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Entrevista exclusiva: Alberto Francisco do Carmo Pesquisador e artista plástico
Por Pepe Chaves* Para Via Fanzine & UFOVIA
Alberto Francisco do Carmo.
Nascido em Belo Horizonte, Alberto Francisco do Carmo, aos 63 anos de idade pode ser considerado um dos principais militantes da história da Ufologia brasileira, tanto como pesquisador, quanto como autor e artista plástico ilustrador. Participou do grupo pioneiro na Ufologia de Minas Gerais, o CICOANI de Belo Horizonte, dirigido pelo ufologista mineiro Húlvio Brant Aleixo. Em seu currículo profissional, é Técnico em Assuntos Educacionais do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Graduou-se em Licenciatura em Física. Além disto, tem habilitações como radialista, artista (diretor, iluminador e cenógrafo) e técnico em espetáculos (operador de luz, sonoplasta e diretor de produção). Estudou Belas Artes na Escola Guignard, tendo sido aluno de Herculano, Yara Tupynambá, Inimá de Paula, Alberto de Castro e Lisete Meinberg, entre outros. Como artista plástico, ilustrou e recompôs diversos casos clássicos da Ufologia brasileira, tendo pesquisado a fundo os meandros de muitos deles. Prepara agora, um inédito trabalho sobre a FAB e os os OVNIs o que inclui uma visão diferenciada da Operação Prato, no qual pretende mostrar novos dados, incluindo seu estudo sobre algumas fotos da citada operação que se encontram em seu poder (claro, as cópias!). Muito mais que um simples ufologista, Do Carmo já escreveu vários artigos sobre temáticas diversificadas para distintas publicações, a nível nacional e internacional. Como radialista produziu programas sobre MPB, dos quais participou a nata da música popular brasileira. Eventualmente, em Brasília, ainda atua como co-entrevistador convidado. Do Carmo acompanha a Ufologia brasileira há cerca de 5 décadas, teve trabalhos publicados em veículos nacionais e internacionais, além de participações em tevê, jornais e Internet. Tudo isso lhe trouxe diversos amigos, mas também desafetos. Metódico, seu trabalho, seja na ilustração como literatura tem como marca registrada o denodo e a naturalidade. Foi um dos mais dedicados colaboradores do jornal Ufo-lógico, veículo editado em Belo Horizonte pela equipe da AMPEU e colaboradores, o qual foi precursor de um formato de informação ufológica que ainda vigora até os dias de hoje no Brasil. Fascinado por aviação, além de uma verdadeira aula de Ufologia brasileira, ele nos fala um pouco do belo trabalho da Embraer que tem emplacado os aviões brasileiros em diversos países. Nesta entrevista concedida com exclusividade a UFOVIA, via e-mail, o intrépido Alberto do Carmo se mostra muito bem consigo mesmo e com a Ufologia atual. Sagaz, desprendido, educado, - mas como sempre, sem muitas papas na língua -, ele nos dá mostra de refinado bom humor e bom senso. Através do espaço cibernético Brasília (DF) e Itaúna (MG), nos chegaram muitas de suas convicções, como, quanto à sua militância na Ufologia; os trabalhos pioneiros do CICOANI; a fantástica noite de 24/11/70, quando BH se viu rodeada de discos voadores; o SIOANI; a Operação Prato; a morte de Hollanda; Caso da Gávea; a arte na Ufologia, além de fazer suas considerações da Ufologia brasileira contemporânea, dentre outras. Como todo bom mineiro, o Do Carmo é bom de causos e sabe de muitos casos... Espirituoso, chega a nos levar às literais gargalhadas numa de suas narrações, como também nos faz rir bastante noutras. Porém, antes de tudo, ele é mestre na arte de falar das coisas sérias; sabe fazer rir, sim, mas sabe também nos fazer refletir e até concluir, em muitas das vezes, o óbvio!
UFOVIA: Alberto, para começar a típica pergunta: onde e quando a Ufologia entrou para a sua vida? Alberto do Carmo: Eu diria que a Ufologia veio a mim. Eu tinha 12 anos, já sabia o que era avião (era aeromodelista) e disco-voador. Estávamos na “onda” de 1954 e eu acompanhava até um programa da Rádio Guarani, de Belo Horizonte, que se chamava Mistérios do Firmamento. O Dr. Heros Campos Jardim, apresentava o programa e nele soube pela primeira vez da existência de Húlvio Brant Aleixo, na época ex-aviador. E soube que ele fundara o CICOANI. Aí o inesperado. Certa noite (tenho essa data, mas nunca lembro) eu estava decorando Latim para uma prova, usando um quarto dos fundos do apartamento de meus pais. Meus pais haviam saído e estávamos eu e uma empregada, esta lá para dentro, escutando novelas no rádio. Eu fui para o quarto dos fundos para evitar o barulho da novela em ondas curtas, que chiava horrivelmente. À certa altura fiz uma pausa. Cheguei à porta do quarto e dei aquela espreguiçada, pensando em tomar um pouco de água, garganta seca devido a ficar falando as declinações em voz alta. Quando levantei a cabeça, vi contra o céu estrelado uma bolinha amarela, muito pequena, mas sem lampejos. Já de espírito prevenido, pensei: testemunha! E gritei pela empregada que já chegou com o objeto amarelado deslocando-se alto perpendicular à avenida Santos Dumont. Parou sobre o Colégio Batista a uns 30° acima do horizonte. Ficou vermelho-cereja mas em seguida, iniciou uma trajetória reta e rápida para a direita e fez um looping em velocidade alucinante e disparou no rumo da Serra do Curral. Eu fiquei estupefato, pois avião nenhum, de 1954 a hoje em dia, não conseguiria nem poderia fazer isto. Acrobacias assim, à noite, são proibidas, até hoje. Ademais, qualquer avião do mundo, seja ele qual for tem de ter as famosas luzes padrão, verde (asa direita) vermelha (asa esquerda), além das luzes de navegação. Todo amarelo e todo vermelho, nem ontem nem hoje, nunca! Foi meu batismo de fogo. Chamei o Húlvio. Ele veio e tomou meu depoimento e da empregada. Foi o começo de uma longa associação. Éramos um bando de entusiastas.
UFOVIA: E como vocês mantinham contato? AC: Reuníamo-nos todos os domingos na sede da União Mineira de Estudantes Secundários, num prédio, esquina da rua Curitiba com Carijós. Isto, graças a uma pessoa maravilhosa, o futuro Dr. Marcos Magalhães Rubinger, futuro sociólogo/antropólogo brilhante e uma das primeiras vítimas da Revolução de 1964. Teve sua casa invadida e ele e sua esposa foram seviciados por um grupo de extrema direita. Aliás havia uma alternância. Num fim de semana reunia-se o CICOANI e no outro o Centro de Estudos Astronômicos César Lattes. O programa do Heros (hoje juiz aposentado) era sobre Astronomia, mas teve a coragem de ser o primeiro programa de rádio do Brasil a abrir-se regularmente para o fenômeno OVNI. E Marcos Magalhães Rubinger com o qual perdemos contato. Só soube do horror passado por Marcos Rubinger, uma década depois. Mas já era tarde porque ele morreu de câncer em 1975. Acho que câncer de tristeza. Fiquei até com um pouco de remorso. Quem tanto nos ajudara e passar pelo que ele passou, morrer sem que ninguém lhe dissesse “posso até não pensar como você, mas eis aqui um ombro amigo!”. Basta entrar no buscador Google que há referências entusiásticas a ele. Fica esta nota como homenagem tardia.
UFOVIA: Quais foram os principais casos que o senhor investigou quando compunha o CICOANI junto do ilustre ufólogo Húlvio Brant Aleixo? AC: Foram tantos! Mas claro que depois de certo tempo, vieram os nossos primeiros casos do que hoje se chama CEIII: Sagrada Família [bairro belorizontino], Baleia, Aeroporto, José Antônio da Silva, além do memorável 24 de novembro de 1970, quando a capital mineira e toda Minas Gerais foram sobrevoados por dezenas, diria até centenas de OVNIs, muitos CEIs, vários CEII e tivemos testemunhos notáveis como os de Roberto Drummond, os radialistas Dirceu Pereira e Rubens Silveira, os irmãos Márcio e Lô Borges. Quase entramos em estafa. A TV Itacolomi (que tivera vários testemunhos de seus próprios profissionais) e o jornal Estado de Minas deram e deram-nos muita cobertura. E nossas famílias entraram na onda de plantão nos telefones de nossas casas que tocavam sem parar. Minha mãe mal podia cuidar de casa, fazer o almoço. No fim, tivemos de desistir de cobrir tudo. Simplesmente não conseguimos.
'A noite de 24 de novembro de 1970 foi uma amostra do que pode acontecer, de repente, com um planeta inteiro. Usando uma imagem mais contemporânea, pareceu-me um ensaio de Independence Day'. Sobre a fantástica noite onde ocorreram avistamentos múltiplos em Minas Gerais.
Húlvio Brant Aleixo entrevistando em sertanejo mineiro. O CICOANI registrou uma infinidade de casos narrados por pessoas humildes residentes em regiões rurais.
UFOVIA: E alguém do grupo presenciou ou fotografou esta “revoada de 1970”? AC: Aí que está o problema. Mais uma vez, fomos apanhados de surpresa. A fotografia já era mais popular em 1970, mas nem tanto. No grupo, os fotógrafos, éramos eu e o Manuel Simões Neves. E a coisa atacou ali pelas sete, sete e meia da noite, quando todo mundo ou está jantando, ou batendo um papo, começando a ver TV, muita gente dentro de casa, etc. Aliás eu diria que "eles" usaram a mesma tática do caso Sagrada Família. Fizeram uma incursão ousada numa hora bem semelhante, quando a situação é a exposta acima. Eu chegara do banco onde trabalhava, comera qualquer coisa e me deitara em trevas totais, para descansar um pouco. E mais tarde, quando desci para encontrar pessoas, normalmente na Cantina do Lucas no Edifício Maletta (morava bem em frente) fui recebido por uma turma, que incluía até uns gozadores, na base do "você viu, que coisa?!". E eu tirando uma soneca. Aí telefonei para o Húlvio e fiquei sabendo do acontecimento e da seriedade do incidente todo. Eu descarreguei minha frustração, mais tarde, escrevendo um manual de fotografia para ufólogos em parceria com o Manuel, mas atraiu a atenção apenas do Dr. Max Berezovsky. Tenho a impressão que algumas pessoas do grupo viram, só que não me lembro quem. Acho que a saudosa atriz Wanda Marlene foi uma delas.
UFOVIA: Como pode ser definidas as ocorrências registradas na noite de 24 de dezembro de 1970? AC: Em suma, a noite de 24 de novembro de 1970 foi uma amostra do que pode acontecer, de repente, com um planeta inteiro. Usando uma imagem mais contemporânea, pareceu-me um ensaio de Independence Day, quanto à surpresa nossa, não necessariamente quanto às intenções "deles". Mas nós todos ficamos tontos.
UFOVIA: Como foram feitas as investigações em tantas ocorrências simultâneas? AC: Saíam Húlvio por um lado, eu por outro, Maria Irene de Melo Neves, acho que Manoel Simões Neves, Roberto Castro Aleixo, e chegavam mais e mais telefonemas. Eu desenhei uns quarenta retratos falados, dos quais tenho uma boa amostra. Formas diferentes que iam do clássico “bacia” a “Saturnos”, ogivas... Um carregava um tetraedro na parte de baixo com luzes violeta. E um pousou no Hipódromo Serra Verde [veja ilustrações nesta página]. Sua aproximação foi sentida pelo pessoal de cozinha do hipódromo. Ouviu-se um sibilar forte (o que é raro) e moscas começaram a cair mortas do teto de metal. Ele pousou fora, chegou a soltar uma escada e depois recolheu-a e decolou, depois que um dos funcionários saiu ao encontro dele com uma arma na mão. E o Sr. Ronaldo Rogério de Freitas Mourão disse que tudo era um meteoro. Ficamos muito aborrecidos. Foi ele dizer isto e os telefonemas praticamente cessaram. Em suma, há sutis formas de censurar e cercear o nosso trabalho. Se não querem nos ajudar então: “em festa de jacu, inhambu não deveria entrar”. Ou ainda “se você não tem o que fazer não o faça aqui”.
UFOVIA: Seu artigo sobre o chamado Caso Baleia, ocorrido no hospital homônimo, em Belo Horizonte acaba de ser publicado pela Revista UFO italiana. Por favor, sintetize-nos sobre este caso e nos coloque suas conclusões sobre o mesmo. AC: Este é um clássico. E não foi só na Itália, onde essa Revista UFO não tem nada a ver com a nossa. É uma homônima. Mas antes, o Sr. Brent Raynes já o publicara no site Misterius América. E estas revistas, digamos assim, não desmerecem em absoluto tudo o que já se publicou sobre ele, sob o comando do Prof. Húlvio Brant Aleixo. Apenas resolvi contar mais sobre os bastidores do Caso Baleia, inclusive algumas reações do pobre rapaz (que hoje já deve ser homem maduro) de como o “trituramos” numa mega entrevista na casa do caricaturista Rujos, do horror que o rapaz tinha em ter de voltar ao local no dia seguinte, quem era Davi Hazam e o que representava no DOPS, a observações do pai do rapaz, quanto à inquietação do filho na véspera do “reencontro” que não houve etc. Nada disto saiu nos primeiros relatórios e julguei importante e chegada a hora de revelar isto também. Resumindo: um rapaz, que representava uma firma de cortinas venezianas, resolveu ir ao Hospital da Baleia tentar uma venda. Em lá chegando disseram-lhe que deveria procurar uma pessoa que estava no bloco de doenças contagiosas, ao qual se chegava por uma ladeira não muito forte. Ao lado da mesma havia um campo de futebol. Ao passar ao lado, Fábio, o tal rapaz, viu algo como um enorme cogumelo marrom com uma fileira de janelas, o tronco do qual era negro. Abaixo piscavam luzes coloridas. Ficou curioso, não pensou que era disco voador.
UFOVIA: Ele chegou a se aproximar do suposto veículo voador? AC: Sim! Ao aproximar-se, desceu uma espécie de cortina de vidro que rodeou o cogumelo todo pela borda. Do tronco (coluna preta) abriu-se uma porta corrediça (não havia sinal de porta, foi como “rasgar o metal na hora”) emergiram dois enormes humanóides com um macacões verdes e justos, olhos redondos sem esclerótica e pálpebras, um dos quais parecendo portar uma arma tipo metralhadora, mas que era um tubo que se prendia ao antebraço por uma faixa, seguro pela mão esquerda. O rapaz apavorou-se e tentou fugir, mas uma voz profunda gritou-lhe em português: “volte, não corra!”. O rapaz, assustado voltou-se e veio a ameaça ilógica e surrealista: “Amanhã, neste mesmo horário, volte ou levaremos sua família”. Fábio ainda tarmudeou um “mas, por que?”. Eles não responderam, entraram no OVNI, que decolou e parece que sumiu no espaço de repente. Apavorado, desistiu da venda, pegou um ônibus e entrou no DOPS de Belo Horizonte e teve uma crise de nervos. David Hazam, famoso pela dureza, viu entretanto que o rapaz não estava mentindo. Chamou Húlvio Brant Aleixo e aí começamos uma investigação intensa. Pessoalmente, acho que é um caso autêntico.
'Roberto se perdeu em comparações como 'era mais bonito que a Margot Fonteyn dançando no céu'. Sobre o avistamento de um UFO pelo escritor mineiro Roberto Drummond, em BH.
Membro do CICOANI colhendo relato de uma testemunha de avistamento ufológico no interior de Minas Gerais.
UFOVIA: Este foi apenas um dos muitos casos investigados pelo CICOANI em Minas Gerais. Para o senhor, qual a contribuição do CICOANI à pesquisa ufológica no Brasil? AC: Bem, em primeiro lugar, o pioneirismo. Mas, depois creio que desenvolvemos muitas coisas em termos de técnicas de entrevista, retratos falados, cobertura fotográfica de investigação e um estudo quase antropológico de testemunhas no mais absoluto estado de pureza testemunhal, não expostas à mídia, sem luz elétrica, sem nem saber que nome dar aos objetos que os visitavam, ou melhor, davam corrida neles. Rompemos, pois, com o mito burguês e preconceituoso da “testemunha bem qualificada”, que os norte-americanos adoram. Sabe aquela coisa: “testemunha boa tem de ter diploma, nunca ter roubado uma bala da confeitaria, nunca ter perdido a cabeça”. E gente do mato, nem pensar! Pois bem. Nós introduzimos o Jeca-Tatu na Ufologia e provamos que, eles sim, na calma e simplicidade deles, eram capazes de nos fornecer nuances e dados que um doutor apavorado e histérico jamais forneceria.
UFOVIA: Então o senhor acredita então que o depoimento de uma “testemunha bem qualificada”, ou seja, um cidadão intelectualizado e versado, poderia acrescentar menos a um pesquisador do que o testemunho de um humilde ruralista, por exemplo? AC: A testemunha "qualificada" pode ter problemas de comunicação ou de mentalidade. Por exemplo: na noite de 24 de novembro de 1970, já descrita, uma freira de um colégio do bairro da Serra, em Belo Horizonte, ao ver uma espécie de ogiva luminosa [veja ilustração nesta página] pairando sobre o pátio, gritou para que as alunas não olhassem para aquilo. Mais tarde comentou: "pra mim aquilo é uma HERESIA". Nada a ver... Mas isso é uma amostra do quanto as religiões ficariam aturdidas, no caso de um futuro contato oficial com alienígenas. Por outro lado, o depoimento de Roberto Drummond [N.E.: Já Falecido. Escritor, jornalista e colunista mineiro. Autor da obra “Hilda Furacão”, entre outras.] só tem valor pelo porte intelectual dele e, pelo fato de ele estar na porta do Palácio do Rádio, na avenida Assis Chateaubriand, quando o fato aconteceu, acompanhado por vários colegas. Sabe-se que eles viram algo luminoso fazer evoluções sobre o Edifício Acaiaca. Mas quanto a descrever objetivamente, quase nada. Roberto se perdeu em comparações como "era mais bonito que a Margot Fonteyn dançando no céu" [risos]. Ou, foi como "um passe de Pelé" [risos]. Anos depois confirmou o caso, a meu pedido, para o Jornal de Brasília, quando concedemos uma entrevista. Aí não resistiu: "era mais bonito que a Xuxa nua no céu" [gargalhadas...]. Em suma, para enfeitar o testemunho e convencer a elite que certamente o leria, ele acabou misturando as coisas e afinal de contas nunca saberemos, da forma, cor, maiores detalhes etc. se dependermos dele ou de gente assim. Entretanto, gente mais simples, fornece detalhes muito melhores, numa boa.
UFOVIA: O CICOANI era formado somente por mineiros? O senhor poderia citar os principais pesquisadores envolvidos com o grupo? AC: Creio que sim, com algumas exceções, como o Sr. Manuel Simões Neves que é baiano. Não sei como anda o grupo hoje, porque tomei a decisão de me afastar. Mas citaria além de Húlvio e o Dr. Heros Campos Jardim, figuras como Durval Gomes, Vasco Rocha, Roberto Castro Aleixo e Ronaldo Teixeira (biólogos), Edson Agmar de Moura (psicólogo), Maria Irene de Melo Neves (artista plástica) e sua mãe Irene de Melo Neves (poetisa), o desenhista Rujos, Wanda Marlene (atriz, falecida), Luiz Romaniello, Vitorio Pacaccini, administrador e um dos documentaristas do grupo, mais tarde se tornou figura de destaque nas investigações do Caso Varginha. E também Vera Filizzola, uma figura maravilhosa, ex-bailarina clássica. E no início, acho que poderia incluir Marcos Magalhães Rubinger, que além de conseguir nossa primeira sala de reuniões, era sempre o primeiro a chegar para abri-la. Mas há muito mais gente, pois alguns ou era muito jovem ou foi há tanto tempo que não me lembro mais, ou pessoas com as quais o Húlvio mantinha contatos paralelamente ao grupo principal.
'As tentativas de denegrir indiretamente o caso, com narrações tétricas sobre o ambiente em O Cruzeiro, direi que acho isto, de uma bobagem absoluta'. Sobre as acusações de suposta fraude ufológica veiculada pela revista O Cruzeiro, no Caso da Gávea.
UFOVIA: De Minas para o Rio: o caso do UFO fotografado na Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, vem sendo contestado por alguns pesquisadores que taxam a fotografia veiculada pela revista O Cruzeiro mostrando um UFO no Rio, como sendo uma fraude. O senhor conheceu pessoalmente os envolvidos na produção dessa histórica matéria, além disso, teve acesso a vários dados a respeito do caso. Quais são suas impressões sobre esta polêmica criada em torno desse caso tradicional? AC: O caso aconteceu em 1952, quando eu tinha 9 anos de idade, mas eu o li vorazmente, porque minha mãe colecionava O Cruzeiro. Em termos humanos, acho que dois profissionais e seres humanos do quilate de João Martins e Ed Keffel (um dos pais da fotografia colorida no Brasil) não se envolveriam numa fraude e nem O Cruzeiro se meteria nesta. Era a melhor e mais respeitada revista do Brasil. Chateaubriand, seu dono, era um performático, irreverente, esculachado. Mas na revista era alguém sério e até duro.
UFOVIA: Mas, e as novas análises e dados levantados? Como o senhor os considera? AC: Eu não vou entrar em detalhes aqui, mas já apontei falhas nas análises já feitas. Uma coisa é saber como a luz se propaga, outra é saber como ela é captada, sobre um filme, por exemplo. As opiniões e juízos formados até agora, a meu ver, que fotografo profissionalmente (intermitentemente) desde 1967, ótica 80, fotografia zero. E tenho uma última carta na manga, que não vou entregar assim, assim... Também não se procurou conhecer o contexto familiar dos envolvidos, que é um contexto riquíssimo do qual se podem fazer boas inferências e juízos de valor. Entretanto, nessas horas é que a gente percebe a insignificância da Ufologia, entre as pessoas em geral, leigas ou mesmo levemente interessadas. As famílias dos envolvidos não tinham a menor idéia de como o nome dos seus entes queridos andavam na boca dos ufólogos e “ufólogos”. Não tinham idéia... Agora, têm-na. E não estão muito satisfeitas... Ademais, recebi recentemente um lembrete de Chica Granchi, filha de nossa geniosa, mas valorosa Dona Irene Granchi. Ela investigou o caso, inclusive, teve a gentileza e generosidade de me ceder documentos que incluem cópias de cartas de Martins e Keffel remetidas a ela, mais o depoimento decisivo de um médico. E é tratada pelos debunkers do caso (palavras de Chica) como “se ela não existisse”. Mais, não posso dizer, por agora.
UFOVIA: O senhor como jornalista e pesquisador, pretende publicar algo sobre este caso que é também bastante conhecido internacionalmente? AC: Sim. Vou soltar um estudo sobre o caso. Quase soltei antes da hora, mas dou graças a Deus hoje. Uma peça importante se adicionou ao mesmo, qual seja o contato direto com o filho de João Martins. Sobre as tentativas de denegrir indiretamente o caso, com narrações tétricas sobre o ambiente em O Cruzeiro, direi que acho isto, de uma bobagem absoluta. Nenhuma redação é “compoteira de anjos”, usando um termo que aprendi com o saudoso Felipe Machado Carrión. O ambiente é sempre pesado. E até por isto, apesar de uns voos e revisitas temporárias, não virei jornalista. Portanto, tais informações, para mim não acrescentam nada. Quando eu tinha uma coluna de Aviação no jornal Estado de Minas, percebi que estavam me boicotando, porque estava crescendo demais. “Quem lê sua coluna?” me perguntava um dos redatores chefes. Um dia, saindo triste da redação depois de mais uma dessas, alguém me chamou lá dentro. Era a recepcionista: “Uai, você que é o rapaz que escreve sobre Aviação? Nunca ninguém me diz quem é você. Estou com um monte de coisas para você!”. E me entregou quase um caixote médio de correspondência. Tinha carta de leitor, convites para eventos e solenidades, British News Service, USIS, tudo! Meu sangue ferveu. [risos].
UFOVIA: E o redator? AC: Voltei ao redator. “Você perguntou quem lê minha coluna? Leia, seu sem-vergonha!”. E despejei o caixote sobre ele e nunca mais pisei lá. [risos]. Violento? Uma colega minha jogou uma máquina de escrever em cima de um chefe e não foi nos Diários Associados. Como é que você acha que é o ambiente na Globo? Por que o Joelmir Betting e o Carlos Nascimento foram para a Bandeirantes? O trem é feio, camaradas.
'Tais líderes, que já tendiam a excluir, ou segregar seus companheiros 'incômodos', deram a tais papas de araque até o poder de excomunhão' Sobre os relacionamentos na comunidade ufológica contemporânea no Brasil.
Reconstituição da ogiva vista pairando sobre o pátio de um colégio de freiras no bairro Serra, em BH. Ao vê-la, uma freira ficou assustada e mais tarde comentou que aquilo era uma heresia.
UFOVIA: É verdade! Que o diga a Ufologia... Por falar nisso, como o senhor descreve o atual panorama ufológico brasileiro? AC: Péssimo! O fenômeno retraiu-se e ficou difícil de ter casos novos, pelo menos com aquela presença ostensiva como na noite de 24/11/70. Além disto, a primeira geração de ufólogos não soube preparar as gerações vindouras, devido a várias “estrelas solitárias” e amadorismos sem fim. Com isto a Ufologia de hoje, está infestada de gente muito mais sem rumo do que nós, no princípio de nossas experiências. No princípio, fomos um bando de entusiastas, cada um, tocados pelo fenômeno, de alguma forma. Depois nos tornamos investigadores e/ou cientistas improvisados, clamando por socorro da dita ciência oficial. A ciência oficial não respondeu aos nossos apelos, restando-nos três alternativas.
UFOVIA: Quais seriam estas alternativas? AC: Primeiro, levar nossas buscas, investigações, pesquisas improvisadas até um ponto, onde obtivéssemos alguma prova ou evidência forte e entregá-lo à ciência oficial, encurralando-a. A segunda seria tornarmo-nos, nós mesmos, investigadores e cientistas, o que implicaria em estudarmos uma espécie de currículo básico de conhecimentos para levarmos melhor, a cabo, os nossos trabalhos. Ou nos tornaríamos simulacros de cientistas e perder-se-ia mais credibilidade e interesse do público e da ciência, que já não eram grandes. Por exemplo, irrita-me gente falando de Relatividade, Universos Paralelos e "dimensões", sem ter lido nada sério a respeito, por exemplo os dois livros básicos do Stephen Hawking. Então são todos ou quase todos simulacros de cientistas. Foi o que aconteceu e está acontecendo.
UFOVIA: Por favor, cite-nos um exemplo de como isso pode se dar de forma prática. AC: Formaram-se grupos onde "líderes" transformaram os companheiros em súditos e/ou criados, não lhes dando quase nenhuma chance de produzir, paralela ou conjuntamente, qualquer tipo de trabalho. Cercados, pois, de servidores quietos e obedientes, os "lideres" de modo geral, tendiam - e tendem - a serem os porta-vozes... Deles próprios, embora, às vezes, digam que falem em nome de si e dos demais. Mas o pior é quando os líderes se tornaram fâmulos daquele, que - dentre eles - parecia o mais forte, transformando-o numa espécie de papa da ufologia [risos]. E tais líderes, que já tendiam a excluir, ou segregar seus companheiros "incômodos", deram a tais papas de araque até o poder de excomunhão. Daí as acusações externas de que nos comportamos como seitas, que nosso modo de agir é quase religioso. Já há até teses de mestrado que nos tratam assim. Ouvimos essa acusação freqüentemente. E surgiram as falsas associações, "centros" de estudo, de pesquisa e até institutos! Todos de fachada, geridos por pessoas que nem sabem o que é escrever um artigo científico. Isto gera rejeição quase imediata pelos cientistas, já não muito dispostos a encarar o assunto. Quando fiz universidade é que dei por isto. E vi a diferença. Por exemplo, a UnB, apesar dos pesares, só me chamou, após ver uma tentativa de artigo científico meu, sobre Ufologia. São macetes.
UFOVIA: Então o senhor vê esses grupos como “quase fictícios”? Explique. AC: Sim, o que fez com que Jacques Vallée, por exemplo, quase pregasse que o melhor era fazer pesquisa individual, porque associações ufológicas não funcionavam. O que é ir de um extremo a outro. Mas o fato é que encontramos muitos grupos de uma dúzia, meia dúzia, três, dois e até vários de um, ou seja "grupos do eu sozinho". Mas o fenômeno do elemento dominante e castrador, o "Papai-sabe-tudo", mesclado com o "João dos sete instrumentos, mestre de nenhum", ou ainda o "Zé deixa que eu faço", é muito freqüente. A frustração sobre as pessoas faz com que esses grupos vivam um eterno entra e sai de membros.
UFOVIA: O senhor poderia dar nome aos bois? AC: Não, eu não sou bobo. Carapuças ao luar! [risos]. Mas certa vez um secretário de uma dessas organizações, queixou-se comigo do eterno presidente da mesma. Disse-me que cada vez que ia escrever uma carta, o líder modificava tudo e tanto, que era melhor que este tivesse escrito tudo ele mesmo. Este comportamento prejudica à consciência de certos fatos que emergem da casuística.
UFOVIA: Como por exemplo... AC: Sendo autoritários, nunca perceberam que o fenômeno, como um todo, manifesta-se clandestina e autoritariamente. E até mascaram o autoritarismo alienígena usando por exemplo, a palavra "abdução". É uma forma de suavizar e esconder a violência daquilo que é um seqüestro, um ato de violência contra seres humanos. Eu odeio esta palavra, abdução. É um modo de dourar a pílula, e no fundo aceitar atitudes de prévia dominação da espécie humana.
'O pessoal da FAB procurava um ufólogo, contava, mostrava as fotos e deixava a ordem do 'não conta pra ninguém'. Um dia nos demos conta que todos sabiam e nenhum sabia que o outro sabia' Sobre os contatos da FAB com os ufologistas.
A mesma ogiva anterior, ou outra similar, avistada no bairro do Calafate, porém envolvida por fumaça. Esta ogiva foi avistada em quatro situações diferentes na incrível noite de 24/11/1970
UFOVIA: Mas isso não acontece de fato? AC: O ideal e ainda possível é ter consciência desses erros, consertá-los e ir em frente. O que não está acontecendo.
UFOVIA: E como o senhor analisa essa Ufologia de hoje em relação ao que era feito pelos ufologistas dos anos 70, por exemplo? AC: A gente podia ser principiante, mas uma coisa eu lhe garanto: nunca ninguém deu murros um no outro, ou insultou, ou pôs a orientação sexual de algum de nós em dúvida. Podíamos até ter discordâncias, mas, “barraco”, não. Tínhamos classe, boa educação e uma certa camaradagem e tolerância para evitar esta ou aquela excentricidade do colega, se houvesse. Mas o melhor é que tínhamos casos. E pipocando. Hoje “eles” ficaram espertos... Afinal a fotografia se popularizou, filmes sensíveis para todo mundo e finalmente as câmaras digitais. Então, estão dando uma de Greta Garbo: “leave me alone”.
UFOVIA: Mas fato é que os UFOs já apareceram muito, seja propositalmente ou porque “deram bandeira”. E remexendo este caldeirão de efervescente caldo casuístico, para o senhor, qual foi, comprovadamente, a mais fantástica ocorrência envolvendo Ufologia já ocorrida no Brasil? AC: Também é o caso: são muitas. Temos os melhores CE III do mundo, inclusive o primeiro bem descrito e relatado, que é o do senhor José C. Higgins, ocorrido no Paraná, em 1947. Todos os CEIIIs das ondas do Vale do Tietê em meados dos anos 60, o envolvimento da FAB com os OVNIs em 1954, 1986 e 1977, quando da famigerada Operação Prato e suas extensões. Além das melhores fotografias por pessoas gabaritadas, a saber, Keffel e Baraúna.
UFOVIA: Sabemos que o senhor tem feito uma intensa pesquisa de gabinete acerca da Operação Prato, da qual pretende tornar públicos novos dados sobre o assunto. Poderia nos adiantar alguns detalhes sobre esse trabalho? AC: Não é apenas sobre a Operação Prato e nem ela é tão de gabinete assim. Afinal, graças às ligações de Húlvio Brant Aleixo com militares e a FAB (ele graduou-se na Escola de Cadetes do Ar) ficamos sabendo da coisa lá no Norte, pouco depois do ocorrido, numa reunião feita num fim-de-semana na casa do Húlvio, com participação do tal Coronel Camilo [N.E.: Coronel Camilo Ferraz de Barros, do I COMAR, Belém/PA. Ele foi quem entregou a OP ao comando do capitão Uyrangê Hollanda]. Eram umas cinqüenta ou mais fotos 9x12 que não diziam nada em si, a não ser pela fonte. Se você pegar o Capítulo 2 de meu artigo Ufologia Protociência, Pseudociência ou Ciência publicado pelo Jornal Ufo-lógico nº 3 [N.E: Veículo jornalístico pioneiro na Ufologia brasileira; era editado pelo AMPEU, em Belo Horizonte] eu falo e muito sobre a FAB em geral e sobre o que se convencionou chamar de Operação Prato. Está lá, tudinho. E dissemos isto tudo, no alvorecer da Abertura. Antes era um negócio “grilante”. O pessoal da FAB procurava um ufólogo, contava, mostrava as fotos e deixava a ordem do “não conta pra ninguém”. Um dia nos demos conta que todos sabiam e nenhum sabia que o outro sabia. Soube recentemente que um deles era buscado, semanalmente para reuniões com militares, com escolta armada! A coisa durou meses e foram só bla-bla-blás. Foi quando Dona Irene Granchi deu uma das suas: “Mas isto é o Segredo do Polichinelo”. Isto está no meu texto pra quem quiser ver, desde 1984 ou 1985. Mas para certa “panela”, valem as palavras de Caetano Veloso em Sampa: “Narciso só acha bonito o que vê no espelho!” . Não vêm os outros e por isto, estão se afogando, como Narciso que acabou afogado no lago onde ficava se admirando.
UFOVIA: Sabemos que existem raríssimas fotos que integram sua pesquisa sobre a OP e, ao que consta, são originais produzidas pela própria equipe da Operação Prato. Estas fotos foram cedidas por fontes militares? AC: Foi graças a um “olheiro” - que não revelo quem é, de jeito nenhum -, caíram em meu poder 18 fotos 19x24 com dados e esboços no verso. E mais um sumário de casos sobre os quais estou trabalhando. Segundo um colega italiano, viu numa parte do meu estudo, um lavoraccio! Eu passei isto para Deus e o mundo, mas jogaram para lá. O Bob Pratt, não sei se por sentir que não ia durar muito, ou por não ter resistido a uma “furadinha de chapa”, publicou a relação de casos. Tirou um pouco a surpresa, mas o que estou fazendo não tem nada com listar casos, um primeiro que o outro. É tratar os dados. Só que aquilo já está do tamanho de uma resma de papel. Não gostei, mas vá lá, porque ele [Bob Pratt] me ajudou muito em outras ocasiões. Há momento em que olho para aquilo tudo e me dá vontade de fugir, pois vou mexer num tremendo vespeiro. Está levando mais tempo, porque, como bom ufólogo, não tenho tempo integral. Trabalho. E nos fins de semana, não é todo que a gente agüenta sacrificar. Não sou de ferro.
'Acho que a FAB errou redondamente em escolher por acaso, uma pessoa psicologicamente frágil para uma empreitada dessas' Sobre Uyrangê Hollanda no comando da OP (FAB).
Reconstituição do UFO que matou moscas e aterrissou no Hipódromo Serra Verde, em Belo Horizonte. Bem clássico. A pessoa que chegou mais perto disse que o ruído de ejeção e recolhimento da escada parecia o de uma enceradeira.
UFOVIA: E como foi para o senhor, presenciar algo tão “anormal” ? AC: Dá um frio na espinha, você olha para aquilo e pensa, “Meu Deus, isto não é deste mundo! O que é que é isto?!”. Esta ocorrência está num relatório que nunca foi divulgado e que só recentemente recuperei uma cópia xerox, porque - para variar - os originais estão nos arquivos do CICOANI. Aí digitalizei. Foi um negócio de arrepiar. Agora, imagine uma pessoa e uma equipe que passa dois anos vivenciando experiências dessas. Pode(m) enlouquecer. Aliás, por isto mesmo e pelos demais problemas que “ser ufólogo” acarreta em termos de aceitação no seu meio (atritos familiares, no trabalho etc.) recomendo (porque eu o faço e não me arrependo) umas eventuais visitas ao psicólogo. É muito bom.
'Ele falou umas certas coisas sobre política com o Bob Pratt, que já mostram que a cabeça dele não estava bem, nos anos próximos à sua morte. O Bob até ficou aborrecido comigo, pois acreditou piamente em várias bravatas dele, porque não conhecia a História do Brasil' Sobre Uyrangê Hollanda.
UFOVIA: Ainda sobre os casos amazônicos: para o senhor, o que se esconde por detrás dos fenômenos sabidamente comprovados na época da Operação Prato, realizada em 1977, no Estado do Pará? AC: A incapacidade dos poderes públicos, especialmente os de defesa, de que há algo no ar além dos aviões de carreira e pássaros, ou nuvens ou estrelas, e eles nem conseguem controlar e o pior de tudo - nunca poderiam fazer frente. Todo militar se sente na obrigação de apresentar-se como potente ou onipotente perante o público do seu país ou do mundo. No caso dos UFOs, não podem fazê-lo. Daí piram e ficam escondendo, o que é pior. Quando Churchill disse ao povo britânico que nada podia prometer senão “sangue suor e lágrimas” (ou pelo menos lhe atribuem esta frase) o povo britânico caiu na realidade, se uniu, enfrentou melhor este trio de sangue, suor e lágrimas e acabou vencendo a guerra. Por exemplo: no dia em que as massas forem esclarecidas não haverá mais histórias trágicas e canhestras de “contatados”. Tenho base sólida para dizer que se qualquer pessoa que se tornou um deles, tivesse tido antes a oportunidade de ser, primeiro convenientemente instruído, depois esclarecido de como se comportar em caso de abordagem alienígena, não haveria tanta gente iludida, manipulada e até despersonalizada. Então o que se esconde atrás disto tudo é falta de franqueza e de senso de estratégia. Ficam naquela palhaçada de “o pânico, o pânico, o pânico!”. Só se for o deles...
UFOVIA: Apesar de não existir ainda comprovação cabal de que os fenômenos foram gerados por seres extraterrestres, grande parte dos pesquisadores inclina-se a acreditar, piamente, nesta possibilidade. Como o senhor a analisa? AC: Aqui faço restrição a duas palavras, “cabal” e “piamente”. Diante de tudo que já vi e ouvi contar em cinqüenta e dois anos de Ufologia, estamos muito próximos do “cabal” e só não vê quem não quer ou tem medo do que possa vir daí. Por outro lado temos o termo “piamente” . Acreditar piamente em bruxas, por exemplo. Acreditar ingenuamente. Ora, eu acredito, não, tenho certeza, de que ninguém neste planeta, diante da inexorabilidade do fim do petróleo, não se importa quando; do efeito estufa; do custo operacional astronômico do poder aéreo, militar ou civil e, agora com efeito estufa agravado pela emissão de gás carbônico, fosse capaz de estupidamente manter em segredo formas melhores de voar. Toda coisa que voa neste mundo, viva ou inerte, o faz por dois motivos: pelo conceito de aerofólio e Teorema de Bernouilli, necessita de uma asa para voar no esquema do “mais pesado” que o ar. Até um helicóptero tem asa, só que rotatória. Segundo, por gerar energia biológica para bater as asas, ou no caso das aeronaves, produzir grandes quantidades de gás carbônico ou deslocar grandes quantidades de ar. Dependemos pois disto, do avião de papel ao X-15, que é ainda a aeronave que voou mais rápido na nossa atmosfera. Eu tenho um livro chamado Aeronaves Não Convencionais, de Peter Bowers (Editora Record) que mostra tudo quanto é avião esquisito já produzido ou que se tentou produzir na Terra. E há algumas asas circulares. E em todos os casos não funcionaram ou não tiveram futuro. Asas ou formas circulares se revelaram um fracasso. E o livro está cheio de modelos desses, até um dos anos 30. Veja o caso dos triângulos voadores imensos. Eles não tem a forma de aerofólio. Têm forma desses sanduíches naturais, cantos vivos. Então se já é difícil para um avião de asa delta voar devagar, imagine um que além de voar devagar, pára e fica lá na boa! E com bordas com cantos vivos! A mesma coisa vale para charutos cilindros, cones, o escambau! Então, tenho boas razões, assim como muitos, de pensar que não são deste mundo. Deste mundo, no máximo, umas imitações canhestras, como as vistas nesse livro que citei.
UFOVIA: Qual é seu pensamento sobre a morte do coronel Hollanda? AC: Acho que a FAB – e isto está naquele texto do jornal Ufo-lógico - errou redondamente em escolher por acaso, uma pessoa psicologicamente frágil para uma empreitada dessas. Quando conheci o pessoal do SIOANI, lá por 1969, por aí, já os achei muito canhestros, piores do que nós. Eu adoraria por exemplo que a FAB (aproveitando que estávamos numa Ditadura) tivesse levado para lá, por livre e espontânea coação [mais risos], gente feito o Mourão, o Goldenberg, o Luiz Pinguelli Rosa, o Gleiser (se bem que, este, naquela época ainda estava nos cueiros) um certo povinho da UFMG, outro da UnB, outro da USP... Pode ser até que não se convencessem, mas a turma ia ter de levar muito papel higiênico e fralda descartável... [risos]. Tudo foi muito amador, muito “segredinho”, e a bobeira comeu solta. O documento de constituição do SIOANI, que a Revista UFO divulgou tem trechos hilariantes. Por exemplo fala em “comprar telescópios” para a pesquisa. Para que, meu Deus? Luneta e telescópio são as piores coisas a escolher para seguir objetos ou aviões em voo. Tremem pra caramba! Se ainda fosse binóculo, mas telescópio, faça-me o favor!
UFOVIA: É verdade! De fato, as lunetas e telescópicos citados devem servir mais para medir o tamanho da desinformação "goela-abaixo" que estava por detrás daquilo que fora tornado público pelos militares (sobretudo, no meio ufológico), do que, propriamente para observar discos voadores... Mas voltemos à morte de Hollanda... AC: Então, como disse antes, o fato de Hollanda, passar por uma longa experiência, típico milico sem muita formação, durão etc., deve ter feito muito mal à cabeça dele. E depois, daquele cheirinho de prestígio vem a ordem de acabar com tudo! Ele falou umas certas coisas sobre política com o Bob Pratt, que já mostram que a cabeça dele não estava bem, nos anos próximos à sua morte. O Bob até ficou aborrecido comigo, pois acreditou piamente em várias bravatas dele, porque não conhecia a História do Brasil. E eu entrei de desmancha-prazeres. Eu não vou comentar nada aqui, porque é constrangedor. Ele está morto. Bob também está morto. Mas como já disse, como tenho grande experiência com gente PMD (Personalidade Maníaco Depressiva - tive casos próximos em família) eu daria o alarme quando – na entrevista a Revista UFO - ele veio com a conversa de que talvez, não ia durar muito. Foi sintomático. No cinema, um caso bem ilustrativo é o personagem Norman Maine, em Nasce uma Estrela. PMD alcoólatra, sem saída, conclui que estava atrapalhando a carreira da mulher, ama-a, mas decide afogar-se. Levanta toma café com a esposa, brinca, faz uns carinhos – e ela nem suspeita que ele está se despedindo. Vai para a praia e se mata por afogamento. Outro caso é o de Santos Dumont. Meu avô Alberto Ferreira Gomes, foi dentista dele. E acompanhou a fossa final e o suicídio dele.
UFOVIA: E como se deu o caso dele? AC: Lá em casa sempre soubemos, mas só comentávamos o fato entre nós, porque respeitávamos a família. Isto ficou fora dos livros muito tempo. Um sobrinho o vigiava o tempo todo. Numa pequena distraída, porque Santos Dumont parecia bem, o sobrinho de repente vê que ele se trancara no banheiro. E se enforcara com uma gravata. O PMD é altamente dissimulado e enganoso. Precisa de vigilância constante, monitoramento constante, porque senão pode se matar e quando menos a gente espera. Ele é, muitas vezes, loquaz, alegríssimo e no entanto, na cabeça dele, a morte sempre lhe parece a melhor solução. Mas no caso do Hollanda, acho que a Operação Prato e toda frustração decorrente, mais problemas pessoais, podem ter deflagrado a tendência suicida, de uma pessoa que, sem a Operação Prato seria apenas um milico a mais na FAB. Entretanto, assim como Santos Dumont se matou e deixou o avião como lembrança, Hollanda se matou e deixou seu trabalho como herança. Numa parte dele estou trabalhando.
A mais estranha ocorrência da noite da noite de 24/11/1970: um UFO semi-lenticular carregando um tetraedro com luzes violáceas.
UFOVIA: Alguma vez o senhor já viu um UFO ou algum de ser que pudesse supor se tratar de um extraterrestre? AC: Sim, conforme relatei anteriormente. Afora o relatório de Bebedouro, que você pode divulgar. Mas isto foi o mais importante. Nas vigílias do Vale do Rio das Velhas, vi muitas luzes estranhas andando pelos céus e pelos matos. De dia nunca vi nada. Seres, graças a Deus, nunca! Mas acho que nunca se mostrarão para mim. Assombração sabe para quem aparece. [risos]. E eu seria páreo duro na argumentação com eles. Assusta-me o fato de que todos eles usem a clandestinidade como modus essendi, operacional. Como sabiamente disse o Antônio Faleiro [N.E.: Tradicional ufologista e folclorista mineiro, residente em Passa Tempo/MG], “Quem gosta de entrar escondido na casa dos outros é ladrão. Ou não tem boa intenção”.
UFOVIA: O senhor acredita que alguns UFOs possam se tratar de frutos de tecnologias secretas de países desenvolvidos? AC: Não.
UFOVIA: Faço a mesma pergunta que fiz recentemente ao pesquisador e ilustrador ufológico, assim como o senhor - e por sinal, seu xará -, Alberto Romero: como ilustrador de Ufologia, como o senhor vê o papel do computador para reconstituir cenas, objetos, seres, bem como para meramente ilustrar artigos e textos especializados? AC: Há quem goste, como sei que você gosta. Mas não me adapto. O papel, o lápis, os vidros de tintas podem ser levados a qualquer lugar, mas desenhar num computador perto de um homem do campo, acho que não funciona. Como já lhe disse, uma das coisas que aprendi com a experiência é que um excesso de coisas ligadas a desenho e pintura inibem a testemunha, sobretudo, as mais simples. Certa vez me apercebi de um erro num retrato falado, mas quando cobrei da testemunha, que ela me vira desenhar e não falara nada, respondeu-me: "Ah, eu não quis falar porque o doutor desenha tão bem!". A experiência me fez desenvolver um método de buscar formas a partir da realidade próxima da pessoa, num enfoque construtivista, para daí ir reconstituindo o que ela viu casando tais formas. Ou então, a idéia do Húlvio de fazer a pessoa modelar as formas em massa de modelagem, que é de uma simplicidade e eficácia atrozes. Mas é bom levar um teste de Ichihara (para ver se a pessoa não é daltônica) e uma tabela de cores, para a pessoa apontar a cor mais próxima do que viu.
UFOVIA: Como o senhor tem visto os trabalhos dos atuais ilustradores ufológicos? AC: Tecnicamente bons, mas meio obcecados com certas coisas. O excesso de ênfase nos famigerados grays, pode induzir testemunhas. A partir da revelação de Leonard Stringfield (Retrievals of Third Kind - Resgates do 3º Grau - Flying Saucer Review e Simpósio do MUFON) de que a pele dos cadáveres de alienígenas capturados era cinza, começou esta folia cinzenta. E aqueles olhos pretos imensos, amendoados, sem esclerótica. Esta mania de cinza substituiu a folia verde, os tais little green men. Hoje, um tanto na reserva, fico pensando: como é que nunca encontramos nenhum desses, verde ou cinzento em nossas investigações? Roupa verde sim, mas pele verde não. Será que essas populações de seres mais próximos de nós, se encheram e foram embora, deixando o campo livre para esse bando de feiosos cinzentos que ora infestam revistas? Em suma: bom desenho e pouca preocupação em reconstituir os testemunhos.
'Mexer com a Embraer representa criar problemas de emprego em pelo menos sete países, se incluirmos a China. E aí é forte'. Sobre a expansão da Embraer no mercado mundial internacional de aeronaves.
UFOVIA: Falando de Aviação. A julgar pelas últimas notícias estampadas pela mídia, o senhor acha que a Embraer esteja sendo vítima de boicotes e complôs externos visando deter sua produção de aeronaves? AC: O mercado aeronáutico é uma selva. Quando as empresas norte-americanas, principalmente a Cessna, perceberam que havíamos descoberto o filão dos aviões regionais de até 20 lugares, aprontou feio por cima da Embraer, quando o Bandeirante saiu. Pressionou a FAA tanto que o Bandeirante de série não tem quase nada a ver com o protótipo. E tem sido assim. Mas a Embraer foi esperta em estabelecer parcerias com empresas da Espanha, Chile, Bélgica, Japão, França e até Estados Unidos. Mexer com a Embraer representa criar problemas de emprego em pelo menos sete países, se incluirmos a China. E aí é forte. Norte-americano é gozado. Primeiro eles lhe jogam pedras. Mas se você agüenta e resiste eles até lhe ajudam. Aconteceu com o cinema brasileiro, por exemplo. Cidade de Deus fora negado até pelo Brasil como representante brasileiro ao Oscar. No ano seguinte, como produto norte-americano, aprontou um banzé de cuia tão grande que Cidade de Deus não somente entrou na corrida ao Oscar, mas em quatro categorias! E agora o Fernando Meirelles virou o queridinho deles.
O ufólogo americano Bob Pratt e Alberto do Carmo.
UFOVIA: Mas, os aviões brasileiros são bons mesmo? A ponto de incomodarem o mercado externo? AC: São. Tanto é que a série 170/190 está vendendo feito pão quente. Mas não sei se estão “incomodando”. Estamos num nicho do qual outros desistiram ou não agüentaram produzir tão bem, o de aviões de até pouco mais de cem lugares. Este blá-blá-blá sobre a Venezuela, é mais coisa de Embrear, Pilatos no Credo. São apenas 36 aviões pequenos a menos, num mercado com mais de mil e tantos jatos comerciais de médio porte vendidos e bem aceitos. O Lula e a Embraer em relação aos Estados Unidos e Venezuela, me lembra a piada do pistoleiro mexicano que entrou num bar. “Hay algun valiente que quiera pelear con otro?”. Levantaram-se dois. “Entonces que peleen los dos”. [risos].
UFOVIA: Voltando ao Santos Dumont. Este nosso coestaduano foi mesmo o inventor do avião? AC: A melhor idéia está com Monteiro Lobato. Certas idéias começam a surgir no inconsciente coletivo, às vezes ao mesmo tempo, em várias cabeças. Santos Dumont não deve ser admirado pela primazia ou não da invenção, mas pelo seu pacifismo ingênuo, pelo qual deu a própria vida. Cada país puxa a brasa para si: Otto Lilienthal, Clement Adler, os Irmãos Wright, acho que os russos também têm um, mas cada um segundo um conceito. Mas todos voaram, ou ameaçaram, ou teriam voado, só que de formas diferentes. Quer mais? Há dois anos iluminei um show aqui em Brasília, do cantor Paulo Tovar. O título era H2Olhos. Ele fez um rap suave sobre a criação de Brasília, cuja letra começava com algo como “fizeram-se os planos, traçaram-se as vias” etc. Eu então “decorei” vários esboços do Niemeyer e Lúcio Costa e logo que a música começava, eu, usando um retroprojetor. Ia traçando em caneta de retroprojetor, todos aqueles esboços, sobre placas de vidro, que ia puxando para o lado e substituindo por outras e traçando mais desenhos. O pessoal via a sombra da minha mão e ia reconhecendo os desenhos. E vinham os murmúrios da platéia: “olha lá aquele desenho do Niemeyer”. Foi um sucesso. Tenho certeza que o Hans Donner, que conheci um tempinho depois, nunca soube disto. Nunca viu isto. Inclusive liguei para ele anteontem sobre uns detalhes de figurinos da série JK... Pois bem: a introdução que a equipe dele fez para a minissérie JK coincide com a minha idéia, usada no show, há dois anos atrás. Agora, vou lá eu ficar brigando se o Hans me plagiou ou não? Tenho certeza que não. Só que ele tem computadores e eu, mais modesto, não passei do retroprojetor, que uso muito bem. Essas questiúnculas me parecem uma tremenda babaquice...
'A Ufologia brasileira, se tomar juízo, emplaca e lidera. Mas diria que é preciso que cada ufólogo se conscientize de suas limitações e estude, o que precisar estudar'. Sobre ufologia no Brasil.
UFOVIA: Para o senhor, o que falta ao Brasil para se ter autonomia tecnológica e não mais depender de outros países em seus diversos setores essenciais? AC: Melhorar o nível da Educação em qualidade e não em números. Ensino público o mais amplo possível, com currículos ricos e não “podados”. Código de Ética para o magistério, fim do assédio moral que sofrem os professores para passarem alunos analfabetos, ou vadios. Na minha última viagem a Belo Horizonte, descobri um ex-colega, formado e que tentou ser professor de Matemática. Um belo dia (na verdade um triste dia) reprovou 30% de uma classe daquelas bem vadias. De repente, telefonema da diretora: “Fulano, estou telefonando para avisar que estou MEXENDO nos seus diários”. Passou todo mundo. Ele desistiu. Foi executivo de faculdade e hoje é gerente de livraria e papelaria. Eu falaria horas de experiências semelhantes minhas e de outros colegas. E isto em escola pública e MUITO em escolas particulares, essas impostoras de que são as boas gerais. Entretanto, não tem mais sentido falar em produzir algo totalmente nacional. Estabelecer parcerias pode até ser tática de escudo, como vimos no caso da Embraer. A globalização bagunçou esses conceitos. O negócio é dar duro. Veja como a Petrobrás tem se imposto no país e no mundo, apesar da quebra do monopólio de exploração.
VF: Alberto, agradecemos pela entrevista e pedimos para nos deixar suas considerações finais: AC: Eu é quem lhe agradeço. Falei coisas guardadas aqui dentro, ó: que estavam precisando ser postas para fora. E acho que dei uma dica: a Ufologia brasileira, se tomar juízo, emplaca e lidera. Mas diria que é preciso que cada ufólogo se conscientize de suas limitações e estude, o que precisar estudar. Por exemplo: no caso do C-26 mexicano eu escrevi um manifesto de apoio até endossado por vários pesquisadores. Calaram a boca. Depois vieram com esta história de “poços de petróleo”! Isto é um insulto para a Força Aérea Mexicana. Quem eles pensam que os pilotos eram? Seriam Chicos manicacas - que é como se chamavam os pilotos principiantes ou “barbeiros” -, capazes de confundir imagens no seu equipamento no qual deviam ser experientes? Repito: a censura, a coação, a desqualificação e o silenciamento têm várias caras.
* Pepe Chaves é editor de Via Fanzine e da Rede ZINESFERA de portais.
- Notas do editor:
1) Esta entrevista foi registrada em junho de 2006 e revisada/atualizada em 30/12/2020.
2) Infelizmente, Alberto Francisco do Carmo faleceu em 29/12/2020.
Imagens: - Fotos e ilustrações de Alberto Francisco do Carmo. - Arquivos do autor. - Arquivo CICOANI.
- Produção: Pepe Chaves. © Copyright 2004-2006, Pepe Arte Viva Ltda.
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