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Indígenas

 

 

Índios do Brasil:

À Flor da terra

Não seria mais confortável para a sociedade acreditar que

eles se matam por iniciativa própria; porque querem?

Por Sandra Mara Potey-Miri*

De São Paulo-SP

Para Via Fanzine

03/11/2012

 

Índia guarani trabalha na confecção de cestas: artesanato nativo se tornou fonte de renda.

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Com a invasão do europeu ao continente americano, houve o maior genocídio da história da humanidade. Desde então, milhões de indígenas foram cruelmente assassinados, tiveram suas terras roubadas, seus valores morais, espirituais e afetivos violentados indiscriminadamente.

 

Esse último evento dos Guarani-Kaiowá, prometendo cometer suicídio, caso os tirassem de suas terras, nos leva a uma reflexão profunda a respeito desse episódio. Será mesmo um suicídio, ou estão sendo induzidos a tirarem suas próprias vidas, como um sinal de resistência, quando na verdade, são os fazendeiros com anuência do governo seria quem os empurram para essa iniciativa extrema?

 

Não seria mais confortável para a sociedade acreditar que eles se matam por iniciativa própria; porque querem?

 

Nos anos de 2000 a 2011, segundo o Ministério da Saúde, foram cometidos 555 "suicídios", entre os Kaiowá. Esse número é considerado uma das maiores taxas do mundo.

 

Tanta crueldade, e ainda acreditamos que essa triste iniciativa seja realmente um "suicídio"...

 

Quando o psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961), conviveu com os índios Pueblo da América entre 1925-1926, conclui que "Aquilo que do nosso ponto de vista chamamos colonização, missões aos pagãos, difusão da civilização, etc, tem outra face: a face de uma ave de rapina procurando com diligente crueldade presas distantes - uma face digna de piratas e de salteadores de estrada." (p.18)

 

Segue trecho de uma matéria publicada pelo Jornal MST:

 

"O resultado desastroso do uso da terra foi lamentado pelos líderes e professores Kaiowá em carta de 17 de março de 2007:

 

 - O fogo da morte passou no corpo da terra, secando suas veias. O ardume do fogo torra sua pele. A mata chora e depois morre. O veneno intoxica. O lixo sufoca. A pisada do boi magoa o solo. O trator revira a terra. Fora de nossas terras, ouvimos seu choro e sua morte sem termos como socorrer a Vida.

 

Para os Guarani, o que aconteceu foi um estupro, ferindo de morte a sinhazinha natureza. A relação deles com a terra é de amor, pois eles não se consideram donos da terra, mas parceiros dela. Ela é o tekoha, o lugar onde cultivam o modo de ser guarani, o nhanderekó. "Guardamos com a terra" - diz o kaiowá Tonico Benites – ‘um forte sentimento religioso de pertencimento ao território’. Não é a terra que pertence ao Guarani, mas o Guarani que pertence à terra.”

 

A autora desse artigo e duas crianças da aldeia guarani Da Reserva Rio Silveiras, no Estado de São Paulo.

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O professor guarani Marcos Moreira, quando foi meu aluno no curso de formação de professores, entrevistou o velho Alexandre Acosta, da aldeia de Cantagalo (RS) que, entre outras coisas, falou:

 

“Esta terra que pisamos é um ser vivo, é gente, é nosso irmão. Tem corpo, tem veias, tem sangue. É por isso que o Guarani respeita a terra, que é também um Guarani. O Guarani não polui a água, pois o rio é o sangue de um Karai. Esta terra tem vida, só que muita gente não percebe. É uma pessoa, tem alma. Quando um Guarani entra na mata e precisa cortar uma árvore, ele conversa com ela, pede licença, pois sabe que se trata de um ser vivo, de uma pessoa, que é nosso parente e está acima de nós. Os líderes Kaiowá reforçam essa relação com a terra quando lembram, na carta citada, que o criador do mundo criou o povo Guarani para ter alguém que admirasse todo o esplendor da natureza. "O nosso povo foi destinado em sua origem como humanidade a viver, usufruir e cuidar deste lugar, de modo recíproco e mútuo" - escreve o kaiowá Tonico Benites, doutorando em antropologia. "Por isso, nós somos a flor da terra, como falamos em nossa língua: Yvy Poty" - completam os líderes Kaiowá. Se a terra é um parente, a relação com ela deve ser de troca equilibrada, de solidariedade. É como a mãe que dá o leite para o filho. Ela dá, sem pensar em cobrar. Ela não cobra nada, mas, socialmente, espera que um dia, se precisar, o filho vai retribuir”.

 

O que o futuro reserva aos povos indígenas brasileiros?

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A sociedade ocidental tem com a terra uma relação absolutamente comercial-capitalista. A terra é tida como um objeto de troca, cujo valor monetário é a única consideração a se fazer. Desprezam totalmente a ligação afetiva dos indígenas com a terra, e lhes dão o rótulo de povos primitivos, por simplesmente respeitarem seu habitat; por verem a terra como um organismo vivo que merece todo o respeito e reverência.

 

Essa forma de vida dos povos indígenas se sustenta, ainda que com dificuldades, há milhares de anos, ao passo que nós, produtos da selvageria capitalista, com apenas seis ou sete séculos, estamos decretando a morte de um planeta, que tão gentilmente nos acolheu.

 

É preciso repensar... Nossas sociedades precisam reinventar um modo de vida sustentável, simpático à natureza e mais respeitoso para com todos os seres viventes.

 

* Sandra Mara Potey-Miri é historiadora e antropóloga. 

  Seu blog é http://peladignidadehumana.blogspot.com.br/

 

- Referências:

Jornal on line: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

SILVEIRA, Nise. JUNG-Vida e Obra. 22a. Edição. Editora Paz e Terra.

 

- Fotos: Wilner Forini e Sandra Baptista (SP).

 

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