas em algum período da história, possivelmente, quando os mais robustos fisicamente - povos indígenas - vindos de outras latitudes americanas aportam e tomaram àquelas regiões mineiras, faz alguns milênios.
Alguns pesquisadores sugerem que o Homem de Lagoa Santa poderia também ser o autor de alguns dos vários muros de pedras que temos registrado pelas matas de nossa região, além de outros monumentos líticos, pinturas e inscrições rupestres. Muitos desses elementos não condizem com as culturas indígena, colonial ou escravagista.
Com altura média fixada em pouco mais de um metro, a maioria dos antigos muros de pedras que temos registrado deveria ser equivalente à estatura do Homem de Lagoa Santa.
Sabidamente, os muros compostos de pedras quebradas e ajustadas sem argamassa também não integram à cultura indígena brasileira e, apesar da alegação simplista de nossa história, dando conta de que teriam sido edificados por escravos, alguns desses demonstram indícios (como erosões) de que seriam de épocas muitíssimo mais antigas.
Portanto, a descoberta destas linhas chamadas pelo seu descobridor, Alvimar Viana, de “La Neva Nazca”, vem engrossar o caldo da nossa pesquisa e corroborar nossa teoria que está sendo composta aos poucos. Oportunamente, esta será publicada e enfocará a possibilidade de que a maior parte do que ainda resta desses muros (geralmente, no alto de algumas serras pouco acessíveis) possa ter sido construída por estes hominídeos da pré-história mineira.
É importante destacar que este breve artigo pode ainda ser revisto ou atualizado, após a nossa visitação ao local. Não temos mais pretensões, senão tecer apenas um comentário bastante superficial sobre esta importante descoberta, pois sequer estivemos no local até o presente momento. Desta maneira, os comentários emitidos aqui com relação a estes geoglifos podem não ser precisos, pois então se limitam somente às informações que pudemos levantar através de observações pelas imagens.
Restos do Homem de Lagoa Santa, pigmeu que habitou a região em passado remoto. CLIQUE AQUI PARA VER MAIS IMAGENS AMPLIADAS
Potencial turístico é ignorado
A descoberta desses geoglifos mostra que, apesar de Itatiaiuçu receber milhões de reais gerados por impostos pagos pelas mineradoras que destroem seus patrimônios naturais e ainda geram acúmulo de poluição (detritos) em seu território, o município pode lucrar, talvez, muito mais ainda, explorando o turismo ao preservar e promover tais locais de riquezas ímpares por conta de sua natureza diferenciada.
No entanto, as autoridades de Itatiaiuçu - com raras exceções – parecem fazer vistas grossas ao forte potencial turístico daquela região. Este município detém, em poucos quilômetros quadrados, peculiares paisagens, imensas rochas diferenciadas, muros de pedras, distintos cursos d’água, cachoeiras e agora, até geoglifos. Portanto, o município detém um potencial turístico riquíssimo que, sequer foi cogitada a sua exploração.
Além disso, basta ver que a rodovia Fernão Dias (BR-381), que corta aquele município, foi a primeira “picada” dos bandeirantes paulistas rumo ao interior de Minas Gerais. Com o passar dos séculos, a trilha para as minas virou uma rodovia vital ao país e ganhou o nome do “bravo” bandeirante.
Portanto, é de se esperar que, antigos sinais do passado, quiçá, de outras eras, ainda estejam escondidos em alguns pontos daquela zona de grande valor histórico que se fez em Itatiaiuçu, que até meados do século passado era um distrito de Itaúna.
Lamentável é testemunhar a reação apática de determinados homens públicos de nosso Estado que, não demonstram boa vontade para administrar ou até mesmo, considerar tais valores.
Se estes não souberem administrar tais riquezas “incalculáveis” e pertencentes ao povo brasileiro, verão suas rochas, águas, muros e paisagens se misturarem cada vez mais às muitas toneladas vermelhas dos rejeitos de minério – única herança deixada pela riqueza mineral dali extraída.
* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine e da Rede VF. Desenvolve pesquisas e registros sobre a antiguidade em Minas Gerais.
- Imagens: Google Earth, com Editoria VF.
- Veja também as imagens dos geoglifos de Itatiaiuçu:
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