Brasil Antigo
Região Nordeste: De volta ao enigma rupestre do Nordeste do Brasil Mesmo situados tão distantes um do outro, vamos perceber então que são inúmeras as semelhanças existentes nos dois painéis rupestres, inclusive, as formas e as posturas das figuras retratadas, suas características especiais em muitos casos e a noção de conjunto que elas representam.
Por J. A. FONSECA* De Itaúna/MG 24/10/2020
Detalhe do enigmático painel de Carnaúba dos Dantas (RN). Leia também: Mais um Enigma Brasileiro – Sete Cidades–PI Assista: TV FANZINE Especiais sobre muros de pedras em Itaúna
Decidimos retornar ao tema das figuras rupestres do nordeste brasileiro, Correntina (Bahia) e Carnaúba dos Dantas (Rio Grande do Norte) porque julgamos que eles sejam demasiado importantes no estudo da arqueologia e, especialmente, pelos três motivos abaixo:
1. Este autor pensa que um caso como este mereceria uma atenção especial por parte dos pesquisadores, além dos demais outros mistérios que fazem parte de todo o contexto que envolve a ‘arte’ rupestre do Brasil, muitos dos quais já foram abordados neste site. Há uma elevada incidência de figuras muito semelhantes e caricaturais nestes dois sítios arqueológicos analisados e uma estranha similaridade quanto ao cenário percebido e que permitiram que elas pudessem ser desenvolvidas.
2. Condições como estas, de raríssimas possibilidades de ocorrerem, criam dificuldades notórias para o seu entendimento, uma vez que, como se pode ver, procuraram ambas retratar uma mesma cena, com as peculiaridades próprias de seus observadores e autores, o que, a nosso ver, não se trata de um acontecimento comum na história de nosso planeta.
3. Este autor encontrou um outro painel na mesma localidade de Carnaúba dos Dantas (RN), que também está sendo abordado neste artigo, que retrata outros detalhes do painel de Correntina, na Bahia, mostrando características muito próximas em suas figuras, demonstrando assim que este fato precisa ser visto com relevância histórica, por tratar-se de um acontecimento notadamente surpreendente.
Em se tratando de um caso raro como este, como já dissemos, propusemo-nos explorá-lo mais profundamente, destacando as figuras (ou grupos) de cada um dos painéis, mostrando a sua identidade e demonstrando assim, que ambos os seus autores teriam presenciado uma mesma cena e a teriam procurado retratar, cena esta, que não nos parece muito comum, dada a quantidade de elementos estranhos que envolvem o contexto geral desta suposta ‘visão’ e que teria gerado, em ambos os casos estes não menos estranhíssimos registros rupestres nestas duas regiões brasileiras.
No caso dos primeiros dois motivos acima referidos achamos por bem fazer uma comparação entre os dois painéis, colocando-os lado a lado e indicando a real incidência das figuras estranhas encontradas em ambos os casos, para que pudéssemos observar a incrível relação de semelhanças entre eles, como se se tratassem de uma espécie de duas obras de arte executadas por dois artistas distintos, abordando uma mesma paisagem.
Comparativo entre as inscrições semelhantes dos painéis rupestres de Correntina (BA) e Carnaúba dos Dantas (RN).
Vamos perceber então que são inúmeras as semelhanças existentes nos dois painéis rupestres, inclusive, as formas e as posturas das figuras retratadas, suas características especiais em muitos casos e a noção de conjunto que elas representam. Se quisermos simplesmente argumentar que tal fato poderia ser explicado sem grandes problemas, diríamos que estes se acham localizados a cerca de 1200 km em linha reta, um do outro. Diríamos ainda que se caso fossem encontrados dois painéis tão semelhantes em um mesmo sítio arqueológico, com tantos elementos compondo o mesmo cenário, tal descoberta já seria, por si só, desconcertante, mesmo que ela pudesse ser atribuída a um mesmo grupo de executores em um mesmo espaço. Feitos desta natureza, ao que se sabe, não foram observados, até o presente momento, em nenhum lugar.
É importante recordar que em um dos casos os registros foram encontrados e copiados em 1924, por José Dantas, em Carnaúba dos Dantas (RN) e no outro, a sua reprodução foi feita por um grupo de pesquisadores da UNISINOS e da Universidade Católica de Goiás, no período de 1981/1985 na cidade de Correntina (BA). Além de mostrarem diversas figuras estranhas, como já dissemos, estão localizados em locais bem distantes um do outro e provêm de uma época da qual pouco sabemos a respeito, podendo remontar a perto de 8000 anos de existência ou mais.
Elaboramos o quadro abaixo (Quadro 1) para que possamos examinar as figuras de cada um dos painéis acima, em grupos e para melhor identificá-las em suas incríveis semelhanças. Vejamos:
Vemos que algumas poucas figuras de animais estão pintadas na cor amarela em ambos os casos, fato destacado pelos pesquisadores nas ilustrações originais, o que vem acrescentar mais um detalhe no caráter inusitado do seu já controverso conteúdo e às suas relações mútuas.
Diante disto não acreditamos que estaríamos presenciando algo comum no contexto histórico do Brasil e que tal fato poderia ser facilmente explicado pelos acadêmicos. Seria necessário que viéssemos dar a eles um elevado grau de inventividade para atribuir ao seu conteúdo um acontecimento natural e perfeitamente plausível de ocorrer. Neste sentido, pergunta-se então: por que estes casos não são comuns na arqueologia brasileira e mesmo em outras regiões de nosso planeta?
Ao que sabemos não foi notificado até o presente momento nenhum caso parecido com este, exceção feita aos elementos isolados e semelhantes que são vistos em muitos lugares, especialmente os que se referem a signos teogônicos, de caráter religioso, que também já foram abordados por este autor neste site.
Porém, nossos questionamentos não terminam aqui. Este autor encontrou novas semelhanças entre o painel registrado em Correntina (Bahia) e que é mais amplo em seu conteúdo, em comparação com um outro que está representado nas ilustrações executadas no trabalho de pesquisa de José Azevedo Dantas em Carnaúba dos Dantas (RN), em 1924.
Decidimos então copiar o painel das figuras encontradas próximo ao rio Correntina na sua integralidade e o inserimos neste trabalho para conhecimento do leitor e para que todos possam ver os componentes portentosos deste conjunto rupestre, tendo por referência a ilustração publicada na Revista Ciência Hoje, nº 47, de out/1988 em artigo arqueológico de Pedro Ignácio Schmitz.
O painel completo de Correntina (BA) reproduzido por este autor.
Abaixo da ilustração mencionada consta a seguinte nota: “Pinturas rupestres da tradição Nordeste, em pigmento mineral, encontradas em abrigos e grutas calcárias perto do rio Correntina.”
No trabalho elaborado por José Dantas as ilustrações de Carnaúba dos Dantas recebem o seguinte texto: “Imagens do Rochedo Bojo (Casa Santa) registrados por José de Azevedo Dantas em 1924.”
Eis que se amplia este mistério, pois ao examinarmos as pinturas registradas no trabalho feito por José Dantas vamos encontrar um novo grupo de figuras que se assemelham com determinado grupo do painel de Correntina, na Bahia. Como pode isto ser possível? Não se tratam assim de apenas dois ou três elementos semelhantes, mas da maior parte deste outro painel reproduzido pelo pesquisador nordestino em 1924, diante de um grupo de figuras daquele que foi feito na Bahia no período de 1981/1985.
Comparativo entre as novas semelhanças citadas entre os painéis rupestres de Carnaúba dos Dantas (RN) e Correntina (BA).
Da mesma forma, elaboramos um quadro destas outras figuras de José Dantas (Quadro 2) e a comparamos com a parte do painel de Correntina, na qual as estas se assemelham de forma gritante. Vejamos os destaques:
Pode-se ver também em outros registros feitos pelo pesquisador nordestino em 1924, no mesmo local, que existem presenças de canoas e de pessoas próximo a elas, o que também pode ser visto nas inscrições registradas em Correntina. Incluímos reproduções feitas por este autor destas canoas misteriosas em ambos os sítios arqueológicos, as quais, também mostram relevantes semelhanças entre si. São muitas as ‘coincidências’, como podemos ver.
Diante do exposto, minha posição como estudioso autônomo da arqueologia brasileira é de perplexidade e penso não ser fácil as tarefas de se decifrar e explicar mais este enigma da história antiga do Brasil. Temos diante de nós a visão de um acontecimento não muito comum percebido em passado distante e registrado por autores diferentes, em localidades diferentes e não muito próximas, o quem vem acrescentar graus de dificuldade muito elevadas na sua tentativa de explicação. Pode-se notar que os registros parecem querer transmitir algo de relevante importância para os povos que os executaram e que nos parece, como expectadores apenas, tratar-se de algo declaradamente incomum, diante das circunstâncias justificadas na sua ‘arte’ e o que verdadeiramente procuravam retratar.
Figuras de barcos nos painéis líticos de Correntina e Carnaúba dos Dantas.
Poderíamos imaginar que haveria uma possibilidade de ambas as inscrições terem sido produzidas por um mesmo autor ou autores, diante de suas semelhanças e da inexistência de explicações para este inusitado acontecimento arqueológico, mas esta hipótese leva-nos a novos questionamentos. Vejamos:
1. Pode-se perceber que os estilos e os traços dos autores das inscrições comparadas são diferentes e não nos convencem plenamente que possam ter sido feitas pelas mesmas pessoas, apesar de ambas procurarem expressar as mesmas percepções. Vejamos os elementos dos painéis isoladamente e os comparemos, iniciando pela figura estranha que parece voar acima de duas pessoas representadas logo abaixo. Possuem traços diferentes. Os demais componentes representando grupos de pessoas e de animais têm, em sua maior parte, semelhanças absurdas e seus posicionamentos parecem ‘descrever’ uma mesma impressão, mas divergem em alguns pontos menos importantes e na sua própria elaboração.
2. A distância entre as duas manifestações de ‘arte’ rupestre é considerável e não sabermos como nem quando alguns desses grupos poderiam ter feito este percurso e se interessado em reproduzir aquelas figuras que os impressionaram em algum tempo da sua história.
3. Não se constatou ainda se nossos artistas pré-históricos possuíam o hábito de preservar o conteúdo de certas imagens expressivas que produziam na pedra, em uma espécie de esboço, em peles de animais, por exemplo, para guardá-las ou representá-las em outros lugares. Teriam esses estremados autores conseguido guardar estas figuras na memória por meses a fio, até alcançarem o local adequado para as reproduzirem? E por que não as teriam reproduzido em locais outros durante o seu percurso, mesmo que parcialmente, diante da elevada impressão que a cena observada teria ocasionado em suas mentes?
4. Mesmo que tivessem sido produzidas pelas mesmas pessoas, apesar das diferenças na arte, poderíamos imaginar qual teria sido a causa de essencial importância que os teria conduzido a agir desta maneira inusitada?
5. Dada a constatação de que se trata de arte primitiva de longínquas eras, como saber se seus autores poderiam ter sido os mesmos, diante das dificuldades de preservar as figuras para reproduzi-las em outros lugares e qual delas teria sido primeiramente executada (?), ou seja, se eles teriam descido do Rio Grande do Norte para a Bahia ou subido da Bahia para o RN?
6. Observa-se, finalmente, que o painel lítico do estado da Bahia é bem mais amplo e expressa melhor as imagens reproduzidas. Pergunta-se, caso tenham sido os mesmos autores de ambas, por que eles teriam ignorado a parte inferior deste painel que possui elementos complexos e de igual estranheza em relação aos demais outros representados em ambos os casos?
Haverá de ter sempre um motivo por trás deste tipo de manifestação de ‘arte’ pouco compreensível e até certo ponto abstrata, o que dificulta em muito identificar os parâmetros que conduziram seus autores à sua feitura. No caso apresentado este grau de dificuldade avança muito mais adiante e caminha célere rumo aos limites que separam aquilo que é explicável daquilo que é inexplicável.
Desvela-se, portanto, um Brasil rico em mistérios milenares, que estão exaustivamente representados na sua abundante e enigmática ‘arte’ rupestre, a qual tem mostrado em muitos de seus aspectos que alguma coisa, fora de nossa compreensão intelectiva atual, teria acontecido em seu passado distante, diferentemente da conotação histórica que temos insistido em dar aos sobreviventes brasílicos que aqui viviam antes da sua descoberta.
* J. A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail jafonseca1@hotmail.com
- Reproduções e ilustrações: J. A. Fonseca.
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Esta matéria foi composta com exclusividade para Via Fanzine©.
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