Brasil Antigo

 

PARTE 1:

A universalidade dos Signos Cosmogônicos

e Teogônicos do Brasil

 

Por J. A. FONSECA*

De Itaúna-MG

Novembro/2016

jafonseca1@hotmail.com

 

Signos cosmogônicos em Montalvânia (MG).

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Vera Cruz foi o primeiro nome que os portugueses deram a estas terras brasileiras, talvez por causa da visão deslumbrante que tiveram da constelação do Cruzeiro do Sul, cintilante nos céus, ou por outro motivo ainda desconhecido. O certo é que a denominação Brasil, que foi adotada posteriormente, já era, desde há muito citada como sendo o nome destas terras longínquas, figurando já nos antigos mapas que circulavam secretamente na Europa, especialmente em Portugal. Depreende-se daí que ao partir com suas 13 caravelas de Lisboa, Pedro Álvares Cabral já sabia antecipadamente da existência destas terras, vindo apenas notificar a sua existência e o seu descobrimento.

 

Logo após a chegada dos europeus ao Brasil e na medida em que eles adentravam-se rumo ao interior do país, começaram a fazer algumas estranhas descobertas. Foram assim encontradas muitas das famosas itacoatiaras (pedras pintadas) que se espalhavam por diversos lugares e que os indígenas diziam já existirem aí, quando da chegada de seus antepassados.

 

Uma coisa então foi-se tornando cada vez mais patente e difícil de ser negada: algo de muito importante teria acontecido em um passado longínquo nas terras deste “novo mundo” e como testemunho incontestável disto, ali permaneceram os enigmáticos registros, como verdadeiras relíquias pré-históricas silenciosas, imprimindo nas mentes dos que aqui se estabeleceram posteriormente, um quê de mistério a respeito desse passado ignoto. É importante verificar que inscrições rupestres como as que são vistas no Brasil podem ser também encontradas em outras partes do mundo, não se tratando assim de um fenômeno de conotação apenas regional e localizado. Porém, certos tipos de conjuntos rupestres encontrados nestes rincões brasilienses possuem características muito particulares, que nos permitem estender nossas especulações para muito além dos tempos de sua descoberta.

 

Com o decorrer do tempo e com os novos achados e estudos que foram feitos, verificou-se que, como em muitos países, também a América teria acolhido em seu seio uma espécie de criatura primitiva, anterior aos silvícolas, o que lhe permitiria retroceder a sua história em pelo menos cerca de 12.500 anos. Além disto, descobriram-se algumas itacoatiaras com conteúdos enigmáticos e intraduzíveis, elaborados com certa precisão e contendo alguns destes caracteres com uma certa simbologia ou mesmo algo mais parecido com uma espécie de silabário oculto. Muitas destas marcas secretas do tempo foram encontradas em diversos lugares, mas em algumas regiões elas parecem estar mais concentradas, como o centro oeste, o nordeste e o norte do Brasil. Neste trabalho é nossa pretensão mostrar, ao contrário do que se afirmou até então, que existe uma espécie de simbologia antiga no Brasil e que por razões que não podemos ainda precisar, esta teria se perdido no desenrolar das eras e se dispersado por todo o país, ficando apenas preservada mais acentuadamente nas antigas tradições dos povos silvícolas que sobreviveram até os tempos da sua descoberta.

 

É importante destacar que em muitos casos não existem agrupamentos coesos de signos e figuras, salvo em algumas exceções, mas percebe-se que muitos destes se repetem em outras localidades, ora de forma isolada, ora formando verdadeiros ideogramas, ou representando desenhos estranhos e símbolos incompreensíveis.

 

Questionamos, por isto, a hipótese defendida por alguns pesquisadores de que a criação desses símbolos tenha sido feita de forma aleatória pelo homem primitivo ao pretender representar suas ideias, porque, a nosso ver, estes povos não reuniam qualificações suficientes para desenvolver trabalhos tão coincidentes e avançados como muitos dos que encontramos espalhados por todo o território brasileiro, com destaque para alguns casos específicos que vamos expor mais adiante.

 

Neste contexto, não iremos dar ênfase à existência de um provável silabário oculto no Brasil, mas procuraremos demonstrar que povos antigos gravaram nestas pedras milenares signos cosmogônicos e teogônicos importantes, que enfocavam representações respeitosas em relação às divindades por eles cultuadas e também à criação do mundo, segundo viam em suas crenças.    

 

Alguns destes signos parecem representar algo mais específico, procurando registrar um momento da vida daqueles homens, ou ideias, enquanto que outros parecem referir-se a um contexto mais amplo, mais geral, como se fossem ícones representativos de elementos mais complexos e de caráter notadamente universal, cujo conteúdo é pouco compreensível perante o pensamento de hodierno.

 

Vamos observar estes últimos em diversas partes do Brasil como, por exemplo, na Pedra de Picuí (PB), na Pedra Riscada (TO), no Lajedo JK (GO), em Barra do Garças (MT), em Montalvânia (MG), em Florianópolis (SC), para citar apenas alguns lugares onde sua incidência se apresenta mais marcante e objetiva. É notória a elevada quantidade de registros mostrando estas figuras míticas nas representações rupestres exemplificadas e que podem ser vistas nas ilustrações que anexamos a este trabalho, levando-nos a imaginar que tal fato não poderia ser avaliado como simples coincidência ou mero acaso.  

 

     

Sinais cosmogônicos em Barra do Garças (MT) e Poxoréo (MT).

 

 

Sinais cosmogônicos em Santa Catarina.

 

 

Sinais cosmogônicos na Pedra Riscada (TO).

 

O pesquisador brasileiro Alfredo Brandão que aborda o tema sobre uma provável escrita primitiva no Brasil em seu livro “A Escrita Pré-histórica do Brasil”, publicado em 1937, após comparações de signos encontrados nestas terras brasílicas com antigos alfabetos, constituiu uma tese de que os sinais rupestres brasileiros trata-se de “restos de uma escrita antiquíssima e universal, mãe de todos os sistemas atualmente existentes.” Dentre estes signos de caráter similar ao alfabético classificados pelo autor citado, vamos encontrar diversos outros que apresentam conotações mais abrangentes e de cunho mais religioso e transcendental, que poderiam estar também ligados a pensamentos místicos desses povos brasilienses.

 

Por meio de suas lendas, disse o autor, os indígenas desta terra conservaram ainda resquícios de antigos termos cosmogônicos que seriam de uso geral em passado bem remoto e que se relacionavam com os elementos naturais observáveis como a luz, o espaço, o trovão, o sol, a lua, o mar, a chuva, etc.

 

Para Alfredo Brandão na representação dos signos sagrados no Brasil utilizou-se do sistema mnemônico (que ajuda a memória), com o objetivo de avivar a memória dos povos a respeito das coisas importantes e desconhecidas que eles presenciavam, por intermédio de símbolos gravados de fácil assimilação ou mesmo por meio de objetos. O sistema que estamos analisando neste trabalho é o tipo gráfico, quando foram utilizados métodos de gravação por meio de insculturas e pinturas nas pedras. Neste contexto, afirma o autor citado que a mnemônica não representa propriamente uma escrita e não relata um fato, mas que sua função primordial seria a despertar na memória desses povos detalhes importantes de coisas relevantes de sua vida e de sua tradição, que achavam-se adormecidos.

 

É preciso notar, entretanto, que muitos dos signos utilizados na memorização de acontecimentos e observações importantes, também vieram a fazer parte de antigos alfabetos e a estes se integraram plenamente.

 

Alfredo Brandão publicou em seu livro um quadro onde relacionou signos do Brasil pré-histórico com os caracteres Sabeanos e diversos outros ligados aos mais antigos alfabetos do mundo. Neste trabalho estamos utilizando de sua pesquisa e elaboramos uma tabela incluindo os signos antigos do Brasil em comparação com os de origem Sabeana que ele relaciona, adicionando os de Glozel, descobertos na França, por se tratarem todos estes, a nosso ver, de caracteres com estreita relação entre si e origem de alguma forma muito próxima, por causa do seu elevado grau de similaridade.  Ver tabela

 

 

As inscrições chamadas de Sabeanas foram citadas, conforme Alfredo Brandão anota em seu livro, da obra de Marquez de Vogué (Inscriptions Semitiques) e, segundo ele, se tratam de sinais encontrados em grande escala no deserto da Síria Central, em monumentos denominados Ridjims. Estas inscrições estavam gravadas na pedra e em seus estudos feitos em Palmira em traduções de textos nabateanos o autor Marquez de Vogué afirma que não conseguiu decifrar nenhuma destas de origem sabeana. Disse que estas se achavam relacionadas às antigas tribos dos povos sabeanos que são originários da Arábia.

 

Para Alfredo Brandão estas inscrições têm relação com a mais remota antiguidade, pois estes possuem elevada identidade com os signos alfabéticos europeus. Da mesma forma os signos brasileiros e os de Glozel não foram também decifrados e apesar de não se considerarem que as inscrições pétreas aqui encontradas venham ter qualquer ligação com uma escrita primitiva, muitos dos signos registrados nas itacoatiaras brasilianas apresentam contundentes semelhanças com os citados (Sabeanos e de Glozel), como pode ser visto no quadro que colocamos anexo.

                                                                                         

Por apresentarem elevado grau de similaridade em uma grande quantidade de signos comparados estas três referências elencadas não poderiam ser jamais desconsideradas nos estudos dos antigos caracteres dos povos pré-históricos, que teriam sido, de certa forma, os responsáveis pela formação dos demais alfabetos, ao evoluírem e passarem a representar sons mais específicos, sílabas e letras, além de representarem também ideias, como já mencionamos anteriormente. 

 

Ao destacarmos alguns destes signos dentro de seu contexto junto das representações pétreas, estes se mostram densamente significativos e não deixam dúvidas de que possam tratar-se mesmo de algo discriminativo, uma idéia ou um relato de relevante importância para seus autores. É neste sentido que vamos mostrar alguns destes tipos de caracteres que parecem querer-nos indicar tal assertiva, sem nos atermos à questão de sua decifração propriamente dita, mas caminhar no sentido de procurar compreender o que estas figuras representavam para esses povos de antanho.  

 

Poucos autores ousaram tratar deste assunto e a grande maioria parece concordar que os caracteres encontrados por toda a parte não passariam apenas de rabiscos sem importância e que não pretenderiam expressar qualquer tipo de ideia mais avançada. Porém, quando nos aprofundamos no sentido real da simbologia que se acha oculta em muitas regiões do planeta e mesmo nas próprias crenças e mitos de todos estes povos, nos torna possível levantar a ponta de um extenso véu que encobre determinados conhecimentos, que podem estar ocultos nestes conjuntos de inscrições, aparentemente sem sentido.

 

Felizmente, com o já citamos, algumas mentes desprendidas buscaram compreendê-las mais profundamente, no seu sentido talvez, mais próximo da realidade, sem a terrível mordaça dos preconceitos, lançando luz sobre seu mistério. Uma destas mentes pioneiras foi, sem dúvida, a do insigne pesquisador alagoano Alfredo Brandão, já citado anteriormente, mas devemos incluir também a de outro expoente nesta seara do conhecimento humano. Trata-se de W. W. da Matta e Silva, que era adepto umbandista e estudioso das raízes mais antigas dos pajés brasileiros e autor de vários livros sobre a Umbanda esotérica. Em seus livros “A Doutrina Secreta da Umbanda” e “Umbanda do Brasil”, ele faz profundos estudos em busca da origem dos nomes e de seus respectivos signos representativos, reportando aos mais antigos caracteres encontrados em paredões e cavernas brasileiras. Assim ele escreve sobre esta simbologia:         

                                                                                                               

“A escrita pré-histórica do Brasil foi, sobretudo, cosmogônica e teogônica, portanto, profundamente sagrada e esotérica, e está ainda intimamente ligada ou relacionada com os nossos sinais riscados a que chamamos Lei de Pemba dos nossos guias e protetores – ditos como caboclos, que são realmente a força vibratória que arregimentou os pretos velhos, as crianças, os exus, etc., a fim de consolidar a Corrente Astral de Umbanda propriamente dita… nestas terras de Brazilian – Pátria vibrada pelo Cruzeiro do Sul – signo cosmogônico da Hierarquia Crística… Nossa Lei de Pemba não é, como os leigos ignorantes pensam, simples riscos ou ‘garatujas’… as letras modernas não têm valor mágico, nem imantação direta ligada aos elementais ou elementares denominados ‘espíritos da natureza’… Compreenda quem puder…”

 

Em sua explanação Matta e Silva faz referência aos signos do Brasil pré-histórico, que chama de escrita cosmogônica (a que trata da formação do universo, da criação dos corpos celestes e dos homens) e teogônica (a que trata da origem dos deuses) e os relaciona com os caracteres Sabeanos, também chamados de silabário universal, de onde surgiram os alfabetos de todos os povos da Terra. Relaciona-os também, com o alfabeto Adâmico, Vatan ou Devanagari, que é considerado pelo insigne ocultista Saint Yves D’Alveydre e por outros renomados autores, como o mais primitivo silabário da humanidade. Inspirado, certamente, no trabalho incansável de Alfredo Brandão, anterior ao seu estudo, Matta e Silva chega a exemplificar com quadros mnemônicos (que favorecem a memorização) alguns dos caracteres brasileiros e seus significados ideofráficos (sinais que exprimem ideias), onomatopaicos (que procuram representar os sons) e teogônicos.

 

Nesta ordem, iremos estudar alguns grupos destes signos, listados por estes autores que procuram representar o conceito básico da Divindade e de sua atuação no mundo da forma, em condições de melhor se fazerem compreender perante o leigo e o estudioso da história mais antiga do Brasil. Vamos a seguir dar destaque a alguns destes traços simbólicos que se acham relacionados ao mundo teogônico dos povos antigos e que foram anotados por Alfredo Brandão e Matta e Silva em seus livros “A Escrita Pré-histórica do Brasil” e “Umbanda do Brasil”, respectivamente, mostrando estas particularidades.

     

* J.A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e  realizado incursões em diversas regiões do Brasil  com o intuito de melhor compreender seus mistérios milenares. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail: jafonseca1@hotmail.com.

 

- Fotografias e ilustrações: J. A. Fonseca.

 

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