Astrobiologia
Os sete elementos: Nasa anuncia novo organismo vivo Bactéria diferenciada foi encontrada na Terra e pode estar presente também em outros astros.
Por Pepe Chaves* Para Via Fanzine
Cientistas da Nasa divulgaram a novidade em teleconferência.
Nasa anuncia ‘nova bactéria’
Nessa quinta-feira (02/12) a Nasa, através de sua divisão de Astrobiologia, em teleconferência coletiva à imprensa em sua sede, em Washington (EUA), anunciou uma importante descoberta na área, envolvendo um experimento de caráter biológico.
O anúncio foi precedido de grande expectativa, onde pessoas em diversas partes do mundo esperavam a confirmação da existência de vida fora da Terra. Eufóricos, muitos sites e blogs prenunciavam a possibilidade de ter se encontrado novas formas de vida nas luas de alguns planetas do sistema solar. Mas, a novidade não veio de outros mundos, senão aqui da Terra mesmo, mais especificamente do salino Lago Mono, em Lee Vining, na Califórnia, Estados Unidos.
De acordo com as informações divulgadas pela Nasa e pela revista Science, que publicou artigo dos autores da pesquisa, a equipe da doutora Felisa Wolfe-Simon detectou uma bactéria no Lago Mono que pode crescer usando arsênio, em vez de fósforo, contrariando os conhecimentos científicos.
A geomicrobiologista Felisa Wolfe-Simon, juntamente com seus colegas, cultivaram a bactéria denominada GFAJ-1 em discos e detectou uma anomalia no metabolismo da mesma. O fósforo foi gradualmente substituído pelo arsênio, até que a bactéria crescesse sem necessidade de fósforo, que é um composto essencial para várias macromoléculas presentes em todas as células, incluindo os ácidos nucléicos, os lipídios e as proteínas.
Usando radioisótopos como marcadores, a equipe de Wolfe-Simon seguiu o caminho do arsênio na bactéria, desde a sua assimilação química até sua incorporação em vários componentes celulares. Segundo as conclusões, o arsênio substituiu completamente o fósforo nas moléculas da bactéria, inclusive, no seu próprio DNA.
Precauções
Contudo, os experimentos realizados até agora não são de caráter definitivo e ainda deverão ser questionados por outros pesquisadores. O próprio grupo afirma que ainda é necessário avaliar os níveis de arsênio e fósforo usados no experimento, assim como se certificar de que o arsênio foi realmente incorporado nos mecanismos bioquímicos vitais da bactéria, como DNA, proteínas e membranas celulares.
Mas, já se fazem controvérsias. Steven Benner, astrobiólogo ouvido pela própria revista Science, afirmou que a substituição do fósforo pelo arsênio “não ficou estabelecida neste trabalho”.
Já o pesquisador Barry Rosen, da Universidade de Miami, disse que o arsênio pode estar simplesmente se concentrando nos extensos vacúolos das bactérias e não se incorporando em sua bioquímica. Para ele, a prova definitiva pode vir, por exemplo, na demonstração de uma enzima funcional que contenha arsênio, o que ainda não foi conseguido.
Os cientistas que anunciaram a novidade asseguram que se trata de um experimento e não de uma descoberta, pelo menos, por enquanto.
Descoberta da bactéria GFAJ-1 pode abrir portas para estudo da vida fora da Terra.
O que dizem os cientistas
O experimento é de autoria da cientista Felisa Wolfe-Simon e o artigo publicado pela Science são assinados pelos seguintes autores: Paul CW Davies, Steven A. Benner, Carol E. Cleland, Christopher Charles H. Lineweaver, P. McKay e Felisa Wolfe-Simon.
No estudo, os autores alertam que, “Os astrobiólogos estão cientes de que a vida extraterrestre pode ser diferente da vida conhecida, e pensa ser considerável que novas assinaturas possam ser associadas a estranhas formas de vida em outros planetas. Até agora, porém, muito pouca atenção tem sido dada à possibilidade de que o nosso próprio planeta também pode hospedar estranhas comunidades de vida. Se a vida surge facilmente em condições semelhantes à Terra, como muitos astrobiologistas defendem, então ela pode muito bem ter se formado muitas vezes na própria Terra, o que levanta a questão de saber se uma ou mais biosferas possam ter existido no passado ou se existem ainda hoje. Neste artigo, discutimos possíveis assinaturas de vida estranha e delineamos algumas estratégias simples para procurar provas de uma biosfera sombria”.
Os autores destacam que os estudos remontam o conceito de “biosfera sombria” e com isso, as possibilidades de serem aplicados em locais extraterrestres são discutidas.
“Nossa hipótese é que os sistemas bioquímicos antigos, análogos, mas distintos daqueles conhecidos hoje, poderiam ter utilizado arsênio no papel biológico equivalente ao fósforo”. Dessa maneira, organismos utilizando "vida estranha", como definem os bioquímicos, podem ter se apoiado numa “biosfera sombria” no momento da origem e evolução inicial da vida na Terra ou em outros planetas. Assim, eles acreditam que estes organismos podem persistir até hoje na Terra, contudo, sem terem sido detectados, justamente, por sua situação em nichos fora do comum.
O arsênio é um elemento quimicamente parecido com o fósforo, mas venenoso para a maioria das formas de vida na Terra. Segundo os pesquisadores, o experimento abre toda uma nova variedade de perguntas. “Com respeito à exploração espacial, isso é muito importante, pois mostra que ainda não sabemos o que pode ser tolerado em outros ambientes. Temos que pensar em possibilidades de encontrar vidas que resistem a situações que não conseguiríamos resistir", declarou a cientista Mary Voytek, diretora do programa de Astrobiologia da Nasa.
Também presente na teleconferência da Nasa, Voytek, vê um grande progresso no experimento, "Esta é uma descoberta fenomenal. Se as pessoas estão decepcionadas, sinto muito. Mas é uma descoberta que, fundamentalmente, muda como definimos a vida e, talvez, seremos capazes de encontrar um ET agora", ironizou.
A autora do estudo, Felisa Wolfe-Simon, afirma e indaga, "Até hoje se pensava que todas as formas de vida precisavam de fósforo e agora descobrimos que esta bactéria substitui o fósforo por arsênio. Isso é profundo. O que mais poderemos encontrar?". Ela faz questão de ressaltar que, "Essa descoberta não é sobre o Lago Mono nem sobre arsênio, mas sim sobre pensar sobre a vida em um contexto diferente".
Ed Weier, administrador da Nasa para missões científicas, foi curto e grosso ao afirmar que a partir de agora, "A definição de vida acaba de ser ampliada".
É verdade que, para conhecermos supostas formas de vida extraterrestre, seria necessário antes que compreendêssemos as formas de vida que se situam em nosso próprio meio. E é fato que esta lição ainda não foi totalmente cumprida por nossa civilização. Destarte, um grande passo pode ter sido efetivado nessa caminhada, vez que essa bactéria descoberta no Lago Mono se mostra como uma exceção às regras, ao remontar à possibilidade de excluir o fósforo e adicionar o arsênio junto aos elementos primordiais, o que a torna uma descoberta peculiar e passível de novos desfechos para o futuro da biologia.
A cientista Felisa Wolfe-Simon, co-autora do estudo: "o que mais poderemos encontrar?".
A busca continua lá fora
Apesar de o anúncio da Nasa ter sido encarado com muita frustração por parte dos mais crentes na vida extraterrestre, sobretudo, a inteligente, o fato é que – segundo os autores - as possibilidades levantadas por este experimento remontam novas perspectivas para obtermos essenciais entendimentos acerca da pretensa vida extraplanetaria. Isso, porque, consumados tais levantamentos científicos, uma nova forma de vida, bem diferente do que até então se imaginava, teria sido encontrada aqui na Terra mesmo, bem como poderia também estar lá fora, associada às respectivas variações climáticas e endêmicas.
Conforme demonstra a ciência, todas as formas de vida conhecidas até agora, desde plantas a animais e micro-organismos, dependem de seis elementos químicos para construir as moléculas que formam os seus corpos, oxigênio, hidrogênio, carbono, fósforo, enxofre e nitrogênio. E agora o arsênio, um veneno para as demais formas de vida, pode se encaixar como um sétimo elemento nessa busca pela vida extraterrestre. Se proceder as expectativas, a descoberta deverá, a partir de agora, alterar antigos livros científicos, bem como propor novos rumos para as pesquisas biológicas e astrobiológicas.
* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine (Brasil). - Com informações da Nasa/Science/Agências internacionais, com tradução do autor.
- Imagem: Science/AAAS/Discovery.
- Colaborou: J. Ildefonso P. de Souza (SP).
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