Brasil Central
Chapada dos Guimarães: Beleza cravejada de mistérios No interior do Brasil vestígios pétreos de civilizações historicamente inimagináveis aguçam a curiosidade do homem atual diante de seus desconhecidos antepassados.
Por J. A. FONSECA* De Itaúna/MG junho - 2007
A esplendorosa região da Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso.
Gigantescos paredões pétreos surgem diante do viajante quando este chega à Chapada dos Guimarães, vindo de Cuiabá. As belíssimas formações rochosas que a natureza esculpiu mostram figuras estranhas que lembram esculturas modernas, à semelhança de minaretes e colunas portentosas, conduzindo sua imaginação a criar imagens fantásticas e, até mesmo, super-humanas, de lendas e histórias inacreditáveis. Assim é o nosso Brasil e não são poucos os lugares destes rincões milenares que nos deixam perplexos diante de esplêndidas e enigmáticas paisagens.
Esta é, sem dúvida, uma região de excepcional atratividade e beleza, com prados quilométricos vistos do alto dos montes, como um quadro inimaginável pintado por mãos invisíveis e de rara expressividade. É comum aos visitantes manterem-se silenciosos por longo tempo diante de paisagens tão exuberantes, de cachoeiras de águas cristalinas e da expectativa de se depararem com animais selváticos, livres e saudáveis.
As formas esculpidas nas montanhas e nas pedras colossais encontradas em todos os lugares da Chapada, com suas inexplicáveis expressões focalizando o vazio, fazem-nos viajar no tempo e questionar que tipo de força teria produzido tudo aquilo e, até mesmo, duvidar de nossas próprias conclusões. Seriam formas naturais, esculpidas ao acaso pelos agentes do tempo? Seriam a água, o vento e o calor ou a simples erosão natural da rocha, responsáveis por tão intrincado espetáculo pétreo de formas variadas e imponentes, à semelhança de um museu a céu aberto, desafiando a inteligência do homem ou ocultando-lhe verdades insofismáveis?
Uma curiosa formação rochosa.
Um céu vivo e brilhante, de um azul indescritível, encobre todas aquelas formas bizarras, como se quisessem participar do mistério e confirmar e existência de um passado lendário, habitado por deuses e super-homens de uma raça extinta, desaparecida há milênios.
Os cientistas e pesquisadores afirmam que toda esta região foi, há milhares de anos, morada de dinossauros, depois de estar submersa e ter-se tornado um grande deserto, impregnado de fósseis milenares. Após passar por esses vários estágios a própria natureza teria esculpido as belas formas que hoje ela ostenta e podem ser vistos por quantos delas se aproximem, ora como conjuntos toscos de grandes ruínas, ora como formas isoladas, como se fossem monumentos erigidos ao desconhecido.
Ao chegarmos na Chapada, inicialmente, nos deparamos com os paredões avermelhados com suas intricadas formações pétreas. Depois, passamos pelo Portão do Inferno, uma espécie de cânion com cerca de 50m. de altura. Ao chegarmos à cidade nos deparamos com uma cálida e sossegada comunidade com aproximadamente 20 mil habitantes, onde o tempo parece andar sem muita pressa. Os passeios pela região são sempre emocionantes e atraentes, pois existem muitas localidades a serem visitadas.
A Cidade de Pedra, por exemplo, localiza-se no alto das serras de arenito, onde podemos ver um conjunto de pedras com formas diversificadas e agrupamentos variados, à semelhança de ruínas de uma cidade abandonada. Com uma pequena caminhada chega-se aos mirantes, que permitem ver ao redor os magníficos contrafortes pétreos avermelhados contrastando com o verde de uma vegetação exuberante, com suas variadas matizes e um colorido inigualável. Mais adiante, de volta aos íngremes paredões maciços, uma cachoeira se destaca, rompendo o leito calmo por onde rolam suas águas e despencando de uma altura de uns 85 metros, entre dois cânions, enfatizando precipícios belos e assustadores. Diversas cachoeiras correm mata adentro e é preciso fôlego para percorrer as trilhas e chegar até suas límpidas águas em meio a uma vegetação variadíssima e deslumbrante. É sempre muito compensador.
Formação nos remete à lembrança de castelos petrificados pelo tempo.
Toda a região da Chapada é constituída de mata de cerrado e já foi considerada como um dos mais ricos ecossistemas do planeta, por causa de sua extensa variedade de espécies animais e de plantas medicinais, flores variadas e arbustos.
A falta de escrúpulos e a ganância do homem contemporâneo, que adquiriu a capacidade tecnológica de destruir mais rapidamente a natureza, no lugar de explorá-la ecologicamente e respeitá-la, vem preocupando os poucos que ainda pensam na preservação da fauna e da flora desta magnífica região. Os métodos de exploração não respeitam normas e muito menos os ciclos naturais de reprodução vegetal e animal. Com isto, vamos percebendo que a cada dia a qualidade de vida vai-se deteriorando e a extinção de muitas espécies vai tomando uma escalada perigosa, de imprevisíveis consequências.
Existem muitos pontos de extraordinária beleza e magnitude em Chapada, além dos misteriosos registros rupestres que, em geral, se localizam ao pé de falésias, ao lado de vales exuberantes, entre montanhas. A Caverna Aroe Jarí, situada a cerca de 46 km da cidade possui um vasto salão que se estende impetuosamente para o seio de uma montanha de pedra. Sua entrada, formada por uma vasta abertura assemelha-se à mandíbula de uma baleia gigantesca, no meio de uma floresta suave e de variada vegetação, formando um casamento perfeito entre a solidão e o mistério que envolve suas cercanias. Pesquisadores afirmam que ela já teria sido morada de homens primitivos e até mesmo dos índios bororos e caiapós, naturais da região de Chapada. Acredita-se que esta caverna, também chamada de Gruta das Almas, possa ter sido frequentada desde os tempos mais pré-históricos do Brasil.
Antigas formações de “algo” petrificado há muitos milênios.
Já que falamos em mistérios, queremos citar algo que encontramos na gruta da Lagoa Azul, uma piscina natural de águas cristalinas, que nos pareceu inusitado. Em nossas buscas por diversas regiões do Brasil temos procurado sinais que possam nos comprovar que alguma coisa de excepcional teria acontecido nestas terras brasilis em um passado mais remoto, além de dinossauros, homens primitivos e indígenas ociosos, segundo o dizer de alguns pesquisadores. Estávamos na expectativa de que poderia haver algo mais ali que viesse transcender a beleza natural de um lugar que encanta a qualquer visitante que se aproxime daquela magnífica abertura de pedra, com seu esplêndido lago azul.
Percebemos que à direita da entrada, de quem observa esta caverna de frente, havia uma passagem que se dirigia para o lado, elevando-se até o teto. Decidimos ir até lá, subindo quase que engatinhando por entre os magníficos blocos de pedra espalhados e cobertos de poeira, indicando não ser este um espaço habitualmente visitado por turistas. Subimos até nos depararmos com uma barreira que impedia a passagem. Para nossa surpresa era uma espécie de “muro”, em parte, oculto pelas sombras que, estava ali bloqueando o caminho. Porém este muro, em nada se parecia com uma barreira natural de pedras caídas por desabamento ocasional, que podem ser observadas frequentemente em grutas e cavernas, impedindo a entrada para outras galerias. Era mesmo um muro de pedras retangulares, cinzeladas e ajustadas por “alguém” que tinha a pretensão de interditar aquela passagem.
Muro de pedra construído num passado remoto por uma tecnologia desconhecida.
Pode ser que algum pesquisador venha sustentar que se trate de formação natural ou que teria sido obra de antepassados dos povos que habitaram a região. É nosso pensamento que sua presença ali é muito remota, pois diante deste muro encontra-se uma pequena formação semelhante a uma estalactite que, por si só, comprova sua antiguidade. Por outro lado, não poderíamos concordar que se tratasse de mais uma obra da natureza, uma vez que, por mais que esta tenha a capacidade de produzir formas extravagantes e primorosas, jamais poderia construir um muro com pedras retangulares e amarrações perfeitas, alinhadas e ajustadas meticulosamente. Cremos também que esta não poderia se tratar de obra do homem primitivo, pois que este não teria recursos técnicos suficientes que lhe permitisse construir um muro como este, perfeitamente delineado e ajustado no solo e no teto daquele canto esquecido da caverna.
Em nossas andanças encontramos também insculturas na região denominada Fecho do Morro da Lagoinha, no sítio Bocaina de Baixo. Queremos, também, neste caso, chamar a atenção para sua complexidade e estranheza. Não podemos concordar que se tratem simplesmente de manifestações gráficas aleatórias, sem um objetivo aparente, produzidas por homens temerosos e primitivos. Tratam-se, segundo nosso ver, de gravuras específicas, com traços retilíneos e precisos, além de sugerir se tratarem de ideias devidamente elaboradas com o intuito de transmitir conhecimento ou fazer a indicação de algo relevante. Os traços foram riscados de forma retilínea e precisa, como se a pedra sobre a qual estes foram impressos, estivesse ainda mole e o instrumento utilizado tivesse um formato cortante específico. Não conseguimos conceber que aquelas figuras gravadas na rocha pudessem ter sido executadas por instrumentos impróprios, como pedaços de pedra, por exemplo, ou galhos de árvores, devido à sua inexplicável precisão, traçados retilineamente e sem arestas.
Inscrição em rocha, feita por técnica desconhecida na pedra 'amolecida'.
Confirmando nossas dúvidas, um outro dado nos chamou a atenção. Num ponto mais alto deste maciço pétreo onde se acham as insculturas citadas, em uma posição bem estratégica e de difícil acesso, encontram-se gravados na rocha viva, isolados dos demais, dois signos, também traçados com a mesma precisão, de forma retilínea, profunda e bem planejada. Um deles tem a forma da letra “H” com duas ligações centrais e o outro se assemelha a um cálice deitado [veja reprodução abaixo]. Não podemos saber o que pretenderam os seus autores dizer com estes símbolos estranhamente cortados na pedra e o que poderiam estar indicando.
Inscrição em rocha - reprodução do autor
Detalhes como estes nos remete pensamentos contraditórios acerca das razões que levaram seus autores a marcarem perenemente a pedra com figuras tão expressivas e qual teria sido o seu objetivo, pois parecem-nos que foram feitos calculadamente e não de forma aleatória. Atribuí-las ao homem primitivo simplesmente e não se ater aos detalhes de sua simbologia e forma com que teriam sido reproduzidos, parece-nos pretender ignorar fatores importantes para a própria compreensão do passado de nossa terra, fato este que vem sendo praticado regularmente através dos tempos.
As pesquisas oficiais constatam evidências da presença humana em todos estes lugares onde podem ser encontradas marcas gravadas na pedra e sustentam que se tratem de estilos de arte primitiva que tiveram por referência motivos predominantes na época em que foram elaboradas, associações a conjuntos conhecidos de seus autores e abordagens específicas, segundo as tendências artísticas regionais e o impulso que estes homens primevos teriam recebido para produzi-los. Pensamos, entretanto, que outros fatores tiveram um forte impacto na feitura destas insculturas, da mesma forma que também os tiveram em outros lugares espalhados por todo o território brasileiro.
Para se chegar até as insculturas do Morro da Lagoinha fizemos uma longa caminhada a pé que levou cerca de 1 hora e 15 minutos. Depois de termos estacionado o carro debaixo de uma mangueira, seguimos por uma trilha até uma mata densa, onde, em zigue-zague, fomos subindo, até que alcançamos o sopé da montanha, onde estava o abrigo rochoso entre as árvores.
Nosso guia nesta empreitada foi o Sr. José Paulino dos Santos, um dos mais antigos moradores da Chapada, que conhece muito bem todos aqueles recantos pouco comuns e fala deles com desenvoltura. Sua companhia foi muito agradável e por três dias ele nos acompanhou por diversos lugares, inclusive nesta caminhada rumo às inscrições rupestres do Morro da Lagoinha.
No caminho da gruta Aroe Jarí passamos também por uma região de serrado, onde podem ser vistos gigantescos blocos de pedra de formatos excepcionalmente curiosos, como se fossem verdadeiros marcos secretos do tempo ali colocados intencionalmente, ou guardiões pétreos velando o desconhecido. Queremos destacar um destes monumentos que chamam de cruz de pedra (ver foto), que mais se assemelha a uma escultura descomunal e milenar, já desgastada pelo tempo. Este monumento tem cerca de 4 metros de altura e para alguns, seria uma águia que, de asas abertas, que guarda a região dos invasores e inimigos da natureza.
Depois de estacionar o carro próximo dali, caminhamos um longo percurso no meio de uma floresta densa, com temperatura amena e flora variada, até a embocadura da caverna Aroe Jarí. Gostaríamos de ressaltar que os estranhos monumentos pétreos e suas inscrições, encontrados nesta região do Brasil, em todo o estado do Mato Grosso e em muitas outras localidades em nosso país, venham a ser vistos sob uma ótica menos pragmática e mais aberta, diante de fenômenos que ocorrem e não são explicáveis pelos princípios puramente científicos. E que possam assim suscitar o interesse de aprofundarem-se na produção de novas pesquisas arqueológicas, de forma que possam ser reavaliadas certas conclusões que não podem oferecer boa sustentação para as teorias que reportam às origens dos antigos povos que habitaram estas regiões excepcionais de nosso planeta.
* J. A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail jafonseca1@hotmail.com
- F otografias e ilustrações: J. A. Fonseca.
- Produção: Pepe Chaves. © Copyright 2004-2007, Pepe Arte Viva Ltda.
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- Produção: Pepe Chaves © Copyright 2004-2021, Pepe Arte Viva Ltda.
Esta matéria foi composta com exclusividade para Via Fanzine©.
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