Potências:
Criando abismos
para ficar à beira
A velha mania
humana de criar problemas para vender soluções.
Por
J. Ildefonso P. de
Souza*
De Taubaté/SP
Para
Via Fanzine
A imagem colorida é do prédio de montagem
da Soyuz (MYK) que está sendo construído
a uns 500 metros de distância da
plataforma de lançamento, na Guiana Francesa.
A outra imagem é da área de lançamento
russa de Baikonur (Cazaquistão). Projetos semelhantes.
“Os alertas soturnos ecoavam desde
agosto de 1945, quando o homem, num perverso toque de mágica, fez
evaporar uma cidade inteira com o apertar de um botão. Quando Hiroxima
desapareceu do mapa, nasceu um novo mundo, cuja própria existência –
antes a única convicção que aproximava todos os seus habitantes – já não
era mais certa. Pela primeira vez desde que seus pés começaram a
caminhar pela Terra, a humanidade segurava nas mãos a decisão entre
viver e morrer. E a volúpia febril despertada por esse poder fazia calar
qualquer instinto de preservação. Dezessete anos se passaram, e a penosa
corrida chegou ao seu ponto mais dramático. A capacidade humana de
destruir o planeta passou de um incômodo pesadelo a uma ameaça
assustadoramente verdadeira e palpável. Nas últimas semanas, as duas
maiores potências da Terra estiveram a ponto de mergulhar no precipício
sem fim, puxando com elas todos os povos que presenciam seu atemorizante
duelo. O indizível desfecho de um possível enfrentamento armado entre os
Estados Unidos e a União Soviética foi miraculosamente impedido, graças
aos resquícios de humanidade que ainda sobrevivem em seus líderes
superpoderosos – e, vale lembrar, graças também a uma certa dose de
sorte. No apagar das luzes, John Kennedy e Nikita Kruschev, os homens
que controlam os destinos do mundo, sentiram as repercussões de sua
perigosa dança, seguiram suas emoções mais terrenas e deram um passo
atrás. A partir de agora, todos se perguntam: a marcha para a perdição
continuará? Os arquiinimigos ouvirão as sirenes de emergência ou
continuarão bailando ao som grave de seus monstruosos arsenais? Talvez o
mundo seja outro a partir deste outubro de 1962. Quais dissabores ele
nos reserva, só os próximos anos serão capazes de revelar”.
Assim começa o texto “Beira do Abismo” da edição histórica
de outubro de 1962 da revista Veja.
Abismos
Eu retomo o tema e pergunto: o mundo é outro depois daquele
outubro de 1962? Os planos americanos de construir um sistema
antimísseis no Leste Europeu podem levar a uma situação semelhante à
Crise dos Mísseis de Cuba, na década de 1960. Um indicador disso é a
construção por parte dos russos, de uma base de lançamento para a Soyuz
no Centre Spatial Guyanais (CSG), em Kourou, na Guiana Francesa, ao
norte do Brasil, projetado pela Agência Espacial Européia (ESA).
Tradicionalmente conhecido como o centro de lançamento dos
foguetes da família Ariane, atualmente representada apenas pelo Ariane
5, no ano que vem o CSG será palco de duas estréias de lançadores: uma
versão modernizada do já provado Soyuz russo e o mais novo foguete
europeu, o Vega.
Localização da Guiana Francesa, próxima a
Macapá, no Amapá.
Soyuz
O Soyuz é o foguete mais testado do mundo, já tendo sido
realizados cerca de 1.700 lançamentos da família, inclusive missões
tripuladas. Sua operação a partir de Kourou foi objeto de acordo
intergovernamental celebrado entre França e Rússia em novembro de 2003,
numa iniciativa estimada em 344 milhões de euros, majoritariamente
financiada pela parte francesa
Em Kourou, será usada a versão mais moderna do Soyuz, a ST,
que contará com um sistema de controle de vôo digital e um terceiro
estágio mais potente, equipado com propulsores russos RD-0124, que
adicionará um tempo de queima de 34 segundos, superior à propulsão
anterior, baseada no também russo RD-0110. Essas inovações ampliaram a
performance do lançador russo, capaz de lançar cargas úteis de até 3.150
kg em órbita de transferência geoestacionária e 4.900 kg em órbita
hélio-síncrona, a 820 km de altitude.
Em 20 de setembro de 2008, foi assinado entre a Arianespace
e a Roscosmos (Agência Espacial Russa) um contrato prevendo a construção
dos primeiros dez Soyuz ST, negócio avaliado em cerca de US$ 500
milhões. Até o momento, a carteira de missões do Soyuz ST a partir do
CSG já conta com dez missões confirmadas, incluindo lançamentos de
satélites da Globalstar, do Ministério da Defesa da França e de empresas
da Austrália e Canadá, entre outras.
Vega
O foguete Vega (Vettore Europeo di Generazione Avanzata)
representa o mais importante passo dado pela Itália na área de
lançadores, responsável por cerca de 65% de todo o projeto, iniciado em
1998 pelas agências espaciais da Itália (ASI) e Europa (ESA). A
principal parceira industrial do projeto é a ELV S.p.A., joint-venture
entre Avio e a ASI, mas indústrias da França, Espanha, Bélgica e Suécia,
entre outros, também estão envolvidas.
O Vega é um lançador de quatro estágios (os três primeiros
de combustível sólido e o último líquido), com capacidade de inserir
cargas úteis de até 1.500 kg em órbitas circulares a 700 km de altitude.
Seu primeiro vôo está previsto para novembro de 2009, e outras cinco
missões de validação, dentro do chamado projeto VERTA (Vega Research
and Technology Accompaniment) deverão ser realizadas a partir de
2010.
Concepção artística
da base russa.
A Base
Já estão trabalhando por volta de uma centena de russos na
área da base de lançamento, mas no auge dos trabalhos com a Soyuz serão
cerca de 2500 pessoas. Em Kourou também serão lançados, a partir de
2010, o foguete Soyuz 2-1b, uma versão mais potente que o 2-1a, a versão
que começará os lançamentos em 2009.
Agora eu pergunto: mudou algo? Os arquiinimigos ouviram as
sirenes de emergência ou continuaram bailando ao som grave de seus
monstruosos arsenais?
*
José Ildefonso Pinto de Souza
é bacharel e licenciado em Física.
Pesquisador em assuntos espaciais e
consultor para Via Fanzine.
- Visite seu
blog:
http://entrononentro.haaan.com/
- Visite sua página em VF:
www.viafanzine.jor.br/ilde
- Imagens: ESA/CNES/Google
Earth/Arianespace-Service Optique e do site Kosmonavtika.
-
Produção:
Pepe Chaves.
* * *
Groenlândia:
Uma bomba atômica deixada em algum lugar
O ano é 1968, o local é o norte da
Groenlândia e o artefato,
uma bomba nuclear norte-americana teria
sido deixada no local.
Por
J. Ildefonso P. de
Souza*
De Taubaté/SP
Para
Via Fanzine
O espaço aéreo da
Groenlândia era utilizado na Segunda Guerra.
Era o auge da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a então
União Soviética. O Pentágono acreditava que poderia ocorrer o primeiro
passo dos soviéticos, em um eventual ataque nuclear aos Estados Unidos,
que se iniciaria com a destruição da base de Thule, no norte da
Groenlândia. Por isso, os aviões B-52s, armados com armas nucleares,
sobrevoavam rotineiramente aquele território, nas chamadas missões "Chrome
Domo".
Segundo o correspondente da BBC para assuntos de segurança,
Gordon Corera, a base monitorava o céu, caso mísseis soviéticos
passassem pelo Pólo Norte.
Por ser a Groenlândia uma província autônoma da Dinamarca,
o transporte de armas nucleares em espaço aéreo dinamarquês era mantido
em segredo.
Operação Limpeza
De acordo com documentos previamente secretos obtidos pela
rede BBC, em 21 de janeiro de 1968, uma das missões falhou e um dos
aviões bombardeiros B-52, pilotado por John Haug e Joe D'Amario, caiu
próximo à base norte-americana.
Durante os meses seguintes, se realizou uma extraordinária
operação de recuperação dos restos fragmentados do avião e para retirar
milhares de metros cúbicos de gelo contaminados com material radioativo.
A operação pode ser vista em um vídeo norte-americano,
obtido pela rede BBC, de acordo com a lei de Liberdade de Informação dos
Estados Unidos. Nas imagens é possível ter uma idéia das dimensões da
operação.
O Pentágono assegurou que os quatro artefatos nucleares que
se encontravam a bordo do cargueiro foram destruídos.
Segundo a BBC, do ponto de vista técnico, essa afirmação
pode ser verdadeira, já que nenhuma bomba caiu completa, porém existem documentos
confidenciais – mas, não mais secretos - que mostram uma outra história
muito mais complexa. A versão foi confirmada por indivíduos que
participaram da operação de limpeza, bem como por outras pessoas que,
posteriormente, tiveram acesso a tais informações.
E o que dizem os documentos? As informações obtidas deixam
claro que, poucas semanas após o incidente, os investigadores que
trabalharam com os fragmentos recuperados se deram conta de que os
mesmos só correspondiam a três, das quatro, bombas nucleares.
Um dos textos, datado em final de janeiro de 1968, menciona
uma seção de gelo escurecida que havia voltado a se congelar, e que
guardava em seu interior pedaços de uma das cordas do pára-quedas do
artefato nuclear.
Uma bomba como esta
pode estar perdida na Groenlândia.
A bomba perdida
O documento especula que algo derreteu o gelo e o
atravessou, podendo ser a parte principal, ou a secundária, não se sabe
ao certo, da bomba incendiada.
Uma busca realizada por um submarino Star III fracassou e
as autoridades norte-americanas decidiram abandonar a operação para
tentar recuperar a bomba perdida, de acordo com William H. Chambers, um
ex-projetista de armas nucleares do laboratório de Los Álamos, nos
Estados Unidos.
"Houve decepção por causa do que pode ser chamado de
fracasso na recuperação de todos os componentes", disse Chambers à BBC,
referindo-se à bomba, de número de série 78252, não encontrada. "Seria
muito difícil para mais alguém recuperar peças secretas se nós não
podíamos encontrá-las."
Nas palavras de um dos investigadores, a idéia vigente na
época era que o revestimento da bomba apodreceria e o material
radioativo se dissolveria no oceano, tornando-o inofensivo.
Apesar de a rede BBC ter obtido alguns dos documentos
graças à legislação sobre a liberdade de informação nos Estados Unidos,
alguns textos sobre o assunto continuam sendo mantidos em sigilo.
-
Com informações da BBC Brasil.
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José Ildefonso Pinto de Souza
é bacharel e licenciado em Física.
Pesquisador em assuntos espaciais e
consultor para Via Fanzine.
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- Fotos:
Arquivo VF.
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Pepe Chaves.
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