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Astronáutica
Exploração espacial: Japão vê a Lua de perto Japoneses avançam na 'corrida espacial' ao gerarem as primeiras imagens espaciais em alta definição.
Por Pepe Chaves* Com informações de
Imagem da segunda tomada feita pelo Kaguya mostra o lado ocidental do "Oceanus Procellarum", onde podemos observar ao centro, a grande cratera conhecida como "Repsold", cujo diâmetro é de 107 km. O canal que atravessa a cratera é o “Vale da Repsold” (Repsold Valley) que tem cerca de 180 km de extensão.
A Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa (JAXA) numa parceria com a rede de tevê NHK (Japan Broadcasting Corporation) obteve sucesso na geração da primeira imagem espacial de alta definição no mundo. A informação foi veiculada com entusiasmo no site da agência aeroespacial japonesa, no dia 07/11. Diversas paisagens lunares foram registradas pelo módulo orbitador "Kaguya" (também chamado de Selene - Selenological and Engineering Explorer), lançado em setembro e que no dia 18 de outubro de 2007 passou a operar da órbita lunar a uma altitude de aproximadamente 100 quilômetros.
As imagens que registram o solo lunar foram feitas pela câmera de bordo do Kaguya e processadas pelo sistema de alta definição para tevê digital (high definition television - HDTV), gerando assim, as primeiras imagens da Lua em alta definição.
Inicialmente, foram realizadas pelo Kaguya, duas tomadas de imagens no dia 31/10, perfazendo oito minutos que convergiram em apenas um. A primeira tomada mostra a parte norte da região chamada de "Oceanus Procellarum", em direção do pólo Norte. Já a segunda tomada foi feita a partir de sul para o norte, na região ocidental do "Oceanus Procellarum". A imagem em movimento e os demais dados registrados e transmitidos da órbita lunar pelo Kaguya foram recebidos no Japão pela estação Usuda Deep Space Center (central operacional da JAXA) e processados pela NHK.
Após a realização dos testes de telemetria com os equipamentos de navegação, os cientistas japoneses confirmaram que o módulo orbitador Kaguya se encontra em excelentes condições físicas e mecânicas. Doravante, a JAXA deverá realizar uma intensa investigação durante um ano em torno do satélite terrestre. Serão priorizadas pesquisas que possam esclarecer detalhes do passado lunar.
Região do pólo Norte lunar (imagem da primeira tomada). Acima, temos uma imagem estática retirada da primeira tomada em movimento, quando o Kaguya sobrevoou a parte norte do "Oceanus Procellarum" rumo à área central do pólo Norte. A área escura sobre a superfície da Lua chamada de "Oceano", está localizada na extremidade esquerda do hemisfério Norte, na parte frontal da Lua quando vista da Terra. Como a altitude nas proximidades do pólo Norte é elevada, podemos reparar que o ângulo de incidência da luz solar sobre a imagem foi pequeno, no entanto, suficiente para mostrar precisos detalhes topográficos das crateras ao longo da filmagem. A imagem em movimento que gerou esta fotografia foi obtida às 4h07, do dia 31 de outubro de 2007 e os dados foram recebidos no mesmo dia pela Usuda Deep Space Center.
O lado ocidental do "Oceanus Procellarum" (imagem da segunda tomada). Acima, temos mais uma imagem estática retirada da primeira tomada em movimento, quando o Kaguya sobrevoou de sul para norte a região ocidental do "Oceanus Procellarum". A parte escura à direita mostra detalhe do Oceanus Procellarum e a área iluminada à esquerda é a chamada "terras altas" (highland). A imagem em movimento que gerou esta fotografia foi obtida às 5h51 do dia 31 de outubro de 2007 e os dados foram recebidos no mesmo dia pela Usuda Deep Space Center.
* Pepe Chaves é editor do jornal Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br). - Imagens: JAXA/NHK (www.jaxa.jp). - Tradução: Pepe Chaves. - Veja as duas filmagens em movimento no site da JAXA: http://www.jaxa.jp/press/2007/11/20071107_kaguya_movie_e.html
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Viagens espaciais: De volta à Lua e rumo ao além A saga do projeto Apollo e as ambições do seu substituto: o Constellation, que deverá marcar o retorno do homem à Lua. Por Márcio R.Mendes* De Dois Córregos/SP Para Via Fanzine
O "LUT", a velha torre de lançamento do Saturno V, em ruínas, sendo considerado um descaso do governo norte-americano para com um patrimônio histórico da humanidade.
Deixando a Terra
O ponto de partida do homem para a Lua, outrora denominado Complexo 39-A, no antigo Cabo Kennedy, está em ruínas. Prematuramente, já produzimos as primeiras ruínas da Era Espacial. Tendo cumprido sua tarefa de dar suporte, apoio logístico e direcionar os primeiros movimentos ascendentes do gigantesco foguete Saturno V, a torre vermelha (L.U.T. – Launch Umbilical Tower) começou a ser desmantelada há tempos.
Numa tentativa de preservar o que certamente é patrimônio da humanidade, sites como o www.savethelut.org mostram um pouco do que foi esta grande estrutura e se propõe a criar fundos para reconstruí-la como o monumento a partir do qual, começamos a deixar nosso berço planetário.
Em outubro de 2000, em visita ao Complexo de visitantes da NASA, pude caminhar por um dos braços do L.U.T., agora colocado no chão, dando acesso a uma maquete em tamanho real do Módulo de Comando da Apollo, no Rocket Garden. Um tanto desgastada, com a pintura vermelha empalidecida, foi uma sensação estranha, mas não destituída de emoção, caminhar por ali, onde, nos anos 60 e 70, muitos astronautas passaram, a caminho de suas acomodações, para serem lançados ao espaço exterior.
Embora sejam acontecimentos recentes, historicamente falando, um rápido retrospecto se faz necessário para se compreender o que deverá vir nos próximos anos.
O início da “corrida espacial” aconteceu em plena Guerra Fria, entre as duas maiores superpotências da época, onde os russos partiram na frente dos norte-americanos. Primeiro, o Sputnik russo cruzou os céus das Américas antes de qualquer outro artefato similar e, anos mais tarde, para espanto da maioria dos cidadãos e verdadeiro “desespero” de militares e estrategistas norte-americanos, as Vostoks cruzavam os céus, a 200 quilômetros de altura, em média, levando os primeiros cosmonautas (como são chamados os astronautas na Rússia).
O imenso desconforto era produzido pelo fato de que a Força Aérea era totalmente inoperante quanto ao fato de poderem espionar a partir do espaço, toda estrutura militar, bem como deslocamento de embarcações, produção, movimento de tropas e a determinação da posição exata de alvos potenciais. Mais ainda, estas naves poderiam levar armamento nuclear, sendo capazes de pulverizar qualquer setor em terreno estrangeiro. De fato, no final dos anos 60, um sistema de bombardeio orbital, conhecido como FOBS, foi projetado e testado em naves não tripuladas.
Reuniões na Casa Branca e discursos inflamados, como o do vice-presidente Lyndon Johnson, tiveram efeitos imediatos na liberação de grandes verbas pelo Congresso norte-americano: “Na antiguidade, o Império Romano dominou o mundo porque era capaz de construir estradas. Mais tarde, quando as rotas comerciais se deslocaram para o mar, o Império Britânico dominou, porque possuía navios. Na era da aviação, éramos poderosos porque possuíamos os melhores aviões. Agora, os comunistas estabeleceram uma cabeça-de-ponte no espaço sideral. E aquele que dominar o espaço dominará o mundo...”.
O "Ares I" (ou Stick, como foi apelidado) que vai transportar a Orion com quatro astronautas, rumo ao encontro com a carga do "Ares V", lançado previamente.
Bem mais popular, as palavras de J. F. Kennedy que, com apoio irrestrito da maioria do Congresso, fizeram história: “Agora, é hora desta nação assumir um papel de nítida liderança na conquista espacial, que, sob muitos aspectos, pode conter a chave para nosso futuro aqui na Terra. Creio que esta nação deve se comprometer, antes do fim da década, a colocar um Homem na Lua e trazê-lo de volta à Terra em segurança.”
Alcançar a Lua tinha então, por objetivo, o reconhecimento da nação como superpotência, o resgate da honra ferida, além, claro, de firmar o feito como uma “capacidade militar” se fosse necessário. Para todos os efeitos, a empreitada estaria sendo levada adiante pelo recém-criado órgão civil, a National Administration of the Space and Aeronautics (NASA), cujos diversos ramos e subsidiárias estão espalhadas por todo território. A base de lançamento foi então construída em Cabo Canaveral, (Flórida), posteriormente batizado de Cabo Kennedy. Naquela localidade, graças à privilegiada latitude os foguetes ganham o impulso adicional proporcionado pela rotação da Terra.
Com a franca evolução dos programas Mercury e Gemini, os norte-americanos começaram a buscar respostas para as questões mais básicas: pode-se viver no espaço sideral? Por quanto tempo? Pode-se manobrar e evoluir as naves para acoplamentos e desacoplamentos? A Mecânica Celeste, prevista em tantas teorias, a partir de Galileu, Newton e Kepler, realmente funciona no espaço? Como se sobrevive às radiações solares sem a proteção da atmosfera? E como lidar com a “radiação cósmica”? Que materiais utilizar para tantos fins? O que se pode esperar? Como lidar com um ambiente hostil, onde as variações de temperatura são drásticas e violentas? Até mesmo a hilária questão de como ir ao banheiro num ambiente de gravidade rarefeita? A propósito, o jornalista, escritor e especialista em História da Astronáutica, Jorge Luiz Calife transformou em agradabilíssimo livro, a estória dessas questões, escolhendo como título de sua obra “Como os astronautas vão ao banheiro?” (Editora Record, 2003 ).
A aquisição de conhecimento e a construção de tecnologias específicas foram feitas por norte-americanos e russos, mas não sem sacrifícios. Vidas humanas se perderam. Ainda nos primeiros anos dos vôos tripulados, a galeria dos heróis espaciais foi inaugurada pelo russo, Vladmir Komarov que, em seu retorno, espatifou-se no solo, quando o pára-quedas de sua nave não se abriu. Do outro lado, se deu o incêndio na cabine da Apollo 1, durante treinamento dos astronautas, matando os veteranos Virgil Grisson (2º astronauta norte-americano) e Edward White (1º norte-americano a realizar atividade extra-veicular), além do novato Roger Chaffee. Outras perdas ocorreriam de ambos os lados. O Memorial dos Astronautas foi outro local em que pude visitar em 2000: uma gigantesca lápide preta, com os nomes ali inscritos; uma obra marcante para quem conhece um pouco da História da Astronáutica.
A nova versão da Apollo, a Orion, cuja semelhança termina na aparência.
Os Russos e a Lua
Em paralelo, os russos reagiram. As Vostoks não funcionaram para a uma viagem à Lua. Provavelmente motivados pelas mesmas razões que seus concorrentes norte-americanos, depositaram a incumbência de projetar novas naves e foguetes à equipe liderada por Sergei Koroliev ao passo que pelos norte-americanos, o cientista alemão Wherner Von Braun e equipe, idealizava o gigantesco foguete Saturno V, precedido pela versão menor, o Saturno 1-B, que seria usado para testes orbitais.
O Saturno V, com mais de 110 metros, equivalente a um prédio de 35 andares, era uma estrutura impressionante. A quantidade de sistemas, sub-sistemas, computadores, motores, servo-motores e demais equipamentos era tão grande que fazê-lo funcionar com 100% de eficiência era quase uma impossibilidade. Seu lançamento era efetuado, mesmo com pequena margem de equipamentos deixados de funcionar (!), desde que não fossem vitais ao vôo. Para os padrões atuais de segurança era, certamente, um equipamento proibitivo, assim como, provavelmente, os atuais Shuttles [ônibus espaciais] o serão em um futuro próximo.
Do lado dos russos, chegou-se ao igualmente gigantesco N-1, com o detalhe de que a cápsula que abrigaria os astronautas era uma Soyuz modificada e designada por LOK (Cabine Orbital Lunar). Apesar do impressionante tamanho, o N-1 não funcionou. A diferença estava no uso de tecnologia dos combustíveis: enquanto o foguete russo usava querosene, hidrazina e oxigênio líquido, o Saturno V utilizava combustíveis criogênicos. A diferença é que, no caso dos russos, há necessidade de um número muito grande de motores (30 motores) para conseguir o mesmo empuxo obtido pelos 5 motores do primeiro estágio do Saturno V. Os russos não tinham a tecnologia dos combustíveis criogênicos dos norte-americanos. Estes últimos dependiam então, de uma parafernália muito maior na base de lançamento, para manter os combustíveis líquidos sob baixas temperaturas, o que pode ser vistos na diferença de complexidade nas bases de lançamentos dos norte-americanos (L.U.T.) e na relativa simplicidade dos russos.
O N-1 explodiu em todos os seus testes e mesmo que houvesse tido sucesso, o plano de vôo para a Lua, dos russos, era terrivelmente complicado. Tal plano envolvia o envio de sondas Lunik que desembarcariam os robôs móveis Lunokhod nas proximidades das áreas de pouso. De fato, lembro-me em minha infância, de colecionar inúmeros artigos de jornal (manchetes de primeira página) durante dois ou três dias, anunciando a presença dos russos na Lua, através do Lunokhod.
Além disso, uma nave semelhante a que desembarcaria o cosmonauta seria pousada por controle remoto na área escolhida. O plano previa o desembarque solitário de um único cosmonauta que seria guiado pelas sondas previamente pousadas na Lua. Depois de terminado a exploração, o cosmonauta deveria pegar uma “carona” com o robô móvel Lunokhod, que o transportaria até outro módulo de retorno, também previamente pousado na Lua por controle remoto - caso o módulo de descida utilizado estivesse avariado. Visto assim, parece até simples, mas na verdade o plano todo era tão cheio de riscos que um dos colaboradores de Sergei Koroliev admitiu: “Camarada, se isso tudo funcionar, você pode começar a acreditar em milagres”.
Obviamente que o programa russo não se resumia a isto, pois as colocações acima não fazem jus ao esforço daquela nação. Por outro lado, representa ironicamente um projeto complexo, de alto risco e cujo resultado ficou guardado, sem a menor propaganda, devido ao fracasso total, até os tempos da Perestroika de Mikhail Gorbachev, a partir da qual, tais projetos se tornaram públicos.
Com a próxima "aposentadoria" dos atuais shuttles e, enquanto as novas missões lunares não estiverem em andamento, a Orion será utilizada em missões de ligação com a ISS.
Projeto Apollo
Em contrapartida, o programa Apollo, foi desenvolvido de forma mais aberta. Após o trágico acidente com a Apollo 1, as subseqüentes Apollos 2, 3, 4, 5 e 6, voaram sem tripulação, testando uma infinidade de detalhes e a performance do veículo lançador. O primeiro vôo orbital tripulado desta série, a Apollo 7, ocorreu com êxito total, finalizado em 22 de outubro de 1968, depois da tranqüila amerissagem no Oceano Pacífico.
Na seqüência, viria a Apollo 8, um dos maiores triunfos da Astronáutica que, em 21 de dezembro de 1968, levava a bordo os astronautas Frank Borman, James Lowell e Willian Anders em direção à Lua. Até então, todos os lançamentos, quer norte-americanos, quer russos, limitaram-se a orbitar a Terra em infindáveis testes que prepararam este momento. Pela primeira vez na História, seres humanos romperiam os laços gravitacionais do planeta natal e sentiriam força semelhante oriunda de outro corpo celeste.
Após o lançamento no Complexo 39, em Cabo Kennedy, o gigantesco Saturno V inclinou-se para Leste, ganhando com isso, algum impulso do movimento de rotação da Terra. Em órbita de parqueamento, em torno de nosso planeta, todos os sistemas foram checados e a injeção trans-lunar ocorreu com a queima de combustível do 3º estágio do Saturno V, que forneceu a velocidade necessária para deixar as imediações da Terra, rumo a uma direção que, aparentemente, apontava para uma região que os levaria para longe da Lua. A duração estimada da viagem até a Lua era de dois dias e meio, tempo necessário para que nosso satélite natural se deslocasse em sua órbita, ficando bem a frente da Apollo 8.
Há quem diga que o ano de 1968 foi o ano que ainda não terminou. Um ano conturbado, de instabilidades, de incertezas, de rebeldia e de amadurecimento; um ano que viverá eternamente na lembrança de muitos, o qual a Apollo 8 ajudou a marcar. Naquele ano, pela primeira vez na História, a festividade do Natal foi comemorada pelos homens do mundo todo e por três de seus representantes em órbita lunar. Ansiedade e perplexidade se confundiram, produzindo um sentimento de comoção quando o homem pode ver nosso planeta erguendo-se a partir do horizonte de um outro mundo... As pioneiras imagens que chegavam do globo terráqueo visto à distância eram de tirar o fôlego, mesclando beleza e desolação num fundo de céu negro, sem estrelas, mas com o Sol em esplendor que “estranhamente” não tirava a cor negra dos céus. Em alternância, a comunicação com os astronautas era regularmente interrompida, quando o sinal era perdido por alguns minutos, fazendo com que aqueles astronautas se tornassem, naqueles momentos, as criaturas mais isoladas de seus semelhantes quando passavam por detrás da Lua, em relação à Terra.
Os astronautas realizaram suas tarefas a contento e abriram caminho para a primeira alunissagem, que só ocorreu com a Apollo 11, não sem antes ter o Módulo Lunar testado na órbita da Terra pela Apollo 9 e na órbita da Lua pela Apollo 10 – esta última se aproximou até a distância de 10 quilômetros da superfície lunar em uma passagem meteórica em seu perigeu.
O retorno da Apollo 8, seria outro triunfo da Astronáutica e um risco calculado. O único motor do módulo de comando da Apollo (sem ter acoplado nele um Módulo Lunar, como o que salvou os astronautas da Apollo 13), deveria ser disparado em um ponto preciso, ainda da órbita lunar, que os levasse em dois dias e meio, de volta à Terra. A Lei da Inércia de Newton, permitiu que a Apollo 8 mantivesse a nave em torno da Lua, com os motores desligados. Neste ponto, se, por qualquer problema, o único motor não acendesse, a tripulação estaria irremediavelmente presa à órbita lunar.
Outro ponto crítico seria também a viagem de volta à Terra, pois, tendo em vista a velocidade da nave, esta deveria adentrar à atmosfera em um estreito leque, passível de “ângulos de reentrada”. Alcançando ângulos inferiores, a nave poderia se resvalar nas altas camadas da atmosfera, como uma pedra salpicando a superfície aquática de um lago, podendo ser atirada de volta para o espaço. Para ângulos maiores que o permitido, o risco de danos no escudo térmico protetor da nave, era bastante grande. É notório que todas as naves do projeto Apollo que regressaram da Lua, acertaram precisamente esse ângulo, usando uma tecnologia computacional que atualmente está presente hoje em calculadoras de bolso.
As primeiras incursões à Lua, duravam pouco mais de uma semana e, gradativamente, a permanência em solo lunar foi aumentando de horas para até quase três dias, com a última missão Apollo. Naquela época, a higiene dos astronautas ainda dependia do uso de toalhas úmidas. Os astronautas usavam fraldas plásticas e os excrementos eram guardados em sacos plásticos, com germicidas, para posterior análise laboratorial.
A Orion e novo veículo de pouso lunar, acoplados, seguirão para o nosso satélite natural.
O encerramento do Apollo
A missão Apollo 17 encerrou o programa que previa chegar até a Apollo 20. Tendo cumprido a promessa de colocar um homem na Lua antes do final da década de 1960 e não havendo mais a “ameaça” dos russos, que desistiram deste esforço, o programa Apollo se encerrava prematuramente, mas, sobretudo, pelo alto custo de cada viagem. Alguém, na época, comparou o custo de cada viagem à Lua: “É o mesmo que construir um transatlântico só para três passageiros e no final de cada viagem, todo o navio fosse descartado, para construir um novo para os próximos três passageiros”. Nem a forte economia norte-americana poderia arcar com tal gasto, cujos objetivos foram superados.
Naquela altura, os russos preferiram investir na prolongada permanência do ser humano no espaço, construindo as estações Salyut e posteriormente a gloriosa MIR. Os norte-americanos, por sua vez, investiram em um projeto similar, mas bem menos ambicioso, o Skylab, espécie de laboratório espacial em órbita da Terra, que teve apenas três tripulações e acabou quedando de sua órbita na década de 1980, devido ao considerável aumento da atividade solar que “inchou” a atmosfera terrestre e a fez roçar o Skylab.
A urgência de naves mais modernas e mais baratas produziu os atuais “shuttles”, popularmente conhecidos como “ônibus espaciais”. Com a mesma linha de pensamento, os russos produziram o Buran, um shuttle bastante semelhante ao dos norte-americanos, que teria a finalidade de recuperar satélites em órbita. Esta nave russa fez um único vôo de testes, com duração de aproximadamente 3,5 horas. Soubemos mais tarde que o vôo aconteceu sob pressão da cúpula das autoridades soviéticas, como uma possível resposta aos shuttles norte-americanos. O projeto foi totalmente abandonado, sob o peso de seu enorme custo para a economia soviética e também pela forte argumentação dos críticos, de que o projeto não se justificava, pois, o custo dos satélites a serem “recuperados”, era astronomicamente inferior aos do Buran.
Mais uma vez, os norte-americanos apostaram em seus projetistas e construíram uma frota de shuttles, sob a proposta de conseguirem realizar dois vôos mensais, tendo a possibilidade de um acidente a cada 350 vôos e tendo o custo de cada vôo a média de US$ 450 milhões. Tal estatística foi convincente ao Congresso norte-americano, o que seria necessário para angariar os fundos necessários, porém, se mostrou bastante incorreta na prática. O máximo que a NASA conseguiu foi um vôo a cada dois meses, perdendo quase metade de sua frota (dois dos cinco exemplares produzidos) em 113 vôos. Devemos somar a isso o fato de que desses veículos tiveram seu orçamento acentuadamente extrapolado.
Diluindo esses fatos ao longo de anos, o resultado foi o cancelamento de muitos projetos, como por exemplo, a estação espacial norte-americana Freedon. Este projeto previa a acomodação de módulos interligados em uma estrutura de 108 metros, com acomodações permanentes para oito tripulantes que desenvolveriam pesquisas na área de Climatologia, Astronomia, Medicina, Biologia e Engenharia Industrial - tudo alimentado por grandes painéis solares. O projeto contava ainda com um hangar para recolhimento e consertos de satélites; braços mecânicos e um Veículo de Manobra Orbital. Sendo uma empreitada vultuosa para uma única nação, o projeto foi paulatinamente perdendo seus módulos até que, no governo de Bill Clinton foi cancelado. Paralelamente, foi surgindo a idéia da Estação Espacial Alpha, em cooperação com algumas nações e, posteriormente, tendo o nome modificado para Estação Espacial Internacional (ISS, do inglês), que ainda se encontra em atividade na órbita terrestre.
Homem no espaço
Todo este histórico nos mostra que a incursão e permanência de seres humanos no espaço devem surgir de um esforço coletivo, promovido em pareceria por várias nações e não somente por uma única, por mais privilegiada que seja. Prova disso é que, em ambos os lados, norte-americano e russo, é frequente a participação de ingleses, franceses, alemães, japoneses e chineses, sobretudo, nos vôos de rotina, onde esses estrangeiros se ornam integrantes do corpo regular de astronautas. Muito mais que isso, a participação na ISS de equipamentos e módulos produzidos por distintas nações é significativa, notadamente, os de procedência italiana.
Atualmente, estamos a 36 anos sem colocar os pés na Lua, muito embora, ao longo desse tempo alguns satélites orbitais muito mais sofisticados que os antigos Surveyors norte-americanos e Lunokhod russos, circularam a Lua; como o Clementine, que evidenciou a possibilidade de água congelada no fundo de crateras nos pólos lunares; o europeu SMART e os atuais módulos orbitadores do Japão e da China com alta tecnologia para envio de fotos e filmes em alta resolução.
Há algum tempo, o retorno à Lua, vem sendo anunciado por norte-americanos. De forma distinta do que ocorreu na década de 1960, a nova abordagem lunar seria muito diferente, bem como os seus propósitos. Na primeira abordagem, havia pressa, havia necessidade de pioneirismo, havia a “corrida” pela supremacia na área aeroespacial. A nova proposta, para meados de 2020, envolve uma permanência mais prolongada na Lua, que seria uma espécie de “trampolim” para uma incursão tripulada à Marte – que se encontra cerca de 10 vezes mais distante que a Lua.
Costellationpatch - o emblema da nova missão norte-americana para vôos tripulados à Lua.
Constellation
Numa primeira abordagem, talvez seja interessante acostumarmo-nos com novos nomes, a começar pelo novo programa espacial lunar da NASA: Constellation. O nome pareceu-me bastante apropriado, pois envolve o reaproveitamento de diversas partes do Programa Apollo, que está sendo modernizado. Embora esteticamente o novo projeto lembre muito o Apollo, as semelhanças morrem na aparência e a quantidade de itens produz a “constelação” de segmentos planejados para novas incursões à Lua.
Em 2010 os ônibus espaciais terão sua merecida aposentadoria e se não houver um substituto, o reabastecimento da ISS estará comprometido no que depender dos norte-americanos. Os novos integrantes do projeto Constellation terão um objetivo imediato que mesclará testes do novo equipamento com o uso do mesmo para reabastecimento da ISS.
Conforme já divulgado, as futuras incursões à Lua, ocorrerão da seguinte forma: ao contrário do programa Apollo, onde todos os Módulos de Comando e Lunar estavam instalados em um único veículo lançador (o foguete Saturno V), agora serão utilizados dois veículos lançadores (Ares I e Ares V). O Ares V é tão gigantesco como o Saturno V, também usará combustível líquido (oxigênio/hidrogênio) queimados por cinco motores RS-68, porém, auxiliados por dois motores de combustível sólido, da mesma forma que nos lançamentos dos atuais shuttles. Na verdade, o Ares V seria um cargueiro. Servirá para lançar à órbita terrestre, parte da composição para incursão lunar. Estará levando então o aperfeiçoado Módulo Lunar e o “estágio de partida da Terra” (antiga função do 3º estágio do Saturno V). Pouco mais tarde ou no dia seguinte, partiria o Ares I, levando quatro astronautas (um a mais do que nos tempos da Apollo) que estariam tripulando o atual Módulo de Comando, agora batizado Orion.
A Orion teria a mesma aparência e funções dos antigos Módulos de Serviço e de Comando da Apollo, abrigando a tripulação, os sistemas de manutenção de vida e o precioso motor de propulsão para retorno à Terra. No entanto, há uma significativa diferença entre a antiga Apollo e a futura Orion. A diferença mais notável está no fato de que as antigas naves do projeto Apollo foram projetadas para missões de poucos dias, levando células de hidrogênio combustível para geração de energia. Na Orion, dois grandes painéis de forma circular se abririam, produzindo energia a partir da luz solar, com capacidade de produzir energia elétrica por até seis meses. Um astronauta da antiga Apollo teria muita dificuldade em reconhecer os controles da Orion, onde existe pouquíssimas chaves mecânicas, diversos equipamentos elétricos para conservação de energia e controles computadorizados totalmente fly by wire.
A Orion estaria montada no veículo lançador Ares I, cujo estágio inicial se serviria de um sistema de propulsão de combustível sólido e, seria o segundo estágio impulsionado por um motor J-2X. Segue a seção do adaptador do foguete à nave (Orion), coroado pelo “sistema de abortagem”. Este sistema (cuja sigla é LAS, do inglês) é capaz de lançar a Orion a uma altitude de 1,2 quilômetros, separando-a do corpo do Ares I. Todo este conjunto de lançamentos, devido à sua esguia aparência, já ganhou um apelido: Stick (palito).
O Stick subiria durante dois minutos e meio, quando se desliga o 1º estágio de combustível sólido que retorna à Terra através de pára-quedas e poderá ser reutilizado. Já quase no limite da atmosfera, entraria em funcionamento o 2º estágio onde entra em ação o motor J-2X, proporcionando a adequada velocidade orbital quando se soltam os protetores aerodinâmicos que perdem sua função. Uma vez livre do 2º estágio, o módulo de serviço da Orion usaria seu motor para orientar a nave em seu encontro com o estágio de partida da Terra e o novo Módulo Lunar, já previamente posto em órbita pelo cargueiro Ares.
A tripulação efetuaria ou monitoraria o “acoplamento suave” entre as duas naves, onde componentes eletromecânicos e indicadores de forças de reação atuariam conectando automaticamente os anéis de união entre as naves. Assim, o conjunto estaria pronto para sua viagem até a Lua.
Diferindo das antigas missões Apollo, toda a tripulação formada por quatro astronautas estaria ocupando o Módulo Lunar, que permaneceria em órbita lunar de espera, destarte, a Orion ficaria vazia. Após a estada na Lua, os astronautas se acomodariam no estágio superior do Módulo Lunar e retornariam para a Orion.
Também diferindo das antigas naves Apollo, que terminavam suas jornadas sendo atiradas de pára-quedas no oceano, o Módulo de Comando também desceria de pára-quedas, porém, tocaria o solo em algum ponto no oeste dos EUA, sendo amortecidos por enormes airbags (ainda em testes). Caso os airbags se mostrem ineficientes, a alternativa seria recorrer a retrofoguetes. Ambos os sistemas estão em fase de testes. O material ablador, de proteção térmica, capaz de neutralizar o aquecimento por atrito durante a reentrada, conhecido por “pica”, é composto por carbono combinado com fenóis.
Esta opção de pouso em terra firme visa reduzir o alto custo do deslocamento de embarcações de resgate, bem como evitar a exposição do Módulo de Comando (que será reutilizável, ao contrário das missões Apollo) à salinidade marinha. Espera-se que este novo Módulo de Comando possa ser reutilizado em mais 10 vôos à Lua.
A partir de então, poderemos manter uma presença mais assídua em nosso satélite artificial; teríamos um novo mundo para explorar, novas fontes de matéria prima (mineralógica) e, certamente, sob diversos aspectos, a Lua realmente nos serviria como “trampolim” para outros mundos, além de ser um excelente posto de observações astronômicas e do nosso próprio planeta em uma escala nunca antes tentada. Um grande leque de possibilidades se abre e para uma explanação mais apurada, um novo artigo sobre o assunto se faz necessário.
* Márcio Mendes é físico, professor em Dois Córregos/SP, astrônomo amador membro da REA (Rede Astronômica Observacional) e consultor de Astronomia para Via Fanzine e UFOVIA.
- Imagens: NASA/JPL.
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- Produção & ilustração: Pepe Chaves. © Copyright 2004-2008, Pepe Arte Viva Ltda.
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EUA: Endeavour volta de carona à Flórida* A nave da Nasa foi levada de uma costa a outra por um Boeing 747.
A nave "Endeavour", transportada por um avião Boeing 747, fez hoje sua viagem da Califórnia para o Centro Espacial Kennedy, no sul da Flórida, informou a agência espacial americana (Nasa).
A "Endeavour" teve que aterrissar em 30 de novembro na Califórnia, ao término de uma missão de 16 dias na Estação Espacial Internacional (ISS), devido às condições meteorológicas adversas em sua base de operações no sul da Flórida.
A agência espacial americana mostrou, em seu canal de televisão, a decolagem do avião, com a pequena nave em seu cargueiro, da Base Edwards da Força Aérea, no deserto de Mojave, na Califórnia, às 12h07 (Brasília), com destino ao Texas, onde fará escala.
Devido às condições meteorológicas que imperam agora no sul da Flórida, não é certa sua aterrissagem nesse estado amanhã e é provável que faça escala em algum ponto de sua rota.
* Informações e foto: EFE.
- Clique aqui para ver filme da decolagem do Boeing com o Endeavour.
- Clique aqui para ver galeria de fotos do Boeing com o Endeavour.
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Banido do espaço: O Brasil fora da estação espacial A verdadeira novela que remonta o envolvimento brasileiro com o consórcio da Estação Espacial Internacional (ISS).
Por Pepe Chaves* De Itaúna-MG Para Via Fanzine
Astronautas no interior da Estação Espacial Internacional (ISS).
UMA DÉCADA - Passados dez anos de teórica adesão ao projeto, o Brasil deixa de integrar o consórcio de países responsáveis pelas atividades e manutenção da Estação Espacial Internacional (ISS – International Space Station).
A saída do Brasil desse grupo de países (agora 15) comprometidos em construir e manter a estação orbital não se deu de forma honrosa, pois, a nação sul-americana foi banida porque não conseguiu cumprir o compromisso assumido por seu governo de fornecer peças essenciais à construção da mesma.
Quando foi firmado o acordo de adesão à ISS, em 1997, o mesmo previa investimentos da ordem de US$ 120 milhões por parte do País. Os termos foram acertados entre a Nasa (Agência Espacial Norte-americana) e o governo federal de Fernando Henrique Cardoso, através da Agência Espacial Brasileira (AEB) e previa a estadia um brasileiro na ISS. Isso ocorreu somente cerca de nove anos depois, em 2006, quando alçou vôo o ex-militar Marcos Pontes, a bordo da espaçonave russa Soyuz, depois de o Brasil pagar a bagatela de US$ 10 milhões pela viagem.
“Em 1997, usando a AEB e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, (INPE), nos enfiaram goela abaixo a ‘compra’ de uma cota do consorcio ISS - Estação Espacial Internacional. E para dourar a pílula ainda nos obrigaram a pagar pelo treinamento de um piloto militar, escolhido a dedo entre aqueles simpáticos a Washington, para transformá-lo em um ‘astronauta’”, afirmou a Via Fanzine o pesquisador e administrador de empresas Ronaldo Schlichting, residente em Curitiba/PR e crítico severo aos últimos "desígnios espaciais" brasileiros.
Porém, com a saída de Fernando Henrique do governo, o empossado presidente Luís Inácio Lula da Silva continuou honrando o compromisso governamental do ex-presidente ao manter, sem alterações, Pontes em seus treinamentos preparatórios à viagem espacial; treinamentos estes realizados na base da Nasa em Houston, nos EUA e financiados pela União. Entretanto, por outro lado, Lula desonrou o compromisso, já que, assim como seu antecessor, não teve iniciativa para ordenar a fabricação de “um parafuso” sequer, no sentido de cumprir o acordo de fornecimento das peças específicas à estação. Ficou patente que o País não detia a mínima condição técnica de fabricar equipamentos para tão apurada tecnologia espacial empregada no projeto. No entanto, conforme denunciado e constatado, valores altamente expressivos também foram gastos pela AEB em projetos e estudos para a confecção das tais peças que seriam fornecidas a ISS e que jamais saíram do papel.
Estação Espacial Internacional - ISS.
VIAGEM ESPACIAL - Desde que firmou o acordo já faz cerca de dez anos, o Brasil gastou, somente em torno de uma única viagem espacial, valores em torno de US$ 20 milhões, entre treinamentos com o astronauta Marcos Pontes, então selecionado para representar o país no espaço e custo final da viagem. Estas cifras podem dobrar, se também forem considerados outros valores despendidos pela AEB, inclusive, como afirmam alguns críticos, através de pagamento dos projetos e cálculos "inúteis" em torno das prometidas peças, qual teria se dado na tentativa de honrar a participação brasileira no projeto espacial internacional.
Em artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, afirma sobre a viagem de Pontes que, “O vôo de Marcos César Pontes (444º vôo de um astronauta ao espaço) foi, na realidade, uma grande jogada política do governo brasileiro. Ela não contribuiu em nada para reafirmar nosso programa espacial. Na realidade, Pontes poderia ir ao espaço em 2009, de graça - ou seja, sem o pagamento dos 10 milhões de dólares -, se o Brasil tivesse cumprido o acordo de construir as tais peças”.
Assim como outros críticos dessa situação, Mourão defende que a viagem espacial jamais deveria ser prioridade para uma nação que deseja investir digna e racionalmente em seu singelo programa espacial. Para ele, o mais viável ao Brasil seria investir na fabricação e ativação dos Veículos Lançadores de Satélites (VLS), um campo essencial e de quebra, altamente promissor ao País. Acredita o astrônomo que a autonomia nacional no sentido de lançar seus próprios satélites seria a atitude mais importante a se manter por momento no campo espacial. Aliás, quesito este, em que China e Índia, países economicamente nivelados ao Brasil, já se encontram auto-suficientes.
Sobre as prioridades espaciais da nação, afirmou Mourão, “O mais importante seria destinar recursos para tornar uma realidade o programa espacial brasileiro. Há mais de dez anos, o veículo lançador - o VLS, Veículo Lançador de Satélites - está sofrendo uma ‘sabotagem governamental’”. Devemos entender por "sabotagem governamental", sobretudo, a displicência dos chefes de Estado brasileiros para com a realidade e verdadeiras necessidades acerca das questões aeroespacial e científica de nossa nação.
GRAVES DENÚNCIAS - Outra voz que vem bradando, faz alguns anos, acerca da desacertada questão espacial brasileira é a do citado Ronaldo Schilichting. Corajosamente, ele vem denunciando à opinião pública, inclusive, alertando até o Senado Nacional, para o que pode ser considerado como "verdadeiros desmandos" no campo da tecnologia aeroespacial no Brasil e até mesmo, dentro da própria AEB.
Schlichting acredita que o incidente ocorrido na Base de Alcântara extinguindo a tentativa de concepção do VLS brasileiro, que vitimou 21 pessoas (funcionários da AEB) não fora um mero acidente, mas sim, um ato premeditado daqueles que desejam que o Brasil continue em “mãos estrangeiras” para lançar seus próprios satélites.
Sobre este episódio, em artigo exclusivo publicado pelo jornal digital Via Fanzine, afirmou Schlichting, “Desde os seus primórdios na década de 60 a MECB, (Missão Espacial Completa Brasileira), um programa de Estado, tornou-se um cravo na bota que ‘Tio Sam’ usa para pisar na América Latina. O Centro Técnico Aeroespacial - CTA - da Força Aérea Brasileira (FAB) responsável pelo desenvolvimento de nossos foguetes lançadores de sondas e satélites começou a sentir todo o seu peso assim que passou a alcançar grandes êxitos no desenvolvimento dos vetores da série Sonda, testados a partir da base aeroespacial da Barreira do Inferno, localizada nos arredores de Natal, capital do Rio Grande do Norte”.
Para ambos Ronaldos, dentro da realidade do programa espacial brasileiro, a viagem de Marcos Pontes à órbita terrestre, como também a inconseqüente estratégia de adesão do Brasil à ISS, não passaram de verdadeiras jogadas de marketing do governo federal; primeiro de FHC e depois de Lula, no sentido de se promover tecnologicamente e que em nada contribuíram para o progresso científico nacional.
Inclusive, entre aqueles que acompanham tais assuntos, pode se dizer que a saída do Brasil desse consórcio da ISS se deu até tardiamente, pois já estava prevista por Schlichting, mesmo antes da viagem espacial de Pontes, como pode ser lido em seu artigo sobre tal empreitada brasileira. Ele "não é profeta", mas já afirmava de antemão tudo o que se sucede na atualidade.
Já para o outro Ronaldo, o Mourão, “Na verdade, a falta de sensibilidade dos governos em relação à pesquisa científica e tecnológica no Brasil constitui um ato de desrespeito dos nossos governantes para com o futuro da nossa pátria”.
ISS INSTÁVEL - Recentes notícias das agências internacionais, dão conta que a ISS opera num período de instabilidade e os técnicos russos já admitem que pode ocorrer uma possível desativação da mesma, provavelmente, dentro de 90 dias, se as funções de bordo não forem restabelecidas.
O problema teria se dado por causa da recente instalação de dois painéis solares que causou pane no computador central da estação, impedindo que sejam ligados os propulsores e corrigida sua órbita. De forma natural, a ISS perde cerca de 20 metros de altitude a cada 24 horas e necessita que sua órbita seja corrigida mecanicamente.
* Pepe Chaves é editor do jornal Via Fanzine e pesquisador em assuntos aeroespaciais.
- Fotos: www.apollo11.com e www.wikimedia.org
- Para ler mais sobre o assunto:
- Para ler mais sobre astronáutica: www.viafanzine.jor.br/astronautica
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Educação, Ciência e Tecnologia: Contagem regressiva para o sucesso Reportagem da visita do astronauta Marcos Pontes a cidade de Dois Córregos e algumas reflexões em torno da Educação no interior do Brasil. Márcio Rodrigues Mendes* De Dois Córregos/SP Para Via Fanzine
Pontes no estúdio da rádio Cultura Regional.
DOIS CÓRREGOS-SP - Além da curiosidade quanto aos céus e seus astros, minha infância foi moldada na admiração dos pioneiros que deram os primeiros passos na exploração espacial.
Tem sido uma longa jornada que pode ser atribuída, sem dúvida, ao conhecimento adquirido, à coragem e ousadia de alguns. É uma história e tanto a ser contada e, queiramos ou não, todos somos protagonistas.
Foram necessários diversos Ícaros e Santos Dumonts, entre tantos outros anônimos para que fossem criados alguns “semi-deuses” da era moderna: os primeiros astronautas que tatearam e galgaram espaços inóspitos, além da atmosfera terrestre. Atualmente, constituem-se em figuras não tão raras, mas, ainda assim, porém, merecedoras de admiração, pois, profissionalmente, não é tarefa simples chegar à condição de astronauta.
Inicialmente restrito a norte-americanos e soviéticos, hoje esta seleta família astronáutica agrega ingleses, alemães, franceses, israelenses, chineses, iraquianos, entre outras nacionalidades.
Mesmo que de forma ainda pouco compreendida, o Brasil pode se orgulhar sim, pois temos um representante à altura da qualificação e capacidade para atuar como astronauta, na pessoa do tenente-coronel Marcos Pontes, natural de Bauru-SP.
Após quase um ano de seu vôo orbital pela chamada “Missão Centenário” – alusiva aos feitos de uma figura de importância sem par, Alberto Santos Dumont – pude conhecer pessoalmente nosso astronauta e constatar seu carisma, seu conhecimento, sua capacidade impecável em relacionar-se e de sua humildade.
MARCOS PONTES - No dia 04 de fevereiro, integrando os eventos que comemoram os 151 anos da cidade Dois Córregos-SP (onde resido), o jornalista Denílson Mônaco (da TV TEM/Bauru) fez o convite à assessoria do Marcos Pontes para que o mesmo participasse das solenidades de comemoração. Em conjunto com articulações da emissora do rádio Cultura Regional da nossa cidade, o convite foi prontamente atendido pelo astronauta, brindando-nos com sua visita, numa rara oportunidade.
Outra surpresa, foi ter recebido o convite desta emissora para participar da recepção ao astronauta e de um programa onde Marcos Pontes se colocou à disposição para responder perguntas. Assim, depois de calorosa recepção e das boas vindas proferidas pelo prefeito Sr. Antonio Nais, e já no estúdio da emissora, seguiu-se uma saraivada de perguntas, inicialmente, sobre suas impressões durante o vôo.
Por mais preparado que um cidadão esteja ao conquistar o status de astronauta, é evidente sua rendição ao belíssimo panorama do nosso planeta, visto daquelas paragens espaciais. Em órbita da Terra, a predominância dos tons azulados dos oceanos, amarelo acinzentados das regiões desérticas, marrom-esverdeados das regiões tropicais e das grandes florestas; tudo mesclado, ora em grandes e densos blocos brancos, ora em tênues filamentos enevoados, delimitados numa imensa esfera que flutua num vazio negro, já seria suficiente para arrastar uma conversa de horas. Houve, porém, uma variedade de questões que variaram desde características técnicas do vôo a meras curiosidades. Todo o debate foi muito bem recebido pelo astronauta e devolvido com riqueza de detalhes emoldurado com muito bom humor.
O Astronauta canadense Michael L. Gernhardt em "atividade extra veicular" (EVA) na ISS.
PERGUNTAS - Qual a sensação no lançamento, tendo duzentas toneladas de combustível “nas costas”? Houve algum problema durante o vôo que necessitou intervenção da tripulação? Qual a temperatura no interior da ISS? O treinamento de sete anos nos EUA e o vôo feito através da Rússia, são reflexos de um rompimento do acordo entre nosso país e o programa da ISS? Estes são alguns exemplos das perguntas a ele dirigidas durante o programa da rádio Cultura Regional.
Com o programa no ar, os convidados puderam dirigir seus comentários e perguntas ao entrevistado. O procedimento trouxe-me algum desconforto, pois, eu estava na mesma sala que todos, logo atrás do astronauta que respondia tranqüilamente aos seus interlocutores e vez ou outra pensava comigo “Opa! Essa era uma das minhas perguntas! Tenho que me lembrar de não repeti-la”.
Alguns ouvintes também puderam dirigir suas próprias perguntas via telefone ao astronauta que respondia no ar. Sempre em um clima de muito bom humor e atenção, o astronauta explicou detalhes de coisas como “ir ao banheiro no espaço”. Inclusive, não faltou quem perguntasse se era possível assistir novelas, estando em órbita da Terra!
Minha oportunidade surgiu e, inicialmente, fiz meus cumprimentos pelos feitos ilustres, tendo colocado que, como muitos outros garotos, esta realidade fora um “sonho de infância”. Acompanho-o desde o início de seu treinamento, podendo atestar seus esforços, seu empenho e sua eficácia no desenvolvimento da tarefa incumbida. Pude então, dizer que me senti satisfeito em ver meu “sonho” tão bem representado.
Ciente do pouco tempo para tantas questões que gostaria de abordar, entreguei em mãos ao astronauta, um questionário elaborado por companheiros do grupo Private de UFOVIA, obtendo a promessa de respondê-las de forma mais cômoda.
Comentei sobre o fato de termos assistido - de forma inédita - o lançamento da Souyz, podendo ver o que se passava naquele instante, no interior da cabine com seus ocupantes.
A ISS e suas enormes baterias solares.
CURIOSIDADES - Na ocasião de seu lançamento, eu estava em Natal-RN, com o objetivo de assistir e fotografar um eclipse total do Sol, do qual a faixa de totalidade se iniciava justamente em terras brasileiras. O eclipse ocorreu um dia antes do lançamento. Marcos Pontes lembrou que, por coincidência, o eclipse solar ocorreu também na estreita faixa de totalidade sobre Baikonur, local de onde partiam, no Cazaquistão. Pontes citou sobre a superstição de alguns, quanto ao lançamento da Soyuz ter ocorrido praticamente junto com o eclipse, além de aquela ser a 13ª missão a ISS.
Quando as imagens do disparo dos foguetes chegaram às telas, podíamos ver o tranqüilo interior da Soyuz. Admirei a tranqüilidade. Como se trata de um ambiente fechado, sem vistas para um referencial externo, é praticamente impossível sabermos se o foguete está em movimento ou não. Notei também, suspenso no interior da cabine, uma espécie de pêndulo simples, onde a massa pendular era um pequeno urso de brinquedo. Pontes explicou que este pêndulo tem mesmo a função de indicar movimentos, ou até mesmo, informar aos ocupantes sobre o ingresso da nave em região de imponderabilidade, o que seria denunciado pelo fato de a massa pendular flutuar e não mais manter o fio esticado. Segundo ele, o “mascote-pêndulo” era do cosmonauta russo, nascido em uma região típica de ursos brancos, daí ter sido um ursinho.
Nosso astronauta explicou ainda que o foguete russo consome combustível líquido, o que resulta em uma estabilidade mais acentuada se comparado com os shutles (ônibus espaciais) norte-americanos que usam propelentes sólidos para ajudar na decolagem do gigantesco tanque externo usado nesses veículos. Neles, a trepidação e/ou vibração são bem mais acentuados.
Curioso também foi a revelação de que, precedendo ao lançamento da Soyuz, momentos antes do disparo e, quando o foguete já estava livre, em parte, de suas amarras, foi possível sentir a oscilação da ogiva, ao sabor dos ventos. Sim, o foguete balança enquanto está na plataforma e isso pode ser percebido pelos astronautas que estão acomodados em sua ogiva.
Um solavanco inicial denuncia o funcionamento dos motores, sendo seguido de uma vibração de alta freqüência, que se manifesta como um som e a sensação de estar sendo empurrado cada vez mais rápido, para cima. Conta ainda que o famoso aumento de “G” – uma espécie de pressão exercida sobre o corpo devido à aceleração – é perfeitamente suportável para a posição em que se encontram no interior da cabine, onde se encontram muito bem amarrados.
Lembrei que havia visto o comandante operar instrumentos de bordo usando uma espécie de extensor (varinha). Segundo Marcos Pontes, durante o lançamento, a forma com que são presos aos seus acentos, não permite o acesso manual a todos os instrumentos, só sendo possível fazê-lo então a partir desse dispositivo cujas extremidades são adequadas para empurrar ou puxar.
Mapa mostra o trajeto da ISS, indicada pelo ponto azul - sentido esquerda para direita.
OS PIONEIROS - Perguntei também sobre a possível interação com os astronautas veteranos. Imaginava que a maioria deles não estivesse mais na ativa e para minha surpresa, Pontes confirmou exatamente o contrário: muitos continuam ativos no programa espacial, em funções de cunho mais burocráticos. Assim, Pontes conheceu e pôde conversar com alguns dos ícones da Astronáutica, tais como, Neil Armstrong, Edwin Aldrin e John Young. Este último, uma lenda viva que desligou-se definitivamente – e a contra gosto, segundo Pontes – do programa espacial norte-americano. John Young participou de um vôo do Gemini, dois vôos das missões Apollo (10 e 16, tendo sido comandante desta última) e realizou também o primeiro lançamento dos atuais shutles junto com Robert Crippen. Em tempo: Dos shutles, o Challenger explodiu quando de seu lançamento em 1987, vitimando fatalmente toda sua tripulação; o Columbia, idem, ao reentrar na atmosfera, em dezembro de 2002. O Atlantis ainda permanece em atividade.
Marcos Pontes contou que, na Rússia, teve a honra de conhecer o ambiente de trabalho e sentar-se à mesa do pioneiro de todos os astronautas, o cosmonauta russo Yuri Gagarin, o primeiro homem a “sair da Terra”. Segundo Pontes, seus pertences, documentos e textos, ainda se encontram sobre sua mesa de trabalho. Gagarin morreu num acidente aéreo, em 1968.
Os detalhes fluíam, quando alguém no estúdio fez sinal de “tempo esgotado”. Ainda assim, vieram mais algumas perguntas por telefone seguidas pelas considerações finais do ‘âncora’ do programa, do prefeito e do astronauta.
Finalizando, Pontes enfatizou sua origem numa família simples, cujo pai fora operário e a mãe escrituraria, ambos funcionários da Rede Ferroviária Federal, tendo ele também, já trabalhado como eletricista da RFFSA. Foi estudante de escola pública, teve uma carreira meteórica na Força Aérea Brasileira (FAB), onde foi líder de esquadrilha e piloto de provas. Ele conta com mais de 2.000 horas de vôo em aeronaves como F-15, F-16, F-18 e MIG-29. Trabalhou em inúmeras campanhas de prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos, inclusive, do ônibus espacial Columbia.
Selecionado pela AEB (Agência Espacial Brasileira) em 1998, treinou durante sete anos na NASA, em Johnson Space Center, Houston, Texas. Integrou o vôo da 13ª missão, que o levou às dependências da Estação Espacial Internacional (ISS), instalada na órbita terrestre. Atua em programas de cooperação aeroespacial, numa tentativa de dar prosseguimento à cooperação firmada pelo Brasil na construção ISS, qual envolve 16 países.
Todo este sucesso esteve baseado em um esforço que deve ser imitado: a Educação levada a sério. Pontes deixou claro também que está vestindo a camisa desta empreitada: trabalhará pela Educação em nosso País. Não há como negar que, ele próprio, é a personificação desta meta, tendo vivido e colhido os frutos pelos seus méritos.
Não faltou neste final de entrevista a abordagem por parte do ‘âncora’ do programa, sobre sua possível participação direta na Política, como membro de algum Partido. Pontes reafirmou, durante sua entrevista, que foi convidado por diversos partidos, mas continua recusando as ofertas, justificando não ser esta sua meta, além de – em suas palavras – não sentir-se preparado para tal.
Pontes na solenidade de comemoração dos 151 anos de Dois Córregos-SP.
CENTRO DE ARTES - Sob aplausos, Pontes deixou as dependências doa rádio Cultura Regional, dirigindo-se ao Centro Cultural de Dois Córregos (antigo cinema), onde, no saguão de entrada, foi recepcionado por populares, além de ter participado de uma mostra artística do artesão dois-córreguense Milton Contri e de algumas maquetes montadas por este articulista. Contri, que trabalha com materiais reciclados, deu forma a muitos deles, constituindo uma variedade de telescópios, foguetes, discos-voadores, além de colecionar vasto acervo de material impresso que conta a trajetória do astronauta.
De minha parte, usei algumas maquetes (plastimodelos) que contam um pouco da História da Astronáutica, desde o Vostok russo, as missões Apollo, os shutles e a ISS - maquete cuja dimensão, alcança quase um metro em seu eixo maior. Em tom de brincadeira, perguntei a Pontes se eu havia cometido algum deslize na construção e pintura da maquete. Sorridente, para meu alívio, ele aprovou os detalhes e mostrou alguns pontos na maquete, onde permaneceu por mais tempo durante sua estadia na estação. Foi uma satisfação sem par vê-lo apreciar este meu hobby, tendo servido como pano de fundo para tantos outros que o entrevistaram ali – inclusive, a imprensa da vizinha cidade de Jaú.
Ainda neste recinto, Pontes falou aos menores da Casa da Criança e assistidos da Arevu, outra entidade filantrópica. Ouviu ainda, emocionado, uma poesia escrita e lida por um deficiente físico e recebeu do prefeito de Dois Córregos, uma cesta contendo produtos típicos da cidade e região.
Do Centro Cultural, pude ainda acompanhá-lo até a Usina “Santa Adelaide”, de propriedade do Dr. Antônio João de Camargo, também diretor proprietário do rádio Cultura Regional.
Durante o almoço, Pontes perguntou-me sobre a maquete da Estação Espacial, garantindo-me que não sabia da disponibilidade desse tipo de material e mostrou-se interessado em conseguir um exemplar. Alertei que gastei pouco mais de dois meses na construção dessa maquete, motivo que o fez solicitar seu exemplar, que já está sendo montado.
O articulista de Via Fanzine e UFOVIA Márcio Mendes, autor dessa reportagem e o astronauta Marcos Pontes - ao lado, a maquete da ISS montada por Mendes.
EDUCAÇÃO E CIDADANIA - Graças aos amigos e conterrâneos da rádio e da imprensa local, que sabem da minha afinidade com os temas Astronáutica e Astronomia, pude participar deste encontro, que foi para mim, muito significativo. Aproveito então para registrar aqui minha gratidão de extensões astronômicas.
Outra grata surpresa foi encontrar estampado na primeira página de um dos semanários da nossa cidade, minha foto, junto ao Marcos Pontes e ainda ao lado da maquete da Estação Espacial.
Por outro lado, nesta mesma edição do periódico, duas outras manchetes - que a primeira vista não tem absolutamente nada a ver – chamavam a atenção. Infelizmente, são surpresas antagônicas: junto da notícia sobre a visita do astronauta a Dois Córregos, foi anunciado que esta cidade, comparada a outras da região, está figurando como das últimas colocadas em “escolaridade”. Bem ao lado, outra manchete ilustrada por uma imagem-denúncia, mostra a falta de consciência de muitos ao agredir o meio ambiente: uma foto estampa a ousadia do descaso frente à súplica ignorada, onde uma simples placa em que pode se ler “Proibido jogar lixo”, se encontra ironicamente ladeada por montes de entulhos e sujeira descartada. Muito triste.
Custa-me crer que tais manchetes estejam assim dispostas no noticiário municipal por obra do acaso.
Justamente, quando essas manchetes vêm a público, recebemos a visita do astronauta brasileiro que além de ser um exemplo a ser seguido, no que se refere ao seu empenho em colocar o estudo como meta prioritária, vem agora nos aconselhar publicamente – visivelmente quando esteve em contato com as crianças no Centro Cultural – que esta também deve ser a meta de todos.
Ainda em sua fala na Cultura Regional, Marcos Pontes salientou que, mesmo na reserva da FAB, continua ligado ao programa de cooperação espacial, auxiliando e trabalhando em diversos setores que, conforme afirma, darão continuidade ao programa. De cunho mais social, estará atuando no setor de Educação, além de suas aulas ministradas em instituições de pesquisas, envolvendo especificamente algumas áreas de seu domínio. Afirmou que, ele próprio está engajado em montar escolas (já possui uma delas na cidade de Bauru/SP), além de projetos que visam motivar empresas do setor privado a investir na Educação. Uma das metas é amparar e garantir estudantes da rede pública com deficiência orçamentária até que este conclua um curso superior.
Enfim, se houver um segundo astronauta brasileiro, certamente, estará amparado pela experiência de Marcos Pontes e será fruto de um esforço, ainda não totalmente compreendido pela maioria das pessoas.
* Márcio Mendes é físico, professor em Dois Córregos/SP, astrônomo amador membro da REA (Rede Astronômica Observacional), consultor de Astronomia para UFOVIA e Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br).
- Fotos: Márcio R. Mendes/Arquivo Pessoal - NASA/ISS - www.apollo11.com
- Sites indicados:
Marcos Pontes:
NASA/ISS: http://spaceflight.nasa.gov/station/
Monitoramento online da ISS: http://www.apolo11.com/track_iss.php
ISS na Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Esta%C3%A7%C3%A3o_Espacial_Internacional
Página de Márcio Rodrigues Mendes: http://www.viafanzine.jor.br/mmendes
- Produção: Pepe Chaves. © Copyright 2004-2007, Pepe Arte Viva Ltda.
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Astronáutica: ISS e Atlantis puderam ser vistos do Brasil Como pequenos pontos em movimento, aparatos brilharam no céu. Pepe Chaves* Para Via Fanzine Com colaboração de Márcio R. Mendes**
Orbitando a Terra - Nesta imagem telescópica, tendo o Sol ao fundo, encontra-se a ISS (à direita) com seus painéis solares abertos. Pode-se perceber também a nave Soyus acoplada à Estação Espacial. A silhueta menor à esquerda é o ônibus espacial Shuttle Atlantis, já desacoplado e ainda próximo à ISS.
No domingo 17/09, possivelmente, muitas pessoas puderam avistar dois pontos brilhantes deslocando-se nos céus noturnos. Ambos passaram por entre Júpiter (um dos astros mais brilhantes no céu) e a constelação do Centauro.
As testemunhas do avistamento de tais pontos brilhantes em movimento podem tê-los associado aos UFOs e alienígenas, no entanto, “Tratou-se da ISS (Estação Espacial Internacional), seguida de perto pelo Shuttle Atlantis (ônibus espacial) que acabava de se desligar da estação. O Brasil teve a sorte de estar ‘sob’ o acontecimento”.
A afirmação é do professor Márcio Rodrigues Mendes, físico e astrônomo que atua como consultor para assuntos astronômicos para o jornal Via Fanzine. Mendes considera provável que venham a público nos próximos dias, relatos dando conta destes objetos brilhantes se movimentando no céu no noturno.
* Pepe Chaves é editor de Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br). ** Márcio Rodrigues Mendes é professor, físico, astrônomo e membro da REA (Rede Astronômica Observacional). - Fotos: www.omnisoft.com /NASA e www.astrosurf.com. - Produção: Pepe Chaves.
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Viagens espaciais: Crenças A capacidade de crer como fruto de todos os esforços possíveis do discernimento individual.
Márcio Rodrigues Mendes* De Dois Córregos/SP Para Via Fanzine
DEIXANDO A TERRA - “Alguém acenou pela janela e em seguia fez o gesto para OK, afastando-se em seguida.
Este momento é sempre tenso: o coração acelera a respiração é mais forte e os segundos arrastam uma expectativa crescente na esperança de que tudo saia bem. Muita coisa passa pela cabeça, mas logo a atenção e concentração nos instrumentos e luzes de alerta me trazem à realidade. À minha esquerda, meu único companheiro de jornada deve estar vivendo o mesmo compasso de espera.
Algo me incomoda ao tentar virar-me para meu companheiro. É difícil visualizá-lo, pois meu capacete custa a acompanhar meus movimentos para olhá-lo.
Reflexos de luzes carmim permeiam o limbo da viseira e denunciam a ignição, sendo logo confirmada por um rápido sacolejar de toda cabine. Um som grave e abafado enche o ambiente como o troar de inúmeros trovões simultâneos e aparentemente sem fim.
Estamos a caminho! Uau!
Com velocidade crescente meu corpo comprime o assento e os movimentos ficam pesados, mas eu sei que é temporário.
Faço algumas leituras rápidas nos mostradores à minha frente e tranqüilizo-me naquele mini-mundo do meu traje hermético. Tudo vai bem!
Estamos com mais de meio tanque e meu companheiro de viagem acaba de engatar a quarta marcha, sinal de que o primeiro estágio foi alijado com sucesso. Pelo espelho retrovisor, podemos ver nosso Mundo ser deixado para trás. Primeiro algumas nuvens brancas, depois um mesclado de tons cinza-esverdeados, até que surge... o pai do meu companheiro reclamando o uso do velho Corcel, azul sólido”.
Era assim que íamos para a Lua, em minha infância, no início dos anos 60.
Éramos astronautas sim! De short, camiseta e tênis. Mas havia alguns diferenciais: o capacete do meu companheiro era um velho brinquedo muito cobiçado pelos garotos da época. Tratava-se de um capacete de piloto de avião, muito realista, com viseira verde e máscara vermelha para oxigênio.
O meu era muito mais modesto. Na falta de um igual, o que tinha disponível era um capacete romano, de um conjunto “capa&espada” de brinquedo, encimado por uma águia de asas abertas e que deve ter sido o símbolo de algum exército de Roma em seus tempos de glória no passado. Mas tinha que servir !
Como todo lançamento o nosso também era tenso, contudo era suportável. Eu odiava mesmo eram as grutas na Lua, onde se escondiam toda horda de monstros e selenitas mau intencionados. Contudo, devido à minha pouca idade em relação ao meu companheiro, fazia-me um subordinado, um co-piloto, e toda “trama” da aventura era imaginada pelo meu amigo. Lembrem-se também que meu capacete minimizava minhas funções de astronauta no sentido restrito da palavra. Em casa, à noite, na cama a aventura era sempre repassada e a esperança de ganhar um capacete igual ao do meu colega, foi um desejo imorredouro.
Meu sonho nunca foi realizado.
'Os filmes de ficção científica também sempre foram incentivadores e sempre acreditei no avanço da humanidade em seu esforço para deixar o berço'
VIAGENS LUNARES - Lembro-me antes de ter sido alfabetizado, das cenas dos primeiros astronautas em noticiários da TV, acomodando-se nos exíguos espaços da velha “cápsula” Gemini. Foram imagens mágicas aos olhos de um menino, pois desde então passou a colecionar todo tipo de matéria que podia obter em jornais e revistas (o que era raro). Tive uma “crise de nervos” ao encontrar um jornal que reportava o lançamento de uma das Geminis, recortado em forma de calça: um molde que minha mãe fez em suas costuras, usando inadvertidamente o “meu jornal”. Ele ainda encontra-se em minha coleção, onde pode-se ler, pelo menos a metade do feito astronáutico.
Algo deve ter ocorrido no acidente que vitimou três astronautas, no início do Projeto Apollo, pois em minha infância eu devia estar com outras ocupações e não me recordo de saber do acidente naqueles dias fatídicos.
Eu dependia totalmente dos meus pais para compra de jornais e revistas que noticiava os avanços do Projeto Apollo nos fins dos anos 60 e início dos anos 70. Não posso me queixar, pois neste aspecto sempre fui atendido.
As constantes leituras sobre Astronáutica, o gosto por Astronomia e Física , a construção de maquetes e o início de um curso de vôo a vela (planadores) foram a tônica de minha adolescência, sem nunca perder de vista os feitos de norte-americanos e soviéticos no que tange à Astronáutica. Os filmes de ficção científica também sempre foram incentivadores e sempre acreditei no avanço da humanidade em seu esforço para deixar o berço, parafraseando Konstantin Tsiolkosvsky.
Muito embora os fatos sejam contemporâneos à Guerra Fria, talvez pela minha inocência, talvez por qualquer outro tipo de Providência, as diferenças políticas nunca tiveram espaço em minha vida ou forma de ver o Mundo. Neste aspecto, tenho sim que admitir, sempre fui erroneamente (?) alheio.
SPIELBERG E SUAS MÁQUINAS HIGH-TECH - Como todo bom admirador da sétima arte, sem querer entrar em detalhes quanto aos merecimentos, senti-me tocado em um segmento da obra de S. Spielberg, Império do Sol, onde um garoto com a cabeça nas nuvens e literalmente fanático por máquinas que voam, é levado pelo destino, a viver parte de sua vida em um campo de concentração. A certa altura do filme o garoto assiste por trás dos arames farpados, o “batismo” de pilotos japoneses, que em um ritual preparam-se para decolar. A pompa militar da cerimônia, o cenário bem construído, a música envolvente de um coral de meninos, a performance impecável do ator mirim e a sugestão de anseio por liberdade ou até o conformismo do personagem, é extremamente tocante. No momento da decolagem das máquinas de guerra (máquinas de voar, para o personagem), este se posta em sentido e faz continência em respeito (quem sabe?) às máquinas, aos pilotos ou a ambos; não havendo lugar para qualquer outra ideologia política.
Um oficial de alta patente do campo de concentração, assiste à cena do garoto reverenciando àquilo em que acredita, numa atitude de respeito com quem o mantém cativo, deixa uma lágrima rolar, numa cena muito bem construída pelo cineasta. É tocante e para mim o ponto alto do filme. Não importa as bandeiras que dividem a humanidade e sim a humanidade. Que mensagem melhor que essa poderia haver em um filme?
'Vista do espaço, a Terra não tem fronteiras políticas'
VÔOS ESPACIAIS - Em nossa antiguidade, só os deuses imaginários podiam vagar pelo Universo. Nos últimos 500 anos os avanços em diversas áreas do conhecimento fortaleceram os verdadeiros valores humanos e ampliaram muito nossa compreensão desse mesmo Universo. Durante o último século, enormes saltos da humanidade conduziram-na de uma situação de luta constante pela sobrevivência, para um mundo de metas sociais, apesar da constância das diferenças políticas. Há pouco mais de um século o vôo do ser humano era inconcebível e nos últimos 50 anos assistimos o homem voar cada vez mais alto e mais rápido. Nos últimos anos, viagens além da nossa atmosfera e em torno do planeta tornaram-se corriqueiras a ponto de a cada novo lançamento ser noticiado em breves notas de jornal. Aparentemente grandes notícias sobre Astronáutica ficaram relegadas a eventuais acidentes, quando então alguns críticos se evidenciam, mais uma vez, questionando sobre a validade disso tudo.
Ao se colocar lado a lado as primeiras naves norte-americanas, as velhas Mercurys, e as Vostok soviéticas, com os atuais shutles, parecerão separados por eras e não décadas, onde muito da tecnologia aeroespacial ganhou aplicações diretas no cotidiano de qualquer cidadão comum.
Não é meu objetivo e intenção listar aqui benefícios obtidos no esforço humano em “sair do berço” em vista da inevitável manipulação política inerente a que isso conduz. Lembro no entanto que, incluído nos benefícios em se alcançar tecnologia para “sair do berço”, há também benefícios para “consertar o berço”!
Na verdade, é preciso salientar também que hoje em dia, com o advento da informática, tudo acontece tão depressa que a maioria das pessoas simplesmente perdeu a perspectiva.
Creio que em um futuro promissor da humanidade, não haverá mais espaço para rivalidades políticas. Vista do espaço, a Terra não tem fronteiras políticas. Demagogia? Pode ser. Em seu benefício, prefiro ela às mesquinharias políticas.
Bem ou mal, pouco ou suficiente, aos desinformados, informo que já a algum tempo, alguma cooperação espacial se firmou entre nações e tende a crescer. Em uma rápida retrospectiva, na Segunda Guerra Mundial, o foguete A-4 foi usado para bombardear Londres; mas também foi o primeiro artefato humano a alcançar o espaço.
Nos anos 60 EUA e União Soviética empenharam-se em construir foguetes gigantescos. Fato é que os EUA alcançaram sucesso com seu Saturno V, ao passo que o N-1 soviético foi um fracasso.
Desde então, as duas potências seguiram caminhos diferentes: os EUA tentando alcançar a Lua e a União Soviética desenvolvendo seus laboratórios orbitais Salyut e Mir. Assim cremos.
Atualmente, aliando o grande conhecimento adquirido com os shutles e os laboratórios orbitais, bem como a colaboração de diversas nações, assistimos o nascimento da Estação Espacial Internacional. Assim cremos.
'Nunca ouvi questionarem se realmente os russos foram ao espaço. Vivendo lá naqueles confins frios do nosso mundo, aparentemente ninguém duvida que eles foram ao espaço'
FUNDAMENTOS DO CRENTE - Precisamos acreditar em alguma coisa. No entanto, são tantas as possibilidades, são tantas as paixões, são tantos os nacionalismos que, atônito, vez ou outra me deparo com a pergunta: o Homem foi realmente a Lua?
A pergunta já foi alvo até de publicação seriada. Eu tenho parte dela! Você acredita que nasceu a tantos anos atrás e tem lembranças de anos acumulado? Podemos crer até que fomos “criados” ontem e toda nossa lembrança é um simples implante... Como um “chip”. Por que não? Essa é talvez uma das mensagens do escritor de Sci-Fi, Phillip Dick em seu livro transformado em filme Blade Runner. Acreditamos que nascemos e vivemos até aqui, afinal, precisamos crer em alguma coisa.
Em toda minha vida, lendo e assistindo temas relativos à Astronáutica, nunca ouvi questionarem se realmente os russos foram ao espaço. Vivendo lá naqueles confins frios do nosso mundo, aparentemente ninguém duvida que eles foram ao espaço. Nem que recentemente o Marcos Pontes foi até a Estação espacial.
Nunca ouvi nenhuma dúvida a respeito da chegada de naves não tripuladas, norte-americanas ou russas à Lua, ou a Marte; a Júpiter e além... aliás, nunca ouvi dúvida a respeito de qualquer coisa relacionada a um feito Aeroespacial ou Astronáutico, que não seja restritamente a ida do Homem à Lua!
Recentemente, li de fontes aparentemente confiáveis da intenção dos russos em alcançarem a Lua nas próximas décadas. Fico com a prematura impressão de que quando o fizerem, não haverá dúvida de eles foram!
Parece-me então que tudo não passa de opção por uma opinião, já que vinculado com a dúvida há sempre uma tendência “anti-norte-americana”, ou os argumentos que “provam” que os norte-americanos não estiveram lá, envolvendo algum pequeno detalhe técnico não esclarecido. Procura-se pequenos “erros” em fotografias, distorções de sombras, reflexos a mais ou a menos nos trajes e em viseiras, ângulos de iluminação, enfim, qualquer coisa que aparentemente possa contrariar o bom senso, já sendo o suficiente para o ... “ah-ah!, eles não estiveram lá!”.
Uma observação mais detalhada torna-se desnecessária, pois o objetivo já foi alcançado: um esforço gigantesco envolvendo cientistas, intelectuais, empresas e uma multidão de participantes acaba de ser desmascarada por um pequeno detalhe de luz, reflexos, e pequenas coisas que aparentemente não se encaixa.
É como se eles fossem até a Lua e descobrissem ao chegar lá que não há ar respirável. Claro que não foi assim que aconteceu. As sondas que os antecederam pousaram por lá só para fazer algumas fotos? Creio que analisar o ambiente (temperatura, nível de radiação, composição química, etc.), bem como testar materiais, enfim, tudo o que fosse possível conhecer antes de uma investida tripulada, foi levado à cabo antes de se gastar enormes somas em um projeto de alto risco. Creio então que os problemas “previsíveis” foram trabalhados e contornados.
Conhecer os problemas e suas soluções (o que demanda algum esforço e tempo, pois foram anos de pesquisas acumuladas e não simples palpites) é um bom caminho para quem quer realmente “provar” alguma coisa. Para mim é uma questão de bom senso, só isso.
Não sou defensor de nada; mas esta é minha crença: Sim, o Homem foi à Lua! E um dia irá aos planetas. Não creio que um órgão como a NASA esteja preocupada em provar alguma coisa; afinal cada um crê no que quer, baseado nos fatos que tem e ou interesses. Obviamente, absolutamente tudo é passível de verificações; mas sinceramente prefiro usar e gastar meus neurônios em outras questões.
* Márcio Mendes é físico, professor em Dois Córregos/SP, astrônomo amador membro da REA (Rede Astronômica Observacional) e consultor de Astronomia para Via Fanzine e UFOVIA.
- Produção & ilustração: Pepe Chaves. © Copyright 2004-2006, Pepe Arte Viva Ltda.
Para ler mais Astronáutica acesse: O SEU PASSAPORTE PARA O ESPAÇO: www.viafanzine.jor.br/astrovia.htm Clique aqui para visitar a página da Estação Espacial Internacional |
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