Malaysia Airlines:
O mistério embarcou no voo MH370
Enquanto as evidências não aparecem, quaisquer teorias
levantadas não passarão de especulação e só
servirão para aumentar ainda mais o cenário da
desinformação e o sofrimento dos parentes das vítimas.
Por
Fábio Bettinassi*
De
Araxá-MG
Para
Via
Fanzine
12/03/2014
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Um Boeing com 11 anos de uso é considerado novo para os
padrões aeronáuticos e o desaparecido
estava em dia com seus documentos e manutenção. Foto:
Freemalaysiatoday.
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Desde que o avião foi inventado, nasceu o acidente aéreo, que mesmo
sendo raro, choca o mundo e causa marcas profundas de longo prazo. A
perda humana gera tristeza e a sensação de vácuo social, contrariando o
ditado popular ‘que as pessoas são insubstituíveis’.
Em todo acidente aeronáutico, o sofrimento dos familiares se agrava
quando a incerteza e a omissão dos fatos tomam conta do cenário. No
episódio do desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines, os
familiares dos passageiros e da tripulação aguardam impacientes qualquer
notícia esclarecedora.
Até então, fatos sugerem a possibilidade de a aeronave Boeing 777
ter caído no mar, teoria que começa a desmoronar diante à estranheza da
situação que deixa perplexos os maiores especialistas no assunto.
Análises dos dados de voo obtidas pelo FligtRadar24.com, que
monitora todos os voos mundiais, revelam que o avião atingiu 35 mil pés
de altitude e mantinha velocidade fixa de 471KTS, vinte minutos antes de
sumir repentinamente do controle aéreo. Não demonstrou nenhuma alteração
brusca de velocidade ou altitude, apenas uma mudança de direção de 25
graus para 40 graus à direita, que não estava prevista em seu plano de
voo. Em poucas palavras, o avião não apresentou nenhum sinal de
comportamento tecnicamente anormal ou fora do padrão de naturalidade,
exceto pela curva a direita.
Esta mudança anormal indica que o avião poderia estar tentando
retornar para o aeroporto de origem, possivelmente, devido a problemas
mecânicos ou humanos no interior da aeronave, mas nenhum dado técnico
enviado pelos computadores da aeronave demonstra qualquer falha.
Diante disso, começa a surgir a suspeita que a curva à direita pode
indicar que o avião foi tomado por forças hostis que alteraram a sua
rota, de maneira a sequestrar a aeronave, conduzindo-a para algum país
ou ilha dos arredores. Tal situação que já ocorreu diversas vezes no
passado e foi considerada nos anos 70 como a principal tática de
projeção do medo usada por facções terroristas da época. Fizemos uma
entrevista com a aeronauta aposentada Anna
Baraldi Holst, que teve seu avião
sequestrado em Montevidéu e levado para Cuba.
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Tela do Flight Radar no momento exato em que o voo MH370 deixou de
enviar dados. Registra o avião amarelo
fazendo a curva não prevista no plano de voo, que deveria continuar em
linha reta. Na lista abaixo,
observa-se o voo MH370 com o Status de “Cancelado”. Imagem:
Reprodução/Fábio Bettinassi.
Sensores para monitoramento de falhas
Grandes aeronaves comerciais como este Boeing 777-200, de prefixo
9M-MRO, possuem inúmeros sensores que monitoram diversas variáveis
ambientais da aeronave. São dados que envolvem desempenho, temperatura e
pressão dos motores, além de dados internos de pressurização da cabine,
sistemas hidráulicos de movimentação da aeronave e até fumaça nos
banheiros. Todos estes sensores registram informações no gravador
interno de dados da aeronave e são praticamente indestrutíveis. Alguns
transmitem o sinal em tempo real para controladores de solo e agências
aéreas de segurança.
A maioria destes dados ficam gravados nas famosas ‘caixas pretas,’
que na verdade são laranjas e são construídas usando a mesma tecnologia
e materiais empregados no ramo de reatores nucleares, visando a
resistência e a durabilidade da peça. E, caso tais caixas caiam no
oceano profundo, elas emitem sinais audíveis que são captados por
sonares de navios militares e também enviam sinais de rádio capazes de
revelar sua localização, mesmo 30 dias após o acidente.
Em caso de ocorrer uma despressurizarão repentina da cabine,
causada por explosão ou rompimento da estrutura, sensores enviam alertas
para satélites militares que imediatamente entram em prontidão,
informando aos governos, centrais de segurança aérea e o próprio
fabricante da aeronave.
Estes sensores são impossíveis de serem desligados de dentro da
cabine e mesmo que sejam parcialmente destruídos, continuam operando em
modo de emergência, pois são redundantes. Nem mesmo em caso de queda do
avião, incêndio, falta de energia, sequestro ou explosão provocada por
artefato explosivo de alta velocidade seria capaz de torná-los
inoperantes.
Se uma queda no mar tivesse ocorrido, teríamos avistado o querosene
de aviação, que produz manchas coloridas quando em contato com a água.
Além disso, satélites militares de espionagem são programados para
reconhecer a assinatura química do querosene JET-A, quando em uma mancha
flutuante de apenas um metro quadrado que porventura estivesse perdida
no mar. No caso do Boeing 777-200, seus tanques de combustíveis suportam
45.220 galões americanos ou 172.000 litros do combustível JET-A, o que
produziria uma imensa mancha vista com facilidade, espalhada por
centenas de quilômetros quadrados na superfície marinha.
Existe também o fato que a maior parte dos componentes usados na
construção de aviões é flutuante e possuem cores vivas, o que
facilitaria a busca sem falar nas muitas toneladas de bagagem composta
por roupas e objetos flutuantes de fácil avistamento por equipes aéreas
de resgate. Com tantas evidências capazes de alertar para uma queda no
mar, até agora nenhum fragmento da aeronave foi observado.
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Destroços do Air Bus da Air France que caiu no mar em 2009
foram encontrados flutuando no mar. Foto: Associated Press.
Controladores de voo regionais disseram que após o avião ter sumido
dos radares, nenhuma outra informação pode ser obtida e que o
transponder (transmissor de dados da aeronave) pode ter sido desligado
ou destruído.
Essa informação não procede, porque especialistas em aviação sabem
que somente desligar o transponder não impede que o avião saia das telas
dos radares, pois a função dele é enviar dados de identificação da
aeronave para os controles de terra. Mesmo desligado, o transponder não
consegue enganar os radares, que operam através do princípio do bate e
volta de ondas magnéticas e assim, continuam captando a presença da
aeronave no espaço aéreo.
Celulares continuam funcionando
Logo após o desaparecimento do avião e nos dias seguintes,
familiares relataram que os aparelhos de telefone celular de passageiros
do voo perdido estavam ainda ligados e recebiam chamadas, porém ninguém
atendia. Esta situação criou uma aura de mistério, reforçando a suspeita
de que o avião poderia ter sido sequestrado por terroristas que o teriam
conduzido para alguma ilha da região, mantendo a todos como reféns.
Essa possibilidade que está sendo fortemente ventilada no meio da
comunidade de inteligência mundial, ganha força a cada hora, visto que
nove países enviaram equipes militares e científicas para rastreamento
na região em que o avião foi visto pela última vez.
Controladores de voo afirmam que o avião ainda voou por pelo menos
mais uma hora depois de ter desaparecido eletronicamente dos radares.
Mas a pergunta que fica no ar é: em caso de sequestro, como os sistemas
de rastreamento e sinalização eletrônica da aeronave foram desligados?
Uma resposta plausível seria que entre os sequestradores, podia
haver um especialista em aviônica (eletrônica avançada dos aviões), com
total conhecimento do intrincado sistema computacional que opera a
aeronave, até porque, muitos destes componentes são fabricados na
Malásia.
Até o momento, familiares esperam que os sinal dos celulares dos
passageiros possam ser rastreados e, quem sabe assim, poder detectar a
localização geográfica em que se encontram. Mas até agora nenhuma
informação foi divulgada a respeito.
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Iraniano de 19 anos é identificado em imagem.
Foto: Manan Vatsyayana/Agence France-Presse — Getty
Images
Pessoas estranhas
Entre os passageiros do voo, de maioria chinesa, alguns fatos nos
chamam a atenção: um homem iraniano de 19 anos que usava um passaporte
falso, que supostamente tentava imigrar para Alemanha.
A polícia da Malasya também falou sobre a presença de dois outros
homens usando passaportes falsos que vinham da Itália e da Áustria, mas
não se sabe se tais homens, descritos como ‘não asiáticos’ tem algo
haver com o sumiço do avião.
Não é a primeira vez que um grande jato comercial desaparece, mas o
que chama a atenção é que o Golfo da Tailândia, precisamente no local em
que o voo MH370 sumiu, é uma das áreas mais movimentadas do mundo em
termos de navegação marítima.
Com o tráfego incessante de grandes barcos pesqueiros e navios
militares, ambos equipados com radares e muita tecnologia de observação,
qualquer bola de fogo no ar, seria avistada por tripulações de barcos
regionais, ao contrário do voo da Air France que desapareceu em 2009, em
uma região desolada do Atlântico com praticamente nenhum tráfego
marítimo ou aéreo.
Mistério crescente
Para aumentar o clima de mistério, em 10/03 foi divulgado que uma
agência secreta dos Estados Unidos, cuja função é rastrear explosões
nucleares, entrou na investigação do sumiço do voo MH370.
Segundo militares da agência, serão analisados os dados de inúmeros
sensores de explosões que ficam no meio do oceano, para ver se foi
captado algum tipo de explosão capaz de desintegrar o avião em pleno
voo. É a primeira que um órgão assim se envolve neste tipo de problema.
Aviões P-3C Orion, começaram a escanear a área em busca de
vestígios no fundo do mar. Esta tecnologia usada para espionar
submarinos nucleares, é capaz de encontrar uma bola de basquete na
profundidade de até 10mil metros abaixo do nível do mar, porém, até
agora nada foi encontrado.
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Exemplo da assinatura de ultrassom de um destroço do voo AF-447 da Air
France encontrado
3
mil metros no fundo do mar realizada por um sistema militar avançado de
reconhecimento. Foto: EPA
Fatos
importantes que não estão sendo falados
1 - Todos os Boeing 777 são equipados com caixas pretas que
resistem as mais fortes explosões.
2 - Todos os gravadores de dados registram e transmitem sinais até
30 dias após a queda de um avião no oceano.
3 - A maior parte de um avião é composta por materiais flutuantes e
estariam boiando na água caso o avião tivesse explodido ou caído no mar.
4 - Se um míssil tivesse atingido o avião, o míssil teria deixado
registrada sua assinatura de voo em diversos radares da região.
5 - A localização real de uma aeronave que desaparece não é um
mistério para as autoridades.
6 - Se o avião tivesse sido sequestrado por terroristas, ele não
iria desaparecer dos radares, mesmo com o transponder desligado.
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Última foto do Boeing 777 de prefixo 9M-MRO da Malaysia Airlines em voo
tirada em
15
de Novembro de 2013, no Aeroporto Internacional da Califórnia- KLAX.
Foto: Divulgação.
Teorias exóticas
Com tanta estranheza da situação, não vai demorar muito para os
fanáticos da ufologia começarem a disparar mirabolantes teorias.
Inclusive, em algumas redes sociais já está se falando na possibilidade
de o voo MH370 ter sido abduzido por espaçonaves alienígenas ou ter
passado por uma distorção no espaço-tempo do tipo Triângulo das Bermudas
ou até ter sido atingido por alguma arma avançada de antimatéria capaz
de desintegrar qualquer material.
Enquanto as evidências não aparecem, quaisquer teorias levantadas
não passarão de especulação e só servirão para aumentar ainda mais o
cenário da desinformação e o sofrimento dos parentes das vítimas.
Por isso, cabe ao pesquisador sério, acompanhar e aguardar o
desenrolar dos fatos até que indícios reveladores comecem a surgir. Até
o momento, tudo o que foi proposto para desvelar este mistério não passa
de “incursões pessoais ao país das maravilhas”, movidas pelo
sensacionalismo midiático dos conspiracionistas de plantão.
Portanto, que prevaleça o bom senso e a paciência, pois só o tempo
irá nos dizer o que realmente aconteceu - se é que um dia teremos alguma
resposta.
*
Fábio
Bettinassi é publicitária e consultor em assuntos aeroespaciais para
AEROvia e
Via
Fanzine
-
Foto: Divulgação.
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