Mundo cruel:
Uma semana macabra
Hoje, quando nasce o ser humano de número
7 bilhões, a nossa sociedade global aprecia o avanço do respeito aos direitos humanos,
a redução aos cultos à morte e as celebrações familiares.
Por Isaac Bigio*
ESPECIAL, de Londres
Para
Via Fanzine
Tradução: Pepe Chaves
1º/11/2011
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Enquanto a igreja católica tenta fazer
com que tais datas coincidam com o dia de Todos os Santos, estas têm
origens pagãs.
De todas as 52 semanas que temos a cada ano, possivelmente,
esta última deverá ser a que contém mais celebrações tenebrosas.
Na segunda-feira, 31/10, a semana teve início na noite das
bruxas e, logo na terça e quarta-feira ocorreram numerosas celebrações
alusivas ao dia dos mortos. No sábado, em milhares de parques ingleses
fogos artificiais festejavam o aborto do complô de 5 de novembro de
1605, que desejava restaurar a monarquia católica. Porém, seus
perpetradores acabaram castigados com enforcamentos, outros foram
escalpelados vivos, mutilados ou esquartejados, para serem exibidos em
praças.
Em todas estas festas, participam em massa, as mesmas
crianças e suas famílias que no Halloween se disfarçam de vampiros ou
monstros e, no dia dos mortos, festejam os falecidos, servindo comida ou
fazendo caveiras de abóbora - como no México.
Enquanto a igreja católica tenta fazer com que tais datas
coincidam com o dia de Todos os Santos, estas têm origens pagãs.
Na Europa, muitos ritos são promovidos nas noites que vão
entre o fim de outubro e o início de novembro, quando se celebra o final
de meio ano agrícola, com sol e calor, para dar início a um outro semestre,
de frio e escuridão. Os antigos britânicos e outros povos celtas
celebravam o Samhain, acendendo fogueiras e fazendo sacrifícios.
Na América Central, os astecas, maias e outros povos
pré-colombianos tinham uma visão diferente da morte, não baseada no céu
e no inferno, mas em vários níveis de vida após a morte, dependendo das
circunstâncias do falecimento.
Os europeus rejeitaram os sacrifícios humanos promovidos
nos topos das pirâmides mexicanas para justificar sua conquista, ainda
que naqueles mesmos tempos, era usual na Europa, assistir aos sádicos
assassinatos públicos. Além disso, a sua incursão na América conduziu ao
extermínio de 90% de 100 a 150 milhões dos seus indígenas.
Se hoje o Halloween é uma festa alusiva às bruxas, antes, elas eram
massacradas. No chamado holocausto feminino houve perseguição às
mulheres independentes que viviam sem maridos. Acabaram caluniadas como
bruxas para o fortalecimento de uma sociedade machista, onde as damas seriam
pré-destinadas a somente cuidar dos lares.
Hoje, quando nasce o ser humano de número 7 bilhões, a
nossa sociedade global aprecia o avanço do respeito aos direitos
humanos, a redução aos cultos à morte e as celebrações familiares.
No entanto, o macabro se constitui parte do cotidiano de
nossa civilização. Nesta semana, muito se verá na imprensa das imagens
de um ditador enquanto era golpeado, violado e executado
extrajudicialmente. Inclusive, chegou até ser exibido a turistas dentro
de um congelador, enquanto seguirão criando novas armas que possam matar
milhões de pessoas com um único tiro e planejando novas guerras ‘em prol
da democracia’.
* Isaac Bigio é professor e analista
internacional em Londres.
- Leia outros artigos de Isaac Bigio em
português:
www.viafanzine.jor.br/bigio.htm.
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Contando o tempo:
Relógio de Sol, a hora de Deus
O estudioso Carl Jung, em suas pesquisas,
visita os índios Pueblos – eles lhe
dizem que são filhos do “Pai Sol”, a quem
ajudam diariamente a atravessar os céus.
Por Fabiano Mauro
Ribeiro*
Do Rio de
Janeiro-RJ
para
Via Fanzine
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Relógio de Sol do século XII, defronte à Catedral de Chartres,
França.
Ezequias, Rei de Judá, cerca de 725 a.C., ao ficar enfermo,
orou a Deus para que o poupasse - o altíssimo, chamando Isaias mandou
que ele procurasse o grande rei e lhe dissesse que ouvira suas
preces.Vira suas lágrimas e seus lamentos, por isso, pouparia suas vida,
e a prolongaria por 15 anos – a prova de que era autêntica essa promessa
divina, seria um sinal evidente: “Farei a sombra recuar os dez graus que
o Sol já lhe fez descer no relógio solar de Acaz”. E o Sol voltou dez
graus para trás.
Essa foi a indicação mais antiga em escrita, da existência
do Relógio de Sol na história do mundo, como ficou gravado no Livro de
Isaías 38-4. Mas a origem da marcação do tempo pela luz solar, se perde
na noite dos anos.
Os chineses como em quase tudo, são apontados como os
pioneiros nessa invenção, em data de 1.100 a.C. Mas é preciso não se
olvidar, antes do fascínio que tudo isso desperta, que a própria
natureza pode ter sido a pioneira, quando sugestiona alguém a observar
um simples galho seco exposto aos raios do Sol. A sombra se movimenta de
acordo com o movimento do astro, daí ter o homem mais tarde, partido
para a criação do gnomon, que é a haste central colocada no
centro do quadrante solar, fazendo com que a hora seja marcada pela
sombra.
Existem registros do fabrico desses marcadores por toda a
história antiga. No Museu de Berlim, há um Relógio de Sol egípcio de
data remotíssima. Seus demais fabricantes e usuários são gregos,
caldeus, romanos. Por toda a Europa, ainda hoje, se encontram excelentes
exemplares conservados, carregados de magia e santidade. Como o que se
encontra num anjo na fachada da Catedral de Chartres (França, séc. XII),
esse templo, verdadeiro monumento à Geometria Sagrada do Cosmos, no
dizer de Sonja Klug.
Não é simples, porém a construção e instalação dessas
peças. Os construtores, que necessitam do talento de bons calculistas,
se valem de uma tabela de equação do tempo. Ao se construí-los, para
cada local existe um cálculo de latitude, feito com anterioridade.
Conhecedores da matéria dizem que no Brasil, deve o engenho se chamar
Relógio Equatorial Brasileiro, pois seu mostrador fica no plano do
equador. Um exemplo ortodoxo de medição e colocação da posição correta
está num exemplar que se encontra na Igreja de Santo Antonio, em
Tiradentes-MG, construído em pedra sabão em 1712, por autor
desconhecido, segundo observou o extinto pintor Oscar Tecidio.
Ao se adentrar uma oficina de construção de relógios
solares, se retorna aos tempos de Anaximandro, (610 a.C.) autor da
teoria do infinito da criação e aperfeiçoador do gnomon ou se
integra aos idos de Ptolomeu, autor de Almagesto, verdadeiro Tratado de
Astronomia e Trigonometria que integra os cálculos sobre o assunto.
Em plena era do relógio atômico, uma arte dedicada a manter
viva a atmosfera mítica do mais antigo instrumento de medição do tempo.
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Relógio Equatorial Brasileiro cópia do
Tiradentes-MG, feito em 1712.
Templos e tempo
Relógio de Sol a Hora de Deus, verdade filha do princípio
comum das grandes religiões. No calabouço da cultura egípcia, lá estão
Osíris e seus acólitos, Horus e Seth Typhon. Ali mesmo na África, paira
Adhista, outro princípio da Luz e que significa “Sol Levante” e
se contrapõe a Ayik, a sombra. O estudioso Carl Jung, em suas
pesquisas, visita os índios Pueblos – eles lhe dizem que são filhos do
“Pai Sol”, a quem ajudam diariamente a atravessar os céus. Não é sem
razão que outras figuras têm no Sol uma fonte de vida – Montezuma,
Imperador dos Astecas, Heliogábalo, Rei de Éfeso, traduzido em
“sacerdote do Sol”.
Van Gogh, em sua trágica existência, será o maior pintor de
Sóis - sua mente se desintegra, e ele vai a Arles em 1888, não em busca
de banhos de sol, mas em busca do próprio Sol.
Jung, no seu Memories, Dreans, Reflexions, em
admirável alocução discorre o cair das noites no continente africano que
trazia às tribos uma imensa melancolia, diz ele: “Essa tristeza é a da
atmosfera da África, a experiência de sua solidão, as trevas dos
primeiros tempos, um mistério maternal. Eis porque o movimento do Sol,
na manhã, é o acontecimento que subjuga os nativos. O instante em que a
Luz se faz, é Deus. Esse instante é libertador”.
* Fabiano Mauro Ribeiro é pesquisador, colaborador de
várias publicações sobre História e Arte.
- Fotos: Arquivo do autor.
- Mais arqueologia:
www.viafanzine.jorbr/fonseca.htm
* * *
40 anos depois:
Woodstock acabou?
Provavelmente as gerações nascidas a
partir dos anos de 1990 não tenham ideia que nos dias
15 a 18 de agosto de 2009 foram
comemorados os 40 anos do legendário Festival de Woodstock,
realizado nos Estados Unidos e que mudou
todo o comportamento humano posteriormente.
Por
Rita Shimada
Coelho*
De
São Paulo
Para
Via Fanzine
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A imagem de Nick e Bobbi
Ercoline abraçados se tornou o símbolo do festival e mostra o amor em
meio ao caos.
Ao lado, o
‘casal Woodstock’ nos dias de hoje: o tempo provou que o amor sobrevive
a tudo.
Trilha sonora para
um ideal
O megaevento ideológico realizado naquele já distante
agosto de 1969 no interior do Estado de Nova Iorque reuniu no palco 32
dos mais conhecidos ídolos da música pop da época e outros, que a partir
dali se tornaram lendas e ícones da música mundial. Diante deles
estiveram cerca de 500 mil pessoas, quando a previsão era para 200 mil
no máximo.
Para agregar tantas pessoas num acontecimento em que não
havia garantia de sucesso, o local escolhido a princípio foi a cidade
de Wallkill, no Estado de Nova Iorque. Mas, com as notícias de que o
evento seria um festival hippie, e estes eram associados à
marginalidade, drogas e orgias, toda a cidade se manifestou e Woodstock
foi impedido de ser realizado ali. Foi então transferido para uma
fazenda de propriedade de Max Yasgur, próxima a Wallkil, numa área rural
chamada Bethel.
Com 186 mil ingressos vendidos, os alambrados de proteção
foram derrubados. Assim, com o lugar invadido, o evento passou a ser
aberto à todos. Longe dos pais, em meio a uma multidão seguidora da
mesma filosofia, o uso da maconha e de álcool era livre, assim como o
sexo sob efeito das substâncias alucinógenas, entre outras.
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Parte do público presente no festival
de Woodstock.
Apresentações
memoráveis
Às 17h do dia 15 de agosto, uma sexta-feira, Richie Havens
abriu o festival cantando oito canções. Entre elas, sucessos que
embalaram a multidão, como With a Little Help from My Friends,
Strawberry Fields Forever e Hey Jude, dos Beatles. Os garotos
de Liverpool foram convidados a participar do festival, mas negaram,
porque John Lennon exigiu a participação da Plastic Ono Band, banda de
sua esposa Yoko Ono, o que não foi atendido pela organização.
Logo após Richie Havens apresentou-se o ícone religioso da
Índia e adepto do Yoga, Swami Satchidananda fazendo a invocação para o
festival. Nas horas que se seguiram, apresentaram-se: Country Joe
McDonald (sem sua banda The Fish), John Sebastian, a banda Sweetwater,
The Incredible String Band, Bert Sommer, o cantor de música folk Tim
Hardin, Ravi Shankar (músico indiano e pai da cantora Norah Jones), uma
cantora conhecida apenas por Melanie, Arlo Guthrie e a cantora Joan Baez,
que estava grávida de seis meses.
No sábado, dia 16 o festival teve início as 12h15 ao som de
Quill, quarenta minutos depois apresentava-se Keef Hartley Band,
Santana, novamente Country Joe McDonald, a banda de rock e blues Canned
Heat, a banda de blues-rock/hard rock Mountain, a famosa Janis Joplin, a
banda Grateful Dead (que teve uma apresentação conturbada devido a uma
sequência de choques tomados por causa da aparelhagem molhada pela
chuva), o Creedence Clearwater Revival, Sly & the Family Stone, The Who
e já eram 6h da manhã quando se apresentou o Jefferson Airplane.
No domingo, dia 17, o evento recomeçou às 14h com um atraso
de 9h, fazendo com que, no amanhecer do dia posterior, o festival
continuasse, embora grande parte do público já tivesse deixado o local.
A abertura deste último dia ficou a cargo de Joe Cocker.
Logo após sua apresentação um temporal interrompeu o evento por longas
horas. Somente às 18h o show retornou com Country Joe and the Fish, Ten
Years After e The Band. Já era meia-noite quando se apresentou o Blood,
Sweat & Tears, Johnny Winter acompanhado de seu irmão Edgar Winter. Às
3h da madrugada seguiram dois sets (um acústico e outro elétrico) de
Crosby, Stills, Nash & Young, apresentando 16 músicas. Paul Butterfield
Blues Band, Sha-Na-Na apresentam-se antes de Jimi Hendrix que fechou o
festival com 16 canções.
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Jimi Hendrix deixou Woodstock para se
tornar o guitarrista dos guitarristas.
Woodstock e o
movimento hippie
E não há como falar em Woodstock sem falar dos hippies.
Embora o real interesse do festival fosse comercial para obtenção de
lucros através da música, tanto para organizadores como para os cantores
e bandas, o anunciado foi que seria um apelo pela paz, movidos pelas
lutas anti-guerra e com três dias de Paz e Amor, filosofia essa
puramente hippie.
Os hippies integravam o movimento da contracultura dos anos
60 que misturava a filosofia budista do Tibet, com o hinduísmo e tudo
mais o que a pessoa trouxesse em si. Mas, o movimento teve origem após o
surgimento do movimento sócio-cultural Beat, (beatniks) conhecido entre
o fim e início das décadas de 1950 e 60. O movimento dos beatniks era
formado por escritores, artistas e intelectuais que promoviam um estilo
de vida desapegado ao materialismo e associado à vadiagem, a vida nômade
e a agregação daqueles julgados ‘marginais sociais’. Muito da filosofia
Beat foi incorporada pelos hippies e, provavelmente, daí sua associação
à marginalidade.
Na verdade, há o movimento hippie antes e depois de
Woodstock. A ideia conhecida hoje dos hippies está vinculada à imagem
dos jovens que compareceram ao festival. Mas, nem todos que estavam ali
eram verdadeiramente hippies.
Os hippies pregavam a paz, o amor, defendiam a
não-violência, o fim da guerra do Vietnã, o fim da padronização da
sociedade com seus valores tradicionais, o poder militar e econômico e o
direito de escolha. Não tomar banho não era uma marca registrada. Jovens
de classe média que aderiam ao movimento deixavam de tomar banho como
protesto à imposição de comportamento da época, que considerava bom moço
aquele que se vestia de termo e gravata, ia à igreja todo o domingo,
seguindo obrigatoriamente à religião dos pais.
O não uso de produtos de higiene era também uma forma de
protesto contra o consumismo por parte dos hippies, assim como o estilo
de suas roupas. Seu figurino era o que é chamado hoje de ‘customizada’.
Uniformes de ex-combatentes do exército, moda oriental, roupas com algum
tempo de uso, acessórios dos costumes indígenas eram parte de seu
guarda-roupa. A imagem estava relacionada à filosofia que os desviava
dos padrões estabelecidos, tornando-os rebeldes que, decerto, agrediam
aos olhos de quem os visse passar. Numa cultura onde o protestantismo
fosse padrão, eles se voltavam às religiões orientais e tradições
indígenas. O cabelo comprido nos homens, cabelos soltos nas mulheres,
barba crescida, eram também recurso para protesto, pois o caráter de uma
pessoa era julgado por sua imagem. Os padrões exigiam cabelos cortados
rente à raiz para os homens, bem típicos de estilo militar. As mulheres
deveriam ter seus cabelos presos. E um homem de bem sempre tinha sua
barba feita. Um índio naquela época, ainda era considerado não
civilizado por usar cabelos longos e roupas nada convencionais para os
padrões americanos. Embora o movimento tenha começado a perder força
depois de Woodstock, muitos deles hoje são conhecidos como ativistas.
Os hippies pós-Woodstock foram deixando de lado suas
táticas de protestos que se resumiam muitas vezes, em agredir a
sociedade com seu modo de vida. Alguns aprimoraram sua filosofia e
ganharam novos rumos, verdadeiramente mais pacíficos. Outros aboliram a
filosofia que seguiam por influência de época e retornaram aos padrões
capitalistas. Sendo assim, os hippies como foram realmente conhecidos,
desapareceram com o passar dos anos, ficando apenas a imagem rebelde,
que se tornou símbolo de uma geração. Mas, muitos também se utilizaram
da imagem e da cultura hippie para mascarar um estilo de vida pessoal,
vivendo em profundo ócio. Discursam a filosofia e seus ideais, mas não
possuem nenhuma causa para defender ou sequer se dedicam de fato a uma.
São apenas reprodutores verbais do que um dia fez sentido e de certa
forma mudou os rumos da sociedade mundial.
Os protestos anti-guerra tiveram um fim quando os milhares
de jovens se viram diante da oportunidade de fazer o que bem entender,
como quiser, sem padrões, sem regras, sem limites e sem leis, durante
três dias de muito sexo, droga e rock, abençoados por muita chuva e
lama.
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Hippies: a quebra dos preconceitos,
liberdade, amor e paz.
Woodstock não
acabou
Imagine três dias de rock, alcoolismo, sexo livre e muita
droga. Poucas horas de sono, banho de chuva e lama e uma quantidade de
comida limitada. Ao final dos três dias, na volta ao mundo real, o maior
trabalho era lembrar onde se deixou o carro, as chaves, as roupas, os
amigos que o acompanharam até lá... Concluiremos que o resultado seria o
abandono completo dessas práticas e a busca por um estilo de vida menos
agressivo não aos outros, mas a si mesmo.
Mas, há muito que se pensar, pois foi ali que um movimento
chegou ao seu ápice e, contraditoriamente, ao seu final. Inúmeras outras
tentativas de realizar eventos tão grandiosos foram frustradas e apenas
o primeiro, graças à sua originalidade, ficou para a história, como um
marco de uma geração que desejava apenas viver a sua juventude com o
direito à liberdade. Uma geração que não queria se armar, nem sair do
seu país para matar inimigos que não eram dela. Uma geração que não
queria estar numa guerra, que não acreditava ter propósito real e que
não compreendia porque era necessário tanto sangue para alcançar um
objetivo.
Woodstock de certa forma ainda não terminou, porque nos
deixou vários caminhos para reflexão, ainda hoje, 40 anos depois. Muito
do que se acreditava naquele tempo continua em curso, como fragmentos ou
efeitos daquela juventude transviada que sonhava com o mundo ideal.
Muito antes de se sonhar com o advento da globalização, este megaevento
gerou um forte choque cultural em todo o mundo: no comportamento, na
moda, na música, na sociedade, entre outros setores. O senso de direção
também mudou e a sonhada liberdade, a paz e o amor possuem caminhos
incertos para serem alcançados. No entanto, o entorpecimento nas fugas
alucinógenas e alcoólicas que geraram filhos de pais desconhecidos,
violência, guerra e morte só poderiam se converter em autodestruição e
numa falsa paz temporária.
Com tão pouca duração, aqueles três dias, de alguma forma
tornaram-se eternos na historia humana e desta maneira, continuarão
sendo lembrados, pois mostraram que a paz e o amor são possíveis e
nascem mesmo é dentro de nós. E enquanto a humanidade estiver carente
dessas bases harmônicas para o bem-estar de toda a vida planetária,
Woodstock não vai acabar.
*
Rita Shimada Coelho
é artista plástica e escritora. É colaboradora de Via Fanzine.
Seu blog é
http://shimadacoelho.blogspot.com
- Fotos: Arquivo VF.
-
Produção:
Pepe Chaves.
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