Brasil Antigo

Simbologia Desconhecida

Na ‘Arte’ Rupestre do Brasil – Parte V

Houve verdadeiramente um acontecimento misterioso que deu ao homem, diferentemente dos demais outros animais, um despertar do seu campo mental que possibilitou-o desenvolver aptidões próprias na organização de grupos, no campo da subsistência e da criatividade.

 

Por J. A. FONSECA*

De Itaúna/MG

Setembro-2020

jafonseca1@hotmail.com

 

Detalhe do painel de inscrições de Caetité, Bahia.

 

Há um conflito que interfere no conceito evolucional do homem na Terra entre a teoria proposta pela ciência e o criacionismo proposto pela religião, tendendo a ciência para a aceitação da primeira tese, diante das pesquisas que tem feito e do material que ela tem estudado. Mas, as questões relativas ao ‘elo perdido’ que, incontestavelmente, distancia muito o homem do macaco é um problema a ser solucionado pela teoria evolucionista de Darwin, pois não se pode negar que algo teria acontecido em dado momento que veio mudar drasticamente a questão da evolução do homem e de sua inteligência em relação aos outros seres.

 

Houve verdadeiramente um acontecimento misterioso que deu ao homem, diferentemente dos demais outros animais, um despertar do seu campo mental que possibilitou-o desenvolver aptidões próprias na organização de grupos, no campo da subsistência e da criatividade.

 

Há muitas discussões sobre o surgimento do homem na Terra e de sua evolução. A origem do homem americano continua sendo um enigma. Existem muitas teorias e suposições a este respeito, mas este mistério não pôde ser ainda desvendado. No caso do Brasil, como temos mostrado através de nossas publicações neste site, onde focamos especificamente a questão da ‘arte rupestre’ desses antigos povos, muitas coisas permanecem sem explicação suficiente, diante da variedade, da qualidade e das significativas manifestações encontradas em toda a parte.   

 

São infinitas as questões que podem ser levantadas sobre a simbologia presente na ‘arte’ rupestre do Brasil. Percorremos diversas regiões, de norte a sul do país mostrando estas evidências clássicas de povos mais avançados, mas consideramos também que existem os ‘trabalhos’ mais simples que, notadamente, estariam relacionadas a grupos mais primitivos e de menor capacidade de discernimento.

 

Nesta quinta parte deste estudo que aborda esta estranha simbologia, queremos notificar mais algumas gravuras destas manifestações de ‘arte’ diferenciadas em solo brasileiro, que podem trazer elementos novos de reflexão em relação à sua origem e aos seus prováveis autores, fato real na história antiga do Brasil e também de difícil solução.

 

Símbolos estranhos e sofisticados presentes na cerâmica Marajoara.

 

Neste mostruário de figuras diferenciadas em diversas regiões de nosso país podemos ver que em muitos casos, as figuras se misturam com caracteres e grafias desconhecidas que nos permitem levantar suspeitas de que possam estar relacionadas a uma escrita muito antiga (assunto que já tratamos em outros artigos). Estamos abordando também a chamada arte cerâmica Marajoara e Tapajônica, especificamente, apesar de termos outras culturas na Amazônia que desenvolveram também um rico trabalho cerâmico de peças relevantes, pinturas e apliques de considerável habilidade.

 

Temos mistérios ainda insolúveis envolvendo esta cultura Marajó, sua rica simbologia e a sofisticação de sua arte cerâmica, dentre outros feitos importantes destes grupos desaparecidos. Temos também a enigmática cultura Tapajó com sua cerâmica fantástica, seus ídolos de pedra, os muiraquitãs e seus símbolos milenares.

 

A “arte” marajoara é a mais conhecida dentre as muitas que existem no Brasil e para os estudiosos ela não se apresenta apenas como um elemento de beleza plástica significativa, mas também e, principalmente, pelo conteúdo dos motivos utilizados pelos seus autores. Muito além de sua beleza e mesmo harmoniosa proporcionalidade, estes trabalhos em cerâmica mostram com grande força um universo cultural desconhecido para os pesquisadores, que parecem envolver crenças, costumes e até mesmo um conhecimento desconhecido que se perpetuou no tempo e chegou até nós de forma enigmática. Isto, para não nos estendermos em muitas outras culturas semelhantes da Amazônia, como a Cunani, a Maracá e a Miracanguera, por exemplo.

 

Vaso de cariátides da cultura Tapajó em cerâmica.

 

A cultura tapajônica também desenvolveu um grande trabalho cerâmico constituído de vasos, ídolos, tigelas, pratos, etc., contendo uma extensa variedade de figuras zoomorfas e humanoides, cuidadosamente moldadas. Estas peças eram decoradas também com diversos elementos simbólicos riscados de forma minuciosa e agradável estilo gráfico. Temos ainda nesta cultura ou ligados a ela, a questão pouco compreensível dos ídolos de pedra e dos muiraquitãs, os quais já foram também abordados em artigos sobre as Culturas Cerâmicas Amazônicas publicados neste site.

 

O que nos causa forte impressão é que não vamos encontrar tais recursos de “inteligência”, como a desses povos, nos diversos outros grupos indígenas do Brasil, desde o norte até o sul e de leste a oeste, o que reforça nossa tese de que esses primeiros tiveram sua origem junto de grupos mais adiantados e que talvez tenham perdido os laços mais profundos com uma civilização mais desenvolvida, da qual teriam se originado.

 

Mas, nossa atenção se foca também em outras regiões do Brasil. Assim, outro local que precisamos abordar neste estudo é o que é chamado de Toca do Tapuio, no interior da Bahia, do qual tomamos conhecimento por meio da Internet. Há alguns anos tivemos contato com uma pessoa da região chamada Tatiana Cafiero, que nos enviou fotografias desta região e com a qual fizemos também contato telefônico. Atualmente temos comunicação mais próxima com a Tatiana, via e-mail, e ela ofertou-nos com novos elementos de pesquisa sobre as estranhas inscrições rupestres que existem naquela região. Tatiana é Fisioterapeuta, com especialização em Anatomia e Fisiologia Humana e está muito atenta à arqueologia e a estas coisas pouco conhecidas do Brasil.

 

Inscrições na Toca do Tapuio com caracteres destacados abaixo pelo autor.

 

Segundo suas informações a Toca do Tapuio localiza-se no município de Caetité, num local que é chamado de Moita dos Porcos e que fica a cerca de 20 km da cidade na direção do distrito de Brejinho das Ametistas. Segundo informa Caetité fica na região da Serra Geral que é considerada uma extensão da Chapada Diamantina, embora esteja fora do Parque da Chapada. Conforme suas fotografias e uma nova tomada do painel de um dos lados da gruta que me enviou, vemos que seu conteúdo vem reforçar a questão que envolve os mistérios inexplicáveis que existem no Brasil, pois suas inúmeras inscrições, em baixo relevo, mostram um grande painel como se fosse uma escrita regular, carregada de simbolismo e impregnada de figuras desconhecidas e complexas.

 

De certa forma, estas gravações na pedra deixam-nos também desconcertados, pois não podemos concordar que venham tratar-se apenas de demonstrações casuais ou que sejam produtos oriundos da “inteligência” de homens primitivos, semelhantes a muitos outros que temos mencionado nestes artigos. Sua extensão e complexidade lembram-nos os signos insculpidos da Pedra do Ingá, na Paraíba, apesar de terem conotações adversas.

 

Caracteres do gigantesco painel de inscrições da Toca do Tapuio, em Caetité, Bahia.

 

A Toca do Tapuio é uma pequena gruta com cerca de 5 a 6 metros de profundidade que traz em seu interior uma grande quantidade de inscrições indecifráveis. Na sua face da direita muitas delas se perderam, uma vez que o gado da região ao entrar na gruta arrastava o corpo nas paredes, informa Tatiana e isto acabou por contribuir para a destruição de muitas delas. As inscrições da parte esquerda da gruta são as que estão mais bem conservadas e são as que constam das ilustrações aqui anexadas. Constituem-se de um painel com cerca de quatro metros de comprimento de rocha sedimentar calcária, com gravações efetuadas em baixo relevo, de forma contínua e com vasto e complexo conteúdo.

 

Ao observá-las por meio das ilustrações aqui inseridas pode-se ter uma ideia de sua importância, mas não se pode ter uma compreensão mais ampla do significado de seu conteúdo e do seu elevado grau de transcendência e mistério. Seria preciso fazer estudos mais aprofundados. 

 

Seguindo esta mesma linha de raciocínio, não poderíamos deixar de tratar também das inscrições que são vastamente encontradas em outras regiões do nordeste, e que estão sendo, em parte, incluídas neste estudo, por causa de sua relevância envolvendo a simbologia desconhecida nesta ‘arte’ primitiva do Brasil. Já mostramos o interior da Paraíba em pesquisa feita pelo arqueólogo Vanderley de Brito e destacaremos agora um painel de figuras estranhas no estado do Rio Grande do Norte, que teria sido copiado pelo pesquisador solitário José de Azevedo Dantas, em Carnaúba dos Dantas e por se enquadrar o mesmo neste estudo sobre a simbologia que se acha gravada nas pedras do Brasil. Este pesquisador, autodidata, durante a década de 1920/1930, armado de papel e lápis em sua bagagem, galgou muitos dos penhascos sob o sol escaldante do nordeste brasileiro e registrou diversas inscrições na região, muitas delas de caráter notadamente enigmático, por seu conteúdo controverso e carregado de significados obscuros para o nosso entendimento.

 

‘Escrita’ ideográfica em Carnaúba dos Dantas, RN, registrada por José de Azevedo Dantas e reproduzida por este autor.

 

Detalhe da ‘escrita’ acima com a figura de um dinossauro ao lado de figuras desconhecidas.

 

A ilustração que aqui destacamos foi copiada do original de José Dantas e mostra um conjunto de caráter bem enigmático, à semelhança de muitos outros em terras brasileiras, pois se mostram como uma escrita ideográfica primitiva, com a inclusão de figuras não muito comuns, sob a nossa percepção atual. Nesta, especialmente, temos uma representação nítida de um dinossauro, tipo herbívoro quadrúpede e de médio porte. Isto, por si só, levanta-nos uma questão sobre o passado do Brasil, pode-se dizer, no mínimo, inusitada.  

 

Teriam esses povos convivido com animais deste tipo nos tempos antigos do Brasil? E os caracteres do painel lítico copiado por José Dantas seriam uma espécie de escrita primitiva dos povos antigos de nossa terra, agrupados a figuras representativas de um tempo que foge ao nosso discernimento?  Não sabemos. Mas, as figuras estão lá, desafiando a nossa argúcia e a nossa capacidade de compreensão.  

 

Os mistérios que envolvem o Brasil poderiam preencher diversos volumes com farta documentação, se decidíssemos perscrutá-los com dedicação. Vamos perceber que estes casos enigmáticos a que nos referimos podem ser achados em toda parte e não precisaríamos procurar muito para encontrá-los.

 

Para dar continuidade ao nosso objetivo, ao afirmar que estes se acham em todo o território brasileiro, vamos abordar agora uma região ainda pouco conhecida no estudo da arqueologia, mas que possui fortes elementos de atenção para pesquisa neste sentido. O local é hoje conhecido como Parque Natural Municipal Templo dos Pilares, na cidade de Alpinópolis, ao norte do estado de Mato Grosso do Sul.

 

O Templo dos Pilares em Alpinópolis, MS.

 

Informam os pesquisadores locais que o Templo dos Pilares é algo especial e localiza-se a cerca de 40 km da cidade, na serra Bom Jardim e que toda a região está repleta de vestígios arqueológicos importantes para o conhecimento do passado do Brasil. De fato, por meio das fotografias que vimos deste local, pode-se dizer que se trata de algo mesmo espetacular. Elas mostram um abrigo de grandes proporções na pedra que é adornado por gigantescos pilares como se fossem colunas portentosas de um templo em ruínas e que trazem em suas paredes inscrições de figuras variadas que estão gravadas por toda a parte.

 

 

Estranho conjunto de inscrições no Templo dos Pilares, Alpinópolis, MS.

 

Segundo os pesquisadores as pinturas deste local possuem diferenças em relação aos estilos que são tradicionalmente encontradas na região. As pinturas cobrem as paredes, o teto e os pilares, com predominância da cor vermelha produzida com pigmentos naturais, além das cores branca, amarela e mais raramente a preta. As pinturas representam figuras geométricas e outras manifestações não compreensíveis (ver ilustração acima), além de gravações por meio do picoteamento. Segundo os estudos feitos na região trata-se da maior concentração rupestre em um mesmo sítio arqueológico no estado do Mato Grosso do Sul.

 

O teto do abrigo é elevado e os gigantescos pilares que o sustentam, oferecem ao abrigo características especiais e pelo fato de terem as suas paredes, o teto e as próprias colunas cobertas de pinturas se destacam no Brasil como algo excepcional e raríssimo, e esta visão leva os nossos pensamentos até o Egito distante, junto ao templo de Amon, em Karnak, com seus portentosos pilares de pedra que também se acham cobertos de hieróglifos. Seria concebível imaginarmos que poderíamos ter no Brasil as ruínas de um templo ainda mais antigo do que aquele milenar monumento do Egito?

 

Inscrições em baixo relevo, tipo picoteamento, no Tempo dos Pilares – Alcinópolis – MS.

 

Diante disto, nossa mente se volta para o passado do Brasil com maior objetividade, e quando vemos seus moradores silvícolas, que foram encontrados pelos descobridores em 1500, não conseguimos reunir elementos suficientes para atribuir a estes povos a autoria de tal ‘arte’ primitiva, intensamente viva em todos os lugares. Já dissemos anteriormente que estas atividades rupestres não faziam parte da vida destes povos silvícolas, sendo que alguns destes sequer se utilizavam de instrumentos cerâmicos de uso corriqueiro em suas atividades mais comuns.

 

Abordamos também os arquétipos da psicologia Junguiana e as questões relacionadas à vida prática desses prováveis autores e suas relações com suas crenças e seus medos diante da natureza. Assim, procuramos compreender um momento específico que viesse delimitar a ação desses homens e que pudesse conduzi-los a imaginar figuras abstratas ou expressões geometrizadas para demonstrar os seus pensamentos, os seus desejos, ou os seus medos perante as coisas que não podiam entender muito bem.

 

É difícil para nós neste momento interpretar uma figura ou demonstrações de ‘arte’ mais sofisticadas que teriam sido feitas em tempos remotos, em momentos específicos ou em condições que não poderíamos imaginar como teriam realmente acontecido. 

 

Esta é a razão por que expomos os nossos trabalhos de pesquisas sem procurar interpretar as figuras desconhecidas que vamos encontrando ou extrapolar ideias sobre o seu conteúdo ou significação, apesar de termos um desejo imenso de saber mais coisas sobre esses tempos remotos e a razão que levou esses homens a agirem desta maneira inusitada, considerando-se para isto os casos de ‘arte’ de elevado nível técnico e visual que se acham espalhados pelo Brasil.

 

* J. A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail jafonseca1@hotmail.com

 

- Fotografias: Tatiana Cafiero e Klander.

 

- Ilustrações: J. A. Fonseca.

 

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Esta matéria foi composta com exclusividade para Via Fanzine©.

 

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