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 Sistema Solar

  

Objeto estranho:

Afinal, o que é Oumuamua?

Por que ainda não devemos esperar por "alienígenas" com essa rocha espacial interestelar*.

 

 O documento que chamou a atenção de todos foi escrito pelos astrofísicos de Harvard Avi Loeb e Shmuel Bialy, que tentaram descrever um comportamento estranho exibido por uma rocha espacial chamada Oumuamua (representação artística acima).

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Algo realmente estranho

 

O chefe do departamento de astronomia de Harvard acha que existe a possibilidade de que um estranho objeto que visitou nosso sistema solar a partir do espaço interestelar possa ser uma sonda alienígena enviada por uma civilização distante. Ele e um colega delinearam sua ideia em um artigo publicado esta semana analisando o misterioso objeto espacial, desencadeando um frenesi na mídia.

 

Mas vamos respirar antes de clamar sensacionalmente por "alienígenas". Uma única ideia sobre o que esse objeto poderia ser não a torna uma única explicação, e muitos cientistas ainda argumentam que uma explicação natural é mais plausível. Para adicionar um pouco de contexto, um dos cientistas que faz essa afirmação "exótica" está atualmente trabalhando em uma iniciativa para procurar vida extraterrestre no espaço profundo, enviando sondas da Terra para outros sistemas estelares.

 

O documento que chamou a atenção de todos foi escrito pelos astrofísicos de Harvard Avi Loeb e Shmuel Bialy, que tentaram descrever um comportamento estranho exibido por uma rocha espacial chamada Oumuamua. Descoberto em outubro passado, Oumuamua é um objeto misterioso que está passando pelo nosso Sistema Solar, vindo de alguma origem desconhecida do espaço profundo. Acredita-se que objetos como este passem pelo nosso Sistema Solar o tempo todo, mas este é o primeiro exo-cometa - ou um cometa de fora da nossa vizinhança cósmica - que já detectamos.

 

Além de ser um achado raro, Oumuamua é um pouco bizarro. Os astrônomos esperavam que um visitante desse tipo fosse um cometa gelado, cercado por um rastro de gás e poeira ao passar perto do sol. Mas o Oumuamua parece não ter esse tipo de nuvem, fazendo com que pareça mais um asteroide, que é feito principalmente de rocha e metal. Então ninguém sabia ao certo o que era essa coisa - um cometa, um asteroide ou algo totalmente novo. Assim, depois de analisar a órbita de Oumuamua', cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) notaram que o objeto estava acelerando, mais do que deveria se estivesse interagindo apenas com a gravidade dos planetas e com o Sol em nosso Sistema Solar. Eles concluíram então que o Oumuamua deveria ser um cometa; desta forma, provavelmente o Sol estaria aquecendo o gelo dentro do objeto, criando gás que fornece um impulso extra de velocidade.

 

Um gráfico mostrando o caminho de Oumuamua através do Sistema Solar.

 

Sonda ou nave alienígena

 

No entanto, Loeb e Bialy estão céticos sobre esta alegação de "expelir gás", principalmente porque ninguém foi capaz de observar gás ou poeira vindos do Oumuamua. Eles também apontam para pesquisas recentes de outro laboratório, que ainda estão sendo revisadas por outros cientistas, onde indicam que, se gás saísse desse objeto, ele mudaria a forma como a rocha está girando - algo que não foi observado. "Isso exclui a possibilidade de que seja um cometa", disse Loeb ao The Verge.

 

Então eles decidiram olhar a uma outra possível explicação para a aceleração: poderia o Oumuamua estar ficando mais rápido graças à luz do Sol? A luz solar pode realmente forçar objetos, dando-lhes um leve empurrão. Talvez este fenômeno seja suficiente para explicar por que Oumuamua está ficando mais rápido. No entanto, se esse mecanismo - conhecido como pressão de radiação solar - é o culpado pela velocidade extra, então o Oumuamua teria que ser extremamente leve e superfino, com apenas um milímetro de espessura.

 

Isso deu a Loeb a ideia de que o “Oumuamua poderia ser o que é conhecido como uma vela leve - uma vela artificial fina que se move na luz do sol”. E esta vela leve pode ter sido enviada aqui de propósito. “Um cenário mais exótico é que Oumuamua pode ser uma sonda totalmente operacional enviada intencionalmente à vizinhança terrestre por uma civilização alienígena”, escrevem Loeb e Bialy em seu artigo.

 

Loeb tem observado velas de luz há anos. Ele é o presidente do conselho consultivo da Breakthrough Starshot, uma iniciativa que prepara o envio de uma espaçonave de vela superfina ao espaço interestelar, impulsionada por um laser gigante. Loeb admite que seu trabalho com a Starshot lhe deu a ideia de que o "Oumuamua poderia ser uma vela leve alienígena". Ainda segundo ele, "Nossa imaginação é limitada ao que sabemos. E o fato de eu estar envolvido em um projeto que usa a vela leve me permitiu ou me encorajou a pensar sobre isso".

 

Loeb diz que acolhe outras explicações que não envolvem alienígenas, mas ele está bastante certo de que sua ideia está correta. “Não consigo pensar em outra explicação para a aceleração peculiar do Oumuamua”, disse ele.

 

Explicação natural

 

Mas outros cientistas argumentam que uma explicação natural ainda pode ser aplicada aqui. Só porque não vimos gás e poeira vindo do Oumuamua não significa que esse material não esteja lá. Os cientistas só tiveram cerca de duas semanas para observar este objeto no final de outubro, antes que ele se afastasse da Terra e se tornasse incrivelmente fraco para observações com telescópios terrestres. O Telescópio Espacial Hubble era então a única ferramenta que tínhamos para observar o Oumuamua até dezembro, quando o observatório rastreava principalmente sua órbita ao redor do Sol.

 

Portanto, é inteiramente possível que os telescópios que usamos para observar o Oumuamua simplesmente não puderam ver determinados materiais fluindo do objeto. Isso pode ser porque não observamos o objeto sob o tipo correto de luz, ou pelo fato de que certos telescópios cruciais não estavam disponíveis para visualizar essa peculiar rocha espacial. "Por causa do tempo e do clima que ocorreu com os telescópios do planeta, não conseguimos ver a poeira", disse ao The Verge, Michele Bannister, astrônomo que estudou o Oumuamua na Queen's University Belfast, mas não esteve envolvido com essa pesquisa.

 

O cometa ISON e sua cauda de gás e poeira, aqui registrado pelo Telescópio Espacial Hubble (NASA).

 

Também é possível que o Oumuamua simplesmente não emita muita poeira, o que tornaria esse efeito de desgaseificação mais difícil de ser observado. "Você pode classificar isso como um objeto de cometa simples. Para tanto, apenas é preciso não emitir tanta poeira quanto os cometas normais", diz Bannister.

 

Cometas em nosso Sistema Solar geralmente liberam incontáveis ​​partículas microscópicas de poeira que refletem a luz solar e podem ser vistas da Terra. Se o Oumuamua não tem muita poeira em sua superfície, então só pode liberar gás, o que é mais fácil de se perder. E há exemplos desses tipos de objetos em nosso próprio sistema solar.

 

"Temos cometas raros que conhecemos em nosso Sistema Solar, que emitem tão pouca poeira que você precisa procurar pelo gás para realmente ver o resultado", afirmou ao The Verge, Alan Fitzsimmons, astrônomo da Universidade de Queen, em Belfast. Ele é autor de um artigo explicando como o Oumuamua poderia ser um cometa.

 

Normalmente, os astrônomos acham que é uma boa prática esgotar todas as explicações naturais possíveis para um fenômeno observado antes de recorrer ao argumento alienígena. Há uma citação, popularizada pelo astrônomo Carl Sagan, à qual muitos astrônomos recorrem quando os alienígenas são apoiados como alguma explicação: “Reivindicações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”. E a maioria concorda que não há nenhuma evidência extraordinária para respaldar a alegação da vela leve neste momento.

 

“Cada observação que temos sobre este objeto, vem com uma enorme incerteza, porque temos muito poucos dados sobre ele”, afirmou Katie Mack, astrofísica teórica da Universidade Estadual da Carolina do Norte.

 

No entanto, às vezes os astrônomos escrevem teorias malucas como essa, para que os membros da comunidade possam dissecá-la e separá-la. “Às vezes você escreve um artigo sobre algo que você não acredita ser verdade, apenas com o propósito de colocá-lo lá fora”, diz Mack. Loeb, por outro lado, não quer que as pessoas desacreditem sua ideia só porque pode ser inflamatória. "Não devemos descartar essa possibilidade só porque algumas pessoas não gostam de ouvir sobre isso", diz ele. “O ponto é que não devemos ter preconceito na ciência. Devemos basear nossas conclusões em evidências, em dados e não em preconceito”.

 

Mas sempre que alienígenas são invocados, essa é geralmente a explicação que recebe mais atenção. Uma situação semelhante ocorreu em 2015, quando os astrônomos propuseram a ideia de que o comportamento estranho de uma estrela distante poderia ser explicado por megaestruturas alienígenas na sua órbita. Essa teoria, sobre a qual muitos têm se mostrado céticos, tornou-se tão onipresente que a estrela acabou sendo chamada de estrela da "megaestrutura alienígena".

 

Claro, a possibilidade existe. Mas, alienígenas são uma afirmação muito ousada a se fazer quando outras explicações naturais ainda estão na mesa. "Eu posso entender a excitação e, como cientista, não posso sentar aqui e dizer que tenho 100% de evidências de que esse é um objeto natural. Apenas, todas as observações podem ser combinadas como sendo um objeto natural", diz Fitzsimmons.

 

E isso pode ser um problema quando nós realmente encontrarmos sinais de vida alienígena um dia. Os astrônomos estão encontrando novos planetas fora do nosso Sistema Solar o tempo todo, e estamos trabalhando em uma tecnologia cada vez mais sofisticada para observar as atmosferas desses mundos.

 

Um dia, podemos encontrar evidências sólidas de que a vida existe no espaço profundo, mas pode ser difícil para o público engolir que alienígenas foram descobertos. "Eu não quero que as pessoas pensem que já vimos isso quando realmente está para acontecer. Eu quero que as pessoas não sejam cínicas acerca das alegações sobre alienígenas, no momento em que realmente temos algo como uma evidência sólida a respeito", afirmou Mack ao The Verge.

 

* Informações de Loren Grush/The Verge, com colaboração de Mary Beth Griggs. Tradução e adaptação de Pepe Chaves para ASTROvia & Via Fanzine.

 

- Fotos: ESO/M. Kornmesser e ESO / K. Meech et al e NASA.

 

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- Produção: Pepe Chaves

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