Mars Rover - Nasa
Missão cumprida: Robô Spirit é sepultado na poeira de Marte Ele revolucionou a exploração interplanetária ao mostrar detalhes íntimos da natureza de Marte.
Pepe Chaves* De Belo Horizonte-MG Para Via Fanzine
Com o Sol ao fundo, robô o Espírito da Nasa repousa inerte na superfície de Marte.
Depois de permanecer oito anos na superfície de Marte, o jipe robô Spirit (Nasa/JPL) se desligou completamente de seus comandos na Terra, informou a Agência Espacial Americana (Nasa).
O anúncio foi feito na quarta-feira (25/05/2011), após a Nasa tentar realizar as últimas e infrutíferas tentativas de restabelecer a comunicação com o veículo sonda.
O robô, que teve sua vida útil incrivelmente ampliada pelos engenheiros, de no máximo seis meses (conforme previa o projeto original) para cerca de sete anos, já não enviava mais sinais ao controle faz quase um ano.
John Calas, chefe do Projeto no Laboratório Jato (JPL) da NASA expressou sua tristeza com o encerramento definitivo das atividades do Spirit em Marte. “Com muita tristeza expressamos o nosso adeus ao Spirit”, disse.
A Nasa concentrará agora os seus esforços na sonda gêmea Opportunity, que se encontra numa região avessa ao Spirit no planeta vermelho e ainda está a enviar sinais à Terra.
Na sua estadia em Marte, o Opportunity obteve informações precisas no estudo da superfície daquele planeta. O robô atuou numa região que possui evidências da presença de importantes minerais, enquanto o Spirit atuou numa região com poucos indícios da existência de água no passado de Marte.
Contudo, o Opportunity já se encontra em estado moribundo, pois sua vida útil está bastante comprometida. Por isso, tem sido até mesmo poupada, após incontáveis jornadas de pesquisas e inúmeros envios de imagens marcianas em alta resolução.
Através das lentes desses robôs, nunca vimos Marte tão de perto, numa resolução tão considerável.
Spirit e Opportuniy: Marte despido
Não resta dúvida que os robôs gêmeos Spirit (Espírito) e Opportunity (Oportunidade), enviados pela Nasa ao planeta vermelho, abriram uma nova era para as pesquisas planetária e histórica de Marte. Os levantamentos e imagens geradas por estas sondas guardavam valores incalculáveis para futuras explorações em Marte, sejam elas tripuladas ou não.
Primeiro foi o Spirit que pipocou com seus air bags inflados sobre a superfície do hemisfério sul de Marte. Lá chegou no dia 03 de janeiro de 2004 e, ao ser desembalado, sofreu uma pane inicial causada pela poeira da superfície nos painéis solares. A principio, o fato tirou a alegria dos cientistas da Nasa, pois o Spirit não enviara nenhum “sinal de vida” à Terra. A equipe chegou a crer que a máquina não funcionaria, mas continuou tentando restabelecê-la, até restabelecer o contato somente alguns dias após a sua chegada, o que foi motivo de muita comemoração.
Três semanas após a chegada do Spirit em Marte, o Opportunity chegava a uma região situada mais ao Norte do planeta. A previsão inicial para ambos, seria o cumprimento de uma missão de sondagem durante seis meses. Mas, graças ao denodado trabalho da equipe, a missão dos robôs acabou se desdobrando e estendendo magistralmente por mais de 10 vezes que o tempo previsto.
Esses "jipes inteligentes" enfrentaram situações climáticas adversas no planeta vermelho, onde, durante o inverno a temperatura chega a -100ºC e no verão atinge o máximo de apenas 20ºC. As fortes tempestades de areia e vento na superfície poderiam arrancar seus painéis ou até mesmo, tombar os pequenos veículos, mas, felizmente, isso não ocorreu, o que possibilitou às suas baterias solares o fornecimento de eletricidade suficiente para o desdobramento da missão.
No entanto, alguns imprevistos surgiram já nos primeiros meses, sem que pudessem exercer influências nefastas nos focos principais da missão. Entre eles, o desgaste precoce de uma das rodas do Spirit, cujo mecanismo de rotação parou de funcionar, fazendo com que uma roda fosse arrastada pelas demais. O incidente pouco comprometeu a performance do robô, que seguiu bravamente o seu roteiro.
Para ter sua vida prolongada, cada robô passou periodicamente por estados de “hibernação”, quando era desligado nas épocas do intenso inverno marciano e permanecia apenas carregando suas baterias com a fraca luz solar capturada por suas placas.
Um OVNI em Marte? Em 2005, o Spirit capturou essa inusitada imagem de um objeto brilhante se movendo no céu de Marte. Segundo os engenheiros da Nasa, pode se tratar de um meteorito.
Marte mais próximo dos nossos olhos
Foi através dos vários “olhos” destes pequenos jipes com funções de robôs que pudemos ver, pela primeira vez, um outro ambiente planetário que não fosse o nosso, a partir de uma perspectiva de um observador na superfície de outro planeta e em resoluções de imagens jamais obtidas antes.
Os gêmeos rover, situados em locais quase opostos, nos mostraram detalhes excêntricos e ímpares da topografia, do relevo, do solo, das rochas, tempestades e tantas outras particularidades das solitárias e distantes paragens marcianas.
Entretanto, se os robôs nos mostraram as distantes e inertes paisagens longínquas daquele planeta, também pudemos ver, através dos potentes microscópios instalados nestas máquinas, detalhes íntimos de alguns minerais e estruturas rochosas encontradas no planeta, além da leitura de suas respectivas análises geológicas.
O Spirit pesquisou uma região montanhosa e repleta de pedregulhos em Columbia Hills e também nos mostrou alguns minerais exóticos de Marte. Mostrou cadeias de montanhas e detalhes próximos, como o solo, pedras e até mesmo formações rochosas na superfície que nos lembram objetos relacionados à Terra. Sua principal descoberta foram os depósitos de sílica na superfície, que sugerem ter existido fontes termais e assim, possivelmente, vida microbiana no passado marciano. Suas lentes capturaram também a inusitada imagem de um objeto brilhante cortando o céu marciano, que poderia ser um astro errante em choque com a tênue atmosfera do planeta [foto acima].
Já o Opportunity, pesquisou profundamente as evidências de água no passado de Marte, com base nos minerais e vestígios constatados. Levantou dados de tamanha relevância, que implicam diretamente nas futuras missões da Nasa em Marte. Além disso, teve a feliz "oportunidade" de registrar um inédito eclipse solar extraterrestre, protagonizado pela lua marciana Fobos, se tornando o primeiro registro do gênero tomado a partir da superfície de um outro astro.
Em quase oito anos de atividades, os Rover da Nasa rodaram uma média de 25 quilômetros na superfície de Marte, sendo controlados por cientistas através da troca de sinais que cortam milhões de quilômetros pelo espaço entre a Terra e Marte. Essa distância considerável acarretava cerca de quatro horas de atraso nos sinais.
As imagens enviadas puderam levar qualquer terrestre a viajar pelas paisagens desérticas de Marte, como se estivesse lá. Através de seu site, a Nasa e o JPL liberaram ao público milhares de fotografias colhidas pelos jipes robôs de diversas posições em Marte. Suas imagens, de tão reais encantaram observadores em todo o mundo e quebraram diversos mitos arcaicos sobre o planeta vermelho.
Columbia Hills, a colina que presta homenagem ao ônibus espacial de mesmo nome, acidentado em 2002. Essa foto panorâmica foi feita pelo Spirit três meses após a sua chegada (em sol 178, 04/07, 2004).
O pioneiro Sojourner
Mas, ao contrário do que muitos pensam, o início da exploração na superfície de Marte não se deu com os gêmeos rover que lá aportaram no início de 2004. Os primeiros trabalhos de prospecção no solo marciano teve começo em 1997, quando a Nasa lançou a missão Pathfinder àquele planeta.
Essa nave levou e deixou na superfície de marte o pequeno veículo robô Sojourner, bem menor que os gêmeos Spirit e Opportunity. O jipinho Sojourner rodou alguns quilômetros e enviou as primeiras imagens a partir da superfície de Marte.
Apesar de as imagens enviadas por esse robô pioneiro não ser de qualidade comparável às geradas pelos rover, os primeiros trabalhos executados pelo Sojourner em Marte foram essenciais para o sucesso do projeto Mars Rover que levaria os gêmeos da Nasa ao planeta vizinho alguns anos depois.
Curiosity e Spirit: jipe da nova geração é bem maior que os gêmeos de Marte
Curiosity, o sucessor
Mais um aventureiro mecânico vai mergulhar brevemente na poeira de Marte. Trata-se do Curiosity (Curiosidade), o sucessor dos robôs marcianos Spirit e Opportunity. Membro da nova geração de jipes robôs da Nasa, ele será lançado no final de 2011 e deverá chegar a Marte em agosto de 2012, onde permanecerá por dois anos pesquisando a possibilidade de vida microbiológica.
Com uma versão mais aprimorada que a dos anteriores, o Curiosity integra uma nova geração de jipes teleguiados que utilizará um complexo sistema de aterragem, com seu módulo auxiliar, permitindo que o veículo seja depositado suavemente no solo marciano.
O local da descida também será previamente determinado pelos engenheiros da Nasa. Com auxílio da câmara HiRISE do satélite MRO (Mars Reconnaissance Orbiter), da Nasa, na orbita Marte, o local escolhido será detalhadamente fotografado e mapeado.
Bem maior que os seus antecessores, o Curiosity mede cerca de três metros de comprimento, não contando o espaço adicional que o braço do robô pode estender à sua frente. Tanto esse veículo robótico quanto outros componentes da nave espacial Mars Science Laboratory (MSL), que vai deixar o Curiosity em Marte, passam por inúmeros testes no JPL, em Pasadena, na Califórnia.
Entre maio e junho de 2011, o Curiosity será enviado ao Centro Espacial Kennedy, na Flórida, onde os preparativos para o seu lançamento devem prosseguir até o período entre 25/11 e 18/12 de 2011.
A aluna Clara Ma, do estado do Kansas, foi a idealizadora do nome "Curiosity" para o novo membro da família rover da Nasa.
Lançamento em 2011
A missão MSL que será administrada pelo JPL em Washington, vai usar o Curiosity para estudar um dos lugares mais interessantes para a pesquisa em Marte - a ser escolhido entre quatro candidatos finalistas para se tornar o local de pouso.
O jipe robô que carregará um complexo sistema de câmeras e diversos outros recursos, irá analisar se a área selecionada oferece condições ambientais favoráveis para a existência de vida microbiana. Além disso, o próprio robô tem capacidade de produzir comprovações sobre a possibilidade da existência de vida extraterrestre.
Por ora, após uma missão cumprida e comprida, o Spirit desfaz seu contato com a Terra para ser sepultado silenciosamente na bruma vermelha e poeirenta de Marte. E, quem sabe, um dia num futuro distante, alguma missão tripulada ao planeta vizinho não o traga de volta às suas origens terrestres?
* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine e da Rede VF. - Com informações de Nasa/JPL e tradução do autor.
- O Jet Propulsion Laboratory (JPL), uma divisão do California Institute of Technology, em Pasadena, Califórnia (EUA), administra a missão Mars Science Laboratory da NASA, através do Science Mission Directorate, em Washington (EUA).
- Imagens: NASA / JPL-Caltech (www.nasa.gov).
- Colaboraram: José Ildefonso P. de Souza e Márcio R. Mendes (SP).
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- Mais CURIOSITY: - Para obter mais informações sobre a versão de zoom Mastcam, consulte: http://www.msss.com/news/index.php?id=22
- Clique aqui para ver fotografias do Curiosity no JPL (Nasa).
- Extra: Para obter mais informações sobre essa missão, consulte:
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- Produção: Pepe Chaves © Copyright 2004-2011, Pepe Arte Viva Ltda.
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