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Experiência
Fenômeno: Silhuetas no Triângulo Mineiro Três interpretações distintas para um mesmo fenômeno: a cultura, a crença e a educação das testemunhas são fatores que devem ser considerados em suas narrativas e interpretações.
Por Fábio Bettinassi* De Araxá-MG Para VF/UFOVIA Abril/2008
A igreja sempre manteve interesse pelos fenômenos paranormais. LEIA TAMBÉM: TV FANZINE: Caso João de Freitas: da terra para o céu Fenômeno: Silhuetas no Triângulo Mineiro Quando a luz escurece a mente: inseto ou disco voador? Suposto objeto voador é capturado em foto OVNI é fotografado em Carmo do Cajuru Bettinassi registra OVNI mais uma vez em Araxá OVNI é fotografado na região de Guarulhos Guarulhos: OVNI é fotografado novamente por testemunha Supostas sondas em Curitiba - FOTOS
PONTOS DE VISTA - Para visualizarmos o grau de condicionamento mental da população da Terra no que se refere a milagres e fenômenos inexplicáveis, vale considerar que o valor de um milagre depende, sobretudo, da idoneidade e do discernimento do agraciado. Geralmente, não existem milagres ou santos milagreiros vindos através de pessoas polêmicas ou de comportamentos anormais diante ao padrão conceitual de vida contemporânea.
Um mesmo fenômeno pode ser observado por três pessoas distintas e receber de cada uma delas uma interpretação única e verdadeira, contudo, onde todas diferem entre si. Isso acontece devido à formação pessoal de cada testemunha e a partir desta, cada caso passa a ser propagado absolutamente de acordo com àquilo o que a pessoa pôde discernir acerca de seu contato com o transcendental.
TRÍPLICE INTERPRETAÇÃO - Um exemplo ilustrativo de uma tríplice interpretação de um mesmo fenômeno foi constatado na cidade de Uberaba, no Estado de Minas Gerais, num dia seco do inverno de 1952, quando sincronicamente, pessoas de formações distintas, observaram objetos voadores não identificados em manobras no céu. Inclusive, segundo as testemunhas, a fumaça que saia de tais objetos, teria formato de silhuetas humanas.
Naquela época, a vegetação apresentava os sinais da seca e toda a população iniciava seus rituais ou rezas em busca da tão abençoada chuva, capaz de revigorar os pastos e as plantações locais. Unidos em torno de apenas uma súplica, os católicos promoviam procissões e romarias, carregando suas pesadas estátuas de santos “bons de milagres”. Enquanto isso, protestantes evangélicos oravam e cantavam para Deus. Os adeptos da umbanda, realizavam despachos e oferendas aos Orixás.
MARIA ABADIA - Na zona rural da cidade residia uma pobre família de camponeses católicos, cujo destaque era uma pequena e frágil criança que, desde os primeiros anos se acostumou a freqüentar a missa na paróquia do vilarejo local, ouvindo o sermão sobre a necessidade de temer a Deus e evitar o pecado. De boa índole, a garotinha, de nome Maria Abadia, enxergava Deus e os santos como um exército de espiões prontos para desencadear a fúria dos céus sobre os pecadores indefesos na Terra. Esse temor dotou-a de uma conduta sóbria e respeitosa que, aos poucos a destacou entre as meninas de sua idade, que apenas se satisfaziam com brincadeiras e ocupações naturais de uma infância despreocupada.
CHICO PENHA - Há alguns quilômetros dali, residia Chico Penha, um boiadeiro forte, de idade mediana. Era famoso pela sua audácia com as mulheres e por ser amante dos vícios mundanos, mas mesmo assim, mantinha uma conduta profissional ativa e elogiada pelo seu patrão. Chico era homem do mato, conhecia os mistérios das plantas e dos animais, fazia “garrafadas” de ervas para curar enfermidades de sua família e foi expectador de inúmeros fenômenos inexplicáveis, mas a população preferia enxergá-lo mais como um arruaceiro incorrigível, classificando seus “causos” como invenções e maquinações de origens alcoólicas.
DOUTOR PITICO - Um dia em que a seca castigava o cerrado mineiro e as reservas de água mal saciavam a sede do gado, a população desatou em rezas e rituais de forma frenética. Longe dali, na estrada que ligava Araxá a Uberaba um potente Chevrolet transitava, carregando em seu interior o ilustre Doutor Pitico, sábio médico e entusiasta dos estudos ocultos. Em determinado momento, Pitico mandou o motorista parar, pois acabava de ver um fenômeno de luzes no céu, sobre uma plantação de milho ressequida de calor. Tomado de imensa curiosidade, desceu do carro, passando a observar com total atenção. As luzes eram emanadas por esferas circulantes voadoras e, em determinado momento, insinuou uma silhueta feminina.
SINCRONIA - Não tão longe, a pobre garotinha Maria Abadia caminhava desolada com seu vestido empoeirado por uma trilha na mata rasteira e espantou-se ao vislumbrar aquelas luzes no céu. De tanto êxtase, a menina teve a impressão de ouvir vozes. Calada e emocionada, ela juntou as mãos e caiu ajoelhada, iniciando uma prece ardente do fundo do coração, porque de acordo com sua pouca percepção das coisas do mundo, lembrou que aquilo parecia muito com as ilustrações que ela via penduradas na sala do catecismo de sua paróquia, na qual uma imagem radiante de Nossa Senhora descia do céu para abençoar um grupo de fiéis.
Após as primeiras orações, as luzes projetaram um vulto com formas humanas. A menina, tomada de grande alegria mesclada de espanto saiu correndo, derramando lágrimas de gratidão, porque, segundo ela, a própria Nossa Senhora teria saído dos céus para visitá-la pessoalmente, fato que não poderia haver glória maior.
Quando Abadia chegou em sua casa, contou o ocorrido aos pais que imediatamente a conduziram ao padre da vila, que a interrogou, através de diferentes técnicas. No final concluiu-se que não se tratava de uma mentira infantil.
No mesmo momento em que a pequena Abadia contemplava as luzes no céu, próximo de lá, sentado sobre a sombra de um velho carvalho, estava Chico Penha, que após o almoço saboreava uma aromática cachaça de rolha. Chico se encontrava meio deitado e olhava o horizonte, ora ou outra, praguejava um palavrão, em repúdio ao calor escaldante.
Entre um impropério e outro, se assustou ao ver um grupo de esferas celestes emitindo luzes e promovendo evoluções, até que, em certo momento, saiu das esferas uma espécie de vapor que se condensou em uma forma que lembrava um vulto de homem. Sem pensar muito, saltou dali, pegou sua faca e colocou-se em posição de defesa, temendo ser a materialização de um ser infernal que vinha oferecer favores em troca de possuir sua alma.
Tomado de medo, montou seu cavalo e seguiu para o vilarejo local, onde, imediatamente, entrou em um bar e tomou uma cachaça dupla, sob o pretexto de espantar os maus espíritos. Enquanto isso, relatou o caso aos presentes, que riram e fizeram piadas, ridicularizando o velho Chico Penha que, furioso, iniciou uma briga de pancadaria. A polícia chegou e deteve o Chico, deixando-o preso por dois dias.
FENÔMENO LUMINOSO - De volta à estrada, após o sumiço das luzes, o pensador Doutor Pitico, concluiu que aquilo poderia se tratar de inúmeras possibilidades, entre elas, a presença de uma nave espacial alienígena, com periféricos de investigação à sua volta, podendo se tratar um objeto de origem interplanetária ou até mesmo, de fenômenos espirituais ou de natureza empírica. Assim, tratou de tomar notas no local e quando retornou para Araxá, escreveu uma matéria relatando o ocorrido ao jornal local. A matéria foi lida por muitas pessoas, mas poucas acreditaram e a massa da população acabou considerando que o velho médico estava sofrendo de distúrbios acarretados por excesso de trabalho.
Ao vilarejo rural, no final daquele dia, uma demorada chuva trouxe frescor e alegrias, a esperança havia voltado. Maria Abadia, pelo seu comportamento exemplar e sua natureza inocente, foi considerada como uma agraciada por Deus, passou a ser visitada por doentes e necessitados que queriam tocá-la, em busca de curas e milagres. Com o passar do tempo, a igreja local a conduziu para um convento distante, alegando que ela poderia desenvolver seus dons e servir de exemplo para a comunidade católica.
Consta que, anos depois, Chico Penha morreu desacreditado e o Doutor Pitico calou-se e nunca mais se manifestou sobre o ocorrido. Maria Abadia cresceu e viveu infeliz, trancada entre o silêncio e a escuridão de um convento. No entanto, do outro lado do globo, um cardeal do Vaticano lendo o seu caso, esboçou um meio sorriso, com a certeza da missão cumprida.
* Fábio Bettinassi é publicitário por profissão, consultor para o diário digital Via Fanzine e co-editor do portal UFOVIA.
- Imagem: Ilustração de Ícaro Chaves.
- Produção: Pepe Chaves para Via Fanzine. © Copyright 2004-2008, Pepe Arte Viva Ltda.
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