Internet

Tracking cookies

Sorria, você está sendo monitorado

Entenda como as grandes corporações espionam nossas atividades e se enriquecem

a partir de informações interceptadas nos browses de usuários de todo o mundo.

Por Fábio Bettinassi*

de Araxá-MG

Para Via Fanzine

Os tracking cookies invadem o seu computador e levam informações sobre a sua privacidade.

Algumas coisas que acontecem na internet me fazem suspeitar da existência de um  feitiço cibernético rondando os cabos infinitos da rede mundial. Semana passada eu estava fazendo uma pesquisa sobre cultura catalã enquanto uma silenciosa janela do Estadão e outra do Google faziam fundo na minha tela. No decorrer da pesquisa, eu cliquei em diversos links interessantes sobre música, ouvi o violão de Juan Serrano, castanholas de uma bela cantora flamenca e não resisti ao visitar a página dos bares e restaurantes do circuito cultural de Barcelona.

De repente das quietas páginas do Estadão e do Google começaram a surgir como que por mágica, banners oferecendo passagens para Barcelona, ofertas de hotéis e locadoras de veículos, cursos em universidades e até celulares Nokia para falar quase de graça nos horários noturnos. Foram tantos os anúncios que, em poucos segundos, eu poderia planejar uma viagem completa ou quem sabe, até viver o resto da vida por lá. 

Cocei atrás da orelha e pensei que somente um vodu eletrônico muito bem planejado poderia disparar mecanismos de rastreamento de minhas pesquisas e assim, tentar antecipar produtos e serviços que eu poderia comprar, a maioria deles, podendo ser paga ali, na hora, com o cartão de crédito. Para um usuário leigo, a primeira coisa a pensar seria ligar para o Padre Quevedo e contratar um exorcismo virtual, decerto, pago também no cartão.

A realidade é que estamos sendo rastreados a cada segundo, a cada site que visitamos. Qualquer produto que olhamos no Submarino, nas Americanas ou qualquer outra loja virtual, deixa uma “pegada eletrônica”, que cruzada com outras informações geradas por navegação ou cadastros em sites, produz um dossiê completo sobre os nossos gostos de consumo, nossas aspirações, doenças que porventura temos, nossos medos, medicamentos que ingerimos e todo o tipo de coisas que tentamos manter em segredo, aliás, essa palavra junta com sua irmã ‘privacidade’ há muito foram deletadas  no dicionário do mundo cibernético.

Se compramos um sapato, eles ficam sabendo qual o número que calçamos e pelo estilo do calçado, mais os valores dele, cruzado com nosso Cep e a forma de pagamento, podem fazer prognósticos sobre nossa renda mensal, hábitos de vida, se nós somos sedentários ou não, o que vamos comprar nos próximos três meses, se tomamos vitaminas e qual a porcentagem de termos doenças cardíacas nos próximos anos. Assim, é gerada uma série de informações de alto valor comercial para operadores de planos de saúde, laboratórios farmacêuticos, fabricantes de roupas, material esportivo e, principalmente, para bancos e suas operadoras de seguros e cartões de crédito.

O esforço obtido com o rastreamento massivo de usuários no mundo todo acaba por gerar incríveis e detalhados mapas do nosso ‘inconsciente consumista’, revelando características de nosso passado, do presente e  os nossos desejos para o  futuro, tanto por uma ótica  pessoal quanto coletiva.

Para entendermos melhor como isso funciona, vamos dar o exemplo do tal ‘cookie de rastreamento’ ou ‘tracking cookie’. É bem possível que você tenha visto ele centenas de vezes no painel de controle do seu anti-virus, mas não levou em consideração por que estava entretido demais comprando ou vendendo bugigangas no Mercado Livre.

O tracking cookie em termos mágicos, é um aprendiz de feiticeiro designado para viver dentro do seu tão sofrido computador, cuja tarefa é enviar seus dados de navegação para os mestres-magos que são os grandes sistemas de analise e cruzamento de perfis, criados por empresas de marketing eletrônico estratégico. A união de aprendizes e mestres operando em super computadores de processamento simétrico é capaz de realizar a maior mágica de todos os tempos: fazer com que bilhões de pessoas trabalhe 24 horas para poucas corporações, sem receber nenhum centavo por isso.

Um exército de tracking cookies espalhado pelos muitos bilhões de computadores do mundo, podem, sem dúvida, gerar novos milionários da noite par ao dia, enriquecendo corporações que detectam padrões incomuns no comportamento coletivo de vastos grupos de consumidores. Apenas com base em tais comportamentos, são gerados padrões úteis para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de produtos de alta tecnologia, além da criação de novos nichos de mercado, capazes de movimentar bilhões em vendas e alterar significativamente os cenários políticos e econômicos de nações inteiras.

Vejamos o que tem a dizer a Microsoft sobre os tracking cookies.

“Eles são chamados cookies de rastreamento (tracking cookies). Digamos que visita o site da Cirurgia de Cérebro XYZ. Há um banner de propaganda lá e ele está conectado a uma empresa de serviços de publicidade. Ele baixa um cookie. O cookie diz “Esta pessoa visitou o site da Cirurgia de cérebro XYZ.” Em seguida, você entra num site de transplante de coração. O banner de publicidade é associado com a mesma empresa de publicidade. O navegador envia o cookie para o banner de publicidade. O anúncio acrescenta a anotação de que você visitou o site de transplante de coração. Depois de um tempo, o tracking cookie constrói um perfil de seus interesses. A empresa de serviços de publicidade vende esta informação. Por isso você começa a receber propaganda de equipamentos médicos. - Fonte: http://www.microsoft.com/brasil/security…".

Se você não concorda em ser observado feito um macaco de laboratório e permitir que seus hábitos sejam estudados por outras pessoas, sugiro que você utilize regularmente a opção para limpeza de arquivos temporários do Windows e a opção de limpeza de cookies do seu antivírus. Assim, você viverá tranquilo e poderá se esbaldar na internet sem que ninguém saiba o que você quer comer no jantar.

A maioria dos antivírus de boa qualidade oferece a limpeza de cookies automática, gerando um relatório de atividade no final do processo de detecção. Nesse caso, tudo é feito de forma silenciosa e sem alterar o desempenho de seu computador.

Refletindo com mais profundidade sobre o assunto, vemos que criar programas para retirar tracking cookies se tornou uma fonte de ganhos imensa para a industria dos antivírus. Este fato que nos faz pensar em sombrias teorias de conspirações, levantando mais uma vez aquela dúvida crucial: “Tostines está sempre fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque está sempre fresquinho?”. Só Deus sabe... E por falar em Tostines, é um tipo de cookie; entendeu como a coisa funciona?

* Fabio Bettinassi é publicitário e escritor. É especialista em marketing e planejamento estratégico. É co-editor do portal UFOVIA.

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