A escória dos bilhões:
Obra de MMX é contestada novamente
Além da possível poluição dos mananciais
d’água, críticos à obra de contenção para
milhões de metros cúbicos de lama
retirada do minério, alertam que o impacto ambiental
sobre a fauna e flora locais serão
irreversíveis. Empresa nega que causará danos ao ambiente.
Por
Pepe Chaves*
Para
Via
Fanzine
BH-08/01/2013
Equipamentos da
Mineradora MMX, próximos ao local de construção da barragem de rejeitos.
As rochas vistas ao
fundo são da bela cachoeira do lugar.
Leia também:
MMX é autuada em R$ 3,758
bilhões pela Receita Federal
Rio: Violações se proliferam em obra de
Eike Batista
População pede que MMX cesse obras de
barragem em MG
MMX é denunciada no MPE por possibilidade de poluição em MG
Mineradora MMX anuncia investimentos de R$ 5 milhões em Igarapé-MG
Minas:
Itaunenses criam grupo contra barragem da MMX
MMX envia nota pedindo correção de matéria em VF
Os verdadeiros donos do subsolo brasileiro - exclusivo
A Mineradora MMX, do Grupo EBX de Eike Batista reuniu parte
da imprensa de Itaúna na última semana para prestar esclarecimentos
sobre a construção de uma barragem de contenção para lavagem de minério,
situada próxima ao Ribeirão dos Pinto, principal afluente do rio São
João, que abastece a cidade.
Mesmo sendo o órgão de maior penetração da cidade no estado
e no país, o diário digital Via Fanzine não foi convidado pela MMX para
participar da reunião. É bom lembrar que este veículo, quase que de
forma isolada, já se manifestou contrário à construção da barragem de
rejeitos que pode comprometer a qualidade de água consumida em Itaúna
(ainda que a empresa negue), além de termos aberto espaços a outras
opiniões e manifestações populares contrárias a obra.
Poluição líquida a
céu aberto
A “represa para conter poluição líquida” de Eike Batista
está sendo construída numa das regiões mais belas do município vizinho
de Itatiaiuçu, no Centro-Oeste de Minas, próxima a uma cachoeira, onde
passa o ribeirão dos Pinto, em Retiro dos Pinto, na localidade de Ponta
da Serra. A empresa comprou na região, inúmeros terrenos dos moradores
locais e já retirou a população para iniciar as obras da barragem de
rejeitos.
Os projetos e estudos ambientais exigidos da MMX já foram
praticamente todos aprovados pelos órgãos ambientais do Governo do Estado,
que já deu sinal verde para a efetivação da gigantesca obra que
destruirá um dos locais com mais potenciais turísticos em Itatiaiuçu.
Entretanto, ambientalistas e militantes de movimentos
contrários a obra afirmam que o impacto ambiental será estrondoso para
toda a macrorregião, incluindo as bacias hidrográficas do ribeirão dos
Pinto e do rio São João. E alertam que, além da possível poluição
desses mananciais d’água por metais pesados (entre outras
substâncias)
utilizados
na mineração, haverá um forte impacto ambiental junto a
fauna e flora locais, o que deve extinguir várias espécies nativas.
Nós estivemos no local, e a situação é a seguinte:
confrontando o local da obra que deverá conter dezenas de milhões de
metros cúbicos de poluição líquida, está o ribeirão dos Pinto, principal
afluente do rio São João que fornece água potável a Itaúna. O
ribeirão dos Pinto,
deságua no rio São João nas proximidades da Cachoeira dos Chaves (na
divisa Itaúna/Itatiaiuçu), ou seja, a pouquíssimos metros da Barragem do
Benfica, o único reservatório de água potável utilizado pelo município
de Itaúna.
Procurando negar que a barragem irá acarretar danos à
localidade vizinha ou a cidade de Itaúna que se utiliza daquela água, a
empresa MMX agora tem buscado convencer a opinião pública em Itaúna
através de publicidades, incluindo, obviamente, “adular” quase
totalidade da imprensa local, estimulando que esta se omita de mais um
fato do alto interesse público – como já vimos ocorrer em outras situações.
Nós também constatamos
que a empresa de Eike Batista tem procurado agir também
junto ao “psicológico” do itaunense, ao distribuir dezenas de milhares
de panfletos em Itaúna, no qual impinge um perfil de “empresa
sustentável e amiga do
cidadão”. Abertamente, a MMX procura convencer que suas obras não afetarão a qualidade de
vida na cidade, embora não tenha quaisquer condições de fornecer tais
comprovações sobre isso, que não sejam as suas já propaladas teorias -
até porque, de fato, somente se saberá sobre a ocorrência ou não de
danos ambientais, através da prática, e para se obter tal resultado
pode-se se esperar por muitos anos.
Reações contra MMX
continuam
No ano passado, a Prefeitura de Itatiaiuçu chegou a pedir a
interrupção das obras para analisar os projetos e a empresa afirmou que
atenderia a solicitação. Mas, nossa reportagem esteve no local e pôde
constatar que a MMX prosseguiu com os trabalhos de cálculos para a
barragem, inclusive, registramos diversos equipamentos que lá se
encontravam na ocasião.
No ano passado houve pelos menos três manifestações
populares contra a obra, todas contando com o apoio da Associação
Comunitária da Ponta da Serra e envolveu pessoas de Itaúna e Itatiaiuçu.
Moradores e militantes cobraram ações das autoridades, já que o local
tem um destacado potencial turístico, com sua incalculável beleza
natural, contando com cachoeiras, corredeiras ao longo do ribeirão e até
um antigo muro pedras ainda não devidamente estudado, situado defronte a
casa sede da MMX na Ponta da Serra.
O candidato a prefeito derrotado em Itatiaiuçu, ex-vereador
Matheus Pedrosa, antes das últimas eleições, encabeçou um movimento
contrário à construção da barragem. Mas, passado o pleito e após a sua
derrota nas urnas, ele não se manifestou mais sobre o assunto.
João José ressurge
Nesta última semana, em Itaúna, o ex-vereador, advogado
e candidato derrotado ao legislativo itaunense, João José de Oliveira que já havia contestado informações divulgadas
pela empresa no ano passado, voltou a criticar a construção da barragem de
rejeitos da MMX. Falando ao Jornal Brexó, João José disse que não aceita
“passivamente as declarações dos dirigentes da empresa do Eike Batista”.
Ele se refere à campanha da MMX em Itaúna, buscando convencer a
população de que a obra da sua barragem de rejeitos em Itatiaiuçu não
acarretará danos à água consumida na cidade.
Falando rapidamente ao Jornal Brexó, João José alertou que
ainda vai procurar a Redação do jornal para “rebater as declarações dos
representantes da empresa de que não há perigo de poluição com a
construção da barragem”. De acordo com ele, “Posso adiantar que os
representantes da MMX mentem quando disseram que não há perigo da
barragem poluir as nascentes, as águas da região. Eles passaram mel na
boca de alguns membros da imprensa itaunense. Vou dizer que o barro da
barragem deles vai sim poluir nossas nascentes. Aguardem-me”,
declarou o
advogado.
Imagem mostra parte do
Retiro dos Pinto onde será construída a barragem de rejeitos da MMX;
a linha amarela é a
rodovia estadual, a poucos quilômetros antes de Itatiaiuçu.
Empresa promove publicidade em prol da
obra
O Jornal Brexó também confirma que milhares de impressos da
MMX foram distribuídos em Itaúna, informando sobre a realização de
Audiências Públicas sobre o assunto. Uma fonte também teria informado ao
jornal que aproximadamente 30 mil impressos de boa qualidade,
defendendo a obra, estão circulando nas residências da cidade.
Ainda de acordo com o Jornal Brexó, “Além de fazer circular
um pequeno impresso colorido de 16 páginas (‘A MMX quer participar, com
você, do desenvolvimento de sua cidade. Queremos conhecê-lo, apresentar
a nossa empresa e o Projeto de Expansão Serra Azul’), a empresa do Grupo EBX divulgou uma carta aberta com data ‘Belo Horizonte, dezembro de
2012’, dirigida aos ‘Prezados Cidadãos de Itaúna’, assinada por Antônio
Schettino – Diretor de Operações e Implantações de Projetos da MMX. Diz
o diretor no texto que a empresa está implantando ‘nesta região’ o
Projeto de Expansão Serra Azul, ‘para ampliar sua capacidade de produção
de 8,7 para 19 milhões de toneladas anuais de minério de ferro, a partir
do itabirito compacto, minério abundante em Minas Gerais, mas pouco
utilizado’. Com isso, garante Schettino que o projeto dividido em duas
fases ‘deverá gerar 6 mil empregos diretos e 13 mil indiretos’. Fala em
visitar as casas de cerca de 32 mil cidadãos itaunenses, ‘momento muito
especial para ouvirmos vocês’. E mais, que realizarão Audiências
Públicas neste ano, com data e local a serem divulgados na cidade, para
o itaunense poder ‘reforçar seu conhecimento sobre o Projeto de Expansão
Serra Azul’ e ‘contribuir com opiniões e propostas’. Até um telefone
gratuito foi colocado: 08000388888 para contato com a empresa”,
registrou o semanário itaunense.
Águas, plantas e animais
Fato é que a barragem de rejeitos de Eike Batista está
projetada para conter milhões de metros cúbicos de um líquido grosso e
inutilizável da cor avermelhada, resultado da lavagem de muitas
toneladas de minério trazidas de outras suas minas no Estado. Sem
tratamento e a céu aberto, este agente nocivo depositado em quantidades
absurdas e constituído também por
metais pesados e letais aos organismos vivos, poderá levar muitos
milhares de ano até ser totalmente absorvido pela natureza.
Oportuno lembrar que, de fato, além da possível poluição ao
lençol freático que se estende por toda aquela macrorregião, através das
bacias do ribeirão dos Pinto e do rio São João, é evidente que animais e
plantas absorverão,
das mais diversas
maneiras, esta poluição líquida, uma vez que estará exposta a céu
aberto pelo extenso terreno de propriedade da empresa.
Também oportuno saber fazer que a barragem estará situada
relativamente próxima a rodovia estadual, porém, a alguns metros acima
desta.
Portanto, em caso de acidente no futuro (como geralmente ocorre em tais
barragens), em que a lama que poderá vazar para a região, isso poderá comprometer -
entre outros fatores - até a própria utilização da rodovia estadual naquele
ponto.
Até o momento, nem a Câmara Municipal, Prefeitura de
Itaúna, SAAE, Ministério Público Estadual (MPE), qualquer autoridade ou
“benemérito” local, não se manifestou publicamente sobre a contestada
obra de Eike Batista na região.
*
Pepe Chaves é editor do diário digital
Via
Fanzine e da
Rede VF de portais.
- Com informações do
Jornal Brexó
(Itaúna-MG).
- Fotos: Google
Earth / Pepe Chaves/Arquivo VF.
Leia também:
MMX é autuada em R$ 3,758
bilhões pela Receita Federal
Rio: Violações se proliferam em obra de
Eike Batista
População pede que MMX cesse obras de
barragem em MG
MMX é denunciada no MPE por possibilidade de poluição em MG
Mineradora MMX anuncia investimentos de R$ 5 milhões em Igarapé-MG
Minas:
Itaunenses criam grupo contra barragem da MMX
MMX envia nota pedindo correção de matéria em VF
Os verdadeiros donos do subsolo brasileiro - exclusivo
- Extras:
O leitor - 'Por
que Itaúna não aprende a lição?'
O
leitor - 'Itaúna
e a lavagem de minério'
Mineradora
MMX anuncia investimentos de R$ 5 milhões em Igarapé
Estragos
provocados pela mineração em Minas Gerais
MPE-MG
responde VF sobre crime ambiental na Serra do Curral
Mineração:
Belo
horror na Serra do Curral - RELEASE DA PRODUÇÃO EM VÍDEO
Mineração:
Belo horror na Serra do Curral - PRODUÇÃO
EM VÍDEO/TV FANZINE
Clique
aqui para
visualizar imagens de crime ambiental na Serra do Curral
|