UFOVIA - ANO 5 

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 Tevê

 

 

ET NO SBT:

‘Conexão Repórter’ apresentou o ET falante

Programa comandado por Roberto Cabrini abordou dois nichos da

ufologia brasileira e mostrou até entrevista com ET sulmatogrossense.

 

Por Pepe Chaves *

Para UFOVIA

Ex-brigadeiro José Carlos Pereira e Roberto Cabrini,

que abordou ufologia em seu programa no SBT.

 

Documentos liberados

 

O programa ‘Conexão Repórter’ exibido pela tevê aberta brasileira, em sua edição de 07/10, apresentou a temática ufológica. O programa do SBT, conduzido pelo jornalista Roberto Cabrini, focou duas facções da ufologia brasileira: a dos conceitos esotéricos e a dos que acham que tudo é coisa de ET. Dividindo os blocos do programa, ambas as partes expuseram suas causas, anseios, crenças, planos e finalidades.

 

De acordo com o anunciado pela produção do programa em sua divulgação, “Documentos mantidos em sigilo durante décadas pela Aeronáutica finalmente são revelados. Eles contêm informações preciosas sobre o monitoramento do espaço aéreo brasileiro. E reacendem a questão: o que as autoridades sabem sobre vida além da Terra? Por que durante tanto tempo o conteúdo dos documentos foi omitido?”.

 

A produção se refere aos documentos liberados ao público depois de 40 anos (conforme determinada a lei brasileira) envolvendo relatos de aparições de objetos voadores não identificados (OVNIs) e que se encontravam nos arquivos de setores militares do país. Aproveitando a onda, o programa de Cabrini também seguiu no vácuo da recente publicação de uma Portaria pela FAB no Diário Oficial da União, que dispõe sobre novos procedimentos para o tratamento com OVNIs que trafeguem em espaço aéreo nacional.

 

Nos dois primeiros blocos o programa apresentou temas ligados à CBU (Comissão Brasileira de Ufólogos), ligada à revista UFO e que segue a "política ufológica" adotada pela MUFON - entidade sediada nos EUA e acusada por alguns de manter estreitos laços com setores da Defesa norte-americana, como a CIA e SNI.

 

Ainda dentro da praia da CBU, foram citados casos ufológicos clássicos sem apresentar mais acréscimos ou novidades. Entre eles, o que teria ocorrido em Varginha, onde, alegam alguns, em 1996 teria sido capturada uma criatura extraterrestre e ocorrido vários outros desfechos na cidade; a Operação Prato, que teria sido uma junta militar do COMAR/PA encabeçada pelo militar já falecido Uyrangê Hollanda com a finalidade de investigar OVNIs no Pará em 1977, entre outros.

 

Não necessariamente extraterrestre

 

Ainda nos dois primeiros blocos, o programa também contou com a participação de um ex-comandante do COMDABRA, o brigadeiro José Carlos Pereira, que respondeu a perguntas de ufólogos da CBU. Dentre as perguntas ao ex-militar, um dos ufólogos quis saber por que o governo não divulga "as visitas recebidas por extraterrestres no Brasil", já que documentos oficiais apontam que aeronaves no país já foram seguidas por objetos descritos como tendo movimentos inteligentes.

 

Muito lúcido, o militar da reserva José Carlos Pereira respondeu que o fato de os documentos liberados pela FAB apontar que foram detectados objetos voadores com movimentos inteligentes, não significa  que as autoridades aéreas reconheçam a inteligência que está por trás de tais objetos como sendo necessariamente de origem “extraterrestre”. Ele frisou que, pelo fato de um objeto voador promover movimentos inteligentes, não quer dizer necessariamente que o mesmo esteja sendo conduzido por uma inteligência extraterreste.

 

Os ufólogos da CBU, que se auto-dominam “representantes de toda a classe ufológica brasileira”, receberam com reservas as respostas do militar às suas perguntas, sempre voltadas à possibilidade de que o meio militar brasileiro esteja ocultando alguma questão de interesse público relativa à vida extraterrestre. Ainda dentro do debate com o militar da reserva, o editor da revista UFO, A.J. Gevaerd, chegou a insistir que as autoridades brasileiras estejam omitindo alguma informação sobre a comprovação de visitas extraterrestres no Brasil, o que foi prontamente negado por José Carlos Pereira.

 

Em verdade, e qualquer pessoa com o mínimo esclarecimento sabe disso, os documentos liberados pela FAB - e recebidos com grande rebuliço por alguns ufólogos "eteístas" - que pensam que a liberação documental se deu por conta de seus anseios e campanhas – revelam, de fato, relatos sobre o surgimento de OVNIs nos céus brasileiros, de maneiras, formatos, comportamentos e épocas distintas. No entanto, em momento algum as autoridades brasileiras que tiveram acesso a tais informações, afirmaram que tais objetos sejam emanados por algum tipo de fonte extraterrestre. Até porque, não há, definitivamente, nenhuma comprovação científica acerca da presença extraterrestre em nosso meio.

 

O fato de a Aeronáutica brasileira determinar novas normas comportamentais para lidar com OVNIs em espaço aéreo nacional, não quer dizer que estes OVNIs sejam considerados como de origem extraterrestre. Muitos insistem em não ver as possibilidades mais óbvias que as extraterrestres e assim, buscam os fins dessas questões impondo suas idéias pré-concebidas, para depois, tentar justificar os meios - e diga-se, ninguém jamais obteve sucesso dessa maneira, pois que a presença ET na Terra continua improvável do ponto de vista ciente.

 

Vale lembrar que o 'Conexão Repórter' usou de uma forte dose de sensacionalismo em suas chamadas, inclusive, no site da emissora. Durante o programa, foram exibidas aleatoriamente, imagens de OVNIs que são comprovadas e conhecidas fraudes ou montagens, sem que fosse fornecida qualquer explicação sobre as mesmas. Inclusive, foi mostrado até o chamado “UFO do Haiti”, famigerada imagem criada digitalmente em 2007 e que correu a internet, assegurando o que seria um UFO sobrevoando o litoral caribenho. Na época, tal imagem empolgou muitos "pesquisadores" brasileiros, para depois derrubá-los do cavalo, quando souberam se tratar de uma produção 100% digital.

  

O Projeto Portal

 

Os dois últimos blocos foram dedicados ao Projeto Portal, movimento ufo-crente, coordenado pelo conhecido ufólogo e paranormal sulmatogrossense Urandir Fernandes de Oliveira. O Projeto Portal, sediado em Corguinho, no interior do Estado do Mato Grosso do Sul propõe a construção de uma nova cidade, adaptada para resistir aos cataclismos que, acreditam, vão ocorrer no planeta, sobretudo, a partir de 2012.

 

No local, diversas pessoas vivem em uma espécie de comunidade rural, cultuando ideias e crenças do idealizador do projeto, Urandir de Oliveira. Ao local, são atribuídos o surgimento de OVNIs e até mesmo supostos contatos com entidades alienígenas, como mostrou uma filmagem exibida pelo 'Conexão Repórter', que tratamos adiante.

 

A reportagem exibiu falas de Urandir acerca de seus projetos e convicções em torno não somente da presença ET na Terra, mas de seus alegados contatos com seres extraterrestres. Mostrou imagens do local e uma espécie de túnel em construção que deverá interligar subterraneamente a tal cidade que deverá ser erguida na superfície. De acordo com o programa, o projeto envolve milhões de reais e pretende montar uma sofisticada cidade no local com recursos financeiros de sócios do projeto.

 

À parte com a ufologia, foi exibida também pela reportagem do SBT, uma grande e recente queimada causada nas matas do local, destruindo grande parte da fauna e flora nativas.

 

Sensacionalismo e a voz de um ET

  

Mas, o programa ganhou ares de pastelão ou trash assumido, quando apresentou em sua parte final aquilo que seria “a cereja do bolo da reportagem”: a filmagem da conversa, em português claro, do que seria um ET. O filme mostrou a "entidade" semi-escondida num local escuro, dialogando com pessoas do Projeto Portal. Lembrando que, nas chamadas do programa, a voz enigmática de Cabrini se referia à aparição do suposto “ET”, como uma “imagem intrigante, inédita na televisão brasileira”. Mas, trata-se, de uma das mais descaradas fraudes já apresentadas: a filmagem do Projeto Portal mostrando o que seria um suposto ET traz uma pessoa, escondida no mato, falando em falsete (imitando voz de criança) num português brasileiro sem sotaque específico. O "ser" conversa com membros do Projeto Portal e os chama até por seus nomes.

 

A imagem mostrava um tênue contorno humano, mas o “ET” (ou qual seja a 'criatura' ali escondida) não apareceu diante à luz da câmera para comprovar efetivamente a sua alegada originalidade física. Foi uma das produções mais toscas já exibidas em nome do que alguém pode chamar de “ufologia”. Com essa o senhor Urandir pode ser considerado o Zé do Caixão da ufologia brasileira e se torna um forte indicado ao "Troféu Maionese 2010".

 

Ora, convenhamos, qualquer pessoa com o mínimo de consciência pode constatar que aquilo mais parecia um teatro mal produzido, até meio cômico, e JAMAIS um contato com uma entidade extraterrestre que tenha o mínimo de inteligência. Em verdade, absolutamente nada existe de ufológico naquelas imagens mostradas. Foram além de forçar a barra.

 

No entanto, o líder do Projeto Portal, Urandir de Oliveira, desafia os descrentes e garante que tais imagens são mesmo originais. Ele alega que aquele tipo de comunicação com extraterrestres é possível no Projeto Portal, pois, “eles [os ETs] já têm tecnologia para isso”, declarou à reportagem do SBT.

 

Perito rebate o 'ET  falante'

 

Para contrabalancear o surgimento de uma 'criatura interestelar inédita' nas telas da tevê brasileira, a produção do programa convidou o conhecido perito Ricardo Molina, da Unicamp, para analisar o vídeo do suposto ET que aparece falando com as pessoas no interior do Mato Grosso do Sul.

 

Perito em áudio e vídeo por longa data, Molina verificou o material e rebateu de pronto a alegação de se tratar de uma criatura extraterrestre na filmagem. Ele mostrou que filtros aplicados às imagens revelam o contorno de uma pessoa no lugar do alegado ET. Sobre o vulto avistado na imagem, observou quando “uma pessoa levanta a mão segurando um objeto luminoso, tipo lanterna”, disse. E acrescentou, "A imagem mostra o contorno nítido de uma pessoa, inclusive, com cabelo”.

 

Quanto ao áudio da filmagem, o que seria a voz do suposto ET, nas palavras de Molina, se trata de “uma pessoa falando devagar, para dar a impressão de uma ‘coisa extraterrena’. O perito identificou a voz como sendo um falsete, ou seja, houve modulação intencional das cordas vocais "para disfarçar a voz original", segundo Molina.

 

Para ele, não há no vídeo do Projeto Portal, “Nenhum fenômeno que não possa ser natural. A voz é humana e usa recurso de disfarce. Qual seria o motivo de um ET para disfarçar sua voz? Para um humano, haveria um motivo, bem conhecido... Se [os ETs] são iguais a nós, então, eu também posso ser um ET; quem prova que eu não sou? Se são como nós e falam como nós, qualquer um pode ser”, ironizou o perito.

 

Mais do mesmo

 

O ‘Conexão Repórter’ abordou somente dois, dos muitos nichos ideológicos da ufologia brasileira, dando à impressão aos telespectadores, que a ufologia no Brasil se restringe a isso. São estes dois nichos: um que trata os ETs como se fossem deuses ou criaturas superiores, deseja provar, não que eles existam, mas que aqui já se encontram e até se comunicam com "eles"; e outro, que deseja provar a si mesmo e ao resto do mundo que "eles" existem e estão por aí nos visitando, seja amassando plantações, cruzando os céus a bordo de espaçonaves ou abduzindo pessoas. Queiram ou não, fato é que a autêntica e progressista ufologia não se restringe às ideias ímprobas expressas por seus dois grupos mais populares (justamente, por seus excessos), pois que estas sempre conduziram ao vazio da ignorância ou ao apelo espetacular da enganação.

 

O programa foi uma mostra de que, mais uma vez, um grande veículo da mídia brasileira mostrou despreparo para tratar o tema e perdeu boa oportunidade de expor aspectos realmente interessantes, íntegros e conscientes da genuína e não destorcida ufologia. Assuntos estes, que pululam fora dos meios mais populares e apelativos acerca do tema. A direção preferiu seguir à tendência simplória das recentes produções televisivas do gênero que, em nome da busca pelo ibope, se rende ao sensacionalismo e até ao ridículo, demonstrando total desrespeito para com o intelecto de qualquer pessoa de sã consciência que se exponha à apresentação de tal tema, sob maneira tão depreciativa.

 

Em verdade, com o aval ou não das autoridades aéreas nacionais brasileiras, fato é que os OVNIs existem e são fartos; também não são novidades nem aqui, nem no exterior. Comprovadamente, estiveram, estão e estarão por aí, por longos tempos ainda... E, dificilmente teremos condições de identificar ou decifrar corretamente a(s) natureza(s) de tais objetos. Reconheçamos, não temos, sequer, condições de cogitar sobre suas verdadeiras funções e finalidades. No mais, podem se tratar, desde engenhos desconhecidos e construídos com tecnologias terrestres, até aquilo o que ninguém jamais tenha ousado imaginar.

 

O universo desse assunto é muito mais complexo do que possam supor todos os nossos falidos anseios e vãs encenações.

 

* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine e do portal UFOVIA.

   - Com informações e imagem de ‘Conexão Repórter’ (SBT/Brasil).

 

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- Clique aqui para assistir o programa na íntegra pelo site da emissora.

 

- Produção: Pepe Chaves

 

 

 

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